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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

POESIA GOIANA
Coordenação de SALOMÃO SOUSA

 

GERALDO DIAS DA CRUZ


Nasceu em Belo Horizonte, Minas Gerais, a 3 de maio de 1929.  Reside em Goiânia, Goiás. Poeta, administrador de empresas de formação. Autor de vários livros de poesia.

CRUZ, Geraldo Dias da.  Silêncio das horas.  São Paulo: Scortecci, 2021.  154 p.  Imagens da capa Frepik.  ISBN  976-65-5529-546-7
                                                             Ex. bibl. Antonio Miranda 

 

AS MÃO DO TEMPO

I

As mãos o tempo com pedaços de musgo
e na plenitude de noite se oferecem
para estrangular a solidão, que me estrangula.
Penso voltar, pois rubras são as palavras que carrego na boca.
Elas me abandonam e querem perseguir o sol que arde
e está sentado na proa sobre o espelho do mar.

Ouvidos cansados de escutar o envelhecido latejar
das pedras, e o sol queima por fora,
 e eu sei que ele pode queimar meus ossos;
rumor de entre os galhos, as folhagens estremecem; muito,
muito adiante, no vagar do vento as folhas das árvores caem,
e um pássaro canta num ciclo perfeito,
e com o olhar brilhando contemplo a beleza
do horizonte, a estrada. No domingo
cheio de caprichos, vejo o mundo fluir e evoluir.

II

O olhar procura veloz o tempo que pousa em minha pele.
Escrevo sobre a areia um poema falando da beleza do amor,
que é uma flor que brota e cresce sem a ajuda das estações.
Sou a soma de todas as estações do ano.
Sou um misto da luz do sol com a força do vento,
a intensidade da chuva e a leveza da primavera cheia de cores,
desabrochando flores, trazendo amor.
Nele não há diferenças, só há aconchego, volúpia no olhar,
no jeito de estar, nada consegue disfarçar o amor.
O amor não conhece obstáculos
e não recua diante de nenhum sacrifício.
O homem ama porque o amor é a essência de sua alma.
— Viva o amor!

O meu coração bate no ritmo da música que toca:
é sempre festa. Ele está leve e feliz, de bem com a vida,
não importam as adversidades que apareçam.
Canto e fico tão lindo quanto a lua, tão quente quanto o sol,
que beija com carinho o meu rosto.
As estrelas cintilam conforme o meu amor,
tão puro quanto a verdade, tão vivo quanto a natureza.
Poucos sabem o que é realmente amar, e poucos sabem
o que significa amar. Ama ré tão bom se feito
da maneira certa, por isso não tenha medo de amar.
Tenha medo, sim, do caminho e de não caminhar,
de viver uma vida sem amor.

III

Encontro em cada anoitecer um motivo para recomeçar
que é fôlego para a alma. É mudar o caminho sem mudar
a essência. É não se dar por vencido. É saber a importância
de parar, respirar e continuar mais firme e decidido,
sempre com persistência. Sopra forte o vento,
as árvores do bosque balançam com seus galhos
envoltos em meus pensamentos. Com o coração cheio
de esperança, sou a consequência do que penso,
sempre revivendo a alegria já vivida. Amo profundamente
o sábio que nunca diz tudo o que pensa,
mas com sabedoria pensa sempre tudo o que diz.

O canto de um pássaro é belo, simples e perfeito em tudo.
Ele me leva a pensar: quem acha que sabe tudo joga fora
a grande oportunidade de aprender. Procure sempre aprender;
quando achar que sabe tudo, volt e aprenda tudo de novo.
Viver é estar sempre aprendendo, sem se cansar,
sem ter medo, e nunca se arrepender.
 E para saber aprender é preciso saber ouvir:
quanto menos você fala, mais é ouvido.
A palavra é metade de quem a pronuncia
e metade de quem ouve.
O importante é falar menos para aprender mais.
Aprendo humildemente com meus erros e acertos.
Caminho e escolho os acertos, mas guardo os erros,
porque eles irão construir as escolhas sábias de amanhã.

