| POESIA GOIANAOrganização  de SALOMÃO SOUSA
       ADOIRAMAS  MARTINS SALGADO   pseudônimo:  “ Bem-te-vi “   Filha de José Martins  do Amaral e de Maria Patrocínio de Jesus, ambos falecidos. Moravam numa fazenda  próxima a Goianápolis.  José Martins era  de tudo um pouco: sanfoneiro, fazedor de carros-de-boi, lavrador que conhecia e  aproveitava as fases da lua, pescador, caçador, pedreiro, carpinteiro,  serralheiro, oleiro. Também foi barbeiro, contador de causos e benzedor. “Nunca  vi meus pais tristes”, diz Adoiramas “Estavam sempre sorrindo e brincando.Minha linda e bela mãezinha era alegre, cantava o dia todo”. Lembra a filha  Maria Patrocínia, tricotava e fazia crochê, fiava, costurava, fazia azeite pra  lamparina e o pavio pra acender. Ela faleceu quando Adoiramas tinha apenas seis  anos, deixando a menina e mais seis filhos. Com a morte da mãe, Adoiramas  tornou-se uma criança triste, e a vida foi muito difícil par ao pai com os  filhos pequenos.
 Em solteira, era Adoiramas Martins do Amaral; após o casamento, a poetisa passa  a assinar Salgado. Também é conhecida pelos familiares como Dora. É muito  requisitada para declamar em eventos culturais.
       
                    
                      |  |  ANTOLOGIA  EM VERSO E PROSA.  (Autores filiados à União  Literária Anapolina). Organizado por  Laurentina de Medeiros, Natalina Fernandes e Henrique Mendonça.  Capa: Julio Alan. Prefácio: Júlio Sebastião  Alves.    Anápolis: ULA, 2005.  304 p.   14 x 21 cm.       Ex. bibl.  Antonio Miranda       
                            Bem-te-vi
 Numa tarde de verão
 A  passarada cantava
 Anunciando  a todos
 A  noite que chegava
 
 Debaixo  de um arvoredo
 Muito  triste eu me escondi
 Quando  ouvi ao meu ouvido
 O  canto do bem-te-vi
 
 Ele  cantava pra mim:
 Não  fica triste, sorri
 Por  ver a sua tristeza
 Chamam-me  de bem-te-vi
 
 Bem  que eu vi (bis)
 Mas  nunca posso contar
 O  passado de um poeta
 Que  vive a declamar
 
 Canta,  canta comigo
 Uma  canção de louvor
 E  nós dois juntos cantamos
 Um  hino ao Criador
 
              Depois  ele foi cantandoBem  que eu vi, bem que eu vi!
 Meu  coração alegrou-se
 E  comecei a sorrir...
          Lá  na mata a passaradaFoi  cantando até sumir
 Não  pensei que alegrasse tanto
 O  canto de um bem-te-vi
 
 Ao  fazer estes versinhos
 Muita  coisa eu aprendi,
 Eu  aprendi a cantar
 Como  canta o bem-te-vi.
                         (1975 – 04:00 da madrugada)                Primavera
 Setembro, chegou a  primavera
 Linda  manhã de primavera
 Sol  brilhante, luz prateada
 Lindas  são as noites,
 Fria  a madrugada.
 
 É  primavera, lindas são as flores
 Encanto  da natureza
 Águas  cristalinas, em volta as cachoeiras
 Noite  cheia de estrelas...
          Lindas  trepadeirasEnfeites  de arraiais
 Andorinhas  em bandos
 No  fundo dos quintais...
 Pela  madrugada, obrigada, Senhor!
 
 É  primavera, linda são as flores
 Mágoas  passadas
 Trazem  dissabores
 Primavera  é encanto, beleza
 Brisa  suave, noite de amor
 
 Borboletas,  pássaros e aves
 Árvores  frondosas
 Formando  manto
 Lindas  cachoeiras
 Derramando  pranto...
 
 Primavera  merece consideração
 Lindas  são as flores
 Rosas,  cravos, lírios, margaridas
 Árvores  floridas, todo tipo de flor
 Obrigada,  Senhor.
                      (Anápolis, 10 de setembro de 1980)
 
          Sem-terra
 Quase tudo que  acontece
 Eu  tiro o meu proveito
 Sem  fazenda não é nada
 Sem-terra  que ter direito
 
 Sem  preso um advogado
 Não  tira o seu ganha-pão
 Cem  presos em uma cela
 Forma  super lotação
 
 Sem  saúde e sem dinheiro
 Sem  emprego e sem profissão
 Sem  Jesus ninguém se salva
 Do  mundo da perdição
 
 Um  cachorro sem o rabo
 Não  passa numa pinguela
 Um  carro sem combustível
 Desce  logo na banguela
 
 Sem  um pedaço de terra
 Sem  emprego e sem profissão
 Sem  Jesus também não vai
 Volta  pra pedir perdão
 
 O  sem-terra, sem pensar,
 Não  apensou no seu presente
 Sem  pensar no seu futuro
 Hoje  quer terra da gente
 
 Sem  querer falar falei
 Não  é do meu parecer
 Cem  pauladas na moleira
 Sem-terra  tem que correr
 
 Sem-terra  não é ninguém
 É  um grupo moribundo
 Sem vergonha, sem caráter
 Vai  trabalhar, vagabundo!
 
 Eu  acho muito bonito
 O  peixinho no aquário
 Cem  vezes mais falou Jesus
 Para  o grande milionário
 
 Sem  pensar nas consequências
 Cem  soldados vão à guerra
 Cem  cacetes têm valor
 Na  cabeça do sem-terra
 
 Sem  passado, sem presente
 Sem  o couro no curtume
 Sem  destino também voa
 O  pobre do vaga-lume
 
 Pois  sem querer querendo
 No  decorrer deste dia
 Sem  o cacete no sem-terra
 E  cem na minha poesia.
       *   VEJA  e LEIA outros poetas de GOIÁS em nosso Portal:   http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/goias/goias.html      Página publicada em  junho de 2021 
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