PEDRO CARDOSO
                 
                  
                Pedro  Monteiro Cardoso, escritor cabo-verdiano nascido em 1890, na Ilha do Fogo, e  falecido em 1942, na cidade da Praia. Professor do ensino primário,  salientou-se no jornalismo ao defender os interesses sociais, políticos e  económicos de Cabo Verde. Publicou Folclore Cabo-Verdiano (1933), Pelos  Direitos do Crioulo (1933) e Profissão de Fé (1934), uma série de  sonetos e redondilhas. Dirigiu o jornal Manduco e colaborou na Voz de  Cabo Verde onde publicou cerca de 33 crónicas de intervenção cívica e  política publicadas em 37 números do jornal. 
                  
                Pedro  Cardoso, aliás, “Afro”, das ilhas de S. Nicolau, Boa Vista e S. Vicente, zurziu  e alimentou polémica sobre os mais diversos assuntos, da arborização, da  estiagem e da fome, ao analfabetismo e à instrução pública, passando pelas  questões do Nativismo, da Raça Negra e da autonomia da província, sempre em  defesa dos interesses dos filhos das ilhas. Recorde-se que, no campo da  política e do jornalismo, Pedro Cardoso assumiu-se como socialista, melhor  dito, comunista, tendo sido um ardente defensor do continente negro e da  dignificação do homem africano, usando nos seus escritos o pseudónimo “Afro”. 
                Biografia  e foto extraídos de: www.manduco.net/ 
                  
                  
                XI 
                  
                A  minha Pátria é uma montanha  
                Olímpica,  tamanha!  
                Do  seio azul do Atlântico brotada  
                E  aos astros com vigor arrernessada  
                Pelo  braço potente do Criador,  
                Sobranceia  cem léguas em redor. 
                  
                E  tão alta que acima do seu cume 
                Só  o plaustro de Apolo coruscante, 
                Só  o bando estelar de águias de lume 
                E  a mente ousada de um Camões ou Dante! 
                Como  é formosa 
                E  majestosa 
                A  minha amada 
                Terra  natal! 
                  
                Quer  do Sol sob a clâmide doirada,  
                Quer  da Lua sob a lúcida cambraia,  
                é  tão formosa que não tem rival! 
                  
                Além  das nuvens alevantada,  
                O  bravo Oceano a seus pés desmaia! 
                  
                Para  a gloria do mando fê-la Deus  
                Altiva  e forte, generosa e brava: 
                  
                Assim  foram outrora os filhos seus! 
                  
                Se  lhe palpita o coração robusto,  
                Em  derredor tudo estremece logo: 
                  
                Pálida  e fria de pavor a Brava,  
                E,  em ânsias, Santiago e o Maio adusto.  
                Fala...  e as palavras fluem em torrentes  
                De  lavas rugidoras e candentes... 
                  
                Na  verdade, escutai! — chama-se Fogo! 
                  
                Quando  vier, Pátria amada,  
                A  morte p'ra me levar,  
                Deixa-me  a fronte cansada  
                Em  teu seio repousar! 
                  
                  
                Página publicada em  setembro de 2009                                    |