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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


BUENO DE RIVERA

BUENO DE RIVERA
(1911-1982)

 

 

Odorico Bueno de Rivera Filho, mais conhecido por Bueno de Rivera (3 de abril de 1911, Santo Antônio do Monte, Minas Gerais—25 de junho de 1982, Belo Horizonte) foi um radialista e poeta surrealista brasileiro.

 

Obras publicadas: Mundo Submerso (1944); Luz do Pântano (1948); Pasto de Pedra (1971)

 

“Em sua poesia, Rivera vasculha regiões submersas, indevassáveis, tais como poços, profundidades marítimas, com o intuito de descer às regiões de penumbra do inconsciente. Paralelamente a essa busca pelo subsolo do eu, o autor irá revelar sofrida consciência existencial, sempre desperta ante a realidade fatal da morte”.  Alexandre B, em seu blog http://arquipelagodosilencio.blogspot.com 

 

 

Texto de BUENO DE RIVERA em italiano>>>

 

 

TEXTOS EM PORTUGUÊS    /    TEXTOS EN ESPAÑOL

 

TEXT IN ENGLISH

 

TEXTS EN FRANÇAIS

 

 

 

 

OS DESTINOS URBANOS

 

O tráfego é previamente fixado

e todos os sensatos vivem o seu minuto.

 

Onde está o louco para um discurso

sobre os acontecimentos futuros?

 

Ah! se pudesses, dormirias

sob as árvores da praça, sem cuidados,

te banharias em público, comerias

o teu pão na calçada...

 

Vives no tempo dos relógios. Os teus passos

são contados, tuas horas são rações

minguadas na fome de ser livre.

E impaciente esperas numa esquina

um mágico que te indique

a porta, te mostre a claridade e ordene a fuga!

 

Onde estão os mágicos?

Dormem.

E o louco dos comícios?

Morto.

Morto o pássaro, o lírio extinto,

calado o mar,

o coração do homem pulsa

sob as pedras.

 

 

O POÇO

 

Amigos, silêncio.

Estou vendo o poço.

 

No fundo profundo eu me vejo

presente. Não é

cacimba de estrelas. Amigos, é o poço.

 

Apenas o poço. A vela na lama

como um dedo de fogo.

Ânsia de afogado,

suspiros em bolhas.

O susto no sono.

A sombra descendo sobre os aposentos,

o suor nos espelhos. A sombra

abafando a criança, a sombra fugindo.

A mão pesada sobre a boca torta,

o grito parado no rosto.

O copo d’água em goles trêmulos...

 

Amigos, silêncio.

Eu vejo o poço.

 

O vento da hora morta. Os avós sorrindo,

tão meigos sorrindo. E a morte tão viva!

(Minha mãe não esperou a guerra,

não sabe notícias do mundo, não responde).

 

A tosse acordando os irmãos,

e eu, pela madrugada, carregado nos ombros de meu pai.

 

 

ITINERÁRIO DE ÂNGELA

 

No mapa, meus olhos seguem os teus caminhos abstratos,

rosa dos hemisférios.

Nenhuma aurora anuncia a tua vinda

mas a tua presença é múltipla e real.

Florescem os teus pés em cada porto.

Andas e cresces, flor do enigma,

as pétalas no céu, o caule sobre o mar.

 

Nasce um lírio no Volga.

Uma criança chora, a estrela desce

meiga, pousa no berço, a criança sorri.

É a filha do rio heróico. Ó barqueiros, cantai!

 

A madrugada escolar em Káunas. Duas tranças

e a fita como um pássaro voando no retrato.

A neve nos telhados, um rosto na vidraça,

árvores de gelo na distância

e os teus brinquedos nevando na memória...

 

Cantam junto à lareira as quatro irmãs.

Embarcas na música, docemente viajas,

a face vogando no outro lado do mundo.

Um trem na fronteira.

O tio pálido, as primas chorando, o adeus.

Longe, Mariâmpolis dormindo

e os teus avós rezando na profunda Rússia.

 

E voas sobre o mar. És pomba, arco-íris,

sinal do céu, rosa boiando, lua

sobre as âncoras, os peixes e os corais.

