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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

KISSYAN CASTRO

 

            Nasceu em Barra do Corda, Maranhão, em 1979. Poeta e escritor. Atualmente assina uma coluna às quintas-feiras no jornal virtual www.turmadabarra.com.

            Publicou em poesia: “Vau do Jaboque” (2005)e “Bodas de Pedra” (2012). Tem inéditos os livros: “Rio Conjugal” e “Farelos”.

            “Você, em seus versos, imprime metalinguagem que não é de iniciantes, e dispensa de sua palavra o lugar comum; é hermético e conciso, e isso lhe dá fôlego e magia. (...) Você é como me disse certa vez o poeta de Martim Cererê, Cassiano Ricardo: ‘Todo mundo faz poesia aos vinte anos, mas você a fará pela vida inteira...’.” FERNANDO BRAGA


De

Kissyan Castro

Bodas de Pedra

b.c.: Assegraf, 2012

 

 

De “BODAS DE PEDRA”. Barra do Corda: Assegraf, 2012

 

 

CARBONO 14

 

 

Pensar a pedra

como atrás fora

o ser, é do chão.

 

A pedra que dentro

diz da criatura

seu peso-réu

de ambição. (De quem

 

o novo erro?)

 

Nosso verbo se iguala

ao dos dinossauros:

 

adubos de um paraíso além.

 

 

 

 

TIPOIA

 

Sobre o rio trabalhado

algo além da mesma ave

pulsa no viés de sua órbita.

 

Algo que se elabora

dum quase inascido voo.

 

(Danificada asa sem apoio

senão o da paz traída

no avesso nenhum

 

de um deus subtraído)

Exato (posto que concluído),

inclina-se habitual

em seu vir desnecessário, o canto.

 

 

 

FÊNIX

 

Um corpo

para que o pó o plume

da pedra que o pena,

 

que pena

é peso de pálpebras

na palha após

do tempo.

 

A pena

que é do pássaro

o sempre depois

no próprio pó

a repetir-se.

 

 

CAMA MESA E BANHO

 

Já um só,

já além,

escrevo-me

sem volta

qual rio.

 

Já igual,

já meu,

me findo

de somas

e de ossos.

 

Abaixo,

(já tudo)

tenho-me

de eterno,

já nu

      e nada.

 

 

O GOLPE

 

Deu-nos Deus a dádiva-dívida

do existirmos para a folha

de pagamento, indébita

 

quando pese em juros

o cunho do ser no chão

e cesse a cobrança.

 

 

 

CONTRACEPTIVO

 

É da noite

o colher galos

de sua infância.

Para a noite,

o experimento do dia.

 

A manhã final

previne-se da luz:

o galo in vitro

e o sol na gema.

 

 

 

LIÇÃO GASTRONÔMICA

 

À maneira dos peixes

no paladar dos mares,

 

as línguas do silêncio

nadam juntas no pó.

 

Ó cardápio em mim

onde sem pai naufrago:

 

és o que de Deus cabe

quando porto nenhum.

 

 

 

ESTOCAGEM

 

Um museu de sombras

gela em nosso sangue.

Pesamos sobre o engaste

do nada como um depósito

de sobras sem nenhum direito.

 

Detrás de que pálpebras

existiremos? Sob que

pensamento?

Qual pedra de nós

se fará sem risco?

 

 

 

EXERCÍCIO DE MONTARIA

 

O dia cavalga crepúsculos

em seus cavalos

 

Ó reino do estábulo,

a existência é esse relincho

sob os cascos gastos das horas.

 

 

 

 

CROSTA

 

Da cruz se extingue

sua voz de sangue

sobre a maca ilegal do tempo.

 

De ouro se cobre

o sangue do lenho

para que em quilates

se avalie a dor.

(Que lenho geme,

não luze

como o silêncio.)

Que ouro a morte

estanca.

 

A boca do Calvário

é sua asfixia.

 

 

 

ÊMBOLO

 

Temos porém

um cão,

que só porque é pronto

late para dentro

 

do fundo

que se dobra

ao vazio quintal

do Ser,

 

entre o que nos sobra,

para logo

ir-se no mesmo nada.

 

Um cão

na imordaça.

 

Desafio

é alimentá-lo

sem que flua

             à boca.

 

 

 

 

OFÍCIO SOTURNO

 

Quanta carne

idêntica

usufrui o tempo.

 

Uma tabula rasa

sobre quem o solo

forja esquecimento.

 

Como de um AR-15

a última verdade:

 

em berço esplêndido

deita-se eternamente.

 

 

 

REFORMA AGRÁRIA

 

Repartir terras

no partir do ser

à terra que o dista,

 

a juntar-se ao ínfimo

grão sem flor dos ossos

da eternidade nele

debulhada em bulha.

 

Repartir terras

no ser adentro

como do bagre ao bago

se afogam na feira os peixes,

em frescos e podres:

 

o ser pode em bago

voltar ao que lhe é de terra

e de direito.

 

 

 

PÁSSARO NEFASTO

 

Desde agora o pensamento

transpõe o mármore do verbo.

A agonia de negar o desejo

exala-se

porém o grito se abafa.

 

(logo a sombra mestra

se retira e deixa apenas

sua ressonância violenta)

 

Desde agora o medo ou mulher

apodera-se do meu silêncio.

Então volto de alguma parte em mim

que por vezes se afoga.

 

Desde agora a claridade,

o disparo ou distância

retrocedem,

retrocede o canto.

 

Devo sentir o rasgo da chuva

e reconhecer-lhe o tempo urdido

longe do equívoco e do rio,

encerrado no vazio

que me penetra como incêndio.

Devo assim tornar-me exalação

ou castigo

quando de repente

passos ondas instante

percorrem jardins de fumo

sob tuas pálpebras

no escuro.

 

Até que através de ossos

eu circule e durma

e fique o grito

nas areias de meu país.

 

 

 

RESGATE

 

Na boca das mamoranas

a noite amadurece,

irrompe em múltiplas papilas,

 

resvala nos muros encardidos

confundida com as pontas de cigarro

apagadas na urina

e com o asfalto esburacado

da avenida,

 

resumida à velocidade

que os pneus lhe dão

e aos passos clandestinos

de que se alimenta.

 

O silêncio depois é tão grande

que chega a derrubar as flores,

a desafiar as pedras,

o frio.

 

Engasgado nos sapatos

anda a disputar os homens.

 

Assume então a consistência

das sombras,

o assédio das sombras

que nos usam e se disfarçam

para despistar a claridade.

 

Alastra-se pela cidade inteira

até que o braço da aurora

se estenda

reavendo seus reféns.

 

 

Página publicada em agosto de 2012

 

 

 

 


 

 

 
 
 
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