IV
Caminho e uma mão toca meu corpo, e minha respiração
fica intensa; olho para as ondas, abraço a brisa do mar,
e me sinto mais leve que nunca. E contemplo a natureza,
ela me alimenta a alma e me traz tranquilidade,
porque o mundo ainda tem muita volta para dar.
Preciso ter cuidado, hoje lanço as palavras, amanhã sentirei
o efeito delas. Nunca se confunda meu silêncio
com ignorância, minha calam com aceitação,
minha bondade com fraqueza ou minha sinceridade
com arrogância. As mais belas palavras são ditas no silêncio
de um sorriso, e o amor é a luz que não deixa escurecer
a vida, ela tem poder para me salvar e salvar o mundo.

Ouço uma canção e os pássaros voam em meus olhos —
e além desses olhos azuis reluzentes?
Um pedaço de céu e de mar. Chamaria esse olhar de turquesa.
O melhor é sempre olhar em frente, pois o que passou
não está mais ao seu alcance, e às vezes um simples olhar
é capaz de expressar uma infinidade de sentimentos,
e eu estou cheio deles. Eu sofro em silêncio,
amo com um olhar e falo pelos sorrisos, enquanto o canto
é a rosa dos ventos que balançam as árvores, e as borboletas
procuram o perfume das flores, as mariposas contentam-se
com a falácia das lâmpadas. Abro as mãos e carrego a noite
que permite os meus sonhos.
Eles não morrem, apenas adormecem a minha alma.

V
O meu amanhecer começa com um céu de primavera. Que
venha a primavera, e passarinhos cantando na minha janela, e
no céu arco-íris com as cores linda da aquarela do meu viver, e
as mãos do tempo são realmente talentosas, pois usam os dons
do destino para encontrar e exaltar a beleza da mulher, que
é como água em minhas mãos em forma de concha. Ela fica
lá, mas como tempo escoa por entre os meus dedos. É bom
lembrar, mas melhor é viver em silêncio como um sábio do que
falante como um tolo. Todos querem o perfume das rosas, mas
um número pequeno tem coragem de se arriscar para apanhá-las,
por causa do perigo de se feri com seus espinhos, e menos
ainda tem coragem de sujar as mãos para cultivá-las. Cultivando,
eu respiro paz e suspiro por mais amor na minha vida, e um
grande amor se inicia com uma semente de afeto, por isso ele dá
bons frutos. E para fazer uma bela colheita, é preciso regar-se de
motivação e adubar-se de conhecimento, que nunca é demais. O
conhecimento liberta, transforma, edifica, tira a venda dos meus
olhos, me faz enxergar as coisas de uma forma diferente, ilumina
a minha mente, ampliando o meu horizonte. É hora de olhar o
horizonte... De trilhar estradas, de cruzar a ponte... É hora de
cantar e se alegrar, e nunca para. É hora de seguir adiante.
 


 


CRUZ, Geraldo Dias daVoando fora das asasImagens de capa: Rosa Palam. Arte da capa: Daniela Jacinto.  São Paulo: Scortecci, 2020.  330 p.  ISBN 978-65-5529-190-2

 

                        “Poesia é voar fora da asa.”
                                   MANOEL DE BARROS

 

A verdadeira liberdade é um ato puramente interior. Sinto-me livre na natureza e cada dia ela produz o suficiente para minha carência: a coragem e a força interior. Sem crescimento interno, tudo se complica e fica difícil conquistar a autoconfiança e a coragem necessárias.

