Home
Sobre Antonio Miranda
Currículo Lattes
Grupo Renovación
Cuatro Tablas
Terra Brasilis
Em Destaque
Textos en Español
Xulio Formoso
Livro de Visitas
Colaboradores
Links Temáticos
Indique esta página
Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


NIRTON VENÂNCIO  

 

Nasceu em Crateús, Ceará, em 1955.  Formou-se em Letras pela Universidade Estadual do Ceará. Vencedor do  Prêmio Filgueiras de Poesia, com Roteiro dos Pássaros. Seu segundo livro, Cumplicidade Poética, saiu em 1984. Roteirista e diretor de filmes. Dois de seus curtas-metragens receberam prêmios principais em festivais nacionais.
Visitar: http://nirtonvenancio.blogspot.com/
 

UNIDADE

 

Cada dia

tem sua porção de vida

tem sua imensidão de luz

tem sua solidão de gente

cada dia

cabe em si mesmo

como cabem na terra

a colheita e a semente.

 

Cada dia

tem seu ontem e amanhã

tem seu silêncio de espera

tem sua largura de saudade

cada dia

cabe em si mesmo

como cabem no continente

a distância e a cidade.

 

Cada dia

tem seu mar e os peixes

tem seus barcos e as viagens

tem seus remos e mãos fortes

cada dia

cabe em si mesmo

como cabe no porto

o rumo do sul e do norte.

 

 

(do livro “Poesia provisória”)  

 

 

Texto extraído de LITERATURA – Revista do Escritor Brasileiro, Ano XVII, Fev 2008, n. 34.

O segundo poema escolhido também saiu publicado em LITERATURA – Revista do Escritor Brasileiro, n. 31, de 2006, editada pelo nosso colaborador e amigo Nilto Maciel.  

 

PER SI

 

Não quero teu verso enteado

na minha poesia.

Não se meta onde é chamado.

Faça de conta

que não escuta os meus apelos

e me deixe encontrar

esse endereço errado.

 

Quero meu desencanto legítimo

e esse beijo desfazendo a azia.

 

Não me venha com tradução

simultânea

para música que me castiga.

Não me meta onde sou cantado.

Faça de conta

que não entende esse estrangeiro

e me deixe desencontrar

esse futuro passado.

 

Quero o ronco do meu íntimo

e este coração que a alma mastiga.

 

 

         (do livro Poesia provisória)

 

 

 

POESIA SEMPRE. ANO 8 . NÚMERO 13 – DEZEMBRO 2000.  Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, Ministério da Cultura, Departamento Nacional do Livro, 2000. ISBN85-901646-1-6  Editor Executivo Ivan Junqueira. Ex. bib. Antonio Miranda.

 

                O morto

        I

         O morto
         tomou destino ignorado:
         em que planície nos céus
         sibila o seu silêncio?

         com sua armadura desfeita
         o que resta é inútil:
         não suporta o vento
         (que sopra com a chuva)
         não será restaurado nos museus
         (que espiam a história)
         nem se moverá com as lembranças
         (que amontoam os retratos).

         O morto
         tomou destino ignorado.

        
         II

         Não tenho medo:
         o morto não se levantará
         de sua solene posição

         deitado como nunca
         com seu nariz e seu sapato
                            em
                            riste.

 

         III

         O morto
                      (saibam)
         não segue no cortejo:
                      segue um morto
                      (peso inútil)
                      que o limite do nosso olho vê.

 

         IV

         O morto independe da vontade
         dos que lhe jogam areia e flores
         dos que lhe dizem orações e calam
         dos que choram e esquecem
         — o morto
                                 agora
                                                  é eterno.

 

         V

         Lembramos o tamanho do morto
         com suas roupas
         com sua voz
         com sua dor
         e choramos o tamanho que falta
                                      a lágrima que salta
                                      em nós
         até quando aprendermos
         a não ser somente vivo.

 

         VI

         De nada mais sabemos
         até que o morto nos mande notícias
         e que seu vulto passe ao longe
         como passam os viajantes
                                          (depois)
                                         do entardecer.

 

         VII

         Maior é o morto
                   na viagem
         que ele continua

         (em que planície nos céus?).

 

 

         Armadura

         Meu corpo é a única que tenho
                                     
que é nada
        
e como suicida
         luto contra moinhos, tempestades e solidão
                                                         que é tudo.

         Escondo-me nesta armadura de ossos, carne
                                                         e vestimentas
         e espio a vastidão do mundo pelos buracos dos olhos
         como quem espia lugares estranhos
                                                      infinitos
                                                      perigosos.

