Home
Sobre Antonio Miranda
Currículo Lattes
Grupo Renovación
Cuatro Tablas
Terra Brasilis
Em Destaque
Textos en Español
Xulio Formoso
Livro de Visitas
Colaboradores
Links Temáticos
Indique esta página
Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



UM OLHAR FEMININO DO AMOR

 

por Antonio Miranda

 

prefácio da obra Mulheres no banquete de Eros; Mujeres en el banquete de Eros, poesia bilingue. Edição da Abrace. Montevideo, 2008.

 

 

Palavras-chave: poesia erótica; antologia poética.

 

 

Que mudas alegrias eu não forjei na mente!

E que posturas não imaginei! 

OVIDIO

 

 

Poesia sensual, erótica e pornográfica ou simplesmente amorosa, está na essência e na textura da própria poesia, em sua te(n)são original. Seja de forma objetiva, explicita ou na interpretação do leitor, em sua subjetividade. Vale dizer que as palavras também exprimem, excitam sentimentos, além de sublimá-los e que toda poesia, em alguma dimensão, tem sua carga sensual, por ser humana.

 

Poemas luxuriosos, desde a mais remota antiguidade, passando pelo célebre Aretino, embevecem leituras, muitas vezes de lascívia e crueldade, como no exemplo do Marques de Sade. Leitura velada ou escancarada, escandalosa, conforme os tempos e as culturas, mascarada pela hipocrisia e o filisteismo, não raras vezes em edições clandestinas. Um dos exemplos mais notáveis é a Notice sur les écrivains erotiques du quiziène et du commencement du seixiène, edição belga de 1865, de caráter erótico-fescenino que tanto encantou nosso maior tradutor do gênero – o poeta José Paulo Paes, ele também um antologista com sua extraordinária Poesia Erótica em Tradução (São Paulo: Círculo do Livro, s.d.). Traduções impecáveis, às vezes recriações inspiradas que só um poeta consegue realizar. Começa com os gregos Dioscórides, Automédon, Filodemo, etc – mas não inclui Safo - seus poemas de sutil lesbianismo não foram incluídos -, mas lá estão os latinos Catulo, Ovídio, passando pela lírica medieval e provençal, o Século de Ouro Espanhol – notadamente Gôngora – e chegando aos tempos modernos (de Goethe, Whitman, Verlaine e Rimbaud)  até o mais contemporâneo Pablo Neruda. Menciona, mas não inclui, os versos homossexuais de Konstantinos Kaváfis.

 

         Parece que a vida não basta, daí a razão da literatura para prolongar, estender a vida; que o amor se amplie ou perpetue em palavras... “Assim como ler não substitui o viver, tampouco a experiência sexual literariamente representada ou figurada pode proporcionar o mesmo tipo de satisfação que a experiência da carne; nem seria esse o seu intuito” , assevera Paes, em longo e profundo ensaio sobre “Erotismo e Poesia”.

 

         Algumas edições apelam para gravuras e fotografias, como se as palavras não bastassem. E chega-se ao cúmulo no website Shidua em que imensas imagens de pênis e vaginas pretendem reduzir o erotismo aos membros sexuais, quando há erotismo em tudo: nos ângulos da arquitetura, na protuberância dos frutos e até nos espinhos, para não lembrar do amor solitário, da perversão e dos fetichismos, como na paixão podófila do nosso Glauco Mattoso e na pedofilia de outros tantos poetas. Tem de tudo para todos, e parece não bastar.

 

         Sem esquecer de meu amigo espanhol Antonio Pérez-Montoro que publicou um livro inspirado que ele intitulou 25 Sonetos descaradamente  eróticos (Brasília: Thesaurus, 2003). Gostei, mas achei tímido, e escrevi o soneto a seguir em que expressei minha decepção, ao tempo em que questionava o sentido da pornografia e do sensualismo, sensações de um relativismo desconcertante:

 

 

ENTRE PURO E OBSCENO

 

Poema de Antonio Miranda

 

Para José Antonio Pérez-Montoro

 

 

Depois de teus sonetos ler e salivar

a revolver em busca de lascívia e mel

os vinte e cinco poemas, de um só tropel

e, acinte, é que fico aqui eu a cismar.

 

Se pode haver pornografia em amar

mesmo que o amor seja reverso e cruel

ainda que a soldo no mais reles bordel

ou mesmo na inversão de corpos a arfar.

 

Não seria no ato que se pratica

nem poderia estar naquele que fornica

ainda que na condição mais canalha

 

mesmo que nem seja amor, seja mortalha

imunda, perfídia, que só valha

o ditado: amor que fica é o de pica.

 

 

         Mas estamos diante de uma antologia feminina do erotismo, com seus vieses e matizes. Um “olhar” específico que por si só já justificaria o livro, além do bilingüismo e, por certo, o fato de serem mulheres latinas, mais ainda, latino-americanas, dos trópicos, da luz, do calor e suas periferias. Mulheres em estado de poesia em suas revelações mais íntimas. Falando de cio, seios, intimidade, pele, umidade, extravio, amor furtivo, combates; sentimentos despertos, acesos, suspiros, murmúrios, desejos ardentes, néctar, pólen, sêmen, tecidos túmidos, entregas, que incham, esgarçam, gemem, derretem, sentidos prenhes, falos, delírios, traição, sacrifício; sedentas, frustradas, espasmos, orgasmos... En espera de que alguien/ se interne entre mis vellos” (Lisette Clavelo). Com “Saudades da vida feliz a dois:/Eu, tu, nós e o depois” (Marilú Duarte) ou, como confessa Nida Chalegre: “transei com você/ em todos os corpos que amei”.

 

         Sentimentos sutis, ou agônicos, perdas, ressentimentos. Escapismos, masoquismos. Levitação, idealizações. Há de tudo, num caleidoscópio de lembranças e desejos, com a leveza e a sutileza (mas nem sempre...) das mulheres. E até a sensação um tanto drummondiana – aquele vate brasileiro que também deixou seus poemas eróticos publicados depois de sua morte mas que, em vida, confessava com aspereza que “Nem era amor aquilo que se amava”