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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



Fonte: www.unicamp.br

 

EURICO ALVES

(1909- 1974)

 

 

O poeta Eurico Alves ficou por muitos anos com sua glória confinada ao diálogo que manteve com Manuel, de que resultou para a história literária o poema “Escusa", em que é citado pelo pernambucano, começando com esses versos singulares, lavrados dentro da atmosfera informal da primeira fase do modernismo:

"Eurico Alves, poeta baiano, / Salpicado de orvalho, leite cru e tenro cocô de cabrito,  /Sinto muito, mas não posso ir a Feira de Santana". E, depois de oferecer as razões da escusa, rematava: "Não sou mais digno de respirar o ar puro dos currais da roça".

 

Morto em 1974, o baiano de Feira de Santana - poeta, contista e ensaísta - foi figura de proa nos primórdios modernistas da Bahia, ao lado de seu conterrâneo Godofredo Filho. Embora publicasse poemas e contos esparsos em jornais e revistas nas décadas de 20, 30 e 40, sua produção poética só veio a lume de forma organizada em 1990, por iniciativa de sua filha, Maria Eugênia Boaventura, professora da Unicamp, em São Paulo, com o apoio da Fundação Cultural do Estado da Bahia, no período que passou sob o nome de Fundação das Artes, que publicou uma seleção de seus poemas, com iconografia, documentação pessoal do escritor e apresentação do poeta Carvalho Filho; seu companheiro de geração. Antes, apenas a Universidade Federa] da Bahia publicara seu ensaio de cunho sociológico, "Fidalgos e vaqueiros",fruto de suas pesquisas pelo sertão da Bahia; também havia ele publicado a plaqueta intitulada "Respeitosas ruínas do passado pastoril". "Poesia", o livro editado pela Fundação, embora com precária distribuição, representou um resgate literário significativo.

 

Agora, por iniciativa da professora Rita Olivieri-Godet, atualmente ensinando na Universidade de Paris 8, na França, vem a lume a edição deste livro que reúne um conjunto de quatro ensaios críticos, cronologia biográfica, uma entrevista que Eurico Alves concedeu à professora Ívia Alves, autora também de um dos ensaios da coletânea, e uma seleção de poemas, que inclui inéditos, sob o título de "A Poesia de Eurico Alves – Imagens da cidade e do sertão” (Salvador: Secretaria da Cultura e Turismo, Fundação Cultural, EGBA, 1999).

 

(Livro gentilmente cedido pela Profa. Dra.  Aida Valera Valera, da Universidade Federal da Bahia).

 

 

 

 

OLIVEIRA-GODET, Rita.  A poesia de Eurico Alves: imagens da cidade e do sertão.  Salvador: Secretaria da Cultura e Turismo, Fundação Cultural, EGBA, 1999.  221 p.  Col. Selo Editorial Letras da Bahia, 52).  ISBN 85-86485-73-X 

 

 

 

DÍNAMO

 

Ralam o ar, rodopiando em roucos ronrons rudos,

as ruivas, rúbidas rodas raivosas, rápidas, ao fogaréu ...

 

Negras fauces monstros de fornalhas, abocanhando as sombras,

num doido torvelinho desordenadamente bruto,

de permeio às turbinas, aos êmbolos, às válvulas e a loucura

de mil garras de fogo — as alavancas víboras —

no vai-e-vem, vem-e-volta,

subindo, descendo, afogando-se na fofa negrura do óleo chiando ...

 

Tatala, lá fora, ao dorso polido das chaminés,

a crespa asa rascante e do grande morcego chagado

a noite.

 

Correm escuros arrepios no alto céu de ferrugem,

mordendo a usina ...

 

Mas, a um canto, possante, brutal, estouvadamente,

entre o delírio de carótidas veias e artérias de aço,

bates, rebates, fremes, latejas, precípite,

em cólera chispando,

rudo, rouco, raivoso, rasgando a noite,

— dínamo da fábrica — meu desvairado coração pulsando!

 

                                                                           1926.

 

 

USINA

 

Como um punhado de estrelas dentro da noite,

as casas dos empreiteiros

perdem-se na festa verde

das espátulas compridas do canavial contente ...

 

E, ondulando, farfalhando,

o canavial se estende interminavelmente,

como um sonho esmeráldico de fartura,

da usina,

que, no centro,

estridula e apita e jazzbandiza ferros,

numa alucinação fantástica de mil músculos de aço

tinindo e retinindo, zoando e retumbando no abandono do vale.

Macabra mistura de polias, cordames, manivelas e rodas dentadas, furiosamente, diabolicamente, alucinadamente ...

 

Na baixada, como dois braços sondando as estrelas,

as duas chaminés contemplativas se empertigam.

 

                                                                  1929.

 

 

 

MISTÉRIO

 

Choveu.

 

O céu com as nuvens mascaradas de velhice

era uma testa enfeitada de rugas ...

 

Porque será que a terra está triste?

 

Trovejou.

 

E o céu não teve medo

abriu a boca de noite

e soltou a gargalhada ziguezagueante de um relâmpago.

 

                                                                  1929.

 

 

 

BALADA DA ESPERANÇA CANTADA NA CASA GRANDE

 

Herdei de meu pai este solar antigo ...

 

Sob a sua sombra, as horas se aconchegam religiosamente, ciciando preces,

 

ciciando preces que eu só escuto e compreendo,

e a vida pousa nua no meu pensamento ...

 

É pura a hora, sem desejos inúteis, sem calor de sexo que o sol nos dá ...

 

Bate, dentro do luar, a cancela, bate mansamente,

ressonância de coração que envelhece na paisagem sem rancor.

Bate ao sol, bate ao luar, nos nervos crespos do mourão de baraúna, melodia de saudade, recuando até nós ...

 

Não haverá outros gemidos lá fora abafando a música da minha alegria.

 

Quando poderei sonhar no solar herdado de meu Pai?




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