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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

POESIA SIMBOLISTA

 

Retrato por Otacílio de Azevedo

LIVIO BARRETO

(1870-1895)

 

 

          Lívio da Rocha BARRETO nasceu na fazenda dos Angicos, distrito de Iboaçu, comarca de Granja, Estado do Ceará, em 18 de fevereiro de 1870.

          Com 8 anos de idade foi residir em Granja, onde aprendeu as primeiras letras com o professor Francisco Garcês dos Santos. Mais tarde estudou particularmente  alguns  preparatórios com o Dr. António Augusto de Vasconcelos. Já então começara a sua faina melancólica de caixeiro, que o reteve até à morte.

          Um jornalzinho, Iracema, fundado por colegas seus revelou-lhe a vocação literária. Em junho de 1888 seguiu para Belém do Pará, onde foi ser empregado na loja Mariposa.   Ali teve algum convívio literário, sobre-

tudo com João de Deus do Rego.  O beribéri forçou-o a regressar à sua

cidade de Granja (7 de agosto de 1891), onde colaborou no jornal A Luz, dirigido por Antônio Raulino. Em fevereiro de 1892 chegou a Fortaleza, indo servir na casa comercial de Adolfo Barroso, e começou imediatamente a colaborar (sobretudo versos) no Libertador.

          Em 30 de maio de 1892 fundou-se em Fortaleza a '' Padaria Espiritual", uma das sociedades ou academias de maior relevo da nossa história literária. Lívio Barreto foi um dos seus fundadores, tomando o nome acadêmico de Lucas Bizarro com o qual passou a ser geralmente conhecido. Colaborou assiduamente em O Pão, a revista da ''Padaria Espiritual", tendo sido um dos mais importantes membros daquela sociedade, e um dos seus dois melhores poetas (o outro foi Antônio Sales).

          Em 27 de junho daquele ano embarcou no vapor Alcântara, para regressar a Granja. Na noite daquele dia o Alcântara naufragou na altura de Periquara. Lívio Barreto, bom nadador, salvou-se, mas perdeu naquele naufrágio os originais do poema que escrevera em Belém, segundo informa o seu biógrafo Artur Teófilo. Em Granja foi guarda-livros da firma Beviláqua & Cia., mudando-se, porém, em fevereiro de 1893, para Camucim, onde se empregou na agência da Companhia Maranhense de Navegação a Vapor.

          Ali organizou o seu livro Dolentes, primitivamente intitulado À toa, o qual, a instâncias do seu amigo Dr. Valdemiro Cavalcanti, foi enviado para Fortaleza e entregue ao editor no dia seguinte ao da sua morte, ocorrida na mesma cidade, em pleno trabalho, a 29 de setembro de 1895, em consequência duma congestão cerebral, aos 25 anos de idade.

 

Obra poética: Dolentes, Fortaleza, 1897.

 

 

MURICY, Andrade.  Panorama do movimento simbolista brasileiro. Volume 1. Revisão crítica e organização da bibliografia por Aurélio Buarque de Hollanda Ferreira. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Saúde, Instituto Nacional do Livro, 1952. 382 p.  Impressão Departamento de Imprensa Nacional.  Ex. Biblioteca Nacional de Brasília, doação família de Marly de Oliveira.  

 

 

LÁGRIMAS

 

Lágrimas tristes, lágrimas doridas,

Podeis rolar desconsoladamente !

Vindes da ruína dolorosa e ardente

Das minhas torres de luar vestidas!

 

Órfãs trementes, órfãs desvalidas,

Não tenho um seio carinhoso e quente,

Frouxel de ninho, cálix recendente,

Onde abrigar-vos, pérolas sentidas.

 

Vindes da noite, vindes da amargura,*

Desabrochastes sobre a dura frágua

Do coração ao sol da desventura!

 

Vindes de um seio, vindes de uma mágoa

E não achastes uma urna pura

Para abrigar-vos, frias gotas d'água !

 

 

* Está sem a vírgula.

 

 

(Dolentes, pág. 64.)

 

 

 

LITANIAS

I

 

Que vida esta amarga e treda,

Que desabar ! que terramoto !

Que fim brutal! que horrível queda!

Que vida esta amarga e treda!

Missal do sonho aos ventos roto.

 

II

 

Neves do inverno da agonia!

Folhas do outono da amargura!.. .

Em noite fria, em noite fria, —

Neves do inverno da agonia,

Caí na minha sepultura.

