BENÉ FONTELES
Artista plástico, poeta e compositor, curador de exposições notáveis, Benedito Fonteles nasceu em Bragança, Estado do Pará, em 1953. Suas atividades levaram-no a diferentes regiões do país. Montou exposições em espaços como a Pinacoteca do Estado de São Paulo, Museus de Arte Contemporânea do Rio de Janeiro e Curitiba, Museus de Arte de São Paulo e de Brasília, destacando-se as montagens da obra de Ruben Valentin, com a publicação do livro O Artista da Luz, assim também o livro-CD Giluminoso – a poiÉtica do Ser, com a obra de Gilberto Gil, além de dirigir espetáculos e gravações de grandes artistas como Luiz Gonzaga, Tetê Espíndola, Belchior, Egberto Gismonti e tantos outros. Dezenas de exposições individuais, muitas delas de arte e ecologia, além de promover seminários e oficinas de criatividade.
Também é notável como poeta., de que damos uma breve mostra aqui, em parte retirada da antologia de Olga Savary Poesia do Grão-Pará e de O Livro do Ser.
QUASE HAI-KAIS
(década de 80/90)
A pedra que arremessas
apenas confronta a nuvem.
*
Deus cabe nas pedras
As pedras não cabem em si.
*
Vento que passa
Roça a pedra que fica.
*
Só o Real do lúdico
ilumina o Dom do lúcido.
*
Só ele escutava
a felicidade dos peixes.
*
Nenhum anseio vela
o barco da mente simples.
Aprenda do bambu
que o bambu
— É bambu!
*
Lótus e lodo
Diferenças sutis
à luz da lua.
***************
De
O LIVRO DO SER
Petrópolis: Vozes, 1995
a alegria dos peixes
sou
EU]
eu sou as carpas que dançam
na co de teus olhos
a alegria que faz nadar
os feixes de escamas
e
LUZ
e deixar o rio NU
completamente à vontade
com seu dom de correnteza
a leveza
a voz
e a vez das águas
***
NO PAGODE DE SETE ESTRELAS
PICOS PINTADOS
NANQUIM E PEDRA
NEVE E PINCEL
PAPEL E VAZIO
***
sentados
o monge e a montanha
tecem silêncios
nada fazendo vestem a primavera que vem
ela passa...
eles a despem
alguma grama cresce por si
eles observam
as raízes e o inverno crescem
entre seus dedos
vãos
outro verão e outro outono
e nem abertos
ou sigilosos
sentados
o monge e a montanha
num sorrir silencioso
para Bashô
SE VISSE
O IPÊ
TUDO AMARELO
VAN GOGH
PINTARIA
TODO
ROXO
FONTELES, Bené. O Livro do Ser. Prefácios: Arnaldo Antunes e Pierre Weil. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 1995. s.p. 23x15,5 cm. Ilustrações: Sengai (sec. XVIII) ISBN 85-326-1335-7 Col. Bibl. Antonio Miranda
a linguagem da existência não pensa
imagina que é um barco
e naufraga
diz que é a simples vela
e se apaga
afirma que é o vento vago
e a tormenta
nega que é a mente
e afaga o ego amargo
acaricia a alma doce
se enganando
enquanto o corpo exala apenas o perfume
tênue da impermanência
a linguagem da existência não imagina nada
existência nado imagina
apenas nada um peixe no aquário
do vazio
ela existe no que não existe
não é resistência
nem ausência
é plano do prana
não é barco
porque não existe um mar
não é vela
porque não há ar pró chama
não é vento
porque nenhum movimento em volta
não há revolta
por isso não existe a mente
e não há nada para afagar o ilusório
e não se acaricia o dorso do que não se apalpa
e a polpa corpo nem é embalagem
nem simulacro
apenas sacra fragrância e lume numa linguagem
não falada
que se aperfeiçoa e exala
enquanto o silêncio cala
e é apenas CHAMA.
BRIC A BRAC IV - Brasília 1990. Produção executiva Luis Turiba. Capa Resa Celavi. 23 x 31 cm. Ex. bibl. Antonio Miranda
H2O BENTA. Encarte pliego: ÁRVORES- poemas de Amílcar de Castro, Arnaldo Antunes, Manoel de Barros, Nicolas Behr, Reynaldo Jardim etc. Inclui CD com Bené Fonteles, Egberto Gismonti, Gilberto Gil etc. Ex. bibl. Antonio Miranda
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Página ampliada e republicada em dezembro de 2020
Página publicada em fevereiro de 2008; ampliada e republicada em março de 2014.
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