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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


MAURÍCIO CRISAFULLI

 

MAURÍCIO CRISAFULLI
 (1954-1986)
 

Maurício Crisafulli Rodrigues nasceu em Barbacena, MG. Foi oficial da Polícia Militar de Minas Gerais, tendo servido nos Gabinetes do Governador Tancredo Neves – que o apreciava imensamente e o chamava de “Meu Capitão” – e do Governador Hélio Garcia.

Cursou as Faculdades de Letras e de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais. Na Faculdade de Letras, foi incentivado pelos professores Ítalo Mudado e Francisco Iglesias a publicar suas poesias. Os esboços dos livros estavam prontos e contariam com prefácio do inestimável Carlos Drummond de Andrade. Infelizmente Maurício faleceu antes de concluir o projeto, e apenas o livro “Poemas Escolhidos” pode ser publicado por seus amigos.

 O professor  Artur José Almeida Diniz, da Universidade Federal de Minas Gerais, assim se expressou sobre o talento de Maurício: “A poesia de Maurício Crisafulli é a tessitura plangente, altaneira, crítica e, sobretudo, apaixonada do canto do cotidiano; descreve os vários planos de realidade vividos por todos nós, em mescla sutil de variações oníricas".

Foi incluído na ANTOLOGIA DA POESIA MINEIRA, obra organizada por Diva Ruas Santos (Belo Horizonte: Ed. Cuatiara, 1992)
 

EU OUVI O CANTO DA CORUJA...

Eu ouvi o canto da coruja

entre luas e ramos úmidos

      na noite de águas frias

      da praia.

 

Ouvi o canto da coruja.

o tempo passou e meus pés

     ficaram cravados

     na areia.

E eu apenas passei,

      calado e mudo.

Só deixei marcas na areia,

      longas como os pios da coruja.

 

Entre ramas e luas

eu ouvi o canto da coruja

      na praia úmida

       de areias frias. 

 

 

REVELAÇÃO

 

A névoa da noite

encobria o casarão da esquina

e as árvores choravam.

 

As sombras da noite

e das plantas

caíam temerosas

no chão úmido e macio do jardim.

 

Os fantasmas da velha mansão

dormiam inquietos

nos quartos escuros.

As tábuas da escada rangiam

aos passos transparentes,

e as corujas, quietas,

esperavam o que não sabiam.

 

Tudo era silêncio no jardim,

na casa, na rua.

Silêncio pesado,

que escutava a si mesmo.

 

Só o vento falava

a fala das folhas

na noite sem lua,

na noite de névoas e

fantasmas ocultos e cansados.

 

Só o tempo calmamente esperava

outro tempo.

 

 

TROCADILHO

 

Na recepção de autógrafos

quero conhecer tua letra.

Será tombada, redonda

ou será derretida como vela?

Serão teus pingos nos “is”

uma bolinha, em “o”?

Teus “enes” serão “us”

ou o que serão?

Na recepção dos grafados

quero conhecer teus autos

num sofá de couro

de um Club inglês.

 

 

NOITE

 

Uma canção de ninar

e uma flor na jarra da cristaleira.

 

Na verdade de dama-da-noite,

um casal de namorados

brinca de jogar damas.

 

No muro alto do quintal,

namorando a Lua,

um gato enorme e preto

se desenha em abacateiros.

 

E uma brisa leve e silenciosa e quente

que vem dos sinos da Igreja,

passa pelas folhas,

vem de torres de pedra na praça de flores dormidas.

 

 

POESIA

 

Poesia é vento de muita gente.

Poesia é o ar

é o mar.

Poesia é um oásis na areia quente.

E o olhar cúmplice trocado num parque.

Não tem solução

nem explicação.

Poesia é algo invisível

que passa das coisas para o coração.

Poesia nasce e não morre nunca.

A brisa silenciosa

que corre pelo tempo afora.

É o tempo do tempo.