Longos são os caminhos, e nos ombros cansados trago uma mala de ecos e de ventos, alguns se quebraram, e muitos soltaram um grito sobre os telhados do mundo. Sob sombras perfumadas, vivo desejos possíveis, impossíveis, alguns prosperam, outros vicejam e morrem, e a minha alma soluça e dorme no silêncio e no abandono. Diz minha boca: é a palavra amor que enriquece a memória, e ela é verdadeira, é esplêndida e é encantadora.
E assim desejo o amor inesperado em mim, a voz dele é a minha voz que fala, que canta e canta uma canção. Meu coração anda alegre em encontrar um jardim, nele a planta cresce entre o nada e o tempo. Aqui estou, e meus ouvidos se fecham ao rumor do mundo, e penso no quanto sou ansioso: será que todos são ansiosos como eu sou ou são apenas indiferentes? Acima o céu lindo e animador, o sol cintilante, e a terra é da luz eterna e luminosa, onde o canto do pássaro paira no ar, e a natureza toda, em delirante alegria, canta saudando o amor.

(...)

 

Agora preciso saber ouvir, saber calar: nisso consiste a beleza do silêncio, que tem a língua suspensa na margens de um sabor de saliva e pétalas, sem dar por isso. E agora o espaço se prolonga em mim, tudo é magia com essa luz musical que passa voando no meu coração.

 

Poema

Quero voar sobre o mar
E apanhar mariscos que se incrustam
No flanco das ondas
Com o silêncio do ar

Quero ficar debaixo das árvores
Com as folhas no vento
O fruto é tão bonito no chão a rolar
E um pássaro voa roçando sobre ele

A tarde é linda e a luz
Despenca sobre o mar
E os peixes voam luzindo fora da água
Para brincar com as estrelas lá no céu

E as águas são profundas
Pensa o pescador que inclina o ouvido
Para ouvir o vento soprar
Com a chuva caindo
Bem no fundo do mar.

 

CRUZ, Geraldo Dias da.  A poesia gritando em minha vida.  São Paulo: Scortecci, 2019.            151 p.  14 x 21 cm.  ISBN 978-85-5946-6   Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

            A palavra no tempo


 

Quem  canta pela velhice?
A palavra no tempo
divinizada em luz,
rompendo através das águas.

        — Quem sopra de leve o tempo
        e dentro da noite
        deixa preso no rosto
        a sua passada carícia?

        — Quem corre contra o vento
        é o cavalo, e por onde passa
        o seu casco se prende à terra,
        como o navio à água?

— Quem como a pena ressurge
do tempo, que se esfacela
contra o azul, contra a janela,
com o retrato apagado?

— Que nome têm os pedaços
do que foi o breve encanto,
não na pedra, não no canto,
muna paisagem acabada?


II

        Tristeza? — É parco fruto.

        Do chão das palavras

        para as raízes do tempo.

        — Será que, tão breve a morte,

        a flauta pede outro agudo

        para o final do concerto?

        — Será que, boi, já rumino

        a última imagem

        antes que o canto se apague?

 

 

        III

 

        Com o fantasma no sonho,

        corro o bosque e desenho uma cruz.

        Flores chorando, não importa a hora,

        aqui a melancolia não se esgota.

        A palavra no tempo e os gestos

        se estendendo em todos os sentidos.

        O cansaço e a porta fechando,

        tanto espanto com a boca sangrando.

        Já não sei perguntar mais: Por quê?

        Temo não haver amado...

        Nada para olhar nem ser contemplado.

        Só me resta caminhar,

                                         desaprender os cantos,

        adormecer pra não se esvaecer.

 

 

CRUZ, Geraldo Dias daOs horizontes abertos.  São Paulo: Scortecci, 2018.   199 p.  ISBN 978-85-366-5486-7   Ex.bibl. Antonio Miranda

 

         CANTO PLENO

I

O canto pleno vai além, muito além das veredas do jardim,
encontra a manhã aberta, e o campo com suas flores,
sorrindo, acorda o vento que leva o meu pensamento
para a tremenda claridade do dia.

Levanto-me, e só agora descubro que caminho rumo ao horizonte,

de onde espero encontrar uma fragrância rubra

escondida no interior de uma flor que desponta

e ninguém sabe onde ela se encontra.

