| MÁRCIA DE QUEIROZ   Nasceu em Catanhede,  interior do Maranhão, em 1908 e faleceu no Rio de Janeiro, em 1969.   QUEIROZ, Márcia de.  Poemas   (1920-1960).  Seleção e  organização de Arlete Nogueira da Cruz.  São  Luis, MA: SIOGE, 1993.   56 p.  12,5x18 cm.   Col. A.M.  (EA)   PÁSSARO PRESO   Pobre pássaro preso na gaiola,  só eu te compreendo a desventura,  pois como tu minha alma se estiola  noutra prisão também estreita e  escura.   Dão-te conforto que te não consola,  pensam que exprime, o canto teu,  ventura.  Mas, bem o sei, quanto tristor evola  do teu viver, alada criatura.   É que o meu ser como o teu ser,  imerso,  vive, na imensa angústia de querer  conquistar as lonjuras do universo.   Se nos tolhe o destino a liberdade, onde buscar o encanto de viver,  onde achar, pássaro, felicidade?       ARTISTA   (A Ambrósio Amorim)   Ante o painel da natureza e a tela,  tua alma comovida, se embevece,  e logo a arte pura ae revela  na imagem que, súbito, aparece.   E nos vários matizes da aquarela,  teu pensamento toma forma e cresce:   aqui a cor é mais pujante e bela,  ali, em tons mais leves, esmaece.   No contorno das formas e nas fintas,  um pouco do teu ser se transfigura  e tudo se transforma, quando pintas.   Mesmo que a tela simples se revista  de alguma pobre, esquálida figura,  revela sempre o que tu és: artista.       ROSA DE MAIO   Foi neste mês de clara primavera,  neste maio de rosas, sempre lindo,  que humana flor desabrochou sorrindo  no meu rosal de sonho e de quimera.   Marilda, é o nome dessa flor que  viera  trazer-me à vida o seu encanto  infindo  com tanta graça em seu olhar  luzindo,  dos anjos toda a candidez trouxera.   Que nunca a sombra de um pesar lhe  venha  turvar o brilho da existência amena  e em seu destino só venturas tenha.   Essa rosa de maio sempre pura  que, de virtude, emite a alma  serena,  essência que embalsama e que  perdura.       O NASCIMENTO DE VÉNUS   Todo mar, de repente, estremeceu  e as vagas se eriçaram encapeladas,  as ondas levantaram encrespadas  e a brisa que passou ensandeceu.   As estrelas, em súbito apogeu  de glória e esplendor, maravilhadas,  vieram todas do infinito, aladas,  e nas águas o céu resplandeceu.   Pérolas mil à tona apareceram e num templo pagão, sem véu nem  brumas, transformara-se o mar. Génios  tangeram   alegres harpas, encantados trenos. Vinha, de um branco turbilhão de  espumas, surgindo a forma escultural de  Vénus.       Página  publicada em janeiro de 2013     
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