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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Foto: https://ruidomanifesto.org/onze-poemas-de-edir-pina-de-barros/edir-pina-de-barros/ 

EDIR PINA DE BARROS

 

Nasceu em Ponta-Porã (MS). Antropóloga, especialista em povos indígenas, é mestre pela Universidade de Brasília, doutora e pós-doutora pela Universidade de São Paulo.  Professora aposentada da Universidade Federal de Mato Grosso e perita judicial em conflitos que envolvem terras indígenas e quilombolas. Organizou livros, publicou capítulos em livros e artigos em revistas especializadas, nacionais e estrangeiras (Espanha, Portugal, Argentina, Polônia). Seu livro - "Filhos do Sol"- foi indicado para o Prêmio Jabuti 2004 (melhor livro de Ciências Humanas e capa) pela USP, que o editou. Poeta, com textos publicados em mais de uma dezena de antologias. Obteve o primeiro lugar (Chave de Ouro) no III Festival de Sonetos da Academia Jacareyense de Letras (São Paulo), em setembro de 2009 com o soneto Grafismo Indígena.

Membro de Poetas Del Mundo, tem textos publicados em vários sítios eletrônicos, com destaque para:

•        WWW.SONETOS.COM.BR

•        Poesia Retro: http://poesiaretro.blogspot.com/

•        Recanto das Letras (Flor do Cerrado)

http://www.edirpina.recantodasletras.com.br

 

 

Quisera!

Quisera estar vazia nesta noite,
sem ter em mim recantos de saudade,
sem ter veredas, nada que me açoite,
e a rude dor que sempre assim me invade!

Quisera ser parede sem retrato,

sem telas, sem pinturas, sem enfeites,
ser ente bem vazio, só, abstrato,
ser lisa, nua, sem quaisquer confeites!

Quisera ser o vácuo, sem ter eco,
o vinho que, na taça, sugo e seco...
Quisera ser o nada deste instante!

Quisera! Neste meu penar disseco
a tua sombra que me vem constante,
morrendo por amor, de ti distante.

 

Cuiabá, 09 de fevereiro de 2010.

 

PLANGENTE (II)

Os sinos dobram! Choram reticentes, tristes!
Revejo a vossa imagem a caminhar no adro,
Por trás do véu dos tempos idos, mui cendrado...
Co’as vestes noturnais do dia em que partistes.

Invocam, dentro em mim, o dobre dos finados,
Anunciando a vossa morte e despedida,
Em lúgubres lamentos vindos lá da ermida,
Que se somaram aos meus, profundos, enlutados.

Os sinos dobram tristes! Choram reticentes!
E as minhas noites, como eles, são plangentes,
Jamais eu fui feliz depois de vosso adeus...

Saudades eternais residem dentro em mim!
E hão de ir comigo até meu pobre fim,
E vivereis em mim, nos tristes sonhos meus...

         Brasília, 03 de fevereiro de 2011.

 

CICLOS (IV)

Mil sonhos eu bordei nos meus lençóis de seda,
Alabastrina seda, com seus mil primores,
Bordei co’s fios doirados cândidos amores,
Nas noites de ilusão, nas minhas horas ledas.

Mil arabescos fiz co’s fios dos meus desejos,
Co’as rendas da paixão, de minhas mil quimeras,
No auge do viver, de minhas primaveras,
Que hoje canto assim, quais velhos realejos.

Ah! Priscos tempos! Prenhes de prazer! Ventura!
De tantos sonhos meus replenos de candura...
Álacres tempos que não voltarão jamais!

A vida esgarçou os meus lençóis bordados,
Os sonhos que sonhei nos tempos meus doirados,
Deixando dentro em mim tristuras outonais.

         Brasília, 04 de fevereiro de 2011.

 

GUARDA OS MEUS VERSOS

Guarda estes versos que escrevi chorando um dia,
Como um alívio a minha dor, minha saudade,
Por um dever d’amor, que inda agora invade
O meu viver sem ti, carente de alegria!

