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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

MURILLO ARAÚJO

MURILLO ARAÚJO


O Poeta Murillo Araujo [ também aparece grafado, equivocamente, como Murilo Araujo ] nasceu na cidade de Serro, Minas Gerais, Brasil, em 26 de outubro de 1894. Ele é um dos expoentes do Modernismo. Estreou em 1917, com o livro Carrilhões -cinco anos antes da Semana de Arte Moderna, evento do qual participou-. Seguiram-se a este livro A galera (escrito em 1915, mas publicado anos depois), Árias de muito longe (1921), A cidade de ouro (1927), A iluminação da vida (1927), A estrela azul (1940) -esta obra foi traduzida pelo poeta uruguaio Gaston Figueira para o espanhol com o nome La Estrela Azul e publicada em Nova York (EUA)-, As sete cores do céu (1941), A escadaria acesa (1941), O palhacinho quebrado, A luz perdida (1952) e O candelabro eterno (1955). A obra em prosa limita-se a quatro livros: A arte do poeta (1944), Ontem, ao luar (1951), uma biografia do compositor Catulo da Paixão Cearense, Aconteceu em nossa terra (pequenos casos de grandes homens) e Quadrantes do Modernismo Brasileiro (1958). Murillo Araujo também traduziu o livro O inspetor geral, do escritor russo Nikolai Gogol (Sorotchintsi, 1809 – Moscou, 1852).

Em 1960, a Editora Pongetti lançou, em três volumes, toda a sua obra poética, com o título Poemas Completos de Murillo Araujo.

Ele foi integrante do grupo Festa —que contou com a participação de Cecília Meireles, José Cândido de Andrade Muricy, Adonias Filho e Tasso da Silveira. O poeta foi um dos artistas do modernismo mais influenciado pelo Simbolismo. O grupo, que editava a revista de mesmo nome, integrava que a Corrente Espiritualista do Modernismo. O poeta era também famoso freqüentador dos sabadoyles, organizados pelo bibliófilo Plínio Doyle.

Dentre os poetas que o influenciaram estão Walt Whitman -poeta norte-americano (West Hills, 1819 - Camden, 1892)-, Antônio Nobre -poeta português (Porto, 1867 - Foz do Douro, 1900), considerado a maior figura do simbolismo em Portugal- e Émile Verhaeren -poeta belga de expressão francesa (Sint-Amands, 1855 - Rouen, 1916). Autor de contos, peças de teatro e crítica literária, além de poesia, evoluiu do naturalismo para o misticismo. Em 1971, ele recebeu o prêmio Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras, pelo conjunto de sua obra.

Pesquisa de Artur Araujo, seu sobrinho-neto em : http://www.geocities.com/Athens/Agora/9443/Murilo.htm

 

TEXTOS EM PORTUGUÊS    -    TEXTOS EN ESPAÑOL


TEXTO EN ITALIANO

 

TEXTES EM FRANÇAIS

 

 

VISÃO

 

Tenho à noite a visão de que a estrelas de ouro

vão descendo ao meu sonho e vêm dançando em coro.

 

Sinto-as numa nevrose...

numa fascinação... numa alucinação!

– quer agonie ou goze —

eu as sinto nevoentas,

lânguidas e luarentas,

uma por uma dando o pálido clarão!

 

Uma diz: “chamo-me Apoteose!”

Outra diz: “chamo-me Afeição!”

Outra é, levíssima, a Confiança,

Outra — a Lembrança

Outra — a Ambição...

 

E assim tenho a visão de que as estrelas de ouro

Vêm, dançando, ao meu sonho e vão descendo em coro.

 

Mas choro de aflição...

pois falta estrela que procuro em choro,

falta a q1ue foi na terra um vulto louro,

falta a que está nos céus, e acha desdouro

descer e iluminar-me o coração!...

 

         Carrilhões, 1917

 

Comentário: Trata-se de um poema pertencente ao primeiro livro de Murillo Araújo, dentro das normas estéticas do Simbolismo, pois a famosa “Semana de Arte Moderna” ainda estava a cinco anos de distância no tempo. A visão de um mundo extraterreno, mundo de essências puras, indefinido e vago, transparece nos versos. A musicalidade — e o crítico Agripino Grieco já observou que “seus versos ainda não são versos e já são música” — (in O Jornal de 23-3-24) — traduz-se no jogo aliterado e coliterado de consoantes e no jogo vocálico de assonâncias, revelando a fluidez de um ritmo plástico, como neste exemplo: “Louras, lúcidas, longas, lindas, leves, lentas”.  Leodegário A. de Azevedo Filho

 

 

INFÂNCIA

 

À noite (e lá por fora ia a tormenta...)

