Zadir Índio. Foto: Revista da Semana,
Ano XIX_Nº 39, 02.11.1918, p.22.

ZADIR ÍNDIO DE SANTA CRUZ

Nasceu na vila de Nossa Senhora do Pilar, a 2 de novembro de 1880. Em 1895, aos 15 anos, depois de iniciar estudos em sua cidade natal, matricula-se no Liceu Alagoano, em Maceió. Mudou-se para o Rio de Janeiro em 1901, onde desempenhou funções diversas em vários jornais da cidade.

No dia 17 de outubro de 1918, às 11:00 horas, no hospital da Cruz Vermelha Brasileira, faleceu aos 36 anos, vítima da Insluenza (Gripe Espanhola), epidemia que ceifou a vida de centenas de pessoas no Rio de Janeiro.
Fundada a Academia Alagoana de Letras, em 1919, foi consagrado como patrono de uma de suas cadeiras.

AVELAR, Romeu de.  Coletânea de poetas alagoanos.  Rio de Janeiro: Edições Minerva, 1959.  286 p.  ilus.  15,5x23 cm.  Exemplar encadernado.  Bibl. Antonio Miranda

                VÁCUO

                Nem parece verdade... e, no entanto,
Vós que viveis felizes toda a vida,
Que vos certifiqueis neste meu canto
Do que voz diz minh´alma dolorida.

Não é uma tristeza mal contida,
Não é tédio, cansaço ou vil quebranto
O que minh´alma sofre nesta lida
Que vóis amais, que bendizeis, entanto.

       O que sinto através dos meus vinte anos
É como uma página esquecida,
Um claro-escuro de um viver de enganos.

Cada dia que vem, sinto a agonia
De, como vós, gozar, amar a vida...
E inda mais só me sinto cada dia.

       PRIMAVERA

       Eis-me de volta, amor, eis-me de volta,
Depois de percorrer tantos caminhos;
Aqui barrancos, pântanos, espinhos,
E sempre a interna e lúrida revolta.

Andei demais: a voz dos passarinhos
Que me trouxeram numa alada escolta,
Foi que grácil cantou: — é tempo, volta
Para o amor que te espera entre carinhos.

A alma cansada, indiferente e fria,
Aos poucos se refez ardente e louca
Numa suave e dúlcida alegria.

Eis-me de volta, amor, forte, risonho,
— Cola-me, pois, a boca à tua boca,
Deixa que a vida continue num sonho.



SONETO

Só, minha mãe! tão só, que às vezes penso
Ser um banido de desprezo eterno,
Um mísero galé de além do Averno,
Acorrentado num deserto imenso.

O coração, outrora a amar propenso,
Filho do teu carinho doce e terno,
Hoje, rudo, se torce num superno,
Brutal sofrer, sofrer atrós, intenso...

E no entanto, bem sei, lá, bem distante,
Nessa casinha símplice de outrora,
Só! também vives num carpir constante...

Sós! a compormos um dolorido poema!
E, como um louco pelo sonho à fora,
Tu, minha mãe, numa saudade extrema!

*

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Página publicada em junho de 2021