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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
 

VIRGILIO MOOJEN DE OLIVEIRA

 

Nasceu em Leopoldina, Minas Gerais, Brasil, a 16 de outubro de 1902.  Fez os estudos secundários no Colégio Brasil, em Niterói, em seguida cursou, durante três anos, a Escola Politécnica, que abandonou para se matricular na Faculdade de Odontologia.
Diplomado neste instituto, resolveu estudar Medicina e graduou-se na Faculdade do Rio.
Em 1945 imprimiu numa tiragem de 250 exemplares, que não foram expostos à venda, uma brochura de vinte e dois poemas sob o título de Folhas caídas.   O livrinho é dedicado a Afrânio Peixoto, em parte culpado da publicação deste livrete, homenagem sincera do autor.”

 

 

ANTOLOGIA DOS POETAS BRASILEIROS BISSEXTOS CONTEMPORÂNEOS. Organização: MANUEL BANDEIRA.
Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1996.  298 p,   12 x 18 cm. 
ISBN 979-85-209-0699-O    Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

Bissexto é todo o poeta que só entra em estado de graça de raro em raro.” MANUEL BANDEIRA

 

 

                QUALQUER COISA


       Não sei se já notaste, mas existe
Qualquer coisa entre nós; um sentimento,
Uma força sutil mas que resiste
Ao tempo e às convenções. Por vezes tento

Explicar a mim mesmo em que consiste
Essa coisa qualquer: encantamento?
Afinidade?  Amor? O pensamento
Em vão busca dizer, debalde insiste

 

        Em sondar a verdade dentro d´alma.
Mas esse doce enlevo, e a doce calma
Que eu sinto que me envolvem se te vejo...

E depois essa angústia, esse desejo
De tudo, essa aflição, não sendo amor...
De ser qualquer coisa ainda maior.

 

 

        NATAL

 

       Quando chega o natal — e já vi tantos...
eu me transporto à minha meninice;
tempo em que a vida, donde quer que a visse,
era um contínuo desfilar de encantos.

        Anjos amigos, fadas, nem sei quantos
personagens enchiam a crendice.
Em minha ingênua fé, eram meus santos,
com que contava para o que pedisse.

        Esperar era tudo... E assim era,
porque na infância aquilo que se espera
já tem sentido de realidade.

Depois, com os anos, tudo muda e muito...
Se a vida enseja algum prazer fortuito,
são só migalhas de felicidade.

 

 

        QUO VADIMUS

 

       Eu venho do infinito, de outras eras,
trazido das entranhas dos espaços.
Ínfima soma de ínfimos pedaços,
desgarrados do caos de outras esferas.

        Eu venho, martelado pelos braços
ígneos do fundo bojo das crateras,
e venho como os vermes, como as feras,
irmão que somo por milhões de laços.

        Eu venho da retorta dos mistérios,
que deu a vida a ameba e aos megatérios,
no turbilhão das leis do transformismo.

E, dentro dessa vã complexidade,
hei de volver ao pó da eternidade,
ao me desintegrar no eterno abismo.




DANÇARINA

       Quando ela surge, vaporosa e leve,
à luz dos refletores coloridos,
e arabescos de música descreve
na sucessão dos gestos contorcidos,

        É como folha solta que se eleve
num vendaval fantástico de ruídos
e que sonora e docemente a leve
embalada por braços escondidos.


Saltitante e graciosa em seus meneios,
os pezinhos em ponta, concebei-os
inumanos, irreais e, crede, quando

de longe os virdes, ágeis, num bailado,
ireis, supor que está sobre o tablado
um par de notas musicais dançando.


        INTROSPECÇÃO

 

       Trago esperanças mortas, e retalhos
das ilusões que tive e já não tenho,
Cobre-me o pó do tempo nos grisalhos
e parcos fios que me restam. Venho

        Pisando o chão pedrento dos atalhos,
crestado pelo sol, curvado ao lenho,
e a quê? nem sei... Se acaso me detenho,
vejo que inúteis passos e trabalhos.

        Que estéreis lutas não lutei sozinho,
vencendo os empecilhos de um caminho
que vai a um ermo solitário e mudo.

Confrange-me pensar que ao fim de cada
penosa faina, tudo volte ao nada,
e o nada seja o término de tudo.

 

 

        CANTIGA DE PASSOS


        Na quietude da rua já dormida,
a cantiga de passos me desperta.
Quem há de a horas mortas, que, na vida,
traz esse andante à sombra antes deserta?

        Cantiga de passadas... Alma aberta,
recolho a voz da pedra que é ferida.
A voz de pedra creio que acoberta
lamento milenar ao ser batida.

        Também dentro de mim passos errantes
caminham na surdina dos instantes
vazios e monótonos da noite.

        Fantasmas de lembranças do passado
passeiam no meu mundo inanimado,
como tangidos por oculto açoite.  

 

MINHA RUA

 

Minha rua era tão minha

em sua simplicidade…

 

Não sei de onde é que ela vinha,

mas ia para a cidade.

 

Com suas pedras redondas

e duas magras calçadas,

não tinha praia nem ondas,

mas como tinha enxurradas!

 

Era alegre, era risonha,

tinha orquestra de pardais,

e a cantilena enfadonha

de mil pregões matinais.

 

Ali cresci, me fiz homem,

e a minha rua, coitada…

qual as mães que se consomem,

foi tudo, sem querer nada.

 

Foi pista dos meus brinquedos,

de jogos de correrias…

Foi dona dos meus segredos

viu tristezas, alegrias…

 

Viu meus passos imprecisos,

viu-me garoto, um traquinas,

e viu-me trocar sorrisos

nas rondas pelas esquinas.

 

Viu-me também, certo dia,

sair da lá, nem sei quando…

 

Por fora sei que sorria,

por dentro estava chorando…

 

guardei, porém, na lembrança

aquele encanto que tinha

a rua em que fui criança,

a rua que foi tão minha.

 

 

 

 

Página publicada em maio de 2020


 

 

 
 
 
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