Poesia é água de muito rio,

é força de muito vento,

é vento de muita gente.

 

 

DUAS HORAS DA TARDE

No relógio morno da praça

que faz a sesta em silêncio,

são duas horas da tarde.

 

No mistério alto e quieto

da torre da Igreja,

são duas horas da tarde.

 

Na cidade perdida entre montanhas

que dormem paradas,

são duas horas da tarde.

 

No domingo de missas e pompas

de garrafas de vinho e encontros,

são duas horas da tarde.

 

Hora esquecida no relógio

como um chapéu na cadeira,

são duas horas da tarde.

 

No meu tempo,

sem sombras nem palmeiras,

são duas horas da tarde.

 

 

TRISTEZA

 

Esta poesia,

a esta hora da noite

me faz mais triste

do que o poeta quer ser.

Hoje pela manhã

a viola do cego da rua não tocou.

Caiu doente?

Se soubesse seu endereço

eu iria até lá.

Ouvi o ribombar de três tiros no parque

(minha cabeça explodiu no travesseiro).

Vi um terno de costas brilhantes

e fita na lapela,

com sorriso dominical.

(Ah, meu Deus,

Estas sombras das bananeiras do país do poeta!).

Lá na praça, antes da sessão de cinema,

a sirene toca para a entrada do cowboy.

Não vou lá.

E a Lua me conta um segredo

e a dama-da-noite se perfuma pra mim

nas vielas desta poesia,

a esta hora da noite.

 

 

ANTIGAMENTE

 

Antigamente

os pardais cantavam no abacateiro

da minha janela.

E como cantavam!

Melhor despertador

nem a minha avó,

com suas botas de couro preto.

Era bom ouvi-los,

enquanto broas de fubá

brincavam de nadar em leite quente e forte.

Agora

eles não cantam mais.

Cantam sim,

mas como se não cantassem.

Voar.

Voam um vôo preguiçoso,

como quem não teve avó quando pequeno.

É que se acostumaram com o abacateiro,

tal qual a minha janela;

acostumaram-se com eles mesmos,

com gritos monótonos,

como lembranças de antigamente.

Os bodoques nas mãos dos moleques

agora só derrubam abacates,

que caem no chão com um barulho oco,

que não se ouve mais,

como antigamente.

 

 

SWEET LADY

 

A cortina descia pela janela

e subiam, aos bandos,

formigas doceiras.

E se enrolavam no colar da velha Dama adormecida na cadeira de balanço.

 

O barulho do relógio na lareira

cadenciava as batidas do velho salão

dos quadros, das poltronas

da velha Dama adormecida

envolta em colares de formigas doceiras.

 

 

PORTAIS

 

Por amar-te tanto

te afasto e me calo

acovardado.

Por desejar-te assim

te esqueço e me escondo

emudecido.

Por sonhar-te aqui

te nego e não permito,

amedrontado,

que meu coração

te esboce

real e palpável.

Por doer-me tanto

te nego e me detenho

solitário.

E nos portais da entrega

aceno-te e paro

machucado.

 

 

ORAÇÃO

                   Para Mônica, com guirlandas de damas-da-noite

 

Amantíssima Senhora de jardins,

jasmins e nuvens,

a bordar folhas de trepadeiras

Em véus de ar

(jardins aéreos).

 

Amantíssima Senhora de conchas,

algas e corais,

a tecer cavalos-marinhos

em sedas d’água

(tapetes aquáticos).

 

Amantíssima Senhora de colinas,

montes e outeiros,

a plantar carvalhos

em mantos de relva

(espirais de pedras).

 

Amantíssima Senhora

de todos os elementos,

de todos os tempos

e de sempre,

rogai por nós,

mortais apenas.

 

 

Página gentilmente preparada e autorizada por Ricardo Rodrigues Crisafulli, irmão do poeta.Publicada em fevereiro de 2009.

 


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