POESIA ANGOLANA
CARLOS FERREIRA
Carlos Sérgio Monteiro Ferreira (Cassé) nasceu em Luanda aos 28 de fevereiro de 1960. Obras Publicadas: Projecto Comum (1982), Projecto Comunm II (1983), O Homem dos 4 Andamentos (1985), Sabor a Sal – Crónicas (1986), Começar de Novo (1988), Voz à Solta (1991), Marginal (1994), Namoro o Mar (1996), Ressaca (2000), Angústia do Fim (2001), e Quase Exílio (2003).
Poema Cinco
Busco um sítio.
Sinto-me.
Gela-me o sangue
tanta indiferença.
Está partido o banco da felicidade
Poema dez
Bêbado
desloco meus dedos fugazes
num piano à solta.
A sala
cheia
com teu nome.
Poema vinte e sete
Vestido de silêncio
os olhos a gritarem pontes da Xicala
nas ancas doces da mulata.
Um violão do Maiúca
numa canção do Pedra.
À parte isso
preservativos de todas as cores
para todos os sabores
Extraídos de:
VASCONCELOS, Adriano Botelho de, org. Todos os sonhos. Antologia da Poesia Moderna Angolana. Luanda: União dos Escritores Angolanos "Guaches da Vida", 2005. 593 p.
POESIA SEMPRE. Ano 13 Número 23 Angola e Moçambique Editor Marco Lucchesi.Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 2006. No. 10 370
Exemplar da biblioteca de Antonio Miranda.’
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Desço à cidade de fininho
como quem experimenta caminhar pela
primeira vez
criança a descobrir...
Estão geladas aas mãos ensaio
sussurrando uma melodia
de infância — o frère Jacques talvez
O coro é o vento mais a chuva
molhando as ideias
clamando este irrequieto tremor
do ártico a subir pelas minhas
entranhas
*
Aqui
mistério profano
havia um sonho e um punho
sem esmolas ocidentais
(nós os anti-imperialistas !)
Aqui
sagrado coração de maria
o poder para o povo
era pé em areia movediça
Aqui
o poeta
vende-se pouco a pouco
rasga as amarguras
destila o fel em tiba diárias
coragem fingida
Aqui
a potência morreu
sobrevive a sublime filha da putice
de estarmos quase todos à venda
In Quase Exílio
*
Página ampliada e republicada em abril de 2025.
Página publicada em setembro de 2011
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