 

Salve a imigrante! Ela caminha

pura e serena ao encontro do afogado.

 

 

 

Extraídos de:  RIVERA, Bueno. Os melhores poemas de Bueno de Rivera. Seleção de Affonso de Romano Sant’Anna. São Paulo: Global: 2003.

 

 

 

 

Imagem extraída  de

DIAS-PINO, Wlademir.  A lisa escolha do carinho (Rio de Janeiro: Edição Europa, s.d.  
20,5x20,5 cm.  33 f. ilustradas  (Coleção Enciclopédia Visual).   Inclui versos de 
poetas brasileiros

Extraído de

 

POESIA SEMPRE.  Ano 18.  2012. Número 36.  Edição dedicada a Minas Gerais. Rio de Janeiro: Ministério da Cultura, Fundação Biblioteca Nacional, 2012. Editor Afonso Henriques Neto.

 

O açougue

Apenas na sombra tranquila
o açougue aceso.

Os pés do boi sem caminhos,
os olhos do boi sem paisagens.

Ah! a fazenda da infância,
o banho no rio, o leite,
serenas pastagens, o gado
dormindo em paz entre as árvores.

Boi heroico,
boi amigo, boi morto.

A mosca, como um desejo,
entre as carnes e a lâmpada.

Mundo mau, matança fria
de inocentes.
Homens e bois resignados...

 

Canto do afogado

O que fui, as águas não devolvem.
No sumidouro me perdi.

Os amigos procuram um corpo entre as sarças.
Trazem roupas de banho, redes novas,
escafandros no bolso. Eles não sabem
que o afogado sonha entre as anémonas.

0 pássaro entende os caminhos do mar,
o galo da manhã conhece a estrela,
mas vós, amigos, ignorais a face
imóvel sob as águas.

 

0 cordeiros da infância,
no olho do peixe está a origem.

 

O poeta na sapataria aquário

 

Os pés no espelho

são orquídeas, borracha, pão e chumbo.
Cruzam o espaço, voam como pombas, dançam
no encerado, beijam cortinas,
tornam-se flores, músculos, galopes.

 

Canta o sapato de noiva, pássaro
na redoma.

Soluça o chinelo enfermo, dobra-se
em penitência a sandália de beira.
Sobre a unha pintada,
a bailarina se dilui. Range no chão
a botina operária. Como é sólida!

 

Um sapato, um destino.

Estes dormem na vitrina fluorescente,

entre luas de seda.

São raros na chuva, entre o mercado e o povo.
Sonham na caixa os sapatos de anjinho,
enterro de vila. meninas de branco, choro
na escola pública.

 

No espelho, o couro de boi se multiplica.

Vejo o boi fantasma.

o coração na claridade boreal

dos frigoríficos.

Esposa, a morte do boi é o teu presente,
teus sapatos azuis, a ceia e o baile.

 

Nojo os pés em mergulho.

dedos de esponja.

saltos de coral e espuma.

Rolam as salamandras sob a perna,

sob a liga. a meia e o corpo vário.

A moça e o emprego, o homem e a fábrica.

a mãe e o hospital.

 

Pego o embrulho, busco a rua e as pedras.
Dói o calo. dói o mundo...

 

 

 

 

TEXTOS EN ESPAÑOL

Traducción de JAIME TELLO


[CUATRO SIGLOS DE POESÍA BRASILEÑA. Centro Abreu e Lima de Estudios Brasileños. Instituto de Altos Estudios de América Latina. Universidad Simón Bolívar.   Caracas, 1983]

 

ELSUEÑO

 

Inútil cerrar con violencia las puertas.

          Vendrá el sueno.

La mano impasible cerrará los párpados,

te marchitarás entonces como un fruto inútil.

El abandono cruzará tus brazos en el pecho,

los dedos encenderán las velas.

Vendrá el gran sueño, soldará tus pies.

 

Cuando suene la campana del alba,

          ya no existirás.

En la bruma se apagarán los teléfonos,

los recados angustiados, las horas marcadas,

          los negocios.

El reloj del escritorio se diluirá

en el mundo remoto de los vivos.

