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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

POESIA BRASILEIRA – SIMBOLISMO

SEVERIANO DE RESENDE

SEVERIANO DE RESENDE - 1871-1931
 

José Severiano de Ribeiro nasceu em Mariana, Minas Gerais, a 23 de janeiro de 1871 e faleceu em Paris no dia 14 de novembro de 1931. Iniciou estudos de Direito por um tempo, dedicou-se por um tempo ao sacerdócio, passando depois ao jornalismo, mudando-se para Paris onde redigia a seção “Lettres brésiliennes” do Mercure de France e onde casou-se com uma francesa. Polemista e panfletário, teria vivido na pobreza. Sua obra poética está consolidada no livro Mistérios (1920), que vão dos temas amorosos aos religiosos, além de poemas sobre animais.

 

TEXT0S EN PORTUGUÊS  -  TEXTOS EN ESPAÑOL


SEVERIANO DE RESENDE

RESENDE, José Severiano deO Hipogrifo, São Sebastião e outros poemas e prosa.  São Paulo: Editora Barcarolla; Oficina do Livro Rubens Borba de Moraes, 2004.   122 p. (Leitura Maior) Projeto gráfico da capa e da caixa: Moema Cavalcanti.  “ José Severiano de Resende “  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

  O HIPOGRIFO

 

Resfolega o hipogrifo, indômito, batendo

no asfalto as patas de ouro; e os olhos de águia adusta,

 sobre as nuvens e além dos sóis ovante erguendo,

 já no azul a cabeça em fogo barafusta.  

 

O éter transpõe, afIando as asas, belo e horrendo,

e haurindo a Vida e a Graça e a Idéia eterna e augusta,

ó como eu nesse arroubo insofrido compreendo

que ao estranho hipogrifo o gesto astral não custa.  

 

No solo os áureos pés, no empíreo em glória a fronte,

terras, mares e céus, de horizonte a horizonte,

mede, calcando o pó, e os pátamos transcende.  

 

Brotam fráguas de luz na poeira dos seus rastros

e nas landas glaciais e tristes, ermas de astros,

novas constelações o seu hálito acende.

 

 

              BELLUA

 

Como, neste lagoal surdo, surde elétrica e lesta

         A Fera?  Como, sem que o passo em relvas resvalasse,

         O monstro, que a campanha e a vila infesta,

         Penetra o meu castelo e vem olhar-me face a face?

 

         (Vejo-o surgir diante de mim no espelho

         ígneo e fosforescente
         Todo tinto de verde e de vermelho,

         E senta-se, sem que eu lhe diga que se sente.)

 

         Mas sob o manto astral aos meus ombros esparso

         A essência do meu ser recôndito eu disfarço.

 

 

 

 

         Mira-me de alto a baixo e dos pés à cabeça

         E da cabeça aos pés

         E do meu corpo esfuracando a impermeável e espessa

         Penumbra, arranca-me a alma (em vão!) e inquire-me: "Quem és?"

 

         Como se este medonho híspido avejão de outro mundo

         (E de outras eras)

         Não temesse que do meu cérebro arguto e profundo

         Me saísse em resposta esta outra pergunta: "Quem eras?"

         Ou: "Quem foste?" porque, sem erro algum, eu bem conheço

         De onde este fantasma vem.

 

         E preciso não é remontar ao começo

         Do caos primevo, que os arcanos do cosmos contém,

         Para desmascará-lo e conhecê-lo bem.

 

         MAS DENTRO EM MlM RESPLENDE A ÁRVORE DO BEM.

 

 

SOMBRAS QUE PASSAM

 

Com que amargura desabrida e insana

Os olhos volvo ao túrgido passado!

Tanta esperança que se desengana

E tanto sonho vão desperdiçado

 

E tu, meu doce desvario amado,

Sombra perpetuamente desumana,

Vens com o rosto de lágrimas nublado

Em meio à lacrimante caravana.

 

Segues, e mais do que todas elas triste,

e mais chorosa do que todas elas,

clamando o amor que outrora não sentiste…

 

Adeus, loucas visões, brancas e belas,

vindes buscar o que já não existe,

sombras errantes de apagadas telas.

 

 

SATANIA

Dea de ignoto Olimpo, onde, em que terra adusta
Nasceste, expondo ao mundo a arrogância triunfal
Do teu corpo, que o olhar humano assombra e assusta
E abate? Em que hemisfério é o teu torrão natal?

