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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

ANIBAL M. MACHADO


Aníbal Monteiro Machado (Sabará MG 1894 - Rio de Janeiro RJ 1964). Contista, ensaísta e professor. Começou na literatura quando estudante e, no Rio, ligou-se aos modernistas, com assídua colaboração nos periódicos Revista de Antropofagia, Estética, Revista Acadêmica e Boletim de Ariel.

Eleito presidente da Associação Brasileira de Escritores, organizou, com Sérgio Milliet, o 1º Congresso Brasileiro de Escritores, em 1945. Este congresso, ao defender a liberdade democrática, precipitou o fim da ditadura de Getúlio Vargas.

Marcou sua presença de destaque no panorama do conto brasileiro com textos antológicos, como Viagem aos Seios de Duília, Tati, a Garota e A Morte da Porta-Estandarte.

Ligado ao teatro, ajudou a fundar vários grupos teatrais, tais como Os Comediantes, o Teatro Experimental do Negro, o Tablado e o Teatro Popular Brasileiro. 

MACHADO, Anibal M.  Poemas em prosa.  Rio de Janeiro: Philoblion; Editôra Civilização Brasileira, 1950.   9 cadernos soltos.   17x24,5 cm.   “1º volume da coleção Maldoror, da Editôra Civilização Brasileira, fez-se uma única edição, de trezentos e trinta exemplares, impressa em papel RAPHAEL, Marais, France, ilustrada com xilogravuras de Manuel Segalá, divididas em quatro tiragens distribuídas da seguinte forma:  a primeira, de quatro exemplares, fora de numeração e nominativos, impressas especialmente para os subscritores e contendo cada um o original de uma das ilustrações, bem como uma plancha de madeira de cedro com o gravado definitivo e um poema autógrafo, inédito, de Anibal M. Machado, mais as provas de estado de todas as xilogravuras e vinhetas; a segunda, numerada de 1 a 10, por ordem de subscrição, com o nome do subscritor impresso na contracapa, e a dedicatória autografada e nonimativa do poeta, mais as provas de estado das quatro ilustrações; a terceira, de 286 exemplares, numerados de 11 a 300, destinados aos bibliófilos, e a quarta, de 30 exemplares, assinaladas com a letra A, seguida de numeração em algarismos romanos de I a XXX, para o autor. Exemplar n.. 64 na coleção  A. M.  (LA)



 

AMPLIAÇÃO DA PÁGINA A CARGO DE SALOMÃO SOUSA:

Nasceu em Sabará (MG) em 9 de Dezembro de 1898. Morreu no Rio de Janeiro (RJ) em 20 Janeiro 1964. Formou-se em Direito em 1917 e por um curto período trabalhou como promotor público no interior de Minas Gerais. Em Belo Horizonte, no início da década de 1920, ligou-se ao grupo modernista do Diário de Minas e conviveu com Carlos Drummond de Andrade e João Alphonsus. Mudou-se para o Rio de Janeiro em 1923. Presidente da Associação Brasileira de Escritores, em janeiro de 1945 organizou junto com Sérgio Milliet o Primeiro Congresso Brasileiro do Escritores, em São Paulo. Destacou-se pelo romance João Ternura (1965), e também como o contista. Sua atuação na imprensa se deu por meio de artigos, ensaios, resenhas e crônicas publicadas na Revista do Brasil, Boletim de Ariel, Revista Acadêmica, Para Todos... e para os suplementos literários do Correio da Manhã, Diário de Notícias e O Jornal.

Foi autor de um único livro de poemas, de 1955, em edição limitada, denominado Poemas em prosa. Os poemas desse livro foram incorporados ao livro Cadernos de João, que engloba aforismos, crônicas e outros textos livres. A obra de Aníbal Machado não é extensa, mas suficiente para apresentar-se renovadora dentro da proposta do Modernismo. Seus contos antecipam abordagem de temas como pedofilia e realismo mágico.

Os poucos poemas beiram o lirismo e a realidade brasileira.

 

O SILÊNCIO POR DENTRO

 

Recolher as palavras

Apagar os sinais

Destruir a cidade

Despovoar o silêncio

Sorrir debaixo das águas

Esperar dentro da pedra

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Os que não acumulam

E são mais ricos

Os que ignoram o espelho

E são os mais belos

Os que não choram e são tristes

Os que não dançam e são alegres

Os que são fortes e nem se lembram

Os que mais parecem irmãos

Das águas. bichos árvores e pedras…

 

