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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

FILGUEIRAS LIMA

FILGUEIRAS LIMA
 (1909-1965)

 

 

Antônio Filgueiras Lima, poeta e advigado, nasceu a 21 de maio de 1909, em Lavras da Mangabeira, Ceará. Em dezembro de 1933 colou grau de bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito do Estado do Ceará.

 

Ocupava na Academia Cearense de Letras a cadeira nº 21, fundada por Antônio Sales, a quem sucedeu, e de que é Patrono José de Alencar.

 

Faleceu na madrugada do dia 28 de Setembro de 1965.

 

 

 

LIMA, Filgueiras.  Antologia poética.  Fortaleza, CE: Equatorial, 1997.  160 p.  (Coleção Memória Equatorial, 3)  14x21 cm.   [ Rui Filgueira Lima ]  Ex. col. Antonio Miranda

 

 

 

SÍMBOLO DO FIM

 

Hão de viver-me sempre, na memória,

este crepúsculo e esta despedida.

A beleza da tarde é merencória...

A luz do teu olhar é dolorida...

 

O sol, num instante último de glória,

beija as rosas vermelhas da avenida.

E morre, entre suspiros, esta história,

que era todo o esplendor da nossa vida!

 

Tua trêmula voz, dói-me escutá-la.

Na tarde passa uma andorinha leve,

sozinha e triste, pelo céu de opala.

 

- Adeus, adeus! respondes-me chorando.

Vai-se a felicidade, que foi breve,

como a andorinha que fugiu do bando...

 

 

POEMA DA DISTÂNCIA

                 A Stênio Gomes

No coração do espaço
a noite acordou, com a sua mão de sombra,
as notas de ouro das estrelas.
E a imponderável música dos astros
veio descendo,
por uma escada trêmula de luz,
até o chão colorido do jardim.
Todas as rosas cantaram
pela voz ignota dos perfumes...

Foi aqui - eu me recordo ainda! -
que, numa noite assim,
à música sonâmbula das estrelas
recebi tuas últimas carícias!
Na penumbra
              o repuxo, tristíssimo, chorava...
Depois
a poeira violácea da saudade
escreveu, entre nós, o poema da distância...

 

 

A CIGARRA E A FORMIGA

 

Passada a quadra invernosa,

de sofrimento e expiação,

a cigarra desditosa

vai gozar outro verão.

 

O ouro do sol espadana

pelos vales e campinas.

Toda a terra se engalana

de fulgurâncias divinas.

 

Que alegria, que algazarra,

aos resplendores do dia!

É que, de novo, a cigarra

fretine, canta, zizia. . .

 

A burguesa da formiga

vê então que a sorte é vária

Tem inveja da cantiga

da cigarra proletária.

 

Quem lhe dera aquele canto,

que todo mundo aprecia,

para encher o seu recanto

de música e de alegria!

 

E, à porta do formigueiro,

onde a fartura se abriga,

ela, passa o dia inteiro

bebendo aquela cantiga. . .

 

Fala à cigarra - a formiga,

que de vergonha se cobre:

- De nós duas, minha amiga,

eu sou, decerto, a mais pobre.

 

De que me serve o celeiro

em tempos fartos e bons?

Você, se não tem dinheiro,

é milionária de sons!

 

E eu negar - oh! que tristeza!

um simples naco de pão

a quem possui a beleza

sonora deste verão.

 

Que inveja ao vê-la, taful,

cantando, pelo arrebol,

na glória do céu azul,

dentro de um raio de sol!

 

A cigarra não responde

à vil formiga vulgar.

Porém, no verde da fronde,

põe-se, mais alto, a cantar!

 

 

RELÓGIO

 

Bates, de hora em hora,

e ouço no teu bater alguém que chora.

É o tempo que soluça em tuas cordas,

diante das horas que passam,

sinuosas, trêfegas, volúveis,

deixando um beijo em cada curva

e uma saudade em cada beijo...

