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BRUNO GAUDÊNCIO
Jovem Escritor, Jornalista e Historiador. Nasceu em Campina Grande, Paraíba, em 02 de Dezembro de 1985. Mestrando em História pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). Graduado em Jornalismo e História pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). Tem publicado poemas, ensaios e contos em algumas das principais revistas de cultura, a exemplo da Cordeletras (PB), A Margem (PB), Blecaute (PB), Correio das Artes (PB), Verbo 21 (BA) e Germina Literatura e Artes (SP). Alguns dos seus poemas foram selecionados recentemente para os projetos: O Jovem Escritor da Paraíba (UFCG) e Parede Poética 2009 (SESC-PB). Foi um dos fundadores do Grupo Bossa Usada Cineclube, responsável pelas exibições dos cineclubes Machado Bittencourt e Mário Peixoto em Campina Grande. Atualmente é Editor da Revista Eletrônica de Literatura Blecaute (http://revistablecaute.blogspot.com/)
O OFÍCIO DE ENGORDAR AS SOMBRAS
desmentindo seu próprio segredo
a alma carrega sempre
o ofício de engordar as sombras,
de retornar as coisas
da infância tangível,
em um límpido silêncio
de água que flui
na nudez
pura da morte.
DANAÇÕES
I
A Rinaldo de Fernandes
O abismo nos convida para o sono
Eu conheço o profundo dos cansaços
Escondemos a tristeza e nada somos
A minha geração sangra nos mastros.
Máquinas trituram os nossos sonhos
Asas fechadas para vôo divino
Deus morre nu no ventre dos destinos
Ao som de estranhas músicas montanhas.
Não tenho onde pousar o meu cansaço.
A certeza me atrai mais incertezas.
E brutaliza tudo aquilo que faço.
A mesma lágrima no rosto, a dor que cresce.
O vento leva a noite, mas deixa estrelas.
E juntas contemplam a dor que me padece.
HAICAI
ira de viver,
canina fome
de luz e abismo.
FABRICANÇÕES
A Arnaldo Xavier (In Memória).
Carnivorazes tons secretos
Soniferozes ritmos diversos
Apocalíricos cravados
Fabricanções tenazes:
Tigreversos.
ANDAR SURREAL
“Ouço aves e Beethovens”
Manoel de Barros
I
A boca do meu coração
vive sentada
nas narinas de aço
do meu indiscreto desespero,
enquanto o vento verbaliza o tempero
e designa o papel dos meus cabelos sujos
de tensão e caos…
II
Corrompo as frases
com o meu andar surreal
de Manoel de Barros
sem Pantanal,
e estupro o sentido normativo
da incompreensão.
III
É ótimo cantar fluidos,
fluxos de fatos infantis
que perturbam o meu juízo
de lata e metáfora.
IV
Mergulho nos significados dos medos
em um profundo claro de nada.
V
O caos brinca de osso
com os meus perfumes de livro.
São as palavras que matam
os fantasmas
de fruta podre
que moram
em mim.
GAUDÊNCIO, Bruno. Acaso caos. João Pessoa: Ideia, 2013. 93 p.. Prefácio de Luis Avelima. Orelha composto pelo poeta carioca Sérgio Bernardo e posfácio elaborado por Weslley Barbosa. Col. Salomão Sousa.
ESTRANGEIROS NO LABIRINTO
Para Wellington de Melo
morde
a febre
que te consome
internamente
joga fora
o medo,
mastiga o credo,
liquida as horas
estoura a dor
dos olhos,
impregna
a flor da morte
aos vossos ossos
vomita a cor da fé
na incompreensão tranquila
perpetua a validade
do homem-nada.
somos estrangeiros
no labirinto.
RETINA
O olho do poema
permanece fechado,
fluente em seu acaso,
buscando o caos.
O olho do poema
escreve o seu atraso,
no teatro tenso
das luzes do mal.
O olho do poema
voa falso
(aos monstros da fala).
O olho do poema
come a razão
(com sua fome de nada).
GEOLÍRICA
Para José Inácio Vieira de Melo
na alma da terra,
montado em seu bicho mítico,
o poeta constrói a travessia das rosas
na sagração do caos
romaria de sertões,
em múltiplas cavalgadas
decifrações de abismos,
aboios de uma poesia que chove.
CÂNTICO A CAMPINA
campina,
és tão maleável,
feitiço de pedra
que pela força do verbo
e do delírio
ilumina o rosto oculto
da história real
campina,
és tão metáfora,
menina com “rosto de homem”
que pulsa uma soterrada ternura
numa melancolia circundada
por névoas infernais de céus
campina,
?cidade-centauro?
?cidade-invisível?
?cidade-enigma?
amor na serra
: planta fundida
no barro da memória
campina,
carregas contigo o não lugar
e no dorso flutuado
entre ás águas de um açude velho
tens as brumas da poesia.
GAUDÊNCIO, Bruno. Blues e minotauros. Ilustrações de Felipe Stefani. Campina Grande: Editora Ler, 2021. 84 p. ISBN 978-65-89s402-20-6 Ex. bibl. Antonio Miranda
BUMERANGUES E ORIGAMIS
Quando criança
sonhava com bumerangues
acabei afeito a origamis
dei por compor borboletas
que penduradas
nas paredes
do meu quarto
acabaram por dar voltas
nos meus
sonhos
ARCANOS
deitado às armas
sempre escuto
o meu sangue
só eu sei quantos
nãos colecionei
em meu museu interior
FORMA
No labirinto
do corpo
corre sangue
sem que eu possa ver
pressinto
sem movimento
em fluxo
contínua
metáfora
do existir
todas
as células
assemelham-se aos corpos
celestes
uma forma retorcida e leve
o embrião
como sabem
é futura
estrela
VIOLA DE BOLSO
Um tédio todo prédio
me corta ao meio
a cada dia
mil repentes
me tombam
na corda bamba
da melancolia.
*
Página ampliada e republicada em abril de 2022
Página publicada em maio de 2010; ampliada e republicada em março de 2013.
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