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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

POESIA COLONIAL

 

 

 

 

 

 

BERNARDO VIEIRA RAVASCO

 

 

( - 20 de Julho de 1617  - Falecimento: 20 de 1697 )

Bernardo Vieira Ravasco, o irmão do Padre Antonio Vieira, foi secretário do estado e guerra do Brasil desde 1649, o que representava o segundo cargo mais importante na colônia, logo abaixo do governador-geral, e ainda provedor da Santa Casa da Misericórdia, era irmão do Padre Antonio Vieira.
Biografia completa em:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Bernardo_Vieira_Ravasco.  

 

 

 

 

POESIA.BR : COLONIAL. Org. Sergio Cohn.   Rio de Janeiro: Beco do Azougue, 2012.    141 p.  14 x 17,5 cm.  (Poesia. Br. 2)
ISBN 978-85-7920-109-7      Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

 

GLOSA A UM SONETO

I

 

Esperei, e esperança é morte amarga.
E só força de puro amor se atreve
Em dura ausência a tão pesada carga
Que no nome de amor se torna leve:
Nunca me pareceu que de tão larga
Esperança tirasse um bem tão breve.
Pois fora as que se foram como o vento
Horas breves de meu contentamento.

 

II

 

São os gostos de amor imaginados
Mui grandes sempre, se ficam mui pequenos
Quando por tempo vêm a ser gozados
Porque costuma o bem ser sempre menos:
Nunca me pareceu, gostos passados,
Que assim vos acabásseis, pelo menos,
Que vos mudásseis em desgraça minha
Nunca me pareceu, quando vos tinha.

 

III

 

Nunca pareceu, glórias passadas,
Que passásseis com o bem que vou seguindo
Com suspiros, e ais, e com cansadas
Lágrimas, que dos olhos vão caindo:
Nunca me pareceu, arrebatadas
Horas, causa do mal, que estou sentindo,
No tempo em que com ter-vos me mantinha.
Que vos visse mudadas tão asinha.

 

IV

 

Nunca me pareceu que tanta glória
Se convertesse em mal, e que eu o vira;
Deram meus gostos fim: e dessa história
Sempre me lembro, sempre a alma suspira.
Se perdera com eles a memória,
Não me lembraram mais, não os sentira,
Mas ficou-me com ela o sentimento
Em tão compridos anos de tormento.

V

 

Nunca me pareceu que me custasse
Tanto alcançar-vos, e depois de ter-vos
Nunca tive receio que chegasse.
Com o tempo vário, o tempo de perder-vos:
Cuidei que tanto bem nunca acabasse.
Não soube no princípio conhecer-vos,
Mas já agora desfez o entendimento
As minhas torres, que fundei no vento.

 

VI

 

Quanto fingia, a tudo assegurava,
De nada me temi, vendo-me posto
Aonde enquanto a alma se elevava
Dava sinal de bem, de glória, e gosto.
Mas quanto mais a vista se empregava
Na falsa luz do Sol, o vi transposto;
Que as falsas causas desta glória minha
O vento as levou, que as sustinha.

 

VII

 

Mil noutes padecei da ausência dura
Por um só dia, que em amanhecendo.
Logo a sombra senti da noute escura
Que veio antes de tempo anoutecendo.
Quão tarde chega um bem, quão pouco dura.
A vida de meu mal vou conhecendo.
E pois não vi o mal que depois vinha.
De mal que me ficou a culpa é minha.

 

VIII

 

A culpa minha é, e bem pudera
Culpar do breve tempo a brevidade.
Foi breve aquele, se outro tal viera
perdera do passado a saudade.
Tão saudoso do bem fiquei, que dera,
Se minha fora, minha liberdade.
Pelo tornar a ver, mas brado ao vento.

Pois sobre cousas vãs fiz fundamento.

 

IX

 

Mil lágrimas me custa um desengano
De que me desengana um acidente.
Que na perda do bem se sente o dano
Se não se perde a vida juntamente,
não queira bem quem não quer o desengano.
Não há mor mal que o bem que é aparente;
E se é mal grande o mal que bem parece,

Amor com falsas mostras aparece.

 

X

 

Segui Amor aonde me guiava.
Mostrou-me não sei que, que inda desejo.
Mas se era cego como me mostrava,
Ou como então não via o que ora vejo!
Vi, e não vi o mal que me esperava,
porque quem vai levado de um desejo.
Que amor acende, e já aceso apura,
Tudo possível faz, tudo assegura.

 

XI

 

Tudo assegura, tudo facilita,
Impassível por própria natureza.
Com vozes mudas a razão não grita.
Não queremos ouvir, depois nos pesa.
Esperança adoramos infinita.
Não mais que por seguir a falsa empresa
que um tesouro de bens nos oferece,
Mas sempre no melhor desaparece.

 

XII

 

Já passaram por mim estas verdades,
Mas ainda tenho saudades delas;
Não sei que força esta é a ter saudades
De cousas, que não há para que tê-las!
Sai o piloto dentre as tempestades,
E logo torna a dar ao vento as velas;
Deixando pelo mar, terra segura!
Ah triste fado! Ah grave desventura!

 

XIII

 

Nesta tragédia da vanglória humana
Nunca entra o bem, o mal sempre é figura
E só com isto enfim nos desengana,
Que um voluntário mal nunca tem cura.
Quem nos leva trás si, quem nos engana
A aventurar um bem, que se aventura.
Se amor é o menor mal a que se oferece
por um pequeno bem, que desfalece.

 

XII

 

Por um pequeno bem, que vem aguado
Por tão pequena luz, que logo morre,
Aventurar um bem, que aventurado
Por tantos passos tanto risco corre;
Foi louco o pensamento, mas forçado
Um pensamento meu, que não se corre,
Por glória, que não tem glória segura
Aventurar um bem que sempre dura.

 

 

 

 

Página publicada em maio de 2020

 

 


 

 

 
 
 
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