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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


ALDA LARA

ALDA LARA
(1930-1962)
 

Alda Ferreira Pires Barreto de Lara Albuquerque nasceu em  Benguela, Angola, no dia 9 de junho de 1930. Viveu em Lisboa desde a adolescência, onde concluiU o liceu e frequentou as Faculdades de Medicina de Lisboa e de Coimbra (onde licenciou-se). Exerceu influência na renovação da poesia angolana, com seu comprometimento com a luta pela independência.

 

AS BELAS MENINAS PARDAS

As belas meninas pardas
são belas como as demais.
Iguais por serem meninas,
pardas por serem iguais.

Olham com olhos no chão.
Falam com falas macias.
Não são alegres nem tristes.
São apenas como são
todos dos dias.

E as belas meninas pardas,
estudam muito, muitos anos.
Só estudam muito. Mais nada.
Que o resto, trás desenganos>>>

Sabem muito escolarmente.
Sabem pouco humanamente.

Nos passeios de domingo,
andam sempre bem trabajadas.
Direitinhas. Aprumdas.
Não conhecem o sabor que tem uma gargalhada
(Parece mal rir na rua!...)

E nunca viram a lua,
debruçada sobre o rio,
às duas da madrugada.

Sabem muito escolarmente.
Sabem pouco humanamente.

E desejam, sobretudo, um casamento decente...

O mais, são histórias perdidas...
Pois que importam outras vidas?...
outras raças?... , outros mundo?...
que importam outras meninas,
felizes, ou desgraçadas?!...

As belas meninas pardas,
dão boas mães de família,
e merecem ser estimadas...

 

 

PRELÚDIO     

   

Pela estrada desce a noite

Mãe-Negra, desce com ela...

 

Nem buganvílias vermelhas,

nem vestidinhos de folhos,

nem brincadeiras de guisos,

nas suas mãos apertadas.

Só duas lágrimas grossas,

em duas faces cansadas.

 

Mãe-Negra tem voz de vento,

voz de silêncio batendo

nas folhas do cajueiro...

 

Tem voz de noite, descendo,

de mansinho, pela estrada...

 

Que é feito desses meninos

que gostava de embalar?...

 

Que é feito desses meninos 

que ela ajudou a criar?...

Quem ouve agora as histórias

que costumava contar?...

 

Mãe-Negra não sabe nada...

 

Mas ai de quem sabe tudo,

como eu sei tudo

Mãe-Negra!...

 

Os teus meninos cresceram,

e esqueceram as histórias

que costumavas contar...

 

Muitos partiram p'ra longe,

quem sabe se hão-de voltar!...

 

Só tu ficaste esperando,

mãos cruzadas no regaço,

bem quieta bem calada.

 

É a tua a voz deste vento,

desta saudade descendo,

de mansinho pela estrada..

 

 

Lisboa, 1951 (de Poemas, 1966

 

 

PRESENÇA AFRICANA

 

E apesar de tudo,

Ainda sou a mesma!

Livre e esguia,

filha eterna de quanta rebeldia

me sagrou.

Mãe-África!

 

Mãe forte da floresta e do deserto,

ainda sou,

a Irmã-Mulher

de tudo o que em ti vibra

puro e incerto...

 

A dos coqueiros,

de cabeleiras verdes

e corpos arrojados

sobre o azul...

A do dendém

Nascendo dos braços das palmeiras...

 

A do sol bom, mordendo

o chão das Ingombotas...

A das acácias rubras, 

Salpicando de sangue as avenidas,

longas e floridas...

 

Sim!, ainda sou a mesma.

A do amor transbordando

pelos carregadores do cais

suados e confusos,

pelos bairros imundos e dormentes

(Rua 11!... Rua 11!...)

pelos meninos

 

de barriga inchada e olhos fundos...

 

Sem dores nem alegrias,

de tronco nu

e corpo musculoso,

a raça escreve a prumo,

a força destes dias...

 

E eu  revendo ainda, e sempre, nela,

aquela

Longa história inconsequente...

 

Minha terra...

Minha, eternamente...

 

Terra das acácias, dos dongos,

dos cólios baloiçando, mansamente...

Terra!

Ainda sou a mesma.

 

Ainda sou a que num canto novo

pura e livre,

me levanto,

ao aceno do teu povo!                                

 

            Benguela,1953 (de  Poemas,1966)  

 

 

TESTAMENTO

 

 

À prostituta mais nova

Do bairro mais velho e escuro,

Deixo os meus brincos, lavrados

Em cristal, límpido e puro...

 

E àquela virgem esquecida

Rapariga sem ternura,

Sonhando algures uma lenda,

Deixo o meu vestido branco,

O meu vestido de noiva,

Todo tecido de renda...

 

Este meu rosário antigo

Ofereço-o àquele amigo

Que não acredita em Deus...

 

E os livros, rosários meus

Das contas de outro sofrer,

São para os homens humildes,

Que nunca souberam ler.

 

Quanto aos meus poemas loucos,

Esses, que são de dor

Sincera e desordenada...

Esses, que são de esperança,

Desesperada mas firme,

Deixo-os a ti, meu amor...

 

Para que, na paz da hora,

Em que a minha alma venha

Beijar de longe os teus olhos,

 

Vás por essa noite fora...

Com passos feitos de lua,

Oferecê-los às crianças

Que encontrares em cada rua...


NOITE

 

Noites africanas langorosas,

esbatidas em luares...,

perdidas em mistérios...

Há cantos de tungurúluas pelos ares!...

....................................................

onde o barulhento frenesi das batucadas,

põe tremores nas folhas dos cajueiros...

......................................................

Noites africanas tenebrosas...,

povoadas de fantasmas e de medos,

povoadas das histórias de feiticeiros

que as amas-secas pretas,

contavam aos meninos brancos...

 

E os meninos brancos cresceram,

e  esqueceram

as histórias...

 

Por isso as noites são tristes...

Endoidadas, tenebrosas, langorosas,

mas tristes... como o rosto gretado,

e sulcado de rugas, das velhas pretas...

como o olhar cansado dos colonos,

como a solidão das terras enormes

mas desabitadas...

 

É que os meninos brancos...,

esqueceram as histórias,

com que as amas-secas pretas

os adormeciam,

nas longas noites africanas...

 

Os meninos-brancos... esqueceram!...

 

 

1948-Outubro (de Poemas1966)

 

 

Rumo

 

É tempo, companheiro!

Caminhemos ...

Longe, a Terra chama por nós, 

e ninguém resiste à voz 

Da Terra ...

 

Nela,

O mesmo sol ardente nos queimou

a mesma lua triste nos acariciou,

e se tu és negro e eu sou branco,

a mesma Terra nos gerou!

 

Vamos, companheiro ...

É tempo
 

Que o meu coração

se abra à mágoa das tuas mágoas 

e ao prazer dos teus prazeres 

Irmão

Que as minhas mãos brancas se estendam 

para estreitar com amor

as tuas longas mãos negras ... 

E o meu suor 

se junte ao teu suor, 

quando rasgarmos os trilhos 

de um mundo melhor!

 

Vamos!

que outro oceano nos inflama.. .

Ouves?

É a Terra que nos chama ...

É tempo, companheiro!

Caminhemos ...

 

Página publicada em novembro de 2008

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