Eu pedia a Mamãe: —Conta uma história!

E ouvia... Cabecinha sonolenta,

Via os reinos de fada — via a Glória.

 

(Havia a ventania e a merencória

Chuvarada, nas telhas, barulhenta).

— “Era uma vez...” É incenso na memória

aquela voz embaladora e lenta!

 

Hoje (que diferente é cada idade!)

Mamãe foi ver as fadas...  foi talvez

morar no Reino da Felicidade!

 

Hoje sou homem, sou, vejam você.

Aì! Vindo a noite e vindo a tempestade

Só da Saudade escuto: — Era uma Vez!

 

                  Carrilhões, 1917

 

 

                   HUMORESCO SILVESTRE

 

                   O vento, chefe de esquadrão, comanda os pelotões do mato.

 

                   E no horto florestal — quartel das árvores —

                   os pinheiros e coqueiros

                   fazem ginástica

                   sueca.

 

                   Os castanheiros

                   com as flores de penacho

                   jogam peteca.

 

                   Sussurram pífanos e rufos na charanga dos bambus.

                   E as bananeiras

                   batendo as raquetas das palmas

                   batem pelota com a péla da lua.

 

                   Mas de repente

                   silêncio...

 

                   Pesa o repouso lunar.

 

                   Um grilinho clarina.

                   E o vento chefe-de-esquadrão ordenas aos ramos “descansar.”

 

                                      A Iluminação da Vida, 1927

 

Comentário: “O regionalismo é uma nota marcante do sentimento de brasilidade revelado no poesia de Murillo Araújo. A cosmovisão do poeta está impregnado das reminiscências infantis na terra mineira. Aliás, o poeta passou a sua infância na Zona da Mata, em Minas Gerais. E deste amor regional surge uma característica nova em sua poesia, que é a do humor pictórico, por ele indicada através de neologismo humoresco. O vocábulo se formou de humor mais o sufixo –esco, da palavra pinturesco. Leodegário A. de Azevedo Filho

 

Poemas e textos extraído da obra POETAS DO MODERNISMO, vol. 4, edição comemorativa dos 50 anos da Semana de Arte Moderna. Publicação do Instituto Nacional do Livro, em 1972.

 

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CANÇÃO DA LUA QUE LAVA

Lua, que lavas teus linhos,
sempre a lavar
numa lixívia de nuvens,
branca, branquinha de espuma,
e escorres tudo lá no alto
para seca;

lua que lavas teus linhos
pelo valados maninhos,
na serra onde vai nevar;

oh lua alagando o mundo
nesta espuma de cegar!

lua que lavas teus linhos
e que os enxáguas
e os pões em qualquer lugar —
nos terraços lageados,
nos velhos muros calados,
nos laranjais do pomar
ou nos campos orvalhados
onde estão a gotejar —

vem, lua, e lava minha alma!

Oh lava minha alma em lágrimas,
para que Deus, sol das almas,
venha a enxugar

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Murillo Araujo

De
Murillo Araujo
Poemas completos de... 
Com uma introdução de Jorge Amado.
 Rio de Janeiro: Pongetti, 1960    3 v.  
 --- v. 1   Inclui os livros: Carrilhões - seguidos d´A Galera; Árias de muito longe; A cidade de ouro; A iluminação da vida. 
--- v. 2  Inclui livros: As sete côres do céu; A estrêla azul; A escadaria acêsa.    
--- v. 3  Inclui os livros: O palhacinho quebrado; A luz perdida; O candelabro eterno.

 

Exemplares que pertenceram à biblioteca do poeta e crítico literário Oswaldino Ribeiro Marques que tinha o costume de fazer anotações nas páginas dos livros ressaltando aspectos das obras, anotando as páginas com os poemas de sua preferência. Por exemplo, no volume 1 ele registra a lápis:  " O melhor é a Iluminação da Vida, referindo-se ao último dos 4 livros do primeiro volume.

Sem referir-se a textos específicos, anota: "pré-rafaelistas - tom romântico, intensificado por indefinido anelo e a piedade, arroubo e tristeza. Poesia nostálgica, penetrada de ressoante música e introspecção abismal."

E até encontra um erro de português em verso do poema "NESTE MINUTO a vida..."  (p. 223 ): " A água ainda está tinta de luz / porque a pouquinho é que o sol se lavou.", quando deveria dizer "há pouquinho"... Erro de revisão ou do original...

