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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

JUVENAL GALENO

Nascido em Fortaleza, Ceará e falecido em 1931.  Galeno era primo pelo lado paterno de Capistrano de Abreu e Clóvis Beviláqua e pelo lado materno de Rodolfo Teófilo.[1] É considerado o fundador do primeiro jornal puramente literário no Ceará. Escreveu numerosas poesias assim como a obra crítica Lendas e Canções Populares.[1] Seu livro Prelúdios Poéticos de 1856 é considerado como “marco inicial do Romantismo no Ceará”.[1] “Ingressou como alferes nos quadros da Guarda Nacional, como também no Partido Liberal, em cujo jornal passou a colaborar”, entre outras coisas.

 

                SEXTILHAS 

 

         Quando a morte chega em casa,
A casa faz alarido,
Parece até que se arrasa
Sob as chamas de um incêndio;
O povo está reunido
Quando a morte chega em casa.

                   Ela vem buscar alguém.
De quem precisa por certo;
Não se importa com ninguém
Que chore ou que se lastime,
Esteja distante ou perto,
Ela vem buscar alguém.

         A morte não quer saber
Se é preto como urubu,
Se aquele que vai morrer
É branco como um garça,
Se tem pratas no baú,
A morte não quer saber.

                   Não lhe pergunta qual é
A sua religião,
Se Sancho, Pedro ou José
É o seu nome de batismo,
Nem a sua profissão
Não lhe pergunta qual é.

         Não quer saber se ele tem
Uma candeia com luz,
Se pratica o mal ou o bem,
Se tem mais fé com o demônio
Do que mesmo com Jesus,
Não quer saber se ele tem.

                   Nem procura examinar
Se tem filhos ou mulher;
Se esse alguém vai-se casar,
Se tem pai e se tem mãe,
Nada disso a morte quer,
Nem procura examinar.

         Para a morte  não existe
Anéis de grau de doutor,
Nem homem alegre ou triste,
Nem mulher bonita ou feia,
Saúde, beleza e dor.
Para a morte não existe.

                   Para o pobre, para o rico
Nunca tem contemplação;
Como o corvo bate o bico
Por cima de um peixe podre,
Ela vem de supetão
Para o pobre, par o rico...

         O cristão ou o pecador
Ela conduz sem ruído,
Não perde tempo em clamor,
Em atenções e conversas,
Leva sem tempo perdido
O cristão ou o pecador.

O que segue vai com unção,
Rogando com fervor terno
Ao santo da devoção
Que o afaste do diabo
E dos horrores do inferno,
O que segue vai com unção.

Mas ele mesmo é quem faz
Os prantos ou gozos seus;
Na tempestade ou na paz,
Essa questão de ficar
Com Satanás ou com Deus,
É ele mesmo quem faz.

 

DE CÁ

Que amargo era o meu destino?
Tristezas no coração,
Tateando dificilmente
No meio da escuridão...

         Viver na Terra e somente
Remando contra a maré,
Com receio de ir ao fundo...
Nem tão boa coisa é.

Esta vida de sofrer
Trinta dias cada mês,
Entremeados de prantos,
Há quem estime. Talvez...

         Mas para mim que só fui,
Galeno sem nó, galé,
Tantas dores em conjunto,
Nem tão boa coisa é.

Sentir as disparidades
Das vidas cheias de dor,
O mal sufocando o mundo,
Marchando com destemor;

                   Ver o rico andar de coche
E o pobre correndo a pé,
Tantas misérias sentir...
Nem tão boa coisa é.

O pranto ferve na Terra,
Salta aqui, salta acolá.
Nas guerras de toda a parte,
Nas secas do Ceará;

Meus irmãos de Fortaleza,
Do Cristo do Canindé,
Ver um rindo e outros chorando,
Nem tão boa coisa é.

Ah! morrer e ainda sentir
Saudades da escravidão,
Da carne, do desconforto,
Da treva, da ingratidão...

                   Não é possível porque,
Pobre filho da ralé,
Casar-se com a desventura
Nem tão boa coisa é.

Mas falar de mais agora,
Já não é próprio de mim,
Não vou gastar minha cera
Com tanto defunto ruim;


Patetice é ensinar
Verdade aos homens sem fé.
Jogar pérolas a tolos,
Nem tão boa coisa é.

 

 

REZENDE, Edgar.  O Brasil que os poetas cantam.  2ª ed. revista e comentada.  Rio de Janeiro: Livraria Freitas Bastos, 1958.  460 p.  15 x 23 cm. Capa dura.   Ex. bibl. Antonio Miranda

 

       

CAJUEIRO PEQUENINO

 

Cajueiro pequenino
Carregadinho de flor
A sombra das tuas folhas
Venho cantar meu amor,

 

Acompanhado somente
Da brisa pelo rumor,
Cajueiro pequenino
Carregadinho de flor.

 

Tu és um sonho querido
De minha vida infantil,
Desde esse dia... eu me lembro,
Era uma aurora de abril,

 

Por entre verdes ervinhas
Nasceste todo gentil,
Cajueiro pequenino,
Meu lindo sonho infantil.

 

Que prazer quando encontrei-te
Nascendo junto ao meu lar!
— Êste é meu, este defendo,
Ninguém mo venha arrancar!

