Home
Sobre Antonio Miranda
Currículo Lattes
Grupo Renovación
Cuatro Tablas
Terra Brasilis
Em Destaque
Textos en Español
Xulio Formoso
Livro de Visitas
Colaboradores
Links Temáticos
Indique esta página
Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

ISABEL CÂMARA

 

Maria Isabel Câmara (Três Corações, 1940 - Goiânia, 2006) foi uma poeta e dramaturga brasileira].

Sua estreia no teatro foi como atriz, numa montagem da peça Nossa Cidade, de Thornton Wilder, em Belo Horizonte. Mudou-se para o Rio de Janeiro e em 1968 levou sua primeira peça, Os Viajantes, ao palco do Conservatório Nacional de Teatro. O texto foi mais tarde adaptado para a TV por Domingos de Oliveira.

Em 1969, estreou As Moças no Teatro Ipanema, retratando a contracultura ao mostrar em cena duas mulheres que dividiam um apartamento e expunham de forma poética os problemas da juventude da época. A peça lhe valeu o Prêmio Molière de 1970. Voltou a trabalhar como atriz em Hoje é Dia de Rock, em 1971.

Participou da antologia 26 poetas hoje, apesar de não ser propriamente uma integrante da geração da poesia marginal[3][4]. Na década de 1990, abandonou o mundo dos espetáculos e foi morar em Goiânia, onde morreu em 2006.

 

Dezenove do oito de mil novecentos e setenta e quatro

        Não entendo nada desta janela fechada
         que me aperta a culpa
         Doer não dói mais,
         nem sangra —
         Consegui o que queria:
         ser despedida, ficar perdida
         falida & alone
         olhando o papel da Comédia.
         Sei que me chamam Bel
         Mel de paixão
         sugado da boca louca
         de onde sangra o coração
         e chora a hora
         do leito vazio
         do jeito do beijo
         fácil, difícil, sutil.

         A verdade é que vivo a mil
         sonhando a morte em azul-anil
         só para gênios, tímidos
         e alguns porcos chauvinistas
         desses que o padre vem me
         benzer todo dia, e quando
         não vem ele cá  vou eu lá:

         Leva este caralho compra-me um maço
         de cigarros Continental, umas cem
         gramas de alho e o tempero, que te der na cuca.
         E se o dinheiro render, um lacinho de fita
         de seda ou crepom. Depois, na saída do cinema,
         vem cedo para casa, me leva pra cama, sem se
         esquecer que o alho é para um aglio-olio.

 

         Fim (13º. Volume)

         Você me falou
         que me mandasse porta afora
         Eu vou
         Vou com força total
         esta porta não é metal
         é o nosso mental
         transparente
         correndo da corrente
         que pega gente exigente.
         Vou enxugando a alma,
         na palma que segura
         a espada.
         Vou pedindo calma...

 

         Ih, lógica

         Sós quem sabe a Idade de Ferro
         é a Bigorna que o modifica...

 

         Exclaresendo

                  Toda alegria que bate em mim é motivo de certa
         emoção que assusta. E como o susto me retira
         de mim mesma feito tivesse cheirado pó de pirlimpimpim,
         embarco no ato do sentir dor tal e qual um daqueles
         rapazes ou moças indevidamente apontados pela
         hipocrisia de “pervertidos sexuais”. (Ninguém perdoa, hein?)
                  Pois há determinados dias que nem me passa
         pela cabeça tal ideia e o que me assola mesmo é
         o prazer dos cinco anos, quando a dor, doendo, ficava
         no mesmo pé de igualdade com o amor se abrindo.
                   É então que eu saio por aí de braço dado com
         a própria sombra e vou sonhar acordada nas portas dos
         Grupos Escolares (de preferência os públicos) como
         um tarado qualquer.
                   Só assim sinto-me pura para um Ato Solitário.

 

         A very important question

        Qual mortal até hoje
         pensou um
         Unicórnio com medo
         de cair-lhe o chi-
         frinho da testa?

 

         Afirmativa

        Na posição que me encontro
         só no sono do barato
         na zona franca, ausente
         me sinto contente!

 

         Hora sagrada

        Ti espero.
         Sob o travesseiro
         a tesoura segura
         o Ouro
         o Trigo
         o abraço ligeiro
         de quem tem cheiro
         das coisas pagãs
         anãs sob o linho fino
         o vinho rasteiro.
         Faço a feira
         da Orgia
         que pia, escorregas,
         cortando ligeira
         a noite do dia que me alivia.
         E aí só cria
         meu mundo de fantasia
         Agora vê se não chia
         Você não é minha tia.