El sueño se posará en tu frente

y encenderá un nuevo sueño

en tu profundo olvido.

 

                             (Mundo Submerso)

 

 

LAS PLAÑIDERAS

 

Las plañideras oficiales siguen

          vuestro entierro imaginario,

depositan flores en el futuro mausoleo.

 

Están lívidas

y sus ojos de piedra lloran como fuentes.

 

Se inclinan sobre los lechos. En sus hombros

ruedan los cabellos mortuorios.

 

Ellas os ofrecen los salmos de la agonía,

escriben vuestros billetes suicidas,

os dan la cerveza fatal, muestran el revólver

          en el espejo.

 

Están junto a vosotros como invitadas

al mismo almuerzo, beben en la misma copa,

confrontan vuestros cronómetros. Son lúcidas.

 

En el pozo del camino os esperan,

vestidas de crepúsculo.

 

                             (Luz do Pântano)

 

 

EL GINECÓLOGO

 

Una flor se extiende

en la toalla aséptica.

 

Los instrumentos claros

hierven las aguas vivas,

sádicas envolviendo

los rudos utensilios.

 

Doctor, sus guantes

profanarán la rosa.

Yo le entrego un cuerpo

más puro que la estrella,

un cuerpo que otros hombres

jamás alcanzaron,

ni dedos extraños

tocaron siquiera.

Póngase sus guantes,

que la flor lo espera.

 

El delantal se agita

como un pájaro extraño

sobre el cuerpo blanco

de la mujer que amo.

 

La mano impaciente

hiere el pétalo, invade

el ser que es mi ser...

Trémulo de angustia,

quiero salir, no puedo.

Acobardado, inmóvil,

asisto al sacrificio.

 

Miro en torno, busco

la resignación.

He aquí el fichero azul

repleto de minucias

de vientres violados.

Frascos en silencio,

lirios en un vaso,

una tijera impune.

El algodón volando,

ave del pavor

en el pantano de sangre.

He aqui que la cabeza

serena dei sábio

se posa sobre los senos.

Ausculta.—“¿ Qué dice

el corazón, doctor?"

El me sonríe, escéptico.

De nuevo sumerge

los guantes en lisol.

—“¿ Y el hijo.doctor?"

—“Tu hijo, quién sabe

si jamás vendrá".

 

Llora entre mis brazos

una rosa estéril.

 

                   (Luz do Pântano)

 

 

ELEGIA DE LOS MUERTOS DEL SIGLO

 

Piadosos muertos,

sacrificados para que viviésemos,

nosotros, los ahogados, os saludamos.

Algas y cabellos, espíritu y manos

          aletean un adiós.

Muertos, і adiós!

 

i Cómo sangra en el corazón la palabra soldado!

No son más los cuarteles,

          son los símbolos marchando,

la ciudad marchando entre el

          crepúsculo y la aurora.

 

Muertos del crepúsculo, muertos del catorce,

inútilmente muertos.

Muertos del cuarenta, marchan vuestros hijos...

Muertos de la aurora, ¿qué será de nosotros?

 

                                      (Luz do Pântano)

 

 

TEXT IN ENGLISH 

 

 

 

AN INTRODUCTION TO MODERN BRAZILIAN POETRY. Verse translations by Leonard S. Downes.  [São Paulo]: Clube de Poesia do Brasil, 1954.  84 p.   14x20 cm.  “ Leonard S. Downes “ Ex. Biblioteca Nacional de Brasília.

 

DRY EYES

I am not even a groan amid the general lamentation,
Dry eyes, hands in pocket, dejections´s self.

I see the dance through lighted windows,
How happy are men without memory!

Other windows, the coffin, the candles in the silence.
The curtains like souls set free,
the mother´s tears on the black handkerchief.
My steps hurt as they go singing on the pavement.
The quiet stars ponder the hours,
but my eyes re troubled and no one understands.

The knot in the throat, the stifled cry,
the ember in the ashes…

 

From
         REVISTA DE POESIA E CRÍTICA. Ano XIV no 15 Brasília, 1990. Diretor responsável: José Jézer de Oliveira

 

         THE SWORD

         Over your head there hangs a sword.
         Not a movement, do not call
         or make a sign, or the sword
         may fall.

