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                   OSÓRIO PAES 
                    
                  Nasceu em João Pessoa, capital do  Estado da Paraíba,  
                    onde faleceu em 1947. 
                  Fez  os seus cursos na capital, diplomando-se em Odontologia, cremos que na capital  baiana. Alma boêmia, foi um poeta lírico, um trovador es-pontâneo, tocador de  violão e fazedor de serenatas. Compôs modinhas que obtiveram grande fama  popular. Era também quadrista e sonetista. A sua colaboração nos jornais e  revistas da Paraíba e do Brasil ficou muito esparsa, dela não havendo notícia  segura. Era arredio por índole a instituições culturais. Era mais um intelecual  de rua. Dele ficou imortal a sua canção "0' Palidez". 
                  Os  sonetos seguintes são da última fase da sua existência, quando andava meio  desanimado pelas decepções e pela doença. 
                    
                    
                  
                  PINTO, Luiz.  Coletânea de poetas paraibanos.   Rio de Janeiro: Ed. Minerva, 1953.   155 p.  16.5 x 24 cm.     Ex.  bibl. Antonio Miranda 
                    
                    
                  Por  insistência, meu retrato envio,  
                    Que, até, por certo, incitará surpresa, 
                    Expressão de quem mais não é sadio  
                    E enluta uma existência de tristeza. 
                  Desfez-se  o riso meu... hoje não rio,  
                    Desalentou-se a lépida viveza,  
                    Vagueio pelos cismas, erradio,  
                    Buscando sonhos pela Natureza. 
                  Nossa  afeição partiu da mocidade,  
                    Por isso, te ofereço o meu retrato,  
                    Prolongando inda mais nossa amizade. 
                  Na  tua sala, em posição discreta,  
                    Embora, deslustrando o lindo ornato,  
                    Deixa entre os teus, ficar também o poeta. 
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                  Saudade,  ronda incerta da lembrança,  
                    Em busca da ilusão nunca encontrada;  
                    O bem perdido que não mais se alcança  
                    Da nossa vida na sinuosa estrada. 
                  Antepassados  tempos de bonança  
                    De minha juventude descuidada;  
                    Amante que não tem mais esperança  
                    De novamente se fazer amada. 
                  Olhar  que fica, quem se vai olhando, 
                    Até fugir de vez pela distância, 
                    O adeus final,  que acena o lenço pando 
                  Saudade,  o poeta enfermo da tristeza, 
                    Relendo, à noite apaixonada estância,  
                    À luz mortiça de uma vela acesa... 
                    
                   
                  OH, PALIDEZ...  
                  O'  palidez imácula e bendita, A 
                    palidez serena de teu rosto,  
                    Que me tem sido tanta vez maldita,  
                    Que tem sido na vida o meu desgosto. 
                  Olhos  pequenos, pequeninos olhos,  
                    Brilhando em convulsões de quem padece,  
                    Farol mostrando a ponta dos escolhos,  
                    Se eleva em sua luz a minha prece... 
                  Boca  pequena, boca pequenina, olhos, 
                    Prendendo sempre o riso de quem chora... 
                    Eu vejo nela escrita a minha sina,  
                    Sorriso que tem sido a minha aurora! 
                  Ebúrneos  seios, seios perfumados, 
                    Saudosos pomos, santo relicário, 
                    Que tem sido na vida os meus pecados, 
                    Serão, talvez quem sabe, o meu calvário! 
                    
                    
                  Página  publicada em agosto de 2017 
                    
                    
                   
                
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