E coloca uma exclamação relativa ao poema seguinte, como a expressar admiração: (conservamos a ortografia original),  p. 77, do livro Carrilhões, ("publicados pela primeira vez em 1917" segundo informação do autor).

 

IDEALISMO

Antigos — que (de murta e louro à fronte)
cantaste Baco, em ledos parreirais,
louvando as uvas, como Anacreonte.
e o vinho e o mel e o beijo materiais —

passastes! ... E passaram vossas trovas
e a vossa musa hidrópica — a Taverna!
Nós, os novos, cantamos odes novas
ao suco novo de uma Vinha Eterna!

As vossas vinhas — foi-vos fácil tê-las..
mas ai! aquelas a que temos jús...!
Se é tão longe a parreira das estrêlas,
quando seremos bêbados... de Luz?!

Um dia, um dia erguidos no horizonte,
transfigurados pela Morte (as quando?)
nós chegaremos (louro e murta à fronte)
aos céus, ao nosso parreiral — cantando!

 

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Oswaldino Ribeiro Marques comenta alguns versos do livro"O Palhacinho Quebrado"  em que "O autor incide, aqui num êrro: do ponto de vista da Boneca, Solita tem que ser "artificial". Ela, Boneca, é que é "natural"", referindo aos seguintes versos (p. 33), v. 2):


"O artista ama a ilusão, que é sempre artificial;
não pode pois gostar de um ser que é natural
e inda menos de um ser que o tortura e oprime..."


Oswaldino Marques coloca uns círculos arredor de algumas palavras dos versos de de um poems de "História de um menino doente" (p. 65, ver imagem abaixo...)
 

Murillo Araujo

Oswaldino não registrou nenhum comentário... Certamente que estranhou o texto, que dá lugar a certa ambiguidade... "Comeria comigo ao jantar e ao almôço? como um irmão menor ou como um bom amigo.." (!) A exclamação é do crítico...

Em compensação, ele sublinha e assinala versos que o entusiasmaram no poema "Pela excelsa música" (do livro A Luz Perdida, "publicada pela primeira vez em 1952" e que aparece no vol. 3, p. 159), assinalados em azul os versos destacados pelo crítico Oswaldino: [conservando a ortografia da época]



PELA EXCELSA MÚSICA

Bendito, seja meu Senhor, teu estro
na música do mundo!

Bendito sejas, Maestro!

Bendito sejas por teus ritmos soberbos,
ritmos de profundíssimo esplendor.
(Bem sei que o ritmo é o sentido alto e recôndito da Vida,
Senhor.)

Bendito seja o acorde inumerável
com colcheias de estrêlas
no andante milenar;
o scherzo da água e da espuma,
notas com ponto, em trêmulo
na pauta clara do mar;
o aéreo, o quase abstrato pizzicato
da borboleta em saltos pela moita. —
ou o longo adágio
com o plenilúnio, semibreve de ouro
marcando o longo cantochão da noite!


Bendita seja, meu Senhor, tua harmonia.

Bendito seja êsse transporte
com que enches de clarões e melodia
todo o meu coração até a morte!

 

No vol. 2, Oswaldino não assinala e quase não sublinha versos. No entanto, com sua letrinha miúda, anota na folha de rosto as páginas em que estão os seus poemas favoritos e tece comentários brevíssimos:  p. 35 - ! ["História da gôta d´água"]; p. 38 - !! ["Primeira estampa"]; p. 46 - !! ["O Reino acabado"]; p. 53 ! [Estampa da manhã ingênua"]; p. 54 - belo ["Estampa das garotinhas da praia"]; p. 67 - típico de ingenuidade, da poesia cartoon de M.A.]; 76 - idem. [na p. 76 aparece o final de um poema que vem da página 75 ("Toada do poeta em recreio"); talvez Oswaldino se refira ao poeta da p. 77 que está em seguida: "Toada do meu Carnaval"]; 82 - bom ["Canto da pátria jovem"]; p. 115 - ! ["As meninas rosas"*]; p. 132 - !["Para brincar dormindo"]; p. 144- ! ["Capitão de longo curso"]

 

* Nota: Talvez devêssemos copiar todos os versos que Oswaldino assinalou, sublinhou e, em alguns casos, colocou um ponto de exclamação ao lado, para dar ideia do que o crítico mais apreciou nos volumes dos "Poemas Completos". Não sabemos ainda se ele usou essas anotações em alguma resenha crítica, o que é bem provável, embora muitos dos livros de sua biblioteca (que obtivemos em sebos pela cidade de Brasília, depois de sua morte) estão repletos de anotações, o que prova que ele efetivamente os lia e analisava...  No caso do poema "As meninas rosas" vale a pena revelar os versos que ele assinalou:  "Ah, não podem... / Seguem procissões nos ares / como formaturas brancas de escolares."  //  "e brincar sòzinhas / nos jardins, na rua,/ sem a mestra gorda que as vigia — / a lua!".  