Sonho que o teu país, dama branca e vetusta,
É um pedaço de firmamento tropical,
Em que um gesto, dos teus, cheio de insânia, custa
Toda a existência de um misérrimo mortal.

Que fervida e impetuosa onda de sangue pula
Dentro de ti, que tens tal secura e tal gula
De amar com toda a gana e com toda paixão?

Como o teu desvario a vida me atropela!
Rugem no teu carinho ululos de procela,
Perpassa no teu beijo o sopro de um tufão!


MISERERE

    A João Glaberto do Amaral – Sacerdos in aeternum

Por eu ser o mais réu dos demais pecadores
(E por ter a consciência escura e corrompida)
Longamente sonhei horrores sobre horrores,
Tenebrosas alucinações desta vida.

...(Eu vi sair do templo a procissão da Mágoa
Entre o horrendo sabat das turbas dissolutas
E pálido fiquei, com os olhos rasos d´água,
Ouvindo aos pés do altar sorrir as prostitutas...

...Vi o estertor feral do sacrilégio imundo
Insultar o Senhor na pompa do pecado
E tive compaixão dos homens e do mundo,
Quando o crime poluiu o Corpo Consagrado.

...Vi Satanás vestir os buréis dos ascetas
E, enchendo os corações de anátemas e sustos,
Arremedar a voz augusta dos Profetas
E ir às portas da morte interpelar os Justos...)

Orei ao Senhor Deus diante de tais horrores,
O meu rosto escondi na poeira das estradas
E deixei o clamor dos grandes pecadores
Ecoar no coração das almas condenadas.

 

VOZES INTERIORES

Creio que dentro de ti soluça e chora alguém.

Pois dentro de mim também

Soluça e chora, quem?

Certo alguém dentro de mim chora e soluça,

Alguém sobre a minha alma a carpir se debruça.

 

Ah! plange dentro em mim a eterna voz do Além.

A trágica atração das tribos e das raças

No meu ser misturar-se e congregar-se vem.

 

Inquieto furacão que sem cessar esvoaças,

És o fluxo do Mal e o reuxo do Bem!

 

És o infindo desejo do Infinito,

És o infrene fremir pelas Eternidades,

O estarrecer da Vida insatisfeita, o grito

Do Ser e do Não-Ser através das idades.

 

Sinto o imenso clamor dessa maré montante

E esse crebro ulular enorme quem não sente?

No nosso espírito ele sobe instante a instante,

Como um facho de luz na esfera incandescente.

 

É o sofrimento humano a ansiar pela esperança,

Pobre cego a tatear nos dédalos obscuros,

É o apelo que não cessa, é o anelo que não cansa

Do passado a bramir pelos amplos futuros.

 

É o brado de quem vive e nada achou na vida,

É o pranto colossal e intérmino dos mortos

Que nos insta, que nos induz, que nos convida

A velas desfraldar para os sidéreos portos.

 

E este velho homem carcomido de luxúria,

Este sempre rebelde velho homem relapso,

Para que surge e clama e blasfema com fúria,

Fraco, a estorcer-se nesse espiritual colapso?

 

Ah! como não ouvir atento tantas vozes,

Que nos dizem no seu fantástico marulho

Quantas transformações, quantas metamorfoses

São necessárias para aniquilar o Orgulho.

 

E o Pecado sobre a minha alma se debruça

E vendo-me a tremer, quedo, pálido, exausto,

Geme dentro de mim, dentro de mim soluça:

— Dentro de ti soluça e geme o Doutor Fausto.

 

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JOSÉ SEVERIANO DE RESENDE

 

 

 

Texto e poemas extraídos da obra:

Fontes de Alencar

ANOTAÇÕES DE POESIA

no Centenário da

REVISTA AMERICANA (1909-1919)

Brasília: Thesaurus, 2010.

ISBN 978-85-7062-925-8

                                                       

 

 

JSR nasceu em Mariana – MG e faleceu em Paris.   Mistérios, única coletânea de versos de J. Severiano de Resende, foi impressa em Lisboa, no ano de 1920. A Editora Barcarola: Oficina do Livro, de São Paulo, dele publicou há pouco tempo O hipogrifo, São Sebastião e outros poemas e prosa, com introdução de C. Giordano; e versos  extraídos da  mencionada coleção. A Revista Americana, do Rio de Janeiro, em 1910, v. IV, já estampava do aludido marianense Crepúsculo Macabro, dedicado a Alberto de Oliveira, “O Poeta que entendeu a Alma das Cousas”, poema aqui reproduzido:

 

 

 

         Como ociso titã vivo em feéricas landas

         Funéreo, o Dia rútilo perece.