         Na inch or two above your hair
         There hangs a naked sword. Take care!
         Do not swear or even pray
         a silente prayer, or else the blade
         will fall.

         Do not move na arm or turn
         to look towards the peaceful sea.
         Look straight ahead and do noto flinch.
         The shadow trembles. "This is the breeze
         stroking the sword.

         To the right of you your friends
         insult you. Silence, not a breath.
         Do not move or else the sword
         will fall and let your friends
         enjoy your death.

         Girls with hands as soft as petals
         Woo your body with caresses.
         Do not weaken, or, who knows,
         if the thread should break, the sword
         destroys your love.

         Your colleagues here upon left
         are telling stories. Do not  laugh,
         for mirth can kill.

         Is the sword remorse or blessing?
         None can say... You only know
         that the invisible is hanging
         over your pale head.

                   (Translated by Leonards S. Downes)

 

 

TEXTS EN FRANÇAIS

 

 

BUENO DE RIVERA

 

 

Extraído de  

TAVARES-BASTOS, A. D.  La Poésie brésilienne contemporaine.  Antologie réunie, préfacée et traduite par…   Paris: Editions Seghers, 1966.  292 p.   capa dura, sobrecapa.  Ex; col. bibl. Antonio Miranda 

 

 

 — Né à Santo-Antônio do Monte (Minas Gérais) en 1914.

Ce poète de Minas Gérais est d'avant-garde, lui aussi. Il fait partie du mouvement appelé post¬moderniste soutenu par le Groupe Orfeu. Un cri¬tique brésilien, M. Alvaro Lins, le considère même comme le plus intéressant de cette équipe et Vappa-rente aux poètes de la génération précédente.

 

Bibliographie : Mundo submerso, 1944; Luz do pântano, 1947.

 

 

 

LES NOYÉES

 

Des eaux perdues

Monte le chant des noyées.

 

Des yeux submergés s'éteignent,
des cheveux dansent sur les flots.

 

Des baisers surnagent.

 

Des bateliers aux traits rudes

jettent les vierges dans la rivière impure.

 

Les mains affligées s'agitent
cherchant les plages de l'impossible.

 

Un œil de naufragé luit

comme un phare de lumière blafarde.

Le cri rauque des noyées

envahit le monde comme un remords.

 

« MUNDO SUBMERSO »

 

 

 

MATIN

 

Le pain parmi les fleurs à la fenêtre,

le pot de lait sous la rosée.

Les roses et les enfants nus

attendant le soleil sous le porche.

Je lis dans le journal la phrase magique

« Gloire à ceux qui surgissent ! »

 

Le coq du voisin, la lune encore
égarée dans le ciel clair.
L'eau fraîche sur la figure,
les idées comme une écume.

 

Le point du jour dans mon esprit.
Je sens les joies, les affections
comme des corolles allumées.
La cravate comme un symbole.
Les vêtements légers emportent
mon corps par les rues.
Allons effacer la haine
sur le visage de nos semblables.
Allons déchirer l'histoire.
Supposons, mes frères,
que cette journée si pure
est la première du monde !

 

Je consulte la montre et le calendrier,

ma tête tombe dans mes mains.

Inutile la joie

amoureuse du matin,

les effluves, les extases.

Le jour point dans l'oiseau, la fleur,

dans le travail des abeilles,

la pureté des enfants,

mais le soir tombe sur les épaules,

il fait nuit dans les esprits.

L'homme se réveille et ne sait pas

que la vie attend au coin de la rue.

 

(Idem)

 

 

 

LES SOUTERRAINS                  

 

Un peuple d'abstraits
dans la mémoire lucide.
La vie souterraine
s'agite obscure
dans l'être sans limites.

 

La procession des morts
dans les rues profondes,
et une lune morbide,
une lime ancienne
éclaire les lacs où
chantent les noyés.
Dans les jardins déserts
dorment les roses,
mais sur les figuiers
croît la fleur des pendus.

 

Mes morts divaguent

dans le pays de l'insomnie.

Ils sont des pensées pures

plus vivantes dans le temps.