 

Por último, vale a pena copiar a dedicatória de Murillo Araujo que aparece no primeiro volume para se ter uma idéia da amizade e intimidade entre eles:  " A Oswaldino Marques — um dos mais altos valores de sua geração — ao Poeta e a Amigo — como simples homenagem cordial do      Murillo Araujo    Ipanema, 17 de agosto de 1960      R. Barão de Jaguaribe. 56"

 (A.M.)

 

Extraído de

 

 

ÁLBUM DE POESIAS.  Supplemento d´O MALHO.   RJ: s.d.  R  117 p.  ilus. col.  Ex. Antonio Miranda

 

 

 


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TEXTO EN ITALIANO

CHIOCCHIO, Anton AngeloCinque notturni brasiiani.   Rio de Janeiro, GB: Edições GRD, 1964.  31 p.  14x22 cm.   “ Anton Angelo Chiocchio “

Inclui poemas (em Português e Italiano traduzidos por Anton Angelo Chiocchio) de Tasso da Silveira (Noturno/Nottuno); Murilo Araujo (Canção da lua que lava/Canzone dela luna lavandai); Cecília Meireles (Retrato em luar/Ritrato al chiar di luna); Vinicius de Moraes (O Poeta e a lua/Il poeta e l aluna); Ribeiro Couto (Luar do Sertão/Luna agreste).

 

CANZONE DELLA LUNA LAVANDAIA

Trad. Anton Angelo Chiocchio

O luna che fai il bucato,

luna, luna lavandaia

in una schiuma di nuvole

candida come liscivia

e stendi i panni là in cima

a candeggiare...

 

O luna che fai il bucato

pei fòssi incolti, pei monti

su cui sta per nevicare...

 

Luna che schizzi sul mondo

saponata da accecare...

 

O luna che fai il bucato

e lo risciacqui,

lo sciorini dappertutto,

su terrazzi lastricati,

vecchi muri intonacati,

aranceti, campi intrisi

di rugiada, a gocciolare...

 

O luna che fai il bucato

sin sulle spiagge del mare..

 

Luna, lava la mia anima!

 

Vieni, lavala di lagrime,

perché Dio, sole dell'anime,

poi la venga ad asciugare.

 

 

CANÇÃO DA LUA QUE LAVA

 

Lua, que lavas teus linhos,

sempre a lavar

numa lixívia de nuvens,

branca, branquinha de espuma,

e escorres tudo lá no alto

para secar;

 

lua que lavas teus linhos

pêlos valados maninhos,

na serra onde vai nevar;

 

oh lua alagando o mundo

nesta espuma de cegar!

 

lua que lavas teus linhos

e que os enxaguas

e os pões em qualquer lugar—

nos terraços lajeados,

nos velhos muros caiados,

nos laranjais do pomar

ou nos campos orvalhados

onde estão a gotejar—

 

lua que lavas teus linhos

até nas praias do mar —

 

vem, lua, e lava minha alma!

 

Oh lava minha alma em lágrimas,

para que Deus, sol das almas,

                              venha a enxugar.


 

 

TEXTOS EN ESPAÑOL

 

MURILO ARAUJO

 

FIGUEIRA, Gaston.  Poesía brasileña contemporánea (1920-1946)  Crítica y
antologia.
   Montevideo: Instituto de Cultura Uruguayo-Brasileño, 1947.  142 p. 
18x23 cm.  Col. A.M.

 

Nacido en Serró Frió (Minas Geraes) en 1894, este poeta está radicado, desde hace muchos años, en Río de Janeiro. Muy joven, publicó su primer libro trtulado "Carrilhóes", en 1917, poemario en que ya se advertía la presencia de um purísimo temperamento lírico. Obras posteriores fueron confirmando y ampliando esa impresión. Las colecciones de poemas que Murillo Araujo dio a la estampa después de "Carrilhóes", son las siguientes: "A cidade de ouro" (1921), "A iluminacáo da vida" (27), "As sete cores do céu" (33), "A estréla azul" (40) y "A escadaria acésa" (42).

