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LUÍS KANDJIMBO
Luís Kandjimbo (Benguela, 3 de Janeiro de 1960) é ensaísta e escritor angolano.
Integra a denominada Geração literária de 80 ou Geração das Incertezas, tendo sido fundador do Grupo Literário Ohandanji que surgiu em Luanda, em 1984. É investigador do Instituto de Estudos Literários e Tradição da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Foi membro do Comité Científico Internacional da Unesco para a Redação dos volumes IX, X e XI da Historia Geral de África.
É doutorado em Estudos Literários pela Universidade Nova de Lisboa.
Além da colaboração dispersa em diversas publicações angolanas e estrangeiras (Alemanha, Áustria, Brasil, Espanha, Estados Unidos da América, França, Moçambique, Nigéria e Portugal), publicou:
Apuros de Vigília (Ensaio e Crítica), UEA, 1988;
Apologia de Kalitangi (Ensaio e Crítica), Luanda, INALD, 1997;
A Estrada da Secura (Poesia) (Menção Honrosa do Prémio Sonangol de Literatura), Luanda, União dos Escritores Angolanos, 1997;
O Noctívago e Outras Estórias de um Benguelense (Contos) Luanda, Nzila, 2000;
De Vagares a Vestígios (Poesia), Luanda, INIC, 2000;
Ideogramas de Ngandji (ensaio), Novo Imbondeiro, Lisboa, 2003;
Ensaios para a Inversão do Olhar. Da Literatura Angolana à Literatura Portuguesa, Luanda, Mayamba Editora, 2011;
Ideogramas de Ngandji. Ensaio de Leituras & Paráfrases, 2ª edição, Triangularte Editora, Luanda, 2013;
Luís Kandjimbo, Acasos & Melomanias Urbanas (Estórias), Editora Acácias, 2018;
Luís Kandjimbo, Alumbu. O Cânone Endógeno no Campo Literário Angolano. Para uma Hermenêutica Cultural, Mayamba Editora, 2019.
VASCONCELOS, Adriano Botelho de, org. Todos os sonhos. Antologia da Poesia Moderna Angolana. Luanda: União dos Escritores Angolano "Guaches da Vida", 2005. 593 p. Ex. bibl. Antonio Miranda
A Chave e a Porta
Sou eucalipto. Sou chave desta fechadura.
Na estação húmida e verdejante
Demando a porta do mistério
Todas as noites ímpares são estações húmidas
Sou eucalipto. E vem a porta do mistério
Doa fronte do tesouro
És a porta do tesouro. Sou chave
Acolho as profundezas do mistério
E ousas novos aprendizados
Diz a porta:
A Chave não é pequena. Vou tossir
A chave não é pequena. Afasta-se a porta
Como a de boi raspa porta
Diz a porta:
Se fores meu amado
Durmo com a porta para ti
O corpo do meu amado
É como eucalipto
Diz-me a porta:
Hoje trouxeste
Um molho de lenha para o fogo
As minhas entranhas estremecem
Vagares da Maré
A mágoa insidiosa
Peregrina na noite ambulante
Das marés vagarosas da baía
Tanta ou pouca luz
Molha o dorso moribundo da baía
No céu isolado
Anda o luar envelhecido
Com a noite antiga
Nos dias abundantes
Vigia uma ternura
Dilacerando a cidade
Sob a Lua
A lua traz no halo meses e calendários
Das mulheres amáveis na curta medida D
as sementes magníficas
Do nascer e da morte
A lua desaparece na nebulosa malha
Da noite resignada
A lua perde o centro
Na noite co´meses e calendários
Ficam estrelas para mulheres solitárias
E saudosas aguardam sementes magníficas
Do nascer e da noite
O Aroma Ervanário
Na minha casa durmo sono profundo
Se a mulher nas entranhas estremece
E me fizer massagem de água quente
Com ervas aromáticas da sua mão
A mulher dorme e levita o sonho profundo
Quando ouve enorme
Meu respirar profundo
A mulher não levita, estremece nas entranhas
Doa meu respirar profundo
O aroma ervanário de sua mão.
Página publicada em agosto de 2020
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