| DEDÉ RODRIGUES   (pseudônimo de  Elizeth Serrão Rodrigues).   Nasceu em Nhamundá,  Amazonas, no dia 11 de fevereiro de 1966. Fez os estudos em Manaus, inclusive a  Licenciatura Plena em Letras e a formatura em Direito, na FUA.          Carta Aberta a Um  Fingidor     Nem anjo barroco, nem branca, nem linda, nem formanem nada.
   Não sou pintura, nem Marília jamais penetrei bosques serenos
 ou conduzi mansos carneiros.
   Eu, Poeta, não sou a virgem pálida que, em febre, deliraste possuir também não sou negra a mulata de carnes rijas de altivas ancas, de brancos dentes que ousaste, senhor, servir.   Não nasci da espuma, nem fui moldada para ser fria nem carne morta, nem pele alva, nem nada
 ou coisa alguma.
   Não sou Ismália, a louca, a própria lua não tenho asas, ou escamas
 nem torre, nem lastro, convento
 nem nada.
   Não, Poeta, nem Rosa, nem Stela não sou a preta, nem a parda
 nem a santa, nem a puta
 não nada.
   Hoje, Poeta, não tenho espelhoou lira, um enigma
 quase nada.
   Sou bela? Mais que bela.
   Meu nome? Perdido na confusão das coisas acontecidas das noites dos dias
 guardado contigo, Poetaem alguma gaveta.
       A Um Poeta (opus II)     que prossiga o confuso rastro do barroco orfeu moleque
 que profanou brancos conventos
 e deleitou peitos mulatos
   que percorra a calada trilhado campônio inconfidente
 que conduziu cartas açoites
 e despertou extinto leito
   que viaje a inquieta rota do beija-flor condoreiro
 que acalentou beatriz morena
 e inscreveu negros clamores
   que caminhe a beneditina estrada do anuro parnasiano
 que perseguiu raras rimas
 e lapidou o lixo o barro
   mas sobretudo que não diga pressinta
 que não queira possa
 que seja presente
              pretérito              futuro e traga nos olhos girassóis incendiados nos dedos contas infinitas
 e nos pés beatificados
 desejos inconfessáveis
 possibilidades
   e bem mais que a solidão,projetada por seu coração de profeta,
 queira, bem mais que tudo,
 que a vida, até - quem sabe?
 unir sua sina torta
 e este impróprio corpo
 aos meus nós indecifráveis
 ao meu coração de poeta.
           Página publicada em  janeiro de 2020
 
 |