 

En los poemas de "A cidade de ouro", Murillo supo cantar con emoción ins-

piradísima, los más sutiles aspectos de la magnífica capital carioca. Destácase especialmente el poema titulado "Cidade do pasado", en que Araujo realiza uma muy bella estampa del Río colonial.

 

En las páginas de "A illuminacao la vida", este artista mostró nuevas facetas de su espíritu, estilizando más sus poemas, a la vez que les infundía una mayor densidad emocional. El título del poemario expresa muy bien el carácter de su lirismo, en el que los más finos y profundos matices de la vida aparecen como iluminados, transfigurados, por la emoción e inspiración del poeta, que sabe también acercarse a ciertos temas que — por su humildad, por su aspecto de episodio cotidiano — sólo saben mostrar su riqueza estética, su esencia lírica, cuando a ellos

se aproxima un auténtico poeta, un Murillo Araujo, y los anima, los espiritualiza, los sublimiza con su sortilegio lírico. Esta misma virtud la hallamos en las páginas de los tres libros posteriores a "A illuminacao da vida".

 

Poemas como el titulado "Nascimento do poeta" revelan cómo un verdadero

poeta, un alto poeta, sabe remozar los temas, sabe ser original, puro y magnífico,cuando la nota humilde, la música de imágenes de la vida, toca su sensibilidad,su sinceridad, su fraternización lírica, su vibración humana y estética.

 

 

 

CANTA, CANTA PAJARITO

 

Canta, canta pajarito

en el rosal del camino,

el rosal en que te vi...

Canta, canta en tu nidito

— pajarito, pajarito —

canta alegre: "ti-tiu-í".

 

Duerme, duerme pajarito,

en breve cuna de armiño,

pajarito tan feliz...

Duerme, mientras con cariño

— pajarito, pajarito —

tu madre vela por tí...

 

 

 

NACIMIENTO DEL POETA

 

Era un muchacho pobre, vagabundo

y transido de frío, un pequeño rapaz,  

con la gorra caída sobre el rostro vivaz,

y de remiendos esmaltado el pantalón,

descalzo, de mirada ilusoria,

ahijado de Nuestra Señora de la Gloria.

 

Un día de su cumpleaños

(como siempre acontecía)

vino la noche sin traerle ni un juguete...

a no ser la luna y su melancolía.

Y pensó el pobrecito:

—"Si yo, en vez de madrina,

en el cielo un padrino tuviera,

tal vez en este instante un regalo me diera".

 

"San Jorge, por ejemplo, ¿no me podría dar su lanza,

esa lanza alta y clara, de fulgor vencedor,

esa lanza de sol que espantaba al dragón?

 

Y San Luis, si quisiera, le daría la corona,

la corona de rey...

y con ella —¿quién sabe?— la grandeza,

la riqueza,

el poder.

 

San Sebastián,

acaso le trajera la coraza de oro celeste,

angelical,

protectora de la peste,
defensora de toda dolencia y todo mal.

 

Mas su madrina era la Señora de la Gloria:

¿qué le había de dar?

.. .Y en aquella hora oscura,

el muchachuelo iba a llorar.

Iba; pero, en ese instante,

a su madrina vio llegar

llena de gracia, como en .un sueño,

blanca blanquísima, de luz lunar.

Ella, en el cielo había oído aquel dolor.

del ahijado. ¡Y ahora llegaba, linda, linda,

sonriendo

en un fulgor!

 

Recibió de ella el manto estrellado de brillos.

Y tomando ese velo,

el pobre muchachuelo

tuvo para jugar las estrellas más 'puras

del cielo.

El niño Jesús,

que siempre abraza el cuello de Nuestra Señora de la Gloria,

dio al muchacho la bola del mundo, que traía en su mano.

Y el niño callejero tuvo ipara jugar

todo el globo cristiano.

Tomando tierra y cielo por divinos juguetes,

el gury o vagabundo

de ojos de luz risueña, comenzó su cantar...

 

Y fue así que un poeta más surgió en este mundo...

para vuestro pesar.

 

(1)  Gury: voz indígena, usadas en Paraguay y en algunas regiones del Brasil y Argentina, para designar a un niño no mayor de unos 14 años de edad.

 

 

HISTORIA CRISTIANA

 

Navidad.

Misa del gallo, asistida de estrellas.

Y a medianoche había tanta gloria

en la gran catedral,

 

que el Niñito Jesús, que no ama la riqueza,

en su retablo de oro del altar

movió los bracitos, serio,

y en la cuna empezó a gritar y llorar.