Tudo bem, ergo os olhos para o céu, cantando

com o coração na mão até desaparecer

por trás das árvores que brilham no escuro.

Seus ramos de ouro se espalham como sombras.

Sentado ao fundo duma sombra, deito-me na relva,

sempre verde, e acendo a estrela do meu sonho.

 

II

Nem tudo se acha perdido. Eu vim ao mundo para escutar
o canto dos pássaros, e o meu coração fica em chama.
As horas de espera queimam e os dedos ficam enlouquecidos
depois que carrego o meu corpo para fora do sonho.
E tudo que sai da minha boca encanta, e fica cantando,
colhendo flores da inocência no jardim da minha vida —
doce canto, doce porque não faz mal a ninguém.
Esqueço os desejos na tarde iluminada que anda coberta
de imagens, de sons, de palavras e de memórias.
As alegrias alimentam os meus sentidos, e a luz na boca
faz raiar o canto, que fica rodeado de passos alucinados
pelas pedras que iluminam os caminhos,

caminhos que fazem o tempo, e eu não conheço nenhum igual.
Meus olhos brilham, e a minha boca fala em música,
e nos sopros das alvoradas eles são inspirados
e vestem o meu coração com a beleza intangível.

 

III

                Cada visão, cada lembrança do rio que corre,

com dois barcos puxando redes cheias de peixes,

inundados de luz, radiando luz.

Assim, ao anoitecer eu inclino a minha cabeça,

fico pensando, mas não falo.

Afundo-me num mar de segredos e soluço,

estou me preparando para sofrer,

alguma coisa se põe a sangrar dentro de mim.

Procuro a minha infância e não a vejo,

as lágrimas rolam em meu rosto e não encontro consolo.

A luz é triste, e nas folhas mortas eu vou pisando,

e a saudade só vive me enganando.

Deixo o meu olhar em silêncio, quero uma alma tão clara

como a luz do sol que clareia as minhas palavras.

Eu sei que a noite chega, muda e calma,

o canto fica a arder dentro de mim e a andar no ar,

e o amor, em meu ser, como um jardim floresce

e me leva a juntar as mãos, levantar os olhos,

ante os aromas se multiplicando e o rumor das gotas de orvalho.

As árvores, os pássaros, todos estão dormindo,

e o meu coração não dorme, só sonha e canta.

 

IV

O sol de verão me revela o mistério do esplendor,

seu rosto brilha e é da cor de ouro.

Belo em harmonia, ele é como o mel em brasa.

Tudo que existe perto dele em fogo se inflama,

e as palavras do canto ficam iluminadas;

elas, cheias de amor, acendem as flores dos jardins.

O sol olha a minha sombra e me ensina que a vida é bela.

Meu espírito pensa e meu coração canta

enquanto o tempo derrama eternidade.

Falo de pedras que crepitam, de águas que brilham,

vou falando, pensando e interrogando.

Desejo ver de perto o sol comendo todas as imagens,

todo o sal, todas as sombras e toda a neve.

Deixo o meu ser rolar nas nuvens do céu,

com meu coração olhando as vagas solidões... 

 

V
Agora tudo é som, tudo é beleza, olhos serenos
e eterno semblante, calmo e nobre,
Aqui só escuto o canto de alumbramento
de manhã, de sol e de jardim de afeições,
Minha cabeça é uma árvore brilhante
que produz ramos e folhagens radiosos.
Tenho um bosque cheio de cantos
que iluminam meu ser como mãos que se abrem
no espelho da minha memória,
Suave loucura, alguém canta ao meu ouvido
um canto tão puro como uma flor viçosa,
que abre a porta da ternura e do desejo,
mas, de vez em quando, compõe sua canção na paisagem,
Fico com os olhos escancarados para a vida
e deixo o canto florir num mundo de aromas e de orvalho.