         Meu corpo é a única coisa que tenho
         para carregar o pretexto de alma.
         É magro, feio e escandaloso
                                               o corpo
         mas é a única coisa que tenho
         para caminhar pelo tempo e pelos sertões.

         Garantia não tenho
         se o meu corpo é forte e frágil ao mesmo instante
         se sujeito-me ao abismo
                                  ao chão
                                  a poeira
         se estou marcado para me tornar saudade
                                                         lembrança
                                                         e fotografias
         e minha história não terá mais
         um cavalo para montar
         e serei uma estátua invisível no espaço.

         Garanti não tenho de nada
                                          nada
         não levarei escondido no bolso
         nenhuma semente
         nenhum suspiro
         nenhum gesto
                            condenável
                            consumível.

         Só é garantido o mais difícil:
                            a miragem na imensidão
                            o que se supõe ao longe
                            o completo mistério
         para se chegar até lá
         não se sabe com que corpo
         não se sabe com que asas
         não se sabe.
        

 

VENANCIO, Nirton.  Poesia provisória.  Fortaleza, Ceará:  Editora Radiadora,  2019.  120 p.   14 x 21 cm. Desenho da capa: “um enorme quase nada”, de Fausto Nilo. Apresentação por Carlos Emilio Corrêa Lima. ISBN 978-85- 420-1365-8   Ex. bibl. particular de Salomão Sousa.

 

METADE

 

O que se vê em mim
não é o todo:
escondo gestos.
O que se sabe de mim
(ainda) não é tudo:
escondo datas.

Metade que nem eu mesmo sei
mais corrói do que vive e cresce:
e silenciosamente é uma doença
(e não me esquece).

 

Convivo como caça e caçador

dentro de mim:

uma hora me acho

a outra não me aceita

e sou metade do rosto desenhada

a outra metade desfeita.

 

 

PARECER

 

Pode ler pode guardar

pode rasgar.

 

Tenho poemas

para todos os

(des)

gostos.


       

Comentário crítico sobre este novo livro de Nirton Venâncio publicado por Salomão Sousa em seu blog http://www.safraquebrada.blogspot.com/ :

 Poesia provisória foi elaborado ao correr de muitos anos e isso possibilitou cada palavra, cada gestual das metáforas estarem nos locais corretos. É uma lírica sem excesso, sem ter se prejudicado pela experiência da oralidade dos recitais, que é onde Nirton Venâncio gosta de estar. Muito pelo contrário. A poesia aparece com introspectividade limpa, questionadora de si mesma. Traz poemas que irão entrar para sempre em nosso imaginário. “Bússola” trabalha com imagens antagônicas; “O morto” esclarece que o poeta é um trabalhador que pega uma madeira, uma medida de barro ou pedaço de pedra, e lamina algo com todos os contornos exatos. É isso. A poesia é muito mais que ver o lençol no varal. Tenho certeza que os admiradores dos irmãos Campos vão ficar com inveja do teu lençol do poema “Quimera”, Nirton Venâncio. Já estou aguardando pelo anunciado próximo livro. 

Cineasta, roteirista, poeta, professor de literatura e cinema, Nirton Venancio tem licenciatura plena em Letras, pela UECE, com habilitação em Português e Literatura da Língua Portuguesa. É Acadêmico Imortal do Conselho Internacional dos Acadêmicos de Ciências, Letras e Artes, Cadeira Nº 45. Foi um dos fundadores do Grupo Siriará de Literatura, em Fortaleza. Escreveu por dez anos a coluna Zoom, no jornal O Povo, de Fortaleza, onde foi também repórter fotográfico. Na Secretaria de Cultura do Estado do Ceará, foi Técnico em Audiovisual.
Em Brasília foi Técnico em Educação do Arquivo Nacional.
Publicou os livros "Roteiro dos pássaros", Prêmio Filgueira Lima de Poesia, e "Cumplicidade Poética". Prepara "Poesia Provisória", onde reúne toda sua produção dos últimos dez anos. Foi premiado em vários concursos nacionais de poesia, escreve para revistas e periódicos culturais.
O seu curta-metragem de estreia em 35mm, "Um cotidiano perdido no tempo" (1988), recebeu o prêmio Margarida de Prata da CNBB, além de melhor filme e melhor fotografia na Jornada da Bahia. O segundo curta, "O último dia de sol" (2000), foi premiado nos festivais de Curitiba, Cine Ceará e no Maranhão recebeu o Troféu Jangada da Organização Católica Internacional de Cinema. Na década de 90 dirigiu filmes para rede de TV inglesa HouseTop. Realizou em 2007 o documentário, "Dim".
Foi assistente de direção de vários longas-metragens, como "O calor da pele", de Pedro Jorge de Castro (1993) e "Corisco e Dadá", de Rosemberg Cariry (1994).
É professor convidado da Escola de Cinema do Sertão, Quixadá, CE, lecionando Estrutura e Técnica de Roteiro e Direção de Cena.
Mantém as páginas na internet www.olharpanoramico.blogspot.com, escrevendo sobre cinema, literatura, música, teatro, e www.nirtonvenancio
.blogspot.com, com poemas autorais.

