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Fonte: www.pdt-rj.org.br

DARCY RIBEIRO
(1922-1997)

Confessional, auto-reflexivo, indagando-se e afirmando-se peremptoriamente. Com alguma condescendência. Esteve sempre em perigo, à beira da morte, sem aceitar sua descartabilidade. Infiel, apaixonado pelo amor. Lembra o Vinicius em sua inquietude e insatisfação, mas o “poetinha” idealizava e transcendentalizava o amor enquanto Darcy era ditirâmbico, sôfrego, atiçado, insatisfeito. Generosos, inquietos. Afoitos. Mas Darcy era mais carnal no verbo que professava, com certa lascividade. O tempo todo. Dizem que as cortinas de seu despacho eram cúmplices.

Convivi com o grande pequeno homem em dois momentos. No final dos anos 60 e mais de vinte anos depois. Primeiro, quando estávamos na Venezuela. Ambos na Universidad Central de Venezuela. Ele com a incumbência de propor um novo modelo para a instituição, eu como aluno regular. Fomos presos. Ele foi mandado de volta para o Chile, onde estava desterrado; eu fui resgatado por nossa representação diplomática, pelas mãos solidárias de Alberto da Costa e Silva. A UCV havia sido “allanada”, invadida pelo novo presidente que desejava acabar com a autonomia universitária, a pretexto de erradicar focos guerrilheiros.

Depois fui trabalhar com ele na instalação da Universidade Estadual Norte Fluminense, em que pretendia cumprir o sonho da Universidade de Brasilia, interrompido brutalmente pelos militares de 64. O sonho da UFF abortou, em certa medida, com a saída do Brizola e a homogeneização imposta pelo MEC ao ensino superior brasileiro. Ele ainda tentou a mudança pela LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação), na condição de senador, mas a ideologia isomorfista e pausteurizadora predominou.

A poesia de Darcy é a cara dele: nervosa, afirmativa, diante do espelho da própria existência. Sobrevivente da morte, contra os limites da vida. Delirantemente vívido, agudo, querendo dar vazão aos sentimentos e idéias, polemizando, instigando-se. Parecia desdobrar-se, multiplicar-se para viver mais.      ANTONIO MIRANDA
 

RIBEIRO, Darcy.  Eros e Tanatos: a poesia de Darcy Ribeiro. Rio de Janeiro: Editora Record, 1998.  175 p.  14x21 cm.  Ilustrações de Mello Moraes. Posfácio: Moacyr Felix.  Projeto gráfico: Regina Ferraz.  Ilustrações do miolo e capa: Mello Menezes.  ISBN 85-01-05266-3  “ Darcy Ribeiro “  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

IDOS SIDOS

Que é que fiz, não fiz, de mim?

Que é que fiz na vida, da vida?

Quem sou eu? Esse eu que me sou.

 

Minhas mãos me pendem soltas.

Inúteis para fazimentos.

Só servem para escrever, acarinhar.

 

Não sei dançar, nunca soube.

Olho, idiota, o céu estrelado.

Não conheço estrela nenhuma.

 

As árvores, tantíssimas, que vi.,

Recordo inumeráveis, enormíssimas,

Não sei quem são.

 

Diante das flores me extasio.

Tolo, só reconheço rosas, orquídeas, cravos.

A música clássica me atordoa, cansa.

 

Quem sou eu, septuagenário,

Que esgoto meu tempo de me ser aqui?

Insciente, perplexo, inexplicado.

 

Só cheio de saudades de mim.

De tantos eus que fui. Sidos. Idos.

Somos descartáveis, sei, mas dói.

 

MIM

O tempo transcorre em mim

Celeremente. Tão afoito que finda.

Acho que sei, afinal, a que vim.

E já me vou. Uma pena.

Não há tempo mais pra mim.

Volto à silente matéria cósmica

Que em mim, um dia, se organizou

Para me ser. Uma vez, uma vez somente.

 

 

A INDESEJADA

 

Aí estão eles, os da terceira idade.

Gregários, vivem aos bandos.

Sentados, jogando cartas, andando devagar.

Conversando pretéritos assuntos.

Olhando tristes os outros viverem.

 

Antigamente, todos seriam avós, vovozinhos.

Hoje, são sogros, os chatos dos sogros.

Uns são viúvos, outros largados, poucos.

Muitos deles, os mais, ainda casados.

As mulheres duram demais.

 

Órfãos de seus filhos, ocupadíssimos.

Não reclamam, resmungam disfarçados.

Estão todos aflitos, na espera

Da indesejada, que tarda.

Tarda, é certo, mas virá. Inexorável.

 

 

AMOR

 

Quero um amor alucinado, depravado, tarado.

Amor inteiro, de corpo-a-corpo, enlaçados.

Amor sem reserva, que a tudo se entrega, lancinante.

 

Quero você assim, abrasada, pedindo gozo,

Eriçada, ronronando feito gata, tesuda.

Seus seios túmidos, me furando o peito.

 

Quero você, pentelho contra pentelho, roçantes.

Carne encravada na carne. Bocas coladas,

Babadas, meladas, sangrando sufocadas.

 

Quero amar você tão bichalmente que urremos.

Eu, penetrando rasgando. Você me comendo furiosa.

Nós dois fundidos, unidos, soldados.

 

Você e eu, nós dois, sós, neste mundo dos outros.

 

 

LASSA

 

Tesão   — força que move a vida.

Na plenitude, é felicidade pura.

Na carência, é dor que dói.

 

Ó gozo de ver, admirar, acariciando.

Ò gozo de abraçar, beijar, bolinando

Ó supremo gozo de meter, possuir, penetrando,

na divina convulsão rítmica do coito.

 

Ficar lá dentro abismado, apertado.

Sentindo o grelo tremer de gozo.

O sacro canal melar, enlanguescer.

Vendo você se aquietar, lassa.

Tudo, afinal, uma tremura arrepiada.

 

 

 

Poemas extraídos da obra: EROS E TANATOS.  Rio de Janeiro: Record, 1998.

ISBN85-01-05266-3  Palavras-chave: Poesia erótica; Terceira Idade.

 

Página publicada em junho de 2008




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