CRUZ, Geraldo Dias daFontes do vento.  São Paulo: Scortecci, 2017. 15x22 cm.   ISBN           978-85-366-5068-5   Ex. bibl. Antonio Miranda

 

        PLENO DE ALEGRIA

        VI

        As palavras acenam ao vento.
        Suas hastes são finas e verdes,
        as árvores que eu vejo dão frutos
        e pássaros que abrem as asas
        cantam nas alturas ao fim do dia
        e pousam como as folhas na terra.

        O tempo é outro tempo de recordar.
        Estou viajando nesse rio longo
        onde as águas correm e brilham.
        Eu me comovo, vejo aqui o meu barco,
        que olha o tempo e envelhece,
        mas continua voando e sonhando.

 

        VIII

        O caminho me convida a ouvir o vento.
        Nele descubro pedras em lamento
        e uma ilusão que aprisiona as sombras.
        Venho da vida e trago um canto
        com asas e luz que desfilam nos olhos
        e sobre a imensidão do meu rosto.

        E assim caminho com a leveza da lira
        entre os meus dedos a brilhar.
        Sou todo este ser que finalmente
        de mim mesmo se encanta, só sei
        agora é olhar o rio de minha infância,
        ao longe um barco me esperando.

 

        SOLITÁRIO

        I

        E calo
        porque calado
        é estar comigo,
        é ser o que sou:
        eu em mim
         preso a uma dor
        e as lágrimas
        correndo na face.

        Gestos longes...
        Que desconforto
        ficar assim
        com o pensamento
        tão morto,
        longe do sono,
        muito longe
        de tudo.

       

        V

        A luz em vertigem anda perdida.
        — Ai das flores no ar da manhã
        ofuscando os meus olhos! —
        Folhas secas em silêncio caem
        sobre os caminhos em noites de luar.
        Eu sei que da morte nunca me privarei.

        A vida acaba e os sonhos também.
        Quantas vezes terei falado
        que tudo nasce, vive e morre,
        e eu sozinho aqui à noite, sem sono,
        pensando que na vida estou tão só
        e na morte ficarei ainda mais só.

 

CRUZ, Geraldo Dias da.   Os cavalos e outros poemas.  São Paulo: Scortecci, 2016.  110 p.   ISBN 978-85-366-4539-1 

 

III

Armadas das franjas

que urdem a fúria,

                              o cio,

na hora da luta.

Cantos, murmúrio, risos,

entre as flores e a bruma.

O rio solitário

contorna as montanhas azul

cavalos sabem da luz,
das garras como espinhos.

 

Os gritos, os brados,
caem sob os olhos.
No vazio indecifrável
os cavalos ardem
com o arrepio de horror,
com os punhais de ouro
e a carne despedaçada.

 

 

X

 

Alados cavalos
a caminho das águas
nas pradarias;
mais armadas
em gáudio franzem,
com rugir de sedas,
torrente branda,
perdidas miragens.

 

 

Os cavalos,

abrindo os olhos para:

o dia e a noite,

a água e o fogo,

a lua e o sol,

a vida e a morte.

Os sons comovem tanto

que o sol queima com seu fogo derradeiro

as narinas, as orelhas,

e os olhos que ficam cegos.

 

 

XI 

 

Cavalos aureolados dormem,
luz mortiça sobre a relva.
O mar, as ondas ferem as pedras
e se atiram aos barcos errantes.
Os montes, os vales, as planícies,
ancas, espadas, espumas.

 

O fogoso cavalo,
quando sacudiremos

                                 a glória?
Nas linhas do horizonte,
há um aroma da noite

                                   vadiando.

 

— Hipocampo! —

Asas que iluminam a enseada.

 

De
Geraldo Dias da Cruz
PROCLAMA AOS INCAUTOS
Capa e ilustrações de Fernando Thomenn da Silva. 
São Paulo: Editora do Escritor, 1981.  69 p.  ilus. col. 
(Coleção do Poeta, Volume 26) 
“Menção honrosa no “Concurso Bolsa Hugo Ramos de Carvalho”
– 1979 Goiânia – Goiás.   Autografado.  Col. A.M. (EA)

 


AGUA DOCE

 

Onde o rio se oculta

dos algoritmos mais frios,

não é fábula, o seu riso,

nem as flores que o seduzem,

pendentes dos galhos arfantes.

