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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

COSTA ANDRADE

COSTA ANDRADE


Francisco Fernando da Costa Andrade ou simplesmente Costa Andrade, também conhecido por Ndunduma wé Lépi, nome de guerra adoptado nos tempos da guerrilha no Leste de Angola, durante os idos anos 60 e 70, é natural do Lépi, localidade situada na actual província Huambo, onde nasceu há 64 anos, em 1936, portanto. Fez os estudos primários e liceais na cidade do Huambo e Lubango.

 

Por razões que se prendiam com a falta de universidades ou outras escolas superiores na Angola colonial, como acontecia na generalidade com os jovens da sua geração, Costa Andrade encontrava-se em Portugal, nas décadas de 40 e 50, com o objectivo de, em Lisboa, realizar estudos de Arquitectura.Com Carlos Ervedosa, foi editor da Colecção Autores Ultramarinos da Casa dos Estudantes do Império, que desempenhou um papel decisivo na divulgação das literaturas africanas de língua portuguesa, especialmente da literatura angolana.

 

Tem colaboração dispersa em várias publicações periódicas. Publicou textos sob vários pseudónimos, sendo o mais recente o heterónimo Wayovoka André. Além de Portugal, fixou residência por longos períodos de tempo do seu exílio em países como Brasil, Yugoslávia e Itália, onde, além de prosseguir os estudos, desenvolveu uma intensa actividade de conferencista.

É membro fundador da União dos Escritores Angolanos. Entre os vários pseudónimos que usou, destacam-se Africano Paiva, Angolano de Andrade, Fernando Emílio, Flávio Silvestre, Nando Angola. A versatilidade de Costa Andrade, confirma-se com a sua já conhecida faceta de artista plástico. Mas tal prova acima de tudo uma personalidade, um escritor, um artista que se encontra em permanente busca de materiais e matérias para o trabalho criativo, avultando na sua história pessoal a arte do compromisso e da ruptura ao mesmo tempo.

 

Da sua bibliografia, em que se inscrevem obras de poesia, ficção e ensaio, destacam-se, entretanto, pelo seu número as obras de poesia.

 

Obra: Terras das Acácias Rubras (1960, Lisboa, Casa dos Estudantes do Império),; Tempo Angolano em Itália (1962, São Paulo, Felman-Rego),; Armas com Poesia e uma Certeza (1973, Cazombo-DEC), ; O Regresso e o Canto (1975, Lobito, Cadernos Capricórnio); Poesia com Armas (1975, Lisboa, Sá da Costa); Caderno dos Heróis (1977, Luanda, União dos Escritores Angolanos); No Velho Ninguém Toca (1979, Lisboa, Sá da Costa); O País de Bissalanka (1980, Lisboa, Sá da Costa); O Cunene Corre para o Sul (1981, Luanda, União dos Escritores Angolanos), entre outros.  

Fonte da biografia: www.colegiosaofrancisco.com.br



AUTOBIOGRAFIA


Não existe mais
a casa onde nasci
nem meu Pai

nem a mulambeira
da primeira sombra.

Não existe o pátio
o forno a lenha
nem os vasos e a casota do leão.


Nada existe
nem sequer ruínas
entulho de adobes e telhas
calcinadas.

Alguém varreu o fogo
a minha infância
e na fogueira arderam todos os ancestres.

 

 

CELA COMUM

 

I

 

 

É preciso estar-se convencido de estar vivo

para estar vivo

mesmo que as paredes falem,

embrutecido o olhar.

 

Mas quantos são

o que vivendo

sabem que viver

é ter presente a terra recusada?

 

Ladrões e assassinos

mendigos e drogados

um velho murmura as suas rezas

e o poeta jovem

preso no átrio da sua faculdade

canta as flores úmidas

das noites importadas;

não despertados ainda

não acordaram para a noite

que os domina.

 

 

II

 

Não há navios negreiros nas baías,

o mercado da venda dos escravos

é parte da estratégia nova

que o país inteiro já tem dono

bebe whisky e chama-se yanquee.

 

(Poesia com Armas/70)

 

 

É GRATA

 

É grata esta certeza de encontrar

Após luas mais pesadas que cidades

Venceremos a palavra escrita em cada tronco do Maiombe.

Caia um braço as pernas fiquem pelas mulolas

Farrapos de pele nas espinheiras

 

Os olhos não!

Os olhos vejam

a ambicionada luz que se negara

antes de fevereiro

 

Teus lábios molhados de poesia

Condensada em gotas de cacimbo

cantam com os rios.

 

Túmidos estão os seios das mães e as folhas verdes

 

os mortos

agora já são vivos para sempre.

 

(Poesia com Armas/70)

 

 

A FLOR DA CHUVA...

 

... e a flor da chuva no capim

tem mais perfume

 

abertas bem abertas estão as mãos

para abraçar esta manhã sem nuvens

 

ontem (ñ importa já o pôr-do-sol nas buganvílias)

ontem (murchas estão agora as flores

das coisas que eram coisas nada mais)

ontem havia medo até no caminhar das rolas sobre a areia.