Us sont des parents, des oiseaux,

des femmes enveloppées

de voiles et de remords,

un chat sur les rails,

un cheval dans l'incendie,

la maîtresse d'école toquée

dans la glace fantastique.

 

Quelle est cette allégresse

qui me fait blêmir ?

Ce sont les collègues, ils jouent

dans une cour sans lumière.

Compagnons morts

dans un accident. De loin

ils m'invitent : viens !

 

Je ne vois pas leurs yeux,
ni leurs figures.
Sont-ils des visages aveugles
ou des enfants magiciens ?

 

Dans la pièce froide
ornée d'affections,
je sens qu'il y a quelqu'un,
que ce quelqu'un me parle.
Je serre les bras : rien,
je tends la main : personne.
Ce n'est ni ange ni spectre
ni corps, c'est la lumière
qui m'appelle : « mon fils ! »

 

J'accours anxieux ; la voix

s'éloigne intangible,

son éclat se perd

par les sous-sols nocturnes.

 

Vagues habitants
des claires surfaces,
n'approchez pas.
Laissez-moi me pencher
imprudent sur le puits,
le puits infini
où tombent les pierres
mais on n'entend jamais l
e sanglot des pierres.

 

« LUZ DO PANTANO »

 

 

LES PLEUREUSES

 

Les pleureuses officielles suivent votre enterrement imaginaire,

déposent des fleurs sur le mausolée de l'avenir.
Elles sont blêmes

et leurs yeux de pierre pleurent comme des sources.

 

Elles planent au-dessus des lits. Sur leurs épaules
tombent les chevelures mortuaires.

 

Elles vous apportent les psaumes de l'agonie,
écrivent vos billets de suicidé,

vous offrent le fatal demi, vous montrent le revolver dans
                                                                            la glace.

 

Elles sont auprès de vous comme des convives
d'un même repas, boivent dans le même verre,
confrontent vos chronomètres. Elles sont lucides.

 

Dans le puits au bord du chemin, elles vous guettent,
vêtues de crépuscule.

 

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POEMAS DE BUENO DE RIVERA

         Traducción y nota de GABINO-ALEJANDRO CARRIEDO

 

Extraídos de

         REVISTA DE CULTURA BRASILEÑA 20.   Tomo VI, Marzo 1967. 

 

He aquí uno de los poetas más importantes—y de los más inquietantes y sorprendentes también—de la llamada generación brasileña del 45, que venimos desde hace algún tiempo estudiando.

<— Nacido el 3 de abril de 1914 en la ciudad de Santo Antonio do Monte, al oeste del Estado de Minas Gerais, no es mucho lo que sabemos de él; apenas algo de su dedicación particular y también que ha publicado solamente dos libros: el primero, Mundo Sub-merso, en 1944, a cumplir el poeta los treinta años de edad, y Luz do Pantano, cuatro años después. No conocemos otras publicaciones poéticas suyas. Las antologías tampoco son más explíticas. Ni siquiera su fotografía ha sido, que sepamos, divulgada. Ello hace que la obra de Bueno de Rivera sea en el Brasil siempre esperada con expectación y curiosidad por los amantes de la buena poesía.

La vida de este poeta aparece marcada por dos acontecimientos trascendentales que necesariamente han de influir en su obra: la guerra europea, que acompaña los años de su infancia, y la última guerra mundial, a cuyos estruendos escribe y publica sus primeros poemas. Este, en realidad, es el signo de toda esa desalentada, incomprendida y huérfana generación del 45, de tan evidente vinculación con el Modernismo y sus ascendencias, unas ascendencias que en no pocas ocasiones se remontan al Romanticismo. Un ideal y un esquema románticos y, en cierto modo, naturalistas flotan de manera permanente en la obra de Bueno de Rivera, que no obstante acusa las preocupaciones estéticas entonces en boga en el mundo. Con un lenguaje preciso, de urgencia y descarga, el poeta oscila entre lo metafísico y lo real, aunque más bien creemos que lo primero le sirve a Bueno de Rivera para expresar con esquemas tradicionales el grito descarnado de la realidad social envolvente. De este modo, su lenguaje será a veces bíblico, apocalíptico, del Eclesiastés, como en su poema El profeta, que hemos traducido, terrible visión de un mundo en descomposición que necesita regenerarse por medio de una gran hecatombe providencial—o meramente física—y en el que intuye la salvación por el retorno a las puras edades edémicas. Una neogénesis superando las visiones de Blake, y enriqueciéndolas, además, con el dolor.