Pronto, para calmarlo,

el sacerdote en vano lo arrulló en sus rodillas

y mostróle en lo alto las lámparas de fiesta

de trémulo brillar...

En vano se encendieron más cristales y espejos.

El Niñito Jesús lloraba sin cesar.

En balde el órgano gimió cantilenas serenas,

de adormecer, de consolar.

Más dulcemente, en vano, se entonaron hosannas.

¡Más incienso! ¡Más rosas!

Y el Niñito Jesús lloraba sin cesar...

Cien señoras muy finas,

con perfumes y joyas y sonrisas en flor,

en sus manos tomáronlo.

Cien mantos de terciopelo en vano lo halagaron

en cien cuellos cristianos.

Y hasta el mismo arzobispo de dalmática real

agitó mansamente a los ojos del niño

diez campanitas —¡diez!— todas en "matinata",

era así su sonar:

                              tilim-tiHm, tilim-tilim...

 

          Nada, nada.

          Jesús. .. lloraba sin cesar.

Entonces una negra humilde, una negra descalza

se irguió para tomarlo

y lo acarició trémula, con ingenua dulzura,

maternalmente lo reprendió:

"¡Ven a dormí, ven a dormí, Señó mozo!"

          Y, ¡oh milagro!

El Niñito Jesús sonrió y se adormeció.

 

 

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TEXTES EM FRANÇAIS

 

 

 

 

MURILO ARAUJO

 

 

Né à Sêrro (Minas Gérais) en 1894.

 

Murilo Araujo est un poète qui aime à se griser de mots sonores et du coloris des phrases rythmiques. On sent en lui Véblouissement de quelqu'un qui a pataugé dans la voie d'un Jules Romains ou d'un Verhaeren et revient enfin à des motifs régionaux. Ses poèmes sur des thèmes qui l'attachent au terroir sont d'ailleurs, comme chez d'autres, intraduisibles.

Premières études à Minas-Gerais, lycée et études de droit à Rio de Janeiro. Haut fonctionnaire à Vadmi-nistration des télégraphes.

Bibliographie : Carrilhôes (Carillons), 1919; A cidade de ouro (La Ville d'or), 1921; A iluminaçâo da vida (L'Illumination de la vie), 1927; Primeira miesa no Brasil (Première Messe au Brésil), 1931; As sete côres do céu (Les Sept couleurs du ciel), 1933; A estrêla azul, A escadaria acesa, etc.

 

 

 

TAVARES-BASTOS, A. DLa Poésie brésilienne contemporaine.  Antologie réunie, préfacée  et traduite par…   Paris: Editions Seghers, 1966.  292 p.   capa dura, sobrecapa.  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

LA CAPITALE DE LA MER

 

Des roses d'or en louange à la ville liminaire,

le premier mirage de la ville qui pointe

comme un astre, dans l'ombre, parmi les eaux de la mer.

 

Des lumières brillent dans l'eau... Des pierreries de l'onde !
Des cristaux tremblotants venus de quelle Golconde sous-marine !

Là-bas, quel halo bleu dans le ciel

et quelle immense lueur paradant comme un clair-de-lune !

La mer se pare de clartés dans une arabesque ;

Le ciel arbore des splendeurs de vitraux.

Là-bas pointe la ville parmi les mâts et les croix.

Et des plates-bandes de lumière semées du ciel

que la nuit a trempées de rosée

semblent fleurir sur l'onde.

 

Le canot à vapeur coupe le silence haletant
dans la paix du soir, dans la paix de la mer.
L'eau claire chante et déferle en souriant
comme une sirène fugitive devant les coups hardis
de la quille altière.

 

Le sombre bâtiment (ô vagues bouillonnantes !)
écaillé de limon et de flocons d'écume,
est un grand hippocampe, la licorne volante.
Les yeux de proue sont deux phares en braise
luisant sur la mer, étincelant sur l'eau.

 

Qui ne se trouve point être le héros légendaire
chevauchant l'hippocampe au clair de lune marin ?
Gloire aux héros !
nos routes sur la mer s'étalent
en flocons de velours et en brocarts d'
écume et de lumière !

 

Les étincelles montent des cheminées...

Ce sont des lucioles peuplant le pont de leurs paillettes d'or.

Et suivant notre course, du haut des cieux sereins,

survolent lointains les oiseaux-étoiles,

dans toute leur splendeur, impondérables,

parmi les vents, parmi les vents et les marées.