         Um séquito outonal de festões e guirlandas

         Traz-lhe o último perfume e a derradeira prece.

 

         Hora de sensações vagas e vaporosas,

         Em que há pelo ar estremeções e enleios,

         Violáceos lutos, fulvos tons, goivos e rosas,

         Nuanças de rosas e de bruxuleios.

 

         Hora em que se suspira e se tem saudade,

         Hora de tédios e melancolias...

         Ah! Como é triste o campo e é lúgubre a cidade

         Na hora em que o Sino plange o toque a Ave-Marias.

 

         É uma hora amarga e torva, em torno à qual, volteando,

         Um magro corvo, o olhar amargo e torvo,

         Torvelinhando, as asas rufla, turvo e brando,

         A corvejar, o hediondo e híspido corpo.

 

         Dir-se-ia o hirto avatar do pássaro edgar-poesco,

         Tirado a um álbum de caricaturas,

         Tal o seu torto esgar, ridículo e grotesco,

         Mefistofélico a assobiar pelas alturas.

 

         Bulcões retorsos no ar argamassam castelos

         De ameias rombas e torreões disjuntos,

         E o vento faz surdinas vãs de violoncelos

         Para embalar o sono dos Defuntos.

 

         Sundários em que há cinza e lágrimas, ao longe,

         Abrem os seus lúridos cortinados,

         E nas franjas, além, das nuvens reza um monge

         Para os mortos no cemitério abandonados.

 

         Passa, esvoando, uma bruxa, e após mais outra bruxa,

         Montando zebras brutas e iracundas,

         Enquanto um jaguar pardo e esgazeado puxa

         Um faéton cheio de jograis corcundas.

 

         Todo o meu ser soluça e chora, envolto em crepe,

         E eu mudo neste assombro ergo a cabeça,

         Sem que uma escada de Jacób, por onde eu trepe

         Ao céu em meio a tantas brumas apareça!

 

         Um fluido malefício etéreo efunde, em roda,

         Eflúvios de almas e de sombras mestas

         E de cada roseira ou roble que se poda

         Gemem as vozes ermas das Florestas.

 

         O Sol é a fauce arfante e acesa de um Moloch,

         Goela seca de algum deus molosso,

         Rubro e tonto, a pedir, num trágico remoque,

         Para essa sede, o Mar, para essa fome, um osso.

        

         Soam, no entanto, ao largo,as campânulas graves,

         Loas do tempo antigo das ermidas,

         Quando tinham amor e liberdade as Aves,

         Que hoje nos bosques andam foragidas.

 

         Sons de exorcismos contra os lêmures aziagos,

         Contra os sussuros lúbricos das furnas.

         Bênçãos difusas no ar contra as sagas e os magos

         E contra as sugestões diurnas e noturnas.

 

         “Ave Maria gratia plena!” Sim, ao menos,

         Uma âncora no pélago se lança...

         E, enquanto, lento, ó Sino, alongas os teus trenos

         Há fé, há caridade, há esperança...

 

         E se na arena vil, rude e pulverulenta

         Estortegam as nossas agonias,

         A ancila do Senhor os tristes acalenta

         Na cantilena astral das brancas litanias.

 

         Mas, Senhor! E o sol posto, e as lufadas do outono,

         E estas insônias e estes pesadelos?

         - Piedade para quem dorme e não tem mais sono,

         Não tem mais sonhos e não quer perdê-los!

 

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O hipogrifo

 

 

Resfolega o hipogrifo, indômito, batendo

no asfalto as patas de ouro; e os olhos de águia adusta,

sobre as nuvens e além dos sóis ovante erguendo,

já no azul a cabeça em fogo barafusta.

 

O éter transpõe, afIando as asas, belo e horrendo,

e haurindo a Vida e a Graça e a Idéia eterna e augusta,

ó como eu nesse arroubo insofrido compreendo

que ao estranho hipogrifo o gesto astral não custa.

 

No solo os áureos pés, no empíreo em glória a fronte,

terras, mares e céus, de horizonte a horizonte,

mede, calcando o pó, e os pátamos transcende.

 

Brotam fráguas de luz na poeira dos seus rastros

e nas landas glaciais e tristes, ermas de astros,

novas constelações o seu hálito acende.

