AMÉLIA TOMÁS 
                             
                           
                         
                       
                     
                    
                      
                    Fonte: https://www.facebook.com/photo.php?fbid=252937921551618&set=oa.2055235929 
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                    Era um adolescente quando a conheci, durante as férias, na  cidade serrana de Cantagalo. Ainda havia trem, passando pelas montanhas  empinadas de Petrópolis, cruzando as avenidas de Nova Friburgo. Cantagalo era o  ponto final, onde eu me hospedava em casa do Geraldo, um colega de internato  onde estudávamos. Amélia Tomas era, então, a célebre professora e poetisa,  admirada e reconhecida. Aprendiz de poeta, vibrava em companhia dela, ouvindo  versos e ensinamentos sobre a poesia. Logo depois, em 1955, ela publicou o seu  terceiro livro e me autografou um exemplar, com letra caprichosa e paciente.  “Ao caro amigo Antonio Miranda, com a amizade da velha amiga Amélia Tomás.  Cantagalo, 15 de outubro de 1957. Ano do Centenário da cidade de Cantagalo!  Nunca mais regressei a Cantagalo e perdi contato para sempre com a autora. Ao  reencontrar o seu livro na estante, encardido pelos anos, senti o impulso de  relê-lo e de homenageá-la, com toda a justiça. Figura admirável! 
                    Antonio Miranda 
                      
                    “Muitos dos seus sonetos alexandrinos mereciam figurar em  antologias, tais as virtudes emocionais e técnicas.” 
                    Elmo Elton (Pen Clube do Brasil) 
                      
                    “No hay duda — como bien lo  apunta la crítica: —es usted una de las primeras golondrinas, que señalan la  vuelta a la primavera del clasicismo, de la armonía del ritmo y de la rima, del  fondo y de la forma. Que és quizá la verdadera poesía. O sea: la única.” 
                    Idel Becker 
                      
                    Livros de  poesia: Jardim Fechado (1942), Fonte de Aroma (1952) e Rosa de Jericó (1955).  
                      
                    
                      
                    Capa de Honório Peçanha 
                      
                      
                    TEXTO EM  PORTUGUÊS / TEXTO EN ESPAÑOL   
                      
                    
                      AMOR  
                        
                      Outr'ora eu  te buscava na confiança  
                      De achar em  ti, Amor, o bem superno,  
                      E o jovem  coração, todo esperança,  
                      Por que te  cria um deus, julgou-te eterno. 
                        
                      Mas, de  mudança andar para mudança,  
                      De um  inferno rolar para outro inferno,  
                      Descrente  acreditei que tudo alcança  
                      Quem te pode  evitar, veneno interno.  
                        
                      Hoje, que  empós do Ideal, de tal maneira, 
                      Que mais  parece célere corrida,  
                      Vou na  insânia infeliz desta canseira, 
                        
                      Eu te olho e  te abençôo agradecida,  
                      Como a  ilusão melhor, mais verdadeira,  
                      Entre as  fugazes ilusões da vida ...  
                        
                        
                      PARÁFRASE DE UM PENSAMENTO DE TSÁO CHANG  LIANG  
                        
                      Noite amena,  aproxima-te quietinha,  
                      Vem a meu  quarto ouvir o meu pedido:  
                      Estou  triste, calada anda a voz minha,  
                      Não há canto  que agrade a meu ouvido.  
                        
                      Noite  serena, outr'ora, alegre, eu vinha  
                      Implorar-te  que o ouro mais polido  
                      Das estrelas  que, em véus, teu seio aninha,  
                      Jorrasses no  meu verso comovido.  
                        
                      Hoje, noite  querida, eu não te imploro  
                      O sono de  meus olhos, nem te exoro  
                      Dar repouso  sereno aos meus cansaços.  
                        
                      Peço-te  apenas isso: O' noite! Escuta!  
                      — Sossega o  coração que sofre e luta  
                      Adormece-o,  cantando nos teus braços!  
                        
                        
                      PANTEISMO  
                        
                      Vem abrir  para o sol os teus olhos contentes  
                      Diante da  natureza e, em profano ritual,  
                      Alma! às  árvores conta a estranha ânsia que sentes  
                      Em cada  ondulação de cada vegetal!  
                        
                      Onde um  rumor de vento entre as folhas pressentes,  
                      Ouves um  coração que te segreda e é tal  
                      A alta  repercussão dessas forças latentes,  
                      Que vês na  árvore um templo e na folha um missal.  
                        
                      Talvez, há  muito tempo, em séculos distantes,  
                      Por capricho  de um deus foste árvore; de então  
                      Guardaste a  compreensão dos galhos soluçantes... 
                       
                        E de  transmigração para transmigração,  
                        No teu  sangue ainda flui, em átomos errantes,  
                      A angústia vegetal que há no teu coração ... 
                     
                     
                      
                    Amélia  Tomás, Ao fundo, imagem de Euclides da Cunha, conterrâneo de Cantagalo, cidade  serrana do Estado do Rio de Janeiro. 
                     
                       
                     
                    
                     
                     
                    
                      INTERROGAClÓN  
                        
                      No sé de onde me viene esa amargura  
                      Que me subyuga, sorprende y me castiga,  
                      Que ignoto lazo, al sufrimiento liga,  
                      Mi alma pobre, que subir procura.  
                        
                      Sígueme paso a paso la senda dura,  
                      La tristeza invernal, extraña y antigua  
                      Que a su lado hiéreme, la desventura  
                      Y me conforta también serena y amiga.  
                        
                      ¿Por qué padezco, si no amo? Siento  
                      Del dolor, el peso, que no hay quien venza,  
                      Que trayendo el corazón exento.  
                        
                      Trazo mis ojos al infinito; los inmersos,  
                      Ah! como duele el tedio, de quién piensa  
                      Es el estraño sufrir de quién hace versos.   
                     
                      
                    Traducción  de Román Fontan Lemes: (Apud Esquemas Líricos) - Montevideo 
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