No sería poeta—y un buen poeta—Bueno de Rivera si no soñara un mundo mejor y más justo. Su inconformismo, su evidente inadaptación, le llevan de lo subjetivo a lo objetivo y viceversa, pero siempre—en sí mismo y en cuanto le circunda—sus versos acusan el permanente drama de la Humanidad tan sólo agravado por el combate de los egoísmos y el odio que jalona su infancia y , su juventud. He ahí todo el desamparo de esa generación-puente, provisional, un tanto perdida, del 45, que ni siquiera pudo gozar de la asistencia y comprensión de los displicentes maestros.

La Generación del 45 (salvo acaso sólo en su figura más destellante ) no fue precursora de nada, pero fue honesta y consciente y, sobre todo—aunque sigan discutiéndolo los contumaces—fue generación. Asombra la identicidad, la similitud de credo estético y humano de sus componentes. No es preciso señalar, pero poemas de algunos de ellos se nos aparecen totalmente identificados hasta el extremo de poder trocarse la paternidad.

Queda por resaltar nuestra preferencia por el segundo de los dos únicos libros publicados por Bueno de Rivera: Luz do Pantano, al que en este trabajo hemos prestado mayor atención y que nos gustaría ver publicado enteramente en una editorial española. En verdad, los cuatro años que le separan del primero fueron para Bueno de Rivera fundamentalmente provechosos, pues en ellos alcanza el magisterio.

 

EL PROFETA

 

A la memoria de Joao Alphonsus

 

LLEGARÁ el tiempo, el mundo se poblará de sombras,
sólo habrá gestos inútiles entre los túmulos.

 

Se pararán los relojes en el minuto supremo.
La agonía vendrá con la tiniebla.

 

Las manos enormes condenarán las puertas,
los pies del soldado machacarán las rosas.

 

Los mansos dejarán los valles húmedos.

Se secará la leche de las madres, caerán los hambrientos,
se oirán gritos. Los cuervos bajarán.

 

Será el abismo.

 

 

OTRA vendrá. Lejos la madrugada.
Ni trompeta, ni voz, ningún anuncio
de redención, el caos tan sólo.

 

Los que hoy nacieron, se marcharán.
Inútil proseguirá la busca de lo imposible.

 

Ese rumor sin fin

perturba el sueño de los iluminados. 

 

VENDRÁ el tiempo en que las madres repudiarán los frutos
porque los vicios turbarán su ternura.
 

En la ventana abierta no se oirán ya más risas
ni cantarán los niños con los ojos de luna.

 

Los hogares estarán vacíos, las flores se ajarán en los búcaros.

 

 

LOS pájaros de fuego bajarán de las nubes,
las aves de la tierra huirán afligidas.

 

Al resplandor de la montaña, sombras guerreras
se proyectarán en los valles desiertos.

 

Pero el último poeta

paseará tranquilo entre las ruinas.

 

 

LA verdad morirá en la lengua inútil.
Gestos confusos clamarán en las calles.

 

Vendrá después un pie gigante en llamas que aplastará el corazón del sabio.
 

Y los brutos cantarán victoria.
 

EL último mendigo morirá en el asfalto.

 

Vírgenes dando gritos dejarán los clubs,
abandonando el velo en las espinas.

 

Sonará el violín desalentado

en las manos del vendedor de flores.
 

Los pianos se cubrirán de escombros.

 

CON los dolores volarán las batas
será punzante el sollozo del médico.
 

Una tos inmensa. La noche muy fría. 

De la clínica vendrá la grande súplica.
 

         «¡ALELUIA! ¡Aleluia!» cantarán los negros.

Los coches blancos volarán en las sombras.

El desespero crecerá en las órbitas.
Los anteojos tontamente encendidos.

 

Los pálidos no llegarán al fin.
Sucederá la consumación.
 

