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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Foto: http://bernardohq.blogspot.com.br/

 

 

KLÉVISSON VIANA

 

 

KLÉVISSON VIANA - Nascido em Quixeramobim em 3 de novembro 1972, foi sempre envolvido na musica e na literatura popular. É membro da Academia Brasileira de Literatura de Cordel - ABLC (Rio de Janeiro-RJ), onde ocupa a cadeira de nº 11.É também cartunista e editor, proprietário da Tupynanquim Editora, de Fortaleza, Ceará. É autor de muitos sucessos da literatura de cordel, entre os quais o Romance da Quenga que Matou o Delegado, adaptado para o programa Brava gente!, da Rede Globo. Poesia de Cordel.

 

 

 

Fonte: http://www.ibahia.com/

 

BULE-BULE

 

 

Antônio Ribeiro da Conceição – baiano, conhecido pelo pseudônimo/nome artístico de Bule-Bule (Antônio Cardoso, 22 de outubro de 1947) é um músico, repentista, escritor e poeta brasileiro. Autor de obras de cordel, Bule-Bule é considerado um mantenedor das tradições musicais sertanejas da Bahia, como do samba sertanejo, do coco e outros ritmos típicos que sua ascendência africana fizeram desde cedo conviver.

 

 

 

A chegada de Ariano

Suassuna no céu

 

Autores: Klévisson Viana e Bule-Bule

 

 

Nos palcos do firmamento

Jesus concebeu um plano

De montar um espetáculo

Para Deus Pai Soberano

E, ao lembrar de um dramaturgo,

Mandou buscar Ariano.

 

Jesus mandou-lhe um convite,

Mas Ariano não leu.

Estava noutro idioma,

Ele num canto esqueceu,

Nem sequer observou

Quem foi que lhe escreveu.

 

Depois de um tempo, mandou

Uma segunda missiva.

A secretária do artista

Logo a dita carta arquiva,

Dizendo: — Viagem longa

A meu mestre não cativa.

 

Jesus sem ter a resposta

Disse torcendo o bigode:

— Eu vejo que Suassuna

É teimoso igual a um bode.

Não pode, mas ele pensa

Que é soberano e pode!

 

Jesus, já perdendo a calma,

Apelou pra outro suporte.

Para cumprir a missão,

Autorizou Dona Morte:

— Vá buscar o escritor,

Mas vê se não erra o corte!

 

A morte veio ao País

Como turista estrangeiro,

Achando que o Brasil

Era só Rio de Janeiro.

No rastro de Suassuna,

Sobrou pra Ubaldo Ribeiro.

 

Porém, antes de encontrá-lo,

Sofreu um constrangimento

Passando em Copacabana,

Um malfazejo elemento

Assaltou ela levando

Sua foice e documento.

 

A morte ficou sem rumo

E murmurou dessa vez:

— Pra não perder a viagem

Vou vender meu picinez

Para comprar outra foice

Na loja de algum chinês.

 

Por um e noventa e nove

A dita foice comprou.

Passando a mão pelo aço,

Viu que ela enferrujou

E disse: — Vai essa mesma,

Pois comprar outra eu não vou!

 

A morte saiu bolando,

Sem direção e sem tino,

Perguntando a um e a outro

Pelo escritor nordestino,

Obteve informação,

Gratificando um menino.

 

Ao encontrar João Ubaldo,

Viu naufragar o seu plano,

Se lembrando da imagem

Disse: — Aqui há um engano.

Perguntou para João

Onde é que estava Ariano.

 

Nessa hora João Ubaldo,

Quase ficando maluco,

Tomou um susto arretado,

Quando ali tocou um cuco,

Mas, gaguejando, falou:

—Ele mora em Pernambuco!

 

A morte disse: — Danou-se

Dinheiro não tenho mais

Para viajar tão longe,

Mas Ariano é sagaz.

Escapou mais uma vez,

Vai você mesmo, rapaz!

 

Quando chegou lá no Céu

Com o escritor baiano,

Cristo lhe deu uma bronca:

— Já foi baldado o meu plano.

Pedi um da Paraíba

E você trouxe um baiano.

 

João Ubaldo é talentoso,

Porém não escreve tudo.

"Viva o Povo Brasileiro"

É sua obra de estudo,

Mas quero peça de humor,

Que o Céu tá muito sisudo.

 

Foi consultar os arquivos

Pra ressuscitar João,

Mas achou desnecessário,

Pois já era ocasião

Pra ele vir prestar contas

Ali na Santa Mansão.

 

Jesus olhou para a Morte

E disse assim: — Serafina,

Vejo não és mais a mesma.

Tu já foste mais malina,

Tá com pena ou tá com medo,

Responda logo, menina?!

 

— Jesus, eu vou lhe falar

Que preciso de dinheiro.

Ariano mora bem

No Nordeste brasileiro.

Disse o Cristo: —Tenho pressa,

Passe lá no financeiro!

 

— Só faço que é pra o Senhor.

Pra outro, juro não ia.

Ele que se conformasse

Com o escritor da Bahia.

Se dependesse de mim,

Ariano não morria.

 

A morte na internei

Comprou passagem barata.

