Home
Sobre Antonio Miranda
Currículo Lattes
Grupo Renovación
Cuatro Tablas
Terra Brasilis
Em Destaque
Textos en Español
Xulio Formoso
Livro de Visitas
Colaboradores
Links Temáticos
Indique esta página
Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 

LUIZA NETO JORGE

(1939-1989)

 

Nació en Lisboa, en 1939. Estudió Filología Románica en la Universidad de Lisboa. Residió largo tiempo en París, regresando a Portugal en 1971. Ha traducido a Michaux, Bretón, Appolinaire, Bivian Y Nerval, entre otros. Colaboró como argumentista y dialoguista en varios filmes y realizó adaptaciones teatrales, entre otras actividades artísticas.

 

TEXTOS EM PORTUGUÊS   /    TEXTOS EN ESPAÑOL

 

 

         O poema

 

         I

         Esclarecendo que o poema

         é um duelo agudíssimo

quero eu dizer um dedo

agudíssimo claro

apontando ao coração do homem

 

falo

com uma agulha de sangue

a coser-me todo o corpo

à garganta e a esta terra imóvel

onde já a minha sombra

é um traço de alarme

 

II

Piso do poema

chão de areia

 

Digo na maneira

mais crua e mais

intensa

de medir o poema

pela medida inteira

 

o poema em milímetro

de madeira

ou apodrece o poema

ou se ateia

 

ou se despedaça

a mão ateia

ou cinco seis astros

se percorre

antes que o deserto

mate a fome

 

 

Os olhos

 

Os olhos poderiam viver

única

mente

 

Conhecem o ventre

à mãe

viram nascer

 

São atrozes

viram-se

 

Continuam os ócios interiores

 

 

A língua

 

A língua

que é líquido

sacro

não transborda

 

um dedo

que tocou

 

a palavra

não a aborda

 

 

Este ano

 

Este ano cresceu de joelhos

a noite conservou as quatro luas

as crianças têm seus cabelos

seus gritos de paz intransmissíveis

 

 

O homem que fugiu

 

O homem que fugiu

fugiu da lei

que estrada o vestiu

não sei

 

Acredito que era

o gêmeo

de um pássaro alerta

com a cabeça

a prêmio

 

O homem que fugiu

é meu

se alguém o pariu

deve ter sido eu

 

sua amante-mãe

mulher

que inventa o que ele vê

e o fere

 

O homem que fugiu

ganhou ao jogo

a mão incrustada

com que rouba

o fogo

 

e vos rasga o sono

em tiras

para que não sonheis

mentiras

 

 

Eu, artífice

 

Atento agora ao traço,

corrijo o mais da matéria,

ego a minha arte do poço

onde flutua.

 

Como o brilho se desprende

do metal mais bravo,

no forro de cada um

o desgaste é tanto

 

que eu, artífice, colho

o que de mim alimenta,

falo do que estou sendo,

da sua mão em desordem,

dos passos, das lágrima baixas

que se vão constituindo.

 

 

Pelo corpo

 

infinita invenção

de pétala a escaldar

desprende o falo

 

a palavra sublimada

que é ele a avançar-me

pelo corpo

 

a porta giratória

que me troca

pelo homem e, a este,

 

o fértil trajo

que lhe cria mais seios

pelo corpo

 

 

A solidificação: a solidão

 

os corpos gasosos movem-se

em correntes de ar

que solidificadas são

grossas paredes a separar

os outros corpos

a separar todos

os débeis estados da matéria

 

 

A quem se interesse

 

A quem se interesse

por tecidos, peles

sistemas de ocultação

 

lembro Bartolomeu

santo, mártir, manequim

 

o que há séculos passeia

sobre os ombros

ou dependurada no braço

feita capa

a sua pele escorchada

 

adereços:

os pés e as mãos,

a murcha máscara

da cara.

 

 

Anos Quarenta, os Meus

 

De eléctrico andava a correr meio mundo

subia a colina ao castelo-fantasma

onde um pavao alto me aflorava muito

em sonhos à noite. E sofria de asma

 

alma e ar reféns dentro do pulmao

( como um chimpanzé que à boca da jaula

respirava ainda pela estendida mao ).

Salazar tres vezes, no eco da aula.

 

As verdiças tranças prontas a espigar

escondiam na auréola os mais duros ganchos.

E o meu coito quando jogava a apanhar

era nesse tronco do jardim dos anjos

 

que hoje inda esbraceja numa árvore passiva.

Níqueis e organdis, espelhos e torpedos

acabou a guerra meu pai grita "Viva".

Deflagram no rio golfinhos brinquedos.

 

Já bate no cais das colunas uma

onda ultramarina onde singra um barco

pra cacilhas e, no céu que ressuma

névoas águas mil, um fictício arco-

-irís como é, no seu cor-a-cor,

uma dor que ao pé doutra se indefine.

