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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

AUSTEN AMARO
(1901-1991)
 

Poeta mineiro. Autor do livro-poema polêmico “Juiz de Fora, poema lyrico” (1926, reeditado em 2004, por iniciativa do tradutor e poeta Julio Castañon Guimarães, pela Funalfa Edições. “Ante o mistério do amor e da morte!” (1930) é das mais conhecidas obras do poeta. Extraímos da obra  “Poemetos à feição do oriente” (Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1939, 182 p. Capa e ilustrações de Stella Henriot) os poemas a seguir. Cabe ressaltar o fato deste exemplar ser um dos 102 impressos em papel Vergé para os subscritores, com assinatura do poeta.

Os versos, mesmo na intenção modernista, são de inspiração romântica e pretensamente místicos.

AUSTEN AMARO


Interpretação

I
O dragão era
a perfeição no incacabado.

II
Por isso elle viu
no dragão
o symbolo do mundo!

 

O oleiro

I
E o dia nasceu, humido e tenro
como o vaso do oleiro
sobre o torno!

II
Por isso, o artista imaginou as azas
do dia,
para o vaso!

 

Diurna suggestão do rythmo

I
Pela ponte arqueada do arco-iris
desceu do céo
a suggestão do rythmo!...

II
Sete deuses, por ella, transportaram
as côres para o artista!

 

O narciso sagrado do Oriente

Derramado na agua, o salgueiro se debruçava
         procurando
no céo azul reflectido no lago, a celeste
origem
de sua propria belleza!


Perpetua renovação

Ella se transformava, renovando-se,
continuamente, para o meu desejo,
porque os seus olhos obliquos reflectiam,
ora a madrugada florescendo no nocturno cálice,
ora o dia amadurecendo
na tarde sazonada!


O pensamento da Primavera


No canto do jardim,
a solitaria rosa floresceu do silencio.

 

A Morte

Depois do crepusculo,
velludoso e silente, a noite
cahiu interiormente!

 

DOS “POEMETOS À FEIÇÃO DO ORIENTE”

TU

I

Em vigília,
És mais bela do que a camélia branca!
Porque a tua alma é como o perfume
Que anima o corpo de um lírio.

Dormindo,
O teu corpo é como a camélia branca!
Porque o perfume de tua alma
O desertou...

 

RESSONÂNCIA

 

I

Lembrei que os seus olhos boiavam
Na úmida luz de uma ternura infinita...

II
Então, na minha memória,
O luar de seus olhos retornou dos séculos
Par aquele noturno, em que as horas
Floresciam e feneciam como rosas despetalando os seus minutos!

 

O OLEIRO

E o dia nasceu, úmido e tenro
Como o vaso do oleiro
Sobre o torno!

II
Por isso, o artista imaginou as asas
Do dia,
Pra o vaso!

 

O FILÓSOFO E A PRINCESA REAL

I

No seu palanquim de negra madeira incrustada de ônix,
Que os escravos transportavam, vagarosamente, nos ombros
Nus e de esculpidos músculos,
Ela passou, gloriosa,
Na sua minúscula beleza de sensitiva flor!

II

E aquele que suportava, na sua angústia, a consciência
Dolorosa do mundo,
Invejou, para sempre, a inconsciência do escravo que conduzia,
Nos ombros nus, para a glória do mundo,
O efêmero da beleza que contém a vaidade eterna!

 

Extraído de

 

POESIA SEMPRE.  Ano 18.  2012. Número 36.  Edição dedicada a Minas Gerais. Rio de Janeiro: Ministério da Cultura, Fundação Biblioteca Nacional, 2012. Editor Afonso Henriques Neto.

 

Juiz de Fora: poema lírico (excertos)

 

[...]

0 despertar industrial de Juiz de Fora com sirenas cantando na manhã sonora!

Passam moças morenas! Passam louras e mulatas! Vão apressadas pisando! pisando! Vão para as fábricas!

A energia que fecunda o dia útil transborda no meu ser bem musculado! E a necessidade dinâmica que intumesce o meu tórax na ginástica matinal é a mesma necessidade que acelera o arfar metálico das fábricas quando elas crescem na manhã sonora para aspirar os operários-átomos!

 

Eu caminho na manhã sonora.
Agora,

ramerronam pesados caminhões!

E carroças grandes atritando!

Na torre da estação.

não há nenhuma castelã!

Morreu há muito o feudalismo colonial

na minha Minas acolchoada de montanhas!

Já não existe o Senhor Barão das Botas-Altas

com bigodes em forma de estopim!

E a burla clássica do arrozal imenso de capim

da Pendotiba fluminense e astuta

morreu bruscamente!

O dia brasileiro é este! Escuta!

 

[...]

Já olhamos por demais a Lua!

É preciso agora conhecer a Terra!

Não é vivendo em Paris que se sente Malazarte!

Paris é secundário!

E preciso sentir São Paulo narigudo dos viadutos!

E Santos das docas ensacando em bonés!

Santos: e no ar de turfa.

mornos trapiches transbordam tarifas!

0 céu e o mar bojando Guarujá!

E viver Juiz de Fora arfando ao sol, metalizada!