 

III

 

Imensas órbitas sequiosas

D& coração, ensanguentadas,

Vazios cálices de rosas,

Imensas órbitas sequiosas

Famintas sempre, insaciadas-

 

IV

 

Fauces de abismo, amplas crateras

Escancaradas a esperar

A lava rubra das quimeras. ..

Fauces de abismo, amplas crateras,*

Não vos enchera, o próprio mar.

 

V

 

Lírios magoados da saudade,

Violetas roxas da tristeza,

Crescei sem luz, sem claridade,**

Lírios magoados da saudade.***

Sob as lufadas da Incerteza.

 

VI

 

Ânsias de amor, adejos místicos,

Ó veleidades de ideal!

Na treva um dedo traça dísticos. ..

Ânsias de amor, adejos místicos,****

Parai, sofreai a ânsia fatal !

 

VII

 

Ó meus castelos senhoris

Ao luar do amor edificados!

Tanto vos quis! Tanto vos quis!

E os meus castelos Senhoris

Ei-los por terra, ei-los tombados!

 

* Está sem a vírgula.

 

** Idem.

 

*** Magoados está seguido de virgula, e saudade não.

 

**** Está sem a vírgula.

 

(Ibid.. pag. 130.)

 

 

 

MAL ÍNTIMO

 

Esta amargura funda, esta inclemência

Atra e brutal que me persegue, e mata,

Como um venenosas flores cor de prata

Da minha entristecida adolescência;

 

Este ambiente, de corruta essência

Onde o Tédio os seus flóculos desata;

Este vento de dor que me arrebata*

Os sonhos de fulgor e transparência:

 

Toda esta amarga e triste decepção,

Esta da vida céptica ironia,

Esta contínua e trágica aflição,

 

Este simum do mal veio-me um dia,

Por não possuir, teu peito um coração

Quando no meu um cotação batia !

 

1895

 

(Ibid,-pág;. 187.)

 

* Essa palavra esta seguida de vírgula.

 

 

 ÚLTIMO DESEJO

 

Quando vier a Morte, ouve-me, escuta

A minha triste e última vontade:

Ela resume a minha mocidade

Que crepúscula e pálida se enluta.

 

Trago no seio muita dor oculta,*

Muita tortura, muita, ansiedade:

Esta — filha do amor e da Saudade,

— Nascida aquela da passada luta.

 

Quero porém, a Deus, livre de penas,

Subir, alar-me às regiões serenas.

Ouve-me, pois : não tremas nem descores. . .

 

Respeita a minha campa úmida e fria,

Não na ultraje tua hipocrisia:

— Sim! em nome das Lágrimas, não chores!

 

(Ibid; pág. 194.)

 

 

OS CRAVOS BRANCOS

 

I

 

Cravos brancos, cravos brancos como o leite,

Que as noivas levam para a Igreja ao ir casar,

Cravos da cor das escumilhas do corpete,

Brancos de espumas atiradas pelo mar.

 

Cravos brancos invejados pelos goivos,

Cravos brancos que de brancos dão vertigens;

Cravos que são como hálitos de noivos,

Beijos de noivos embaciando mãos de virgens !

 

Cravos brancos, cravos brancos, lágrimas d'anjo,

Cravos de Maio cor de leito de noivado;

Cravos do luar que sorri como um arcanjo

A meditar no seu castelo enamorado.

 

Ó cravos brancos! Brancas flores misteriosas,

Seios ireis agasalhar com vossas neves,

Seios macios como pétalas de rosas,

De carne rija, sangue quente 'e curvas breves.

 

Flores dormentes de volúpia e de desejos,

Sempre a sonhar presas aos seios das donzelas,

Amarrotadas pelo fogo de seus beijos

E sempre brancas, sempre puras, sempre belas!

 

Flores que as noivas levam presas na caçoula

Das mãos de arminho, cravos brancos, para o altar,

Para, ao voltar com as faces de papoula,

Dá-los às virgens para logo irem casar.

 

Cravos brancos como as mãos da minha amada,**

Quando eu descer à terra fria, num caixão,

Desabrochai, brancos soluços d'alvorada,

Ó cravos brancos que plantei no coração.

 

Março — 93.

 

(Ibid., págs. 199-200.)

 

 

 

* Está sem a virgula.

* Está sem a vírgula.

 

Página publicada em abril de 2015.


 

 

 
 
 
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