 

Elas dançam

o bailado da ilusão:

rápidas chegam

e, rápidas, se vão,

como sombras que apenas deixam

outras sombras em nosso coração...

 

Quando te escuto,

ó meu velho relógio de parede,

conta-gotas de horas convencionais,

lamento a tua faina inglória e vã,

porque - bem sei - não poderás jamais,

embora andando e pelejando assim,

medir as horas infinitas

do Tempo que não tem fim.

 

 

A ENCHENTE

 

Era a casa de tijolo, à beira do rio,

a melhor do lugar.

 

               Na noite preta como o cão

               as águas do rio incharam,

                     cresceram,

                     inundaram tudo

               e continuaram inchando

                     e crescendo sem parar...

 

A casa ficou perdida no meio do rio

como um navio no alto-mar.

Pequeninas e pálidas estrelas

cobriram o rosto com o lenço das nuvens,

                 com medo de olhar...

 

               - Eh! canoeiro! socorro!

               - Se a enchente continuar como vai,

               daqui para o dia amanhecer

               a casa cai!

 

E a voz aflita e lúgubre gemia

no silêncio da noite de agonia.

 

               - Socorro, canoeiro!

               - Só a canoa "lracema"

               Poderá atravessar.

               Uma canoa pequena

               ainda é pior: pode virar.

 

...............................................

               - Socorro, canoeiro,

               - Eh! canoeiro, socorro, socorro!

 

Chuá. . . chuá. . . chuá...

Os remos atassalham o dorso do rio,

e a canoa, que ginga e se embalança,

rasga as águas,

corta o vento,

rompe a treva,

fura a noite

- e avança!

 

               Da casa que o rio sitiou

               parte um grito de alegria que vale um poema!

                     - É a canoa "lracema"!

                     - É a canoa "lracema"!

 

- Afinal, estamos salvos,

por causa de nossa fé.

Viva Nosso Senhor Jesus Cristo!

E viva Nossa Senhora,

Santa Bárbara, São Jerônimo,

São Francisco de Canindé!

 

               Agora, de volta à terra,

               conduzindo os que salvou da enchente,

               a canoa, que ginga e se embalança,

                     corta o vento,

                     rasga as águas,

                     rompe a treva,

                     fura a noite

                     - e avança!

                     E avança!

 

 

 

REZENDE, Edgar.  O Brasil que os poetas cantam.  2ª ed. revista e comentada.  Rio de Janeiro: Livraria Freitas Bastos, 1958.  460 p. 
15 x 23 cm. Capa dura.   Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

POEMA DA CHUVA NA MINHA TERRA

 

 

Chove na minha terra!
Chove no Ceará!

Tudo é verde para a volúpia dos olhos
E as águas cantam para gozo dos ouvidos.
Há delícia, prazer e encantamento,
Há festa para todos os sentidos!

 

Chove na minha terra!

O sol é um amante que se esconde
Para tornar-se mais amado ainda.

 

E o cearense, com a sua alma de girassol,
Abençoa a chuva, acaricia a chuva,
Mas pensa no sol, tem saudade do sol...

 

Chove na minha terra!

Os açudes erguem músculos de pedra
Para conter as águas desencarceradas,
o ímpeto das águas desacorrentadas,
Que saltaram montes,
Estrangularam árvores,
Voaram grotões, em disparada louca,
 E chegaram, enfim, cansadas,
Fatigadas,

Deitando troncos e espuma pela boca...

 

Agora, aos olhos que choram tanto,
Uma paisagem nova se descerra,
Enquanto
A chuva rola
Como um pranto

                Que erra
        Pela face de um santo
        Ou de um herói que triunfou na guerra.
        Pela face de alguém
        Que venceu o destino, vence e vencerá!
        Pela tua face, minha terra!
        Chove no Ceará!

 

 

 

Página publicada em dezembro de 2008; ampliada em dezembro de 2019.


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