Belo Horizonte no desperdício brutal dos poentes de fogo!

Belo Horizonte picotando em telhados o planalto das árvores!

com ruas largas! Largas!
e casas concretizando grimpas em concreto armado!

E sentir sanara do Aleijadinho,

mais Congonhas trepando igrejas pela encosta!

Ouro Preto com o córrego do Funil ainda

embalando o sono aflito de Marília!

A Diamantina ajaezada

com casas enormes

de janelas nobres

quadriculando a montanha!

 

[...]

Quem perdeu uma joia de preço

entre os verdes matagais?!

Eu grito a minha ingenuidade!:

é preciso descobrir a clareira de Manaus!

Lá.

o arapapá, aboriginando em cocares grasna
arapapando oco
na taquara do bico ilíngue!
E a alma bárbara dos borés
rufando em couros retesos,
retumba na matraca do bico atro!

Jacarés maciços morrem ao sol!
0 sol racha a pele rija da maniçoba!
E a maniçoba baba em bagas caldosas
sobre a terra desejando!

E o tamanho Amazonas amanhece para o amanho amoroso!

 

0 longe Goiás de casas quadradas entre coqueirais!

Onde pedras nuas barbando avencas,

arquitetizam igrejas de dois séculos!

Varandas, riscando gradis, apensam casas-pratibandas!

Jenipapeiros gigantes jungem papos polpudos!

E nos telhados sobrando em revirados debruns.

pombas toscas de argamassa retrospectivam improvisados artistas!

 

[...]

E hoje. cidade linda.
Recife, noiva do mar!
para os olhos (pie te fitam
sob as noites sem luar,
tu fulges com tanto brilho,
na noite feita vidrilho,
que até parece que o céu

 

sacudindo o imenso véu
despejou as pedrarias
por sobre as escamas frias
do teu noivo secular!

 

E pampas transbordam cargueiros para a Europa!

 

É preciso chupar o chá chimarrão agachado em ponche!
E viver as estepes, com cavalos tirando! tirando!

 

Adiante.

laranjeiras acendem pepitas na baixada!
E abanam picotadas no mormaço
todas as bananeiras de Casimiro!

Mamões enrijam troncos roliços pelas frinchas da terra fêmea!
A luz cai a pique,
varetando a terra porosa!

e a terra intumesce bochechas assoprando pelo tubo taludo
dos troncos

o balão colorido tios frutos!

0 brado triunfal de São Cristóvão

irrompe do cerne escuro das chaminés!

e o amplo Rio escancara para o nosso espanto!

O asfalto ressoa ao trepidar cosmopolita do capitalismo!

 

Eu sou festeiro da festa de Botafogo!

Botafogo é uma festa com regatas retas tentando!

Copacabana cosmopolitando em casas boas de se morar!

 

Com arestas brutalizando grimpas para eu galgar!
E ondas cobrejam nervos sobre o mar sensível!
Corpos tatuam tendões na areia plasmável!

 

Tumultuar geológico da espiral da Tijuca!
com tufos fofos de bananeiras expressivas
entre cactos estáticos!

E a luta do titã com a montanha

foi tamanha!

que ele foi subindo e subindo!

Até que feriu a montanha bem no seio!

E o fio veio

veio

vindo

rei o

e reto.

espichado.

alongando-se

esticando!

Até que escorreu fino!
caindo a prumo
no vale fundo!

E o vale da montanha bebe o sangue da montanha!
E a montanha gritou tanto!...
                                           ...e gritou tanto!
que o dia furou fundo pelo hiato da montanha!
E o mar suspenso acudiu ao grito da montanha!
E comprime a cidade de encontro à montanha!

 

Cais do desembarque

onde chapas, bojando quilhas, derretem betume no dia excessivo! Cordames enrijam rangendo nas dragas duras!

Roldanas enrolam engrolando na abordagem guturejante dos bonés!

 

Blusas brancas museulejam fardos pardos
para o esforço lerdo dos guindastes!

E sobre o mar chatejando ao peso vivo da luz. a gaivota bate as asas
                                                                                     de zinco! Entrada alta da barra!

com granitos vegetando etn canhões inúteis!
e navios crescendo do mistério da noite esférica!

 

Leblon... Leblão!

de faróis riscando o dorso da noite elástica!
Faróis verdes!... vermelhos!...
                                          ... verdes!... vermel...

Leblon!

Sinto os meus olhos rasgarem-se mais. no espanto da noite esticada
                                                                                     ao máximo!

A matéria dinamizada até o espírito, expande-se preenchendo o bojo
                                                                                          integral!

E a força realiza no meu ser (no absolutismo da verdade relativa)

a consciência da ubiquidade da Energia movendo o dínamo integral!

E eu me sinto viver único, no Todo único!

Na noção essencial.

comparativa,

do relativismo que (racionou a Eternidade,

eu sinto a Matéria e o Movimento confundirem-se no espaço vibrátil! Só Deus existe em abstrato, porque o tempo é a duração do
                                                                                    Movimento
[...]

Página publicada em janeiro de 2010; ampliada e republicada em julho de 2015. Ampliada em agosto de 2018.

 

 

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