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Última Carta de Pero Vaz

Digo a Vosmecê que no fim da planície há um gigante fumegando.
Uma viúva sem consolo e um pássaro conversível
Debaixo das árvores
Os suicidas vomitam o retrato da amada
Os bichos roem o código das águas
No caminho do mar as pedras não respondem
Vive-se a combinar a linguagem dos homens|
Com os traços imerecidos
Da sombra deles na poeira
Nas grandes linhas adutoras
Passam fora do horário
Invisíveis cavalos
Não é segredo
Que por elas fugiram os principais culpados
Daquele crime ao crepúsculo
De que hei falado a Vosmecê.
Dentre mais coisas que vi
Há que notar
No solstício de verão
Prateleiras de luz se derramando no céu
E na posta-restante
Um ventre de mulher
Com o sobrescrito apagado
São tão compridas as distâncias
Que os cavalos se fundem no horizonte
O horizonte ao jóquei
E o jóquei ao vento
Há um violão escondido na garoa
E uma moça fugindo dentro do violão
Seus brincos são dois ninhos de passarinho
Há um foco de generais
Ao pé de uma bananeira
Uma rainha se banhando na cascata
Cifras de um cálculo abandonado
Transformadas em colônia de formigas
Debaixo das areias
Há um cassino-iceberg
Que desce devagar
Para os mares do sul
Há uma nuvem metida em aparelho de gesso
Diversas virgens coloridas gemendo
Sob o cascalho de aluvião
Há um som corrosivo de sino
Atacando os profetas de pedra
Uma planície em disparada
Com os bois fora de prumo
Um sol de metamorfoses
Um rio morrendo de cansaço
E navios de sombra
A navegarem pela floresta
Procurando-se bem
Nota-se ainda
Uma coluna de vapor e pasmo
Que vem subindo há milênios
E há a vida em geral
Que é servida e ninguém quer…

 

Iniciativas

 

Faça o que lhe digo. Solte primeiro uma borboleta.

Se não amanhecer depressa, solte outras de cores diferentes.

De vez em quando, faça partir um barco. Veja aonde vai. Se for difícil, suprima o mar e lance uma planície.

Mande um esboço de rochedo, o resto de uma floresta.

Jogue as iniciais do lenço. Faça descer algumas ilhas.

Mande a fotografia do lugar, com as curvas capitais e a cópia dos seios.

Atire um planisfério. Um zodíaco. Uma fachada de igreja. E os livros fundamentais.

Sirva-se do vento, se achar difícil.

Eles estão perdidos. Mas nem tudo o que fizeram está perdido.

Separe o que possa ser aproveitado e mande. Sobretudo as formas em que o sonho de alguns se cristalizou.

Remeta a relação dos encontros, se possível. E o horário dos ventos.

Mande uma manhã de sol, na íntegra.

Faça subir a caixa de música, com o barulho dos canaviais e o apito da locomotiva.

Veja se consegue o mapa dos caminhos.

Mande o resumo dos melhores momentos.

As amostras de outra raça.

Com urgência, o projeto de uma nova cidade.

 

 

ANTOLOGIA DOS POETAS BRASILEIROS BISSEXTOS CONTEMPORÂNEOS. Organização: MANUEL BANDEIRA.
Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1996.  298 p,   12 x 18 cm. 
ISBN 979-85-209-0699-O    Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

Bissexto é todo o poeta que só entra em estado de graça de raro em raro.” MANUEL BANDEIRA

 

 

 

OS CÃES LATIAM NA ESPUMA

 

Eu disse que iria procurar a companheira para voltar com ela

                                                  antes que a noite chegasse.

O mar escurecia tão depressa que muitas ondas já

                                                 arrebentavam dentro da noite.

Eu prometi aos amigos que voltaria sem demora para

                    aproveitarmos até o fim o espírito das águas.

O vento levantava o vestido da companheira e nós íamos sentados

           num trenó que puxavam os cães invisíveis na espuma.

No alto das ondas uma tristeza nos veio não sei se do passado

                                       ou do fundo da memória.

Mas vi que seríamos menos felizes andando devagar.

Então os cães invisíveis correram mais depressa e outra vez,

                              no alto da onda, a alegria voltou.

Os cães latiam sempre na espuma.

Ó noite que desces depressa, ó mar que predomina em tudo,

                    ó vento na saia da companheira, ó doçura.

Eu tinha prometido voltar mais cedo e me deixei levar.

Passaram as águas noturnas. Veio depois a neblina da madrugada.

Os cães continuavam a latir na espuma e quando raiou o sol

                    eu ainda corria enlaçado à companheira, trocando

          palavras que não sabemos repetir, que nunca mais ouviremos.

 

 

 

 

POEMA

 

Tua voz ainda está descendo por estes rios.

 

Em todas as árvores

Só se conta a tua história

As sombras imitam forma de teu vulto

Os reflexos do sol te repetem.

 

Há tanta coisa em ti

Nas coisas que olhaste

Que se te quer encontrar

Encosto o ouvido ao seio da noite

 

Mergulho nas águas.

Rolo-me na terra

E te sinto folhagem

Te respiro no vento.

 

Tudo o que em tua pele tocou

Colo de colina

Chuva que te molhou

Relva em que dormiste

Pedras estrelas lagoas

Tudo com teu olhar me olha agora

 

Teu rosto enche a paisagem circular

E voltado para cima

Beija no espaço

A rosa dos dias

 

Depois que anoitece

Lá fora a montanha

Ainda é teu corpo branco

Que se despe.

 

 

 

Página ampliada e republicada em julho de 2017; página ampliada em maio de 2020


 

 

 
 
 
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