VENDRÁ día en que el varón, llorando,
dirá adiós a la patria y a su amada.
 

Descenderá el silencio. La última candela
se apagará con la sangre.
 

Inmensas viudas

locas caminarán las noches frías. 

LA brisa olvidará la voz de los violines.
Nadie escuchará ya la cantiga del ciego.
 

Grupos hambrientos poblarán los charcos. 

Descenderá la muerte, besará las frentes
y libertará.
 

LAS mujeres no cantarán la primavera.
 Vendrán los zafios cuando al caer la tarde.
En sus brazos lleváranse a las deseadas.
 

La fiesta de los impíos
proseguirá en el campamento en llamas. 

No habrá estrellas. Ya no más habrá lunas. 

CERRARÁ el rascacielos la última ventana. 

Los hombres volverán a su primer capítulo,
de nuevo brillará el fuego de las cavernas.
 

EL incendio pesará en el fin previsto.

La espalda el periodista volverá a la tragedia.
Será vano el clamor de las telefonistas.
 

Llamará el locutor a los hermanos,
nadie responderá al mensaje del triste.
 

DE lo alto del monte, el último guerrero
rodará en el olvido de sí mismo.
 

Será la confusión de los semejantes.

Las lenguas no hablarán al entendimiento. 

Se confundirán las flámulas heroicas
en el fondo de los mares revueltos.
Las patrias quedarán tan sólo en la memoria. 

EL invierno llegará, el perfume de las rosas
ha de exhalarse con el sueño de los humildes.
 

Conducirán las carreteras a los emigrantes. 

La esperanza apuntará a los nuevos puertos
y las palmeras saludarán al fugitivo.
 

Aquí, renacerá la fe de los humillados. 

DESPUÉS vendrá el cansancio. Será el pantano.
El ojo infinito brillará en el caos.
 

Lo increado esperará la revelación,
las sombras se agitarán confusas.
Se notará en las cosas el prenuncio.
 

LOS siglos rodarán indiferentes
hasta llegar la deseada aurora.
 

EL gallo del vecino despertará al mundo,
de los abismos brotarán los justos.
Será la vida de los mansos y los limpios
de culpa. Y todos dirán: «¡Al fin!»

 

LAS ovejas llenarán los valles,
las flautas cantarán con las fuentes. 

Se posará la abeja en la boca de los niños,
las palabras serán caricias.
 

Los hombres tendrán la inocencia de los árboles.

 

RESURGIRÁN ciudades del escombro,
las nuevas torres besarán el sol.
 

El periodista anunciará con grandes rótulos
la reconstrucción.
 

LOS arados florecerán en la alborada. 

Caerá el sudor en largas bendiciones,
en los graneros se darán prodigios.
 

Ellas van y os ofrecen los salmos de agonía,

escriben vuestras cartas de suicida,

os dan la cerveza fatal, enseñan el revólver en el espejo.

 

Con vosotros están como invitadas
al mismo almuerzo, beben del mismo vaso,
confrontan vuestros cronómetros. Son lúcidas.
En el pozo del camino os esperan, vestidas de crepúsculo.

 

 

 

 

LOS DESTINOS URBANOS

 

El tráfico previamente es ordenado
y todos los sensatos viven su minuto.

 

¿Dónde el loco para un discurso
sobre los acontecimientos futuros?

 

¡ Ah! si pudieses, dormirías

bajo los árboles de la plaza, sin preocupaciones,
te bañarías en público, comerías
tu pan en la calzada...

 

Vives en el tiempo de los relojes. Tus pasos
están contados, tus horas son raciones
menguadas para el hambre de ser libre.
E impaciente esperas en una esquina
un mago que te indique

la puerta, ¡ la luz te enseñe y la fuga te ordene!

 

¿Dónde los magos?
Duermen.

¿Y el loco de los comicios?
Muerto.

Muerto el pájaro, extinto el lirio,

 

callado el mar,
el corazón del hombre late
bajo las piedras.

 

 

EL POETA EN LA ZAPATERIA-ACUARIO 

Los pies en el espejo
son orquídeas, goma, pan y plomo.
Cruzan el espacio, vuelan como palomas, danzan
en el encerado, besan cortinas,
tornánse flores, músculos, galopes.