 

         Manhã de frio

                 (Lena meu amor)

 

         Trata-se de uma certa dama
         que acorda aflita pelo dia
         observando da janela do seu
         Disco-Voador
         o cinza que se irradia
         desde a música —
         Romântica e Alemã
         até a cor fria da Dor

                   Quem diante do amor
                   ousa falar do Inferno?

         Quem diante do Inferno
         ousa falar do Amor?

                   Ninguém me ama
                   ninguém me que
         ninguém me chama de Baudelaire

 

         Lençóis

                 (Para Esther, da Clínica V. Silva)
           

            Aos domingos se vai ao longe...
         Lavam-se panos brancos e os
         denominamos roupa de cama:
         Roupas de baixo
         Roupas de cima —
         Coisas da Casa
         Aos Domingos todos se cansam cedo
         há enlaces matutinos
         e muitos hinos.
         Aos domingos há missa, música
         entreveros. Há quem chore
         nalguma hora e há também
         possibilidades novas:
         Há pares, bares, porres.
         Aos domingos semeiam
         as lavadeiras
         seus azuis/brancos lençóis
         lúcidos dos dias de semana.
         Para eles lençóis
         prata da Casa
         Lençóis louça de Porcelana

 

         Mistura fina

         Now is just a taste
         of how to face
         face to face
         A faca que ataca
         o mal real
         de ser leal ao
         leite quente, ao banal...

 

        Probel / problemas

         O futuro é uma ciência fodida pelo tempo
         O presente é isso aí
         O passado é a gavetinha onde a memória brinca
         de obra e Arte.

 

         Carta

        Olha eu te desejo
         tanto que perdi
         o recato.
         Nada temo, tremo!
         Sou poeta devassa
         adorando a tua raça.

         Lovely & lonely Bird
         of my Youth, tell
         me how to reach
         The South of your Mouth

 

Extraído de

 

POESIA SEMPRE Revista Semestral de Poesia. Ano 5 – Número 8.  Junho 1997.  Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional – Ministério da Cultura. Departamento Nacional do Livro, 1997.  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

Pecadora

 

Devoro teu vôo ó pássaro pleno

comendo tuas asas

Teu Deus

me absolve

Devoro este pássaro

em cujas asas me apreendo Plena

 

Deus de tantas lousas & dos que

não tenho olhos não os tenho para ver

E todos sabem é plenilúnio

é plena pele amaciando outra coisa pele

 

Teus olhos sejam meus olhos ó pássaro Deus.

 

Minha poesia não vale nada

minha fé se perde a todo instante

e passo contente feito não tivesse nada

com o passado o futuro sequer o presente.

Meu português não é de todo ruim

maldosa é a palavra labutada

dando quase em nada.

O pior português

foi aquele meu avô que pisava feliz suas vindimas
e se o vinho era meio azedado foi quando tomei
meu primeiro porre na adega de sete chaves
numa bela manhã tricordiana.

Quem nasceu para ferreiro tem o ditado:

espeto de pau. Fiquei tão feliz em ser bêbada

na adega do ferreiro seu Miguel.

O forte em mim no entanto são cordas de celos

e o de menos é tudo que acho saber.

Sou um arremedo arretado trespasse de espadachim

cheio de espirros acorrentados.

É que respirar faz tão bem aos pulmões!

 

2

Sou farta em tripés

e cheia de tripas sangrando

feito veias. Sou plena em Maomés

e conhecer faz-me doer tanto que esqueço o mistério.

Já fui carregada nua no meio da rua nua

arrombaram-me a casa

arrombaram-me a castidade (desde mocinha)

                   e chega.
Ser tão vulgo é um visgo.

Porém não o ser é perder-me de mim e morrer antes da hora.

Que foram antes tantas.

Gostaria de amar mas desaprendi.

Como todo tolo faço-me de poeta

P'ralegria não ficar triste e morrer de saudade ou pena.

 

Os suicidas merecem nada mais que o céu?
Isto devia ser escrito ou questionado?

 

Perigoso demais.

No mais a mais et coetecera

que de coleira nascemos.

        

Ai os que de nós houver, ver, vir e por amor
                                                             não perecer

 

 

 

Página publicada em janeiro de 2018; ampliada em junho de 2018


 

 

 
 
 
Home Poetas de A a Z Indique este site Sobre A. Miranda Contato
counter create hit
Envie mensagem a webmaster@antoniomiranda.com.br sobre este site da Web.
Copyright © 2004 Antonio Miranda
 
Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Home Contato Página de música Click aqui para pesquisar