 

Bradei, e logo cuidoso,
Contente fui te alimpar,
Cajueiro pequenino,
Meu companheiro do lar!

 

Cresceste... se eu te faltasse,
Que de ti seria, irmão?
Afogado nestes matos,
Morto à sede no verão...

Tu que foste sempre enfermo
Aqui neste ingrato chão!
Cajueiro pequenino,
Que de ti seria, irmão?
 

Cresceste... crescemos ambos,
Nossa amizade também;
Eras tu o meu enlêvo,
O meu afeto o teu bem;
 

Se tu sofrias... eu, triste,
Chorava como... ninguém!
Cajueiro pequenino,
Por mim sofrias também!
 

Quando em casa me batiam,
Contava-te o meu penar;
Tu calado me escutavas
Pois não podias falar;
 

Mas no teu semblante amigo
Mostravas grande pesar,
Cajueiro pequenino,
Nas horas do meu penar!

Após as dores, me vias
Brincando ledo e feliz
O
tempo-será e outros
Brinquedos que eu tanto quis!

Depois, cismando a teu lado
Em muito verso que fiz...
Cajueiro pequenino
Me vias brincar feliz!

Mas um dia... me ausentaram...
Fui obrigado, parti!

      Chorando beijei-te as folhas...
Quanta saudade senti!

 

  Fui-me longe, muitos anos
Ausente -pensei em ti,
Cajueiro pequenino,
Quando obrigado parti!

 

      Agora volto, e te encontro
Carregadinha de flor!
Mas ainda tão pequeno,
Com muito mato ao redor...

 

  Coitadinho, não cresceste
Por falta do meu amor,
Cajueiro pequenino
Carregadinho de flor.

 

               ("Lendas e Canções Populares")

 

 

 

MISTÉRIO   DO MAR

 

—     Jangadeiro, jangadeiro, Que fazes cantando assim, Embalado pelas vagas

No seio do mar sem fim?

E o jangadeiro nas ondas Cantava triste canção; Sôlto o remo, presa a vela De sua jangada então.

—     "Ai de quem amou na vida, "Ai de quem sentiu amor... "Ai de quem sonhou constante "Um peito falso, traidor!

E o jangadeiro cantava No frio leito do mar, Ao murmúrio da brisa, Das vagas ao soluçar!

—     "Amei-a com doce extremo, "Com firmeza e devoção... "Té que um dia o seu desprezo "Esmagou-me o coração..."

 

E o jangadeiro cantava... Era noite de luar; Ao longe, na choça, a festa... Gemidos, prantos no mar...

 

Ao longe, ao som da viola, Mais se animava a função, Que Maria, a flor da praia, Era noiva. .. dera a mão!

 

E o jangadeiro chorando, Cantava triste a gemer... Deserta a praia... e na choça O riso, a festa, o prazer...

 

No outro dia... à luz da aurora, Na areia viu-se encalhar O corpo do jangadeiro Que a onda trouxe do mar!

 

E a jangadinha sem vela, Sem remo, veio também... Ah! Como morrera o triste Ninguém o soube... ninguém!

 

Desde esse dia, nas ondas Quando a noite é de luar, Vê-se ao longe a jangadinha Por sobre a face do mar...

 

E o jangadeiro cantando A sua triste canção... Embalado pelas ondas, Ao gemer da viração...

E a pobre gente da praia Chora ouvindo êsse cantar; Mais triste suspira a brisa, Soluça a vaga do mar!

 

("Lendas e Canções Populares")

 

 

 

A JANGADA

 

 

Minha jangada de vela,

Que vento queres levar?

Tu queres vento de terra,

Ou queres vento do mar?

Minha jangada de vela, Que vento queres levar?

 

Aqui no meio das ondas,

Das verdes ondas do mar,

És como que pensativa,

Duvidosa a bordejar.'

Minha jangada de vela, Que vento queres levar?

Saudade tens lá das praias, Queres na areia encalhar? Ou no meio do oceano Apraz-te as ondas sulcar?

Minha jangada de vela, Que vento queres levar?

Sobre as vagas, como a garça,

Gosto de ver-te adejar,

Ou qual donzela no prado

Resvalando a meditar:

Minha jangada de vela, Que vento queres levar?

Se a fresca brisa da tarde A vela vem te oscular, Estremeces como a noiva Se vem-lhe o noivo beijar:

Minha jangada de vela, Que vento queres levar?

Quer sossegada na praia, Quer nos abismos do mar, Tu és, oh minha jangada, A virgem do meu sonhar:

Minha jangada de vela,

Que vento queres levar?

Se à liberdade suspiro, Vens liberdade me dar; Se fome tenho — ligeira Me trazes para pescar:

Minha jangada de vela,

Que vento queres levar?

A tua vela branquinha Acabo de borrifar; Já peixe tenho de sobra, Vamos à terra aproar :

Minha jangada de vela,

Que vento queres levar?

Ai, vamos, que as verdes ondas, Fagueiras a te embalar, São falsas nestas alturas Quais lá na beira do mar :

Minha jangada de vela,

É tempo de repousar!

("Lendas e Canções Populares")

 

 

 

 

  

Poesia religiosa. Espiritismo.

Página publicada em fevereiro de 2017- Página ampliada e republicada em dezembro de 2019



 
 
 
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