Canta el zapato de novia, pájaro
en la redoma.

Solloza la chancleta enferma, se postra
en penitencia la sandalia de monja.
Sobre la uña pintada,
la bailarina se diluye. Cruje en el suelo
la alpargata obrera. ¡ Qué sólida es!

Un zapato, un destino.
Duermen en la vitrina fluorescente,
entre lunas de seda.

Son raros en la lluvia, entre el mercado y el pueblo.
Sueñan en la caja los zapatos de angelito,
entierro de aldea, niñas de blanco, llantos
en la escuela pública.

En el espejo, la piel de buey se multiplica.

Veo el buey fantasma,
el corazón en la claridad boreal
de los frigoríficos.

Esposa, la muerte del buey es tu regalo,
tus zapatos azules, la cena y el baile.

Veo los pies en somormujo,
dedos de esponja,
saltos de coral y espuma. 

Ruedan las salamandras bajo la pierna,
bajo la liga, la media y el cuerpo vario.
La moza y el empleo, el hombre y la fábrica,
la madre y el hospital.

 

Pago el paquete, busco la calle y las piedras.
Duele el callo, duele el mundo...

 

 

 

LA ESPADA

 

Sobre tu cuello, la espada.
No te muevas, ningún gesto,
ningún grito, pues la espada
puede caer.

 

Pende sobre tus cabellos

la espada desnuda. ¡ Ojo!

Ni una blasfemia, que si no, la hoja

Ni una blasfemia, tampoco

preces, que si no, la hoja

caerá.

 

No muevas el brazo, el rostro
del lado del mar tranquilo.
Mira al frente, no te asuste
la sombra trémula. El viento es
tocando la espada.

 

A tu diestra, los amigos
te insultan. No hagas ni caso.
No te revuelvas, la espada
puede soltarse, y los tuyos
disfrutarán tu agonía.

 

Mujeres, suaves pétalos,
acarician tu cuerpo.

 

No te embobes, pues cortando
—quién sabe—el hilo, la espada
destruirá tu amor.

 

Tus colegas a la izquierda
cuentan chistes. No te rías.
Puede el contento matar.

 

La espada ¿es pesar, bendición?
Nadie sabe... Sólo adviertes
que sobre tu testa pálida
lo invisible pende.

 

 

 

EL RETORNO DE LOS MEGATERIOS

 

En las tinieblas milenarias
el iguanodonte puro
abominaba de las flores.

Espectros cabalgaban
el megaterio azul.
Ni sirenas ni ángeles,
sino la danza de los peces
en el acuario de piedra.

 

El ojo del poeta
emergió de la lava.
Vio el mundo brotando,
vio la aurora del mar,
la roca floreciendo
y el perfil del unicornio
en la bruma del alba.

 

Estábamos en conciencia
en el principio espantoso.
 Eramos el molusco,
la babosa salada,
 la forma indecisa.

 

 

Las aguas cubrieron
la faz del origen.
En lo hondo del mar
duerme para siempre

 

Después del diluvio
surgió la edad cándida.
 La sirena y el pájaro
en la playa posados.
Mujeres de gasa
volando con los ángeles.
Los dedos rompendo
lo puro de las arpas
y un simio inocente
 mirando la luna...

 

¡ Oh, cielo azul, fingido,
de estrellas de papel!
¡ Oh, vida magnífica
de los mansos; pantano
donde la rosa púdrese !

 

Hoy, solamente el poeta,

raro periscopio en

las turbias lagunas,

ve resurgir la fauna

rara de los mamús.

De nuevo viene el monstruo,

el caballo de fuego,

Hiere a las madres jóvenes,

el can del tiempo muerto.

arrasa el pueblo heroico.

 

Mientras tanto, absorto en
el lago encantado,
algún mono inocente s
e distrae con la luna.

 

(De Luz do Pantano, 1918)

 

 

 

Página publicada em fevereiro de 2009; ampliada em junho de 2107. Ampliada e republicada em dezembro de 2017. Página ampliada em janeiro de 2019


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