 

 

TEXTOS EN ESPAÑOL

 

ANTOLOGÍA DE LA POESÍA BRASILEÑA, desde el Romanticismo a la Generación de cuarenta y cincoTrad. Ángel Crespo.   Barcelona: Seix Barral, 1973.   440 p.  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

         A LUCIFER

 

         (Fragmento)

 

         ¿Quién, en atanor candente o em constelante astrolabio,
         Vislumbró lúcido la inenarrable culpa  primera
         Y qué Helena diría al Doctor Fausto, al viejo sabio,
         El edénico sigilo que floreció em los lábios de Eva
?

         QUOMODO CECIDISTI, LUCIFER? Ante el enigma,
De la boca del profeta ansiosa huye la palabra,
Y        eres de ira y rebelión el eterno paradigma
Y        a tu arbitrio el error nace, sangrante el incendio labra.

         Descomunal fue tu crimen y en la hora formidanda,
Cierto, del gran fuego rojo y la tronante trompeta,
Para que en luz increada tu espíritu allí se expanda,
Surgirás grande y desnudo ante la luz del planeta.

         Ante los Eloínes llorosos, asombrados y atentos,
Ante las Doce Tribus y ante los Nueve Coros,
Ante los Siete Espíritus, ante los Cuatro Vientos,
Ante los torbellinos de las Almas y los Soles sonoros,

         Ante la unitrina Esencia que llena el éter, radiante,
Ante el Tetragrámmaton que el caos penetra, vital,
Ante el Amor que en lo alto cierra aljaba rebosante,
Ante el Verbo hecho Carne y María Virginal,

         Vendrás a decir el poema de tu crimen insensato
Y el imposible ideal que intentaste inutilmente
Y tu espectro terrorífico preso de plúmbeo reato
Pronto se confundirá en el cielo candente.

         Las ruedas candentes de los altos círculos,
Serafines ígneos, Querubes claríficos,
                        Te verán!

Las ruedas irísales de los Tronos que, translúcidos,
En el cosmos mantienen peso, medida y número,
                           ¡Te verán!

Las Dominaciones y Señorías célicas,
Que sin reencuentr os dan vueltas angélicas,
                           ¡Te verán!

Las Virtudes presas al inmortal revérbero,
Multifacéticas normas del esplendor prismático,
                            ¡Te verán!

Fecundando las Causas y las Razones, prónubas
Potestades tensas en la expansión del Arquetipo
                            ¡Te verán!

Lohengrines del Más allá, los Principados vigilantes,
De las razas y tierras capitanes y egrégoros,
                            ¡Te verán!

Los Arcángeles y Ángeles, desplegando las flámulas,
Desdoblando las alas, sopesando las frámeas,
                            ¡Te verán!

Los cortejos densos que obstruyen los siglos
Pidiendo vibrantes las promesas prístinas,
                             ¡Te verán!

Los Patriarcas desde las diluviales catástrofes,
De los antiguos pactos testigos memores,
                            ¡Te verán!

Los Ancianos y Jueces, del Sinaí al Líbano,
Que a través de la Ley fueron fieles a los Símbolos, ¡
                            Te verán!

Los Nabíes austeros, de almas tan diáfanas
Que a través de ellas vino la irruente voz del Espíritu,
                            ¡Te verán!

Salomón y los Reyes intercambiando rútilas
Con Gaspar y Melchor y Baltasar aureolas,
                            ¡Te verán!

Ostentando la albura de resplandecientes túnicas,
En sus tronos de oro, los Papas y los Apóstoles
 ¡Te verán!

Vírgenes, Confesores y legiones de Mártires
Y la preclara turba de los Doctores fúlgidos,
¡Te verán!

Y los enjambres vastos y el revolar intérmino
De Santos y de Santas en joviales miríadas
¡Te verán!

Y oirás al rededor como el clamor de las aguas abundantes,
Clamor que asfixia y que destruye las congojas deses-perantes,
Clamor que es la Sangre misma de Cristo,
Y        sobre el leño en que murió Jesús para perdonar
 Leerás, con la rodilla en tierra y la mirada llorosa, este imprevisto
Igneo letrero que en la luz enorme verás irradiar:

SUPEREXALTAT  AUTEM   JUDICIUM MISERICORDIA

Mientras en la amplitud retumba la cítara heptacordia.

 

 

Página publicada em maio de 2010. Ampliada em junho de 2018

 

 

 

 

Metadados: Poesia mística; Poesia religiosa; Poesia católica; misticismo; simbolismo.

Página publicada em outubro de 2008



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