Os versos que te fiz são frutos da agonia
Que me consome a paz, a minha mocidade,
Gerando em mim a mais profunda soledade...
São prantos de saudade em forma de poesia!

Oh! Guarda os versos que chorando eu te fiz!
São teus, como são meus os tristes sentimentos
Que, nestes versos, sem pudor, estou cantando...

Quem sabe um dia hás de lembrar quanto te quis...
E se saudades tu sentires por momentos
Beija estes versos que escrevi por ti chorando.

         Brasília, 21 de Outubro de 2010.

 

COISAS DO CORAÇÃO

- “Coisas do coração” – Assim me dizes...
Assim traduzes minhas mágoas, dores
Que deixam n’alma tantas cicatrizes,
Levando desta vida seus dulçores...

- “Coisas do coração, dos teus verdores”...
E assim disfarças todos teus deslizes,
Mas nossos dias já não são felizes
E vão morrendo em mim os meus fulgores.

Tu nem percebes que me vou aos poucos,
Que agoniza dentro em mim o amor,
O mesmo amor que já foi teu um dia...

- “Coisas do coração! Ciúmes loucos!”
Se ouvisses meus queixumes, meu clamor,
Até o fim da vida amar-te-ia...


        
Brasília, 15 de outubro de 2010.

 

Solitude
 
Na boca o beijo que ninguém beijara
Ficara ali perdido pelos cantos,
Em meio a mil desejos, risos, prantos
Que escorreram sobre a pela clara...
 
No insaciado corpo mil desejos
Queimara como as lavas de um vulcão,
Retidos entre sonhos de paixão,
Por entre os véus d’olhar de tantos pejos...
 
Perdeu-se, só, no tempo, nos seus mantos,
Em meio a mil desejos, seus fulgores...
Nos vãos dos sonhos que, em vão, sonhara...


E assim a sua vida se passara,
Passaram seus encantos, seus verdores,
E até os seus pudores, que eram tantos!

         Brasília, 12 de dezembro de 2010

 

Exílio

De mim me encontro longe nesta tarde fria,
Não sinto dor qualquer, tristeza ou saudades,
Não tenho mais desejos, sonhos, vaidades,
Nem mil fulgores que outrora em mim sentia...

Sozinha vago dia e noite, noite e dia,
Não levo dentro em mim certezas nem verdades,
Deixei aquém os meus amores, amizades...
Andejo só e nada levo! Estou vazia!

Vazia de mim mesma calma e só prossigo...
De tudo estou liberta! Leve sigo adiante...
Restou-me só etérea alma que flutua!

Na aurora que já vem encontro o meu abrigo.
Imensa paz eu sinto neste raro instante
Em que sozinha vago, de mim mesma nua!

         Brasília, 09 de Novembro de 2010.

 

SONETOS. v.2.Jaboatão dos Guararapes, PE: Editora Guararapes EGM, s.d.  151 - 310 p.  16,5 x 11  cm.  ilus. col.  Editor: Edson Guedes de Moraes. Inclui 171 sonetos de uma centena de poetas brasileiros e portugueses.  Ex. bibl. Antonio Miranda

 
 

         ALTAMISA

       Silêncio! Escuta a brisa que murmura,
e sobre as folhas rola e se desliza,
a balançar as flores d´altamisa,
tão perfumadas, prenhes de candura.

        Tu podes escutar a doce brisa?
Ouvir a sua voz na noite escura?
Nas flores d´altamisa ela perdura
e faz juras de amor, à sua guisa!

        E com seu jeito firme, mas galante,
do modo que s´espera d´um amante,
nos braços d´altamisa caí, s´enlaça.

        Ao alisar-lhe com seu jeito arfante,
nela roçando quando lento passa,
quanta mesura! Quanto garbo e graça!

 

 
 

               
DEVANEIOS

             Bem que podias vir adormecer na rede
ouvindo o sabiá que canta na mangueira,
e tantos bem-te-vis que ciscam pela beira
e vem no pote meu matar a sua sede.