Onde, por dar frutos aos peixes,
estas árvores ardilosas,

mantêm o rio cativo,    

veem-se frisos de escamas

na superfície do rio.

Onde se mostra indiferente,

escondendo o seu sorriso,

o rio está mais vivo,

no Jogo destes equívocos.

Há um cheiro, próprio ao desejo,

um inclinar de outros galhos,

sussurros que são de amantes,

onde o rio se esconde,

voltando-se sobre as curvas

ondulações de seu leito.

Onde o olho avaro,

que o quer preso em barragens,

deixa escapar esse rio,
a vida é um brinquedo,

de correr atrás das árvores.

Onde o rio sobe as águas,

lança-se além dos barrancos

procurando fêmeas ocultas,

as que não viram e desejam

conhecer o rio amante.

 

 

A PAREDE E O TEMPO

 

O barracão, pensei,

que fosse eterno.

Que, antes dele,

o tempo não contava,

quando, menino, olhei

dentro do mundo,

a vida, querendo ver,

como aos destinos.            

Ver o que me levaria

aos quatro pontos do horizonte,

como se fossem os quatro cantos do barraco,

o que partia

em tantos raios

a minha estrela,

que amarrava em forte nó

minha garganta.

Além do barracão,

pensei,

era o trabalho,

que às cinco da manhã

me flagelava,

que um resto ds almoço

me engulia,

outra vez me devolvendo,

ao fim da tarde.

Nestas horas mais frágeis,

acabando o dia,

quando o corpo, como o sol,

se recolhia,

ao barracão voltavam os nossos sonhos

o meu, o dela, dos manos, de Totonho.

 

 

 

 

CRUZ, Geraldo Dias da.  Armas do tempo.  Cuiabá: Edições UFMT, 1975.   s.p.  (Coleção: Poetas  do  Mato Grosso. Série: Hoje)   Editoração: Laboratório de Pesquiss Visuais. Efeitos gráficos: Wlademir Dias Pino.  Col. A.M.


 

 

CRUZ, Geraldo Dias da.  Olhos, peixes, navegantes.  São Paulo: Editora do Escritor, 1983.   73 p. 14x21 cm.   Capa de Fernaqndo Thommem Dias.  Col. A.M. 

VOLTA AO CHÃO PERDIDO

Aí, de mim

— caio em quebranto —

se já não tenho o tempo

e busco Minas,

se esquecido do meu jugo

busco Minas,

os olhos longos quebrantados,

despolidos,

perdendo-se, outra vez,

nos perfis das montanhas.

 

II

 

Ai, de mim

se a face deste medo,

viajando em meu corpo,

torna a noite mais escura

mais profundo o meu desterro.

Ai, de mim

se as garras de ferro,

que trouxe lá de Minas,

desfazem-se no pó,

nas ferrugens de meu corpo,

perdem-se levadas pelo sopro

do medo que me trava

e vai doendo.

 

III

 

Ai, de mim

em caule caindo

em voo sem asas

uma chama sem ar,

se de Minas distante

não chega o eco.

Onde sustentar,

senão em Minas,

o compasso deste canto

que destoa?

Onde pendurar,

senão em Minas,

as legendas esgarçadas

dos meus sonhos?

 

IV

 

Ai, de mim

se no cansaço de escrever

o enigma de Minas,

procuro em mim mesmo

a têmpera do ferro

o agudo de seus cumes

e só encontro o parco e o consumido

o frio como a seda

o escrito apagado

de tudo o que se foi.

 

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Página ampliada em junho de 2021

 

 

Página publicada em setembro de 2011; ampliada em março de 2013. Ampliada em junho de 2017. Ampliada em outubro de 2018.

 


 
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