Quase morria de susto

Naquela viagem ingrata.

De vez em quando dizia:

— Eita que viagem chata!

 

Uma aeromoça lhe trouxe

Duas barras de cereais.

Diz ela: — Estou de regime.

Por favor, não traga mais,

Porque se vier eu como,

Meu apetite é voraz!

 

Quando chegou no Recife,

Ficou ela de plantão

Na porta de Ariano

Com sua foice na mão,

Resmungando: — Qualquer hora

Ele cai no alçapão!

 

A morte colonizada,

Pensando em lhe agradar,

Uma faixa com uma frase

Ela mandou preparar,

Dizendo: "Welcome Ariano",

Mas ele não quis entrar.

 

Vendo a tal faixa, Ariano

Ficou muito revoltado.

Começou a passar mal,

Pediu pra ser internado

E a morte foi lhe seguindo  

Para ver o resultado.

 

Eu não sei se Ariano

Morreu de raiva ou de medo.

Que era contra estrangeirismos,

Isso nunca foi segredo.

Certo é que a morte o matou

Sem lhe tocar com um dedo.

 

Chegou no Céu Ariano,

Tava a porta escancarada.

São Pedro quando o avistou

Resmungando na calçada,

Correu logo pra o portão,

Louvando a sua chegada.

 

Um anjinho de recado

Foi chamar o Soberano,

Dizendo: - O Senhor agora

Vai concretizar seu plano.

São Pedro mandou dizer

Que aqui chegou Ariano.

 

Jesus saiu apressado,

Apertando o nó da manta

E disse assim: — Vou lembrar

Dessa data como santa

Que a arte de Ariano

Em toda parte ela encanta.

 

São Pedro lá no portão

Recebeu bem Ariano,

Que chegou meio areado,

Meio confuso e sem plano.

Ao perceber que morreu,

Se valeu do Soberano.

 

Com um chapelão de palha

Chegou Ascenso Ferreira,

O grande Câmara Cascudo,

Zé Pacheco e Zé Limeira.

João Firmino Cabral

Veio engrossar a fileira.

 

E o próprio João Ubaldo

(Que foi pra lá por engano)

Veio de braços abertos

Para abraçar Ariano.

E esse falou: - Ubaldo,

Morrer não tava em meu plano!

 

Logo chegou Jorge Amado

E o ator Paulo Goulart.

Veio também Chico Anysio

Que começou a contar

Uma anedota engraçada

Descontraindo o lugar.

 

Logo chegou Jesus Cristo,

Com seu rosto bronzeado.

Veio de braços abertos,

Suassuna emocionado

Disse assim: — Esse é o Mestre,

O resto é papo furado!

 

Suassuna que, na vida,

Sonhou em ser imortal,

Entrou para Academia,

Mas percebeu, afinal,

Que imortal é a vida

No plano celestial.

 

Jesus explicou seus planos

De fazer uma companhia

De teatro e ele era

O escritor que queria

Para escrever suas peças,

Enchendo o Céu de alegria.

 

Nisso Ariano responde:

— Senhor, eu me sinto honrado,

Porém escrever uma obra

É serviço demorado.

Às vezes gasto dez anos

Para obter resultado.

 

Nisso Jesus gargalhou

E disse: — Fique à vontade.

Tempo aqui não é problema,

Estamos na eternidade

E você pode criar

Na maior tranquilidade.

 

Um homem bem pequenino

Com chapeuzinho banzeiro,

Com um singelo instrumento,

Tocou um coco ligeiro

Falando da Paraíba:

Era Jackson do Pandeiro.

 

Logo chegou Luiz Gonzaga,

Lindu do Trio Nordestino,

E apontou Dominguinhos

Junto a José Clementino

E o grande Humberto Teixeira,

Raul e Zé Marcolino.

 

Depois chegou Marinês

Com Abdias de lado

E Waldick Soriano,

Com um vozeirão impostado,

Cantou "Torturas de Amor",

Como sempre apaixonado.

 

Veio então Silvio Romero

Com Catulo da Paixão,

Suassuna enxugou

As lágrimas de emoção

E Catulo, com seu pinho,

Cantou "Luar do Sertão".

 

Leandro Gomes de Barros

Junto a Leonardo Mota,

Chegou Juvenal Galeno,

Otacílio Patriota.

Até Rui Barbosa veio

Com título de poliglota.

 

Chegou Regina Dourado,

Tocada de emoção,

Juntinho de Ariano,

Veio e beijou sua mão

E disse: — Na sua peça

Quero participação.

 

Ariano dedicou-se        

Àquele projeto novo.

Ao concluir sua peça,

Jesus deu o seu aprovo

E a peça foi encenada

Finalmente para o povo.

 

Na peça de Ariano

Só participa alma pura.

Ariano virou santo,

Corrigiu sua postura.

Lá no Céu ganhou o título

Padroeiro da Cultura!

 

 

 

Extraído de CULTURA DE CLASSE – UMA REVISTA CULTURAL DOS TRABALHADORES. N. 09 – Janeiro 2015.

 

Página publicada em fevereiro de 2015

 

 

 
 
 
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