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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Imagem: www.querodiscutiromeuestado.rj.gov.br/

 

 

 

OCTAVIO MELLO ALVARENGA

 

 

Octávio Junqueira Mello Alvarenga (Belo Horizonte, 1926 - Rio de Janeiro, 6 de julho de 2010) foi um advogado especialista em Direito Agrário, escritor e historiador brasileiro.

Autor de dezoito livros de ensaios, poesias, crítica literária, romances e biografias, entre eles "Judeu Nuquim" e "Sexta-Feira, Dezesseis" com os quais ganhou o terceiro lugar do Prêmio Walmap de Literatura em 1967 e 1971, respectivamente.

Também foi presidente da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), presidente da Comissão Permanente de Direito Agrário do Instituto de Advogados Brasileiros (IAB-RJ) e presidente da Sociedade Nacional de Agricultura. Pertenceu à Academia de Agricultura da França e foi um dos criadores da Faculdade de Ciências Agroambientais (FAGRAM).

Recebeu em 1986 a Grã-Cruz da Ordem do Rio Branco, outorgada pelo então presidente da República José Sarney. Em 1997, foi agraciado com o título de Cidadão do Estado do Rio de Janeiro. Faleceu na terça-feira, dia 6 de julho de 2010, aos 84 anos de idade.

Biografia: Wikipedia

 

 

CAMPOS, Milton de Godoy.   Antologia poética da Geração 45. São Paulo: Clube de  Poesia, 1966.   207 p.  16 x 23 cm.   Ex. bibl. Antonio Miranda

 

         CORAÇÃO

       O desabrochar das rosas perfura-me o corpo
Rubras e risonhas,
Anteriores ao meu destino
Sobem para luz confusamente.

No coração elas gritam, poderosas,
E frágil tento compreendê-las.

Eu, antigo, troco carbonizado,
De mim, flores como grandes aves rebentando aurora.

Riso e infância e firme o gesto
A vida redescoberta!
A vida e além da vida a aurora morta
Que é minha própria aurora.

No descampar da noite a segurança de teu passo
Tardo porque lento, mas breve porque presente
Entoar-te, hinos, amada!

Um ramo de rosas violentas
Amarelo e salmon nos olhos sorrindo
Beijo tuas pupilas de longo amor e certeza.



AUSÊNCIA

É tua ausência que agora habita a casa
onde tudo existia porque estava ali.
Acenam as cortinas da janela
num gesto constante de adeus.

Não ouço o ruído bom das xícaras,
a água correndo no banheiro,
o cheiro do café matinal.

Há surpresa nos cristais dos armários
e sob os sapatos indecisos,
o assoalho de luto observa.

São de gelo os lençóis
em que tua ausência me amortalha.

 

COSTA E SILVA, Alberto da, org.  A Nova Poesia Brasileira. Lisboa: Escritório de Propaganda e Expansão Comercial do Brasil, 1960.   287 p.  19x28 cm.  autografado   encadernado 
Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

 

ANTEMANHÃ

 

Aurora, fecunda aurora, há tanto pressentida.

Flauta de cristal soprada de dentro de um navio que parte.                                                         

Mulher, flor ambiciosa,

silenta guardiã do mistério em teu ventre.

 

Em ti redescuhro a natureza.

Pássaro na chuva — tu! ao meu lado.

Grito de pavão — É minha saudação à manhã.

 

Nós diante do mar.

 

Ah mulher, sombra anteriormente líquida,

quando mil vezes ciciava teu nome entre uma rosa

e a amarga recordação da roseira tombada ao seu próprio peso.

                                                  

O barco se desgarra num ruído de correntes.

Se acelera o motor. Em mim, devagar,

mais que trepidação há dolorido

pelo passado se dissolvendo no cais.

Meus olhos duplo farol circulando.

A brisa solitária do convés se crava na alma

e me projeta para o futuro.

O gosto do mar, a vida salgada, a lembrança

de inauditos perigos dos navegantes

vividos em brochuras coloridas da infância

e agora os mesmos olhos embriagados

da mesma sensação, só que mais excitante

— ali o ninho do tufão, aquém as caudas das sereias;

lento o desejo se cristaliza:

—permanecer marinheiro.


Permanecer marinheiro.

Para além do horizonte, cada sílaba se condensa ao ruído
assim como um despetalar que as vagas possuem,
dança saracoteia ao vento

e vem beijar meu corpo na brisa da espuma leve que espanca no
casco:

—permanecer marinheiro.

Seria tão difícil, é tão fácil:

teu o navio, o mar enorme,

um gesto de tua mão apagará o continente.

Permanecer marinheiro.

 

Ai, o pranto do garoto no catecismo,
a pergunta deixada no ar durante a aula,
os livros, os livros lhe ardendo os olhos,
quem sabe? Consolida agora o convite
intermitente na vida.

 

Coloco nos ombros inábeis
divisas de comandante;

um portavoz de vendaval nos dedos enregelados;

êh vento êh máquinas!

êh! Vida! rebenta a todo vapor!

Além do ridículo! Voa barco! Voa doido!

 

Nas franjas do céu uma estrela avança.
Outras estrelas ensaiam acompanhá-la.
Olé! um bailado de astros.

 

Louco capitão de longas barbas ao vento
grito ordens enrouquecidas á vida marinha.
Controlo os sinais semafóricos
secretos do oceano.

 

De popa á proa, chicote em punho,

ordeno a. natureza minha aventura maior:

que o mar engula uma estrela.

E o mar avança em trompa dágua de mágica prata.

 

Saudações coloridas de peixes!

Desfile de algas!

Ballet de sereias!

Cortejo alegórico de gaivotas!

Olé! que me alucino.

 

Nas mãos da noite

meus fiarois são fiachos que incendeiam a superfície das águas.

O mar é um enorme incêndio

onde ficou minha inocência de aventura

e meu boné de capitão adolescente.

 

A última menstruação da lua
tinge as águas desordenadas.
Supero o oceano
e descubro o país da estrêla.
Outra vida além do mar.

 

Duas flores nas antigas divisas

e a madrugada para guiar.

Ah mulher! O barco entra no porto

florido de azul e ouro para recebê-lo.

 

Há outro mar, mais mistério, vagas
de sonho em teus olhos.
Há outra vida
insuspeitada ao viajor.

 

Deposito meu sal a teus pés.

 

 

                                               (Antemanhã)

 

 

 

SEGUNDO POEMA DA CHAVE

 

Em teus olhos vejo a pergunta
Mais forte que o desejo

Mais forte que a morte, maior, maior que tu mesma — fonte! —

 

Em mim as pombas se recolheram.
Sou rei e palhaço e entendo

Tudo o que os reis da antiguidade fizeram; mas sofro
A máscara branca e azul no picadeiro.

 

Nas veias de meu corpo escorrem navios de piratas e navios ingênuos

Prestes a descobrirem uma terra e escreverem cartas ao Senhor
El-Rey

E do outro lado do mundo eu sou o Soberano que abre a carta e digo

Mas sou também o menino simples

Que nunca pediu outra coisa a não ser infância

Que ficou machucado e eis-me de novo a gargalhar multidão.

 

Sou apenas uma caixa um quarto uma coisa qualquer ôca ou maciça
mas cercada
E tu queres a chave mágica.

 

        

                                                   (Antemanhã)

 

 

 

 

Página publicada em agosto de 2020; página ampliada em outubro de 2020

         


 

 

 

 
 
 
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