 

 

COMBOIO vida & arte. Número experimental.  Fortaleza: 1982. Capa com folhas soltas.           Ex. doado por Anderson Braga Horta




Rio Poty – Ceará  Foto: https://www.google.com 

 

VENANCIO, Nirton.  Trem da memória.  Fortaleza, : Editora Radiadora,  2022.  95 p. Apresentação: Valdi Ferreira Lima
No. 10 880   ISBN  978-65-88905-26-5     No. 10 880
                              Exemplar biblioteca de Antonio Miranda

 

         Tudo foi tão de repente
        diante dos meus olhos
        que não houve tempo
        para retornar ao corpo do menino
        que brincava na calçada.

        A memória viaja
        — trem inútil —
        e não traz as roupas
        que se vestiam nas tardes de domingo
        e a estrada some
        deixando o mundo
        como um grande circo
        na praça da estação

        Os olhos pequenos
        (bilhas que brilhavam
        nos cantos da casa)
        vasculhavam (também) os telhados
        donde vazava o sol
        e quando no negrume
        as estrelas sobravam:

           e
           caíam
           lentas
           em
           minha
           rede
           de brim.


           Mas o menino sumiu
           foi embora como quem cresce
           e silenciosamente
           atravessou os trilhos noturnos
                 da ponte de ferro
                 sobre o rio poty
           onde as águas são barrentas
           e as lavadeiras tristes.

           Ninguém sabe do menino:
           saberiam alguma notícia
           se soubessem dos meus sonhos
           de voar nas asas do bimotor
           que pousava como um pássaro barulhento
           nas tardes quentes do interior
           ali
           longe das feiras
           rumo ao silêncio dos planetas
           onde outro avião (de plástico) nunca chegou.
           Mas não foram dados ao menino
           nem os planetas
           nem os presentes de todos os natais.

           Aos poucos
           esperava o mar (muito longe) com sua imensidão
           e em cada porto
           uma cidade para atravessar.

           O menino (hoje) sé (definitivamente)
                                        sumido
             enquanto minhas mãos crescidas
             remexem fotos na gaveta
             numa tarde de sábado.

             Quem me dera ter os braços
             para resgatar nessa tarde
                  o menino
             que se banhava de manhã
             nas águas do rio poty
             e ter
                 (de volta)
                 a cristalina cor da pele
              que saltava nas pedras
                  onde repousava o calção
                  (longe do corpo)
              e dentro deste mesmo coração
                  ao sol.
                 

              O menino brincando
                                           sumiu de vista
              sem grito
              sem aceno
              rumo ao futuro distante
              no mar da capital
              onde este poema
              se acende
              e navega contra a corrente.

              Em que curva se perdeu
              a véspera de minha juventude
              que desemboca crescida aqui
              nos traços de meu corpo adulto?

              Em que trem
              embarcou o destino de minha cidade?
              Em que circo
              foram embora os personagens
                                   (os personagens
              de todas as ruas?

               Em que rio
               se afogou a minha infância?

               (...)

 

*
Página ampliada em setembro de 2024

*
VEJA e LEIA  outros poetas do CEARÁ em nosso Portal:
http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/ceara/ceara.html

 

Página publicada em 2023

 

 

 

 

 

Republicado em outubro de 2008. Ampliada e republicada em maio de 2018.. Ampliada em abril 2019. Ampliada em maio de 2019.


Voltar à página do Ceará Voltar ao topo da página

 

 

 
 
 
Home Poetas de A a Z Indique este site Sobre A. Miranda Contato
counter create hit
Envie mensagem a webmaster@antoniomiranda.com.br sobre este site da Web.
Copyright © 2004 Antonio Miranda
 
Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Home Contato Página de música Click aqui para pesquisar