No cinema lis luz o projector

e o FIM através do tempo retine. 

==========================================================================

 

De
Luiza Neto Jorge
CORPO INSURRECTO
e outros poemas

Organização Floriano Martins
Ilustrações Valdiney Souza Suzart
São Paulo: Escrituras, 2008.  143 p.  (Coleção Ponte Velha_
ISBN978-85-7531-308-4

 

E DO ESPANTO II

consagraram-me
ao espanto
que de minúsculo há
no mar
e ímpar sobre a pele

criança
circuncidada a foto e morte
(no céu da boca a memória absurda
das abóbadas)

mais
que na cidade
a matriz
dos arranha-céus líquidos

muito mais
que nos cartões
as clandestina chagas
digitais

o espanto permanece
por frestas e
por ombros
qualquer
onde e
quando    
               

A BOCA

em espessura do tempo feito infindo
em amor me feria     diltava

a boca era um leito um órgão de lava

A LÍNGUA

A língua
que é líquida
sacro
não transborda

um dedo
que tocou
a palavra
não a aborda.


ALGO SE ME ASSEMELHA

Algo se me assemelha
e me quer para si

me desembainha
quando menos espero

Distorção do espírito
para a morte

como o corpo num salto
irremediavelmente
lento
e
alto

 

---------------------------------------------------------------------------------- 

TEXTOS EN ESPAÑOL

Traducción de Xosé Lois García

 

 

         El poema

 

I

Aclarando que el poema

es un duelo agudísimo

queiro decir um dedo

agudísimo claro

apuntando al corazón del hombre

 

hablo

con una aguja de sangre

que me cose todo el cuerpo

a la garganta

 

y a esta tierra inomóvil

donde ya mi sombra

es un motivo de alarma

 

II

Piso del poema

suelo de arena

 

Digo en la forma

más cruda y más

intensa

de medir el poema

por la medida entera

 

el poema en milímetro

de madera

 

o se pudre el poema

o se quema

 

o se despedaza

la mano atea

 

o cinco seis astros

se explotan

 

antes que el desierto

mate el hambre

 

 

Los ojos

 

Los ojos podrían vivir

única

mente

 

Conocen el vientre

a la madre

vieron nacer

 

Son atroces

se giran

 

Continúan los ócios interiores

 

 

La lengua

 

La lengua

que es líquido

sagrado

no rebosa

 

um dedo

que toco

 

la palabra

no la aborda

 

 

Este año

 

Este año creció de rodillas

la noche conservo las cuatro lunas

los niños tienen sus cabellos

sus gritos de paz intransponibles

 

 

El hombre que huyó

 

El hombre que huyó

huyó de la ley

qué carretera lo protegió

no sé

 

Creo que era

el gemelo

de un pájaro alerta

con la cabeza

a precio

 

El hombre que huyó

es mío

si alguien lo parió

debo haber sido

yo

 

su amante-madre

mujer

que inventa lo que él vê

y lo hiere

 

El hombre que huyó

ganó el juego

la mano incrustada

con que roba

el fuego

 

y os rasga el sueño

en tiras

para que no soñéis

mentiras

 

 

Yo artífice

 

Atento ahora al trazado,

corrijo el exceso de la materia,

levanto mi arte del pozo

donde fluctúa.

 

Como el brillo se desprende

del metal más bravo,

en el interior de cada uno

del desgaste es tanto

 

qye yo, artífice, cojo

lo que de mí alimenta,

hablo de lo que estoy siendo,

de su mano en desorden,

que los pasos, de las lágrimas bajas

que se van constituyendo.

 

 

Por el cuerpo

 

Infinita invención

de pétalo escaldando

desprende el falo

 

la palabra subrayada

que es él avanzándome

por el cuerpo

 

la puerta giratória

que me cambia

por el hombre y, a este,

 

el fértil traje

que le crea más senos

por el cuerpo

 

 

La solidificación: la soledad

 

los cuerpos gaseosos se mueven

en corrientes de aire

que solidificas son

grandes paredes separando

los otros cuerpos

separando todos

los débiles estados de la materia

 

 

Poemas extraídos de HORA DE POESIA 27/28 Año 1983. “Antología de la actual poesia

portuguesa”, volume cedido pelo poeta Aricy Curvello para a Biblioteca Nacional de Brasília, reprodução com a autorização do tradutor Xosé Lois García.

Página publicada em abril de 2008; ampliada e republicada em dezembro 2010

 



Voltar para a Página de Portugal Voltar para o topo da Página

 

 

 
 
 
Home Poetas de A a Z Indique este site Sobre A. Miranda Contato
counter create hit
Envie mensagem a webmaster@antoniomiranda.com.br sobre este site da Web.
Copyright © 2004 Antonio Miranda
 
Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Home Contato Página de música Click aqui para pesquisar