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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



POETAS DO AMAZONAS

Coordenação: Donaldo Mello  e  Inês Sarmet





ZEMARIA PINTO

 

José Maria Pinto de Figueiredo nasceu em Santarém, no Pará, em 1957, mas Manaus é sua casa desde criança. Além de economista,  é poeta de sólida formação literária. Atuou como professor de Literatura Brasileira na Universidade Federal do Amazonas. Editor do jornal poético “O fingidor”, escreve também premiados textos para teatro. Seus principais livros são Corpoenigma (1994), Fragmentos do silêncio ( 1996), Música para surdos (2001) e Dabacuri (2004).

 

Música para surdos é um livro estruturado como uma partitura – seqüência de composições eivadas de intensidade humana e rigor na tessitura de seus cantos.” TENÓRIO TELLES

 

Canção dos novos tempos

Visitar os cantos de Zemaria Pinto pode ser a constatação de que “nas águas salobras da história” (A. Bosi) ainda não se perdeu um certo sabor do mito e da poesia. Também, que a memória do flâneur e a sabedoria histórica resistem ao gesto tentador da desesperança num violento mundo fragmentário e virtual. Senão observemos o escorrer da sua fala poética convidando-nos: “Dá-me tua mão./ Ainda há tempo”, na bela Canção de Amor de J. Sebastião.

Um foco vivíssimo irradiando toda uma ordem de motivações existenciais que produz, entre outras, uma nota longuíssima na canção do tempo histórico do leitor. Capaz, talvez, de atiçar no imaginário a dinâmica de um País das Águas e seus mistérios (“a bruma cai em flocos e tem gosto de açaí”). Grandes e rápidos rios poéticos espalham-se muito, dentro do mar, e conservam doces as águas ali lançadas pela suave violência do curso.

“A bruma eliotiana” do poeta resiste, inventando o caos que se recorta no horizonte rionegrino-amazônico fiando a trama. Tão antiga trama do tecido da utopia. Urdindo, com os silêncios da “música para surdos”, quem sabe, uma “ordem a decifrar” saramaguiana. Novos tempos na poesia do amazonasparaense.

Alfim, o poeta conduz passo a passo o leitor ao delicado e assombroso universo do abismo das interrogações (Ah, Manaus, Manaus, (...) onde estão tuas crianças, (...) teus velhos?). Onde?. O abismo das interrogações sem resposta, que se encerra na invenção poética, resistindo ao descontínuo gritante pelo contínuo harmonioso.

 DONALDO MELLO , tarde chuvosa em Brasília, 15mar06

 

 

 

Canção de Amor de J. Sebastião

 

Sigamos então, tu e eu,

enquanto Manaus se estende sob o céu

como um paciente anestesiado sobre a mesa.

Caminhemos pelas mesmas ruas,

quase desertas a estas horas,

sob uma bruma eliotiana,

contando as fachadas dos hotéis de conveniência,

ouvindo ao longe a doce música das sirenes.

 

Ah, Manaus, Manaus,

o mais vil de teus poetas

vomita sua sintaxe indefinida

arrastando-se no lodo da Cachoeira

em busca de alguma felicidade provisória

ou uma dose violenta de qualquer coisa

mergulhando a alma nessa tenra madrugada de outubro.

 

Abraço o poeta e o beijo que deposito em sua boca

é amargo e fedido.

Peço uma tangerina e mais outra

e o cheiro que toma o ar me embriaga

mais que toda a cerveja e toda a urina do banheiro fétido.

 

O poeta sussurra alguma coisa sobre

as moças assassinadas

 da praia da[Ponta Negra

e fala de espectros e histórias de amor

e eu mal consigo perceber o movimento de sua língua de chumbo.

Tomo suas mãos nas minhas e ele  adormece

murmurando preces pelas moças assassinadas.

 

Ah, Manaus, Manaus,

quanta poesia desperdiçada

nas flores que o rio insiste em devolver à areia

 num invólucro de espuma.

Onde estão tuas crianças, cidade?

Onde estão tuas mulheres, teus velhos?

E tuas úmidas meninas túmidas?

Em que longínqua guerra fratricida eles sucumbiram?

 

Ah, maninha,

não me curvo às urgências do teu sexo

ou ao discurso mudo dos teus bêbados.

Seria a poesia uma doença tropical?

A bruma cai em flocos e tem gosto de açaí.

Precisamos beber algo quente

que nos anuncie a manhã,

como um galo ou uma fábrica.

 

Dá-me tua mão.

Ainda há tempo.

 

 

 

(O eu e os outros) exercício n° 3

 

É madrugada. O ritual dos parvos

faz-se preciso e lento. Peregrino,

meu corpo vertical é um fantoche

cambaleando em cordas invisíveis.

 

Já não sei quem sou. Naves de papel

num circunscrito céu circunvoluem

entre as amarras de concreto gris

e bandos vira-latas de mendigos.

 

De repente, uma pomba rasga o ar

num pardacento feixe de luz. Não,

nenhum olho fixou aquele instante,

preciso instante feito de lampejos.

 

De mim desperto, silencio o grito

que se formara exausto no meu peito:

 

 

 

(Sob as trevas de setembro) exercício n°16

 

Setembro não tem sentido,

nas mãos

encanecidas e nas cãs vibráteis

à força do vento,

nós invisíveis

de forcas plantadas

sobre o caminho.

 

Setembro não tem sentido,

nas pedras

que o tempo acumulou com precisão

sob nossas retinas

tão fatigadas

e nossos pés vegetais,

tão inúteis.

 

Os dias fastos são lembranças fúteis

forjadas na temperança

do ocaso de nossas últimas desesperanças.

 

A nós nos resta agora esse torpor

mal encoberto em raras alegrias:

nonadas.

Setembro não tem sentido.

 

Poemas transcritos de Música para surdos, Valer, 2001

 

 

 

(bunda)

 

luas hemisféricas

sob o sol resplandecente

- altar da paixão

...

castelos erguidos

 em terras de fantasia

- volúpia e vertigem

...

ondas cavalgadas

nos limites do infinito

- relâmpago sob o sol

 

(poema de Corpoenigma, transcrito da antologia Poesia e Poetas do Amazonas, organizada por Tenório Telles e Marcos Frederico Krüger, publicada pela Valer em 2006)



 

 

 

 

 

 
 
 
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