                Na rede adormecer sentindo o doce cheiro
das flores a se abrir, soltando o seu perfume,
enquanto lá no céu a lua vem, relume,
e o vento a farfalhar nas folhas do coqueiro.

                Bem que podias, sim, amanhecer no rancho
no qual sozinha estou a te esperar querido,
ouvindo, do regato, o seu doce queixume.

                Sem ti eu sofre só, qual passarinho implume
sem ninho, sem lugar, sentindo-se perdido
diante da extensão do céu escuro e ancho.

 

        BOI DE CANGA

        O boi de canga que, cortando areia,
arrasta, sem cessar, a própria vida,
cumprindo o seu destino e a sua lida
gemendo pela estrada, que volteia;

        o sangue vai fervendo em sua veia,
a sua dor profunda é desvalida,
roçando vai, a canga, na ferida,
no caminho, que o rio, além, ladeia.

        Escravo, sem saída, sofre e chora,
ferindo, a dura canga, o seu pescoço
e nada vendo além das vis viseiras.

        E na subida, a dor seu ser devora,
mas gemendo, fazendo grande esforço,
vai vencendo as mais íngremes ladeiras.

 

DANIEL, Claudio.  NOVAS VOZES DA POESIA
BRASILEIRA. Uma antologia crítica.   
Capa: Thiti
Johnson.  Cajazeiras:  Arribação, 258 p.  
ISBN 978-85-6036-3333365-6

                  Exemplar biblioteca de Antonio Miranda

I
Quantas balas
em cinco séculos
para exterminar
mais de mil povos?

Bugreiros, capangas,
batedores de mato,
correrias e chacinas,
“guerras justas”, álcool.

II
Quantas balass
no tekoha sagrado
dos Guarani-Kaiowá?
Nem Ñanderu sabe.
Milícias encapuzadas
fecham o cerco,
acuam, matam
como se matam bichos.

Pássaros de ferro
sobrevoam o tekoha,
balas e mais balas,
em nome da Justiça.

E agora? Quantas balas
no tekoha sagrado
dos Guarani-Keiowá?
Nem Ñanderu sabe.

III
E os recentes genocídios
Tikuna e Yanomami?
Os isolados? Os acampados
entre cercas e estradas?

Neste tempo de barbárie,
abre-se oficialmente
nova temporada de caça
com carta branca para matar.

IV
Do outro lado toda mata
é domínio de Ynhangonrom,
seu sodo, dono-senhor.

        Ynhangonrom tem peito imenso,
enorme peito que guarda
leite-veneno-mortal.

Ynhangonrom jorra seu leite
naquele que não respeita
o seu território sagrado.

Ao seu lado vai Karowí,
que leva sempre consigo
machado em forma de sapo.

Circulam nas matas, circulam
a examinar cada tronco,
a cuidar de seu reinado.

Não se derruba árvores,
sem respeito, precisão,
na exata necessidade.

Do outro lado é diferente
desse pensar, dessa gente:
a mata é mercadoria.

V
Voltar é ver os campos destruídos
pelo gado dos outros
em troca de miséria, rendição.

Voltar é ver os campos arrendados
(aluguel ilegal)
para os novos algozes seculares.

Voltar é ver a rédea imposta à terra
cavalo fiel, domado,
domesticado, com viseiras, peias.

Subjugadas as mãos das tecedeiras
que já não fiam, tecem
a rede de algodão cantada em mitos.

(A rede originária onde se nasce,
se deita quando uanki,
se casas, se dorme, se enterram mortos).

Voltar é não rever roça e  fartura
de caça e peixe, awadu,
kadokerfa, âpa, tâenzein, milho kurá.

Voltar é ver os campos pisoteados,
desviscerados,
violadas as raízes ancestrais.


 


 


 

 

 

 

Página publicada em fevereiro de 2011


 

 

 

 
 
 
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