| POESIA GOIANA 
                      Coordenação de SALOMÃO SOUSA Foto:  http://www.domingocompoesia.com.br/ ERICO  CURADO
 (1880 — 1961)
     Nasceu  em Pirenópolis (GO), em 18 de maio de 1880; e faleceu em Goiânia, em 11 de  janeiro de 1961. Comerciante, mas nunca deixou os estudos. Formou-se em Direito  e foi eleito para a Academia Goiana de Letras. Andrade Muricy estuda a obra de  Erico Curado em seu grande afresco sobre o Simbolismo. Bernardo Élis, em  entrevista ao Jornal Opção, relembra: Nasci  numa família abastada. Morávamos numa casa antiga. Meu pai, Erico Curado, era  poeta e assinava os mais importantes jornais da época, comprava todos os bons  livros que eram anunciados nos jornais. Líamos bastante. A vida era muito  pasmada, mas era agradável. (...) Aprendi a ler com minha mãe. Meu pai tentou  me ensinar, mas não tinha paciência, nem método. Queria que progredíssemos  rapidamente e ficava irritado com qualquer falha. (...) Meu avô, por parte de  pai, foi casado duas vezes. Na primeira vez, com uma parente dos Bulhões. Na  segunda, com uma mulher da família Lobo, filha de Bernardo Lobo, um homem rico,  que tinha uma fazenda em Pirenópolis. Meu pai foi criado lá. O nome Bernardo  vem daí.   Bibliografia: Illuminuras. 1. ed. São Paulo: Duprat & Comp., 1913; Poesia.  1. ed. Goiânia: Bolsa de Publicações “Hugo de Carvalho Ramos, 1956.
     SONETO,           de Iluminuras      Gusla maviosa — ou trêmulos violinos… Luas de Maio, ó brisas vesperais, Olhos que exalam sonhos levantinos, Linhas quebrando em formas imortais!    Sinfonias da Luz, nênias dos sinos, Lendas e sagas, noites medievais, Lírios e rosas, níveos, purpurinos, Fazei meus versos vagos, musicais!…     Fazei meus versos de um lavor sutil… Rimas brilhando em cadencioso aceno, — Murmúrio esparso de um rosal de Abril!    Fazei meus versos leves, como um trilo, Como o sorrir de um bandolim sereno: — Salmos de amor, — em blandioso estilo!… 
   Soneto  VI, de Iluminuras   Quando  tu cantas nessa voz dolente, Queixosa  e amarga, — voz das elegias... Quando  tu cantas, minha alma de crente, Benta  na unção das velhas liturgias,   Parece  que se evola brandamente, Para  as regiões da luz, das harmonias; E,  comovida e terna e reverente, Fica  absorta n’um sonho de magias...   Tarde.  — Angelizam-se do poente as cores,         Sobe  da Terra um salmo de amargores E  a noite cai povoada de fatigas...   Ah!  Canta nessa voz abemolada, —  De dores, de saudades repassadas, Cheia  das mágoas das canções.     À  tarde, nuvens de rosas   À  tarde, nuvens de rosas Franjam  de sangue o horizonte, Um  monte além outro monte, Entre  sombras misteriosas.   As  águas cantam ruidosas, Luzindo  à sombra da ponte. São  frescas águas da fonte, Que  vão cantando saudosas...   Em  bandos passam morcegos, As  rãs coaxam nos regos Geme  o vento em disparada...   E  entre as estrelas, no poente, O  arco-de-ouro do Crescente É  uma foice ensangüentada!    
 
 SONETO  I, de Iluminuras   Ao  esplendor das manhãs, silencioso e contrito, Como  é belo e sublime — olhar-se a natureza: Sentir-se  dentro dalma esse afago bendito Que  em perfume conduz de devesa em devesa.   Ver-se  um céu sempre azul perder-se no infinito, E  das aves ouvir-se um hino de pureza, E  o rumor da floresta e dos montes o grito, Num  concerto divino à suprema beleza...   E,  além, o vale imenso e o rio que, disforme, Das  brumas vai seguindo o branco vulto enorme! Desatam-se  em perfume os brancos laranjais...   E  o gado vem descendo em procura de aprisco, Abre-se  então o sol, em fogo, o flavo disco, E,  aqui e ali, se exalça a alvura dos casais...     Papá  Noel e Vovô Índio   Já  chegou Papá Noel, De  barba branca nevada: Trouxe  um mundo de cocada, Chocolate  e cocktail. Guisos,  gaitas e assobios, Caramelos  e bombons, Para  os guris que são bons E  a taca para os vadios.   Progressista,  como é, Trouxe  também novidade: Um  saco de picolé E  sorvete. Que bondade?   Só  Mãe Preta que era assim! Tive  a minha, a boa Rita, Que  era a bondade infinita, Velando  sempre por mim... Papá  Noel entretanto Chegou  agora tristonho, E  quem o faz sofrer tanto É  vovô Índio, o medonho!   Papá  Noel tem razão! Vovô  Índio, ano passado, Devorou  de um só bocado Dez  criancinhas de mão!...   Tem  feito cousas tamanhas, Que  aos meninos, de presente, Mandou  vivas três piranhas Além  de enorme serpente,   Para  provar quanto é mau, Basta  o que fez a Mimi: Montou-a  num sucuri Que  a devorou num peráu.   Vovô  Índio, o bicho feio, Sempre  andando em brocotós, Só  nos trouxe, quando veio, Carrapatos  e corós! Vovô  Índio é assassino, Fora,  fora seu cruel!... Roguemos  ao Deus Menino Que  nos dê Papá Noel.         A POESIA GOIANA NO SÉCULO XX  (Antologia) – Organização,  introdução e notas  de Assis Brasil.  Rio de Janeiro: FBN / Imago / IMC, Fundação  Biblioteca Nacional, 1998.   324 p.  (Coleção Poesia brasileira) ISBN 85-312-0627- 3            Ex. bibl. Antonio Miranda     Gusla maviosa — os trêmulos violinos
 Gusla  maviosa — os trêmulos violinos...
 Luas de maio, ó brisas vesperais,
 Olhos que exalam sonhos levantinos,
 Linhas quebrando em formas imortais!
 
 Sinfonias de luz, nênias de sinos,
 Lendas e sagas, noites medievais,
 Lírios e rosas, nívios, pururinos,
 Fazei meus versos vagos, musicais!...
 
 Fazei meus versos de um lavora sutil...
 Rimas brilhando em cadencioso aceno,
 — Murmúrio esparso de um rosal de Abril!
 
 Fazei meus versos leves, como um trilo,
 Como o sorrir de um bandolim sereno:
 — Salmos de amor — em blandicioso estilo!...
 
 (Iluminuras, 1913)
 
                     http://dibrarq.arquivonacional.gov.br/
 
 
 
 Figuras e Borrões
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 O Vargas rasgando as normas
 da República passada,
 rasgou também as reformas
 que publicou na Esplanada...
 
 Mas, risonho e jovial,
 Já nos deu um novo horário,
 varreu as arcas do erário,
 limpando tudo afinal.
 
 E agora, por decreto,
 de muito engenho e saber,
 — medidas sábias, não tolas,
 
 foi regulado o correto
 sistema de se fazer
 um canteiro de cebola.
                       (Figuras e  borrões/ inédito) 
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 Página ampliada e republicada em maio de 2022. http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/goias/goias.html                Página ampliada e republiada em agosto de 2008   |