 

A poesia de hoje é a voz do povo

todo o mundo  o mundo até de algum silêncio persistente

quer romper a mancha que da noite inda nos fala.

 

Oh admirável sangue a pulsar em cada estrela

o sol é negro e ilumina

a imensidão deste perfume

que nos traz a flor da chuva

 

o sol é negro e brilha dos vulcões

de cada peito independente.

 

Madrugada de fevereiro.

 

Sou angolano!

 

(Poesia com Armas/70) 

 

 

LIMOS DE LUME

 

conto ainda

e já o conto

ai nos zeros

dos biliões

 

um milhão trezentos mil

cinco milhões e prossigo

oito milhões

ou dez?

os números também falecem

com o seu tempo a contar

ainda agora há pouco tempo

e tanto tempo passou passa o tempo

passará

passaria doutro modo?

 

Passe o tempo temporão

somos tantos e tão poucos

vem a paz demora ainda?

Quem espera pela demora?

 

é tempo de caminha!

 

 

(Edições ASA/89)

 

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Poema quarto de um canto de acusação


 Há sobre a terra 50 000 mortos que ninguém chorou
                                                        sobre a terra
                                                         insepultos
                                                         50 000 mortos
que ninguém chorou.

Mil Guernicas e a palavra dos pincéis de Orozco e de Siqueiros
 do tamanho do mar este silêncio
 espalhado sobre a terra

                   como se chuvas chovessem sangue
                   como se os cabelos rudes fossem capim de muitos metros
                   como se as bocas condenassem
                   no preciso instante das suas 50 000 mortes
 todos os vivos da terra.

 Há sobre a terra 50 000 mortos
 que ninguém chorou

 ninguém...

As Mães de Angola
          caíram com seus filhos

 

 

Terceira gota


 Oh meu país de areias brancas,
 meu país de mar
 meu país de povo
 eu quero ser espuma
 menino de sonho alado
 na roda das casuarinas

 meu país de nuvens brancas no azul
 meu país de sol
 meu país de povo
 eu quero ser de pedra
 firme no gesto aberto
 da conquista de horizontes

 

meu país tão novo
 areias novas na praia
 nuvem clara no azul
meu país de povo
 algodoais que sangravam
 povo antigo e sempre novo

 menino a vogar que sou
 vida que à vida se dá
 só não consigo entender
 porquê que só as areias
porquê que só as nuvens
porquê que os algodoais?
sendo brancos são tão nossos
?

 

Porquê, oh meu país,
 que um qualquer lugar comum
 recusa ao meu irmão
 filho da minha mãe
 que seja do meu país
 a sua brancura pequena?

 

 

Amor entre ferrolhos

 Amor de lágrimas florido na cruel distância
 amor do grito sufocado na garganta estraçalhada
 amor do abraço que prolonga a pausa de morrer

 Quem tão terrível inventou o mel de amor
 para entremeá-lo de escarpas de salitre
 E cravá-lo de punhais de afastamento?

 Quem tão horrendo e tão arrefecido
 fez do calor de um beijo a despedida
adeus que roça a morte do luar?

 Oh!, amor saudade silêncio a voz chorada
 caleidoscópio de muralhas fantasia
 pudesse reduzir o céu a uma gota!

 Ferrolhos de tanto amor amado!

 


 

Extraídos de:
VASCONCELOS, Adriano Botelho de, org. Todos os sonhos. Antologia da Poesia   Moderna Angolana.  Luanda: União dos Escritores Angolanos "Guaches da          Vida",   2005.  593 p.  N. 00 934


 

ANDRADE, Fernando Costa.  Luanda:  poemas em movimento marítimo.  s.l.: Executive Center, 1997.  s.p.  21x21 cm.  Desenhos:Neves e Sousa, A. Ole, H. Abranches e Va. Fotografias: C. Guimarães –Afoto, E. Canha, E. C. e do Autor.  Col. A.M. 

 

 

O velho pergunta ao destino

 

O velho pergunta ao destino

o que será da neta de dois anos

sulcos profundos

ravinas gretando a face

de guerras vividas nos dias todos

da vida.

 

Não tem resposta nem casa nem um leito nem remédios

(D. Moisés ou a Missão já estão distantes)

revolve o contentor e dorme em papelão

 

O esqueleto de um prédio e outros prédios

buracos e lagoas águas pútridas

cansados de silêncio e de quietude          

mina a raiz penetra os ossos

gera a revolta e com ela tudo o resto

o velho cala no olhar o brilho antigo

 

 

 

Luanda é o poeta ou o poema ?

 

Luanda é o poeta ou o poema ?
poema que nasce na Mutamba
e se aperta no mais cheio maximbombo
do Cazenga dos Ramiros ou da Funda
que importa a linha e o destino
se Luanda vai no verso
e no canto da sereia ?

Luanda é um poema que se canta ou pinta
e se dança em ritmos amantes e viscosos

 

 

 

Página publicada em janeiro de 2009; ampliada e republicada em setembro de 2010; ampliada e republicada em março de 2013.



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