 

Ainsi nous voguons vers la cité-trésor,

ville de douleur et de fascination,

l'hydre aux yeux de lumière, aux tentacules d'or !

 

Chaque feu allonge dans l'eau un tentacule d'or

tremblant dans l'agonie.

Et nous voguons vers la cité lointaine...

 

La ville nous appelle... 0 crescendo rapide !

La ville-dragon à la gueule flammivome,
La ville vient, la ville vient sur nous !

 

«  A  CIDADE  DE  OURO »

 

 

L'ESTAMPE DU MATIN INGENU 

Le matin naît aux cris des oiseaux et des cloches
tellement ingénu
comme un petit enfant nu. 

Le bon Dieu vaporise des roses sur la mer argentine.
La voix de l'eau monte pure. Et pure est l'âme de la terre.
 

Le bilboquet naïf du palmier
joue avec la boule de la lune.
 

Là-bas à rez-de-ciel
sur l'onde lisse comme un carrelage
qu'on vient de laver,
un steamer minuscule rebondit
aussi drôlement frêle
qu'un jouet d'enfant.
Tout en planant
une mouette
pose un circonflexe sur l'i dressé du phare.
Les pétrels glorieusement apportent dans leur vol
un couronnement d'ailes sur les eaux.
Et de partout, et de mon chant, monte la joie éblouie
de celui qui attend le soleil. 

« As SEXE CORES DO CÉU »

  

?

Toute la rue est fleurie
de joie et de soleil

Tous les esprits en gaîté gazouillent ailes battantes.

Et les arbres sur l'autel du matin
ont porté le vœu des touffes vertes odorantes
les étendards en fleurs
les bourgeons neufs, les guirlandes et les renouveaux
à la gloire de l'air et de la vie...
 

Auprès de moi roula sombre et rapide
le corbillard lugubre emportant un mort !
 

Et j'entendis des voix lointaines :
ETERNITE... FATALITE...
FRATERNITE...
 

J'embrassai en esprit les plus pauvres passants.  

Je leur pris les mains,

Et me murmurai à moi-même ces seuls mots :
Bénie la mort qui nous rend frères.

 

«   A   ILUMINAÇAO   DA   VIDA »

 

?

 

Je suis un homme de ce monde jeune,
de ce monde clair,

de la terre verte et jaune, la plus joyeuse maison du soleil.
Je suis un ver-luisant des prés étoilés.
La vie — ballet de lumières —

a allumé deux candélabres dans mes yeux éblouis. 

Je vois tout à travers mon sang rouge. 

Mon poème est l'« abieiro »
dont les fruits solaires sont couleur de flamme.
 

Ma voix porte la lumière de la terre et de l'air ;
mes rythmes
retentissent comme lès bocages et résonnent comme les dans la symphonie lunaire ;
                                                                             [lumières

Mes gestes de buissons au vent
S'ouvrent en des envols et des volutes ;
mes images, des lianes élastiques,
serrent des falaises,
chassent des étoiles ;

mon cri est joyeux comme le soleil prodigue
qui fait descendre le ciel sur les claires-voies...

mon enthousiasme
dans toute chose
retentit par cent mille clochettes
de joyaux.

                                      (Idem)

 ?

 

Primitivisme...
La peur avait rendu si longs les arbres
et longues les ombres de leurs frondaisons infinies.

La voix d'orgue du bois était si élevée

dans les cœurs des eaux, aux syncopes et aux cris du vent —
le soir tropical était si tragique,
d'une grandeur glorieuse —

le clair de lune veillait avec une incertitude si poignante
que ta lumière a trembloté par les espaces étendus
et l'angoisse t'a rendue pâle et t'a jetée dans mes bras...

 

Alors mon être s'est épandu dans le soir
et devint héroïquement gigantesque,
il est devenu

plus grand que la forêt ténébreuse jusqu'aux étoiles...
il maîtrisa les forces altières !
Mon cri surmonta la rumeur sauvage
de la selve et des cascades
aux gorges des vallées nues.
Et je braverais la mer, — la vie et la mort, — le monde,
avec ce trait si frêle de courage :
toi.

                                      (Idem)

 

HADAD, Jamil Almansur, org.   História poética do Brasil. Seleção e introdução de  Jamil Almansur Hadad.  Linóleos de Livrio Abramo, Manuel Martins e Claudio         Abramo.  São Paulo: Editorial Letras Brasileiras Ltda, 1943.  443 p. ilus. p&b  “História do Brasil narrada pelos poetas. 

HISTORIA DO BRASIL – POEMAS
DESCOBRIMENTO DO BRASIL 

 

PRIMEIRA MISSA NO BRASIL 

Na terra amanhecida,
entre as ondas a rir, jubilosas de luz,
e as árvores em flor, se ergue a árvore da vida:
— A Cruz!

Entre os tupis, a marujada ajoelha.
Uma legião de beija-flores passarinha.

Então, “no ilhéu chamado Coroa Vermelha”,
Frei Henrique de Coimbra se aparelha
e em paramentos de ouro beija o altar...

A alma argentina de uma campainha
se une aos gorjeios da manhã solar.

Junto aos altos pendões do palmar nunca visto
Trem um pendão mais algo, o estandarte de Cristo.

Longe um som de clarim morre em glória no ar...

As resinas do mato, onde em onde,
erguem incenso
turbinando pelos troncos bons.

Frei Henrique celebra e é Deus quem lhe responde
Na voz do oceanos, seu harmônio imenso,
Rolando ao longe um turbilhão de sons...

As campânulas trêmulas nos galhos
tlintam à brisa
suas matinas aos pingos de orvalho;

E a várzeas que se irisa
oferenda ao Senhor
nas passifloras roxas os martírios
e, na água em sono, as ânforas dos lírios...
Há um repousório em cada moita em flor...


São candelabros de ouro os ipês flamejantes!
E ascenderam ao sol corolas delirantes
como se fossem lírios
em louvor.

Quando a hóstia se eleva angelical,
sobe com ela o sol no firmamento.

As borboletas — que deslumbramento!
com os tucanos e atrás de tom violento
pintam no azul policromias de vitral...

Canta a araponga na floresta longa
como um sino a tanger dominical...

As naus florem de branco o deserto marinho.
Lembram virgens trazendo em túnicas de linho,
na alva das velas uma cruz cristã...
e a pátena de sol as consagrou com o vinho
aéreo da manhã.


Oh, hora ingênua da Fé! Oh, primeiro evangelho!
Pero Vaz escreveu que “um índio já bem velho
apontou para a cruz...”  Oh gesto anunciador!

 

Cabral e os que domaram os sete mares
unem as mãos tremendo de fervor.

E na luz recém-vinda
em bênçãos tutelares
a terra em flor se alegra em jubileus...
“A terra graciosa” e tão nova e tão linda
a terra desde então desposada de Deus...


(AS SETE CÔRES DO CÉU)

MÃE PRETA


Minha  Mãe-Preta  já pequena
de velhice —
é hora do sono: escute a minha cantilena
como escutei as suas já
na meninice.

Quando com o vulto negro,
com a carapinha alvejada,
você erguia uma luz por sobre o nosso berço
e nossos olhos riam por vê-la —
parecia  — Mãe-Preta  — a noite enluarada
Que nos trouxesse a graça de uma estrela!

Quando nos carregava nos seus ombros...
ou nos furtava os doces em segredo...
ou nos acalentava nos assombros de nosso medo —
ó Mãe-Preta, ó luz mansa
era o seu coração nosso melhor brinquedo
o ingênuo coração que vivia e morria
com inocência de criança.

Quando a Noite na sua meia-língua
engrolava as histórias
com aquela voz cansada como o sono...
você — mísera enferma das senzalas —
você — dor e abandono —
tinha a ilusão e a força de falar-nos só de glórias,
dos palácios de luz, dos príncipes de galas
e das princesas de vestidos cor do dia...
você mesma era como uma moura encantada
uma figura de seus contos animada
que viesse e nos levasse aos reinos da Harmonia...


Ó  Mãe-Preta,  Mãe-Preta  —
Deus quis dar-lhe essa cor entenebrada
para esconder a sua dor calada
sem nos fazer chorar pela sua ânsia!

Deus quis dar-lhe essa cor de silhueta
para torna-la mais indefinida
nos longes da memória e da distância...

Deus quis você bem símplice  —  Mãe-Preta.

Deus quis você bem docemente sombra
para que fosse a sombra azul da infância!

       (A ILUMINAÇÃO DA VIDA – Impressão de
           Benedito de Souza.  Rio de Janeiro).


*

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Página publicada em outubro de 2021


 

 

Página publica em dezembro de 2007; ampliada em maio de 2009; ampliada e republicada em junho de 2010 Ampliada em republicada em janeiro de 2014. Ampliada em novembro de 2017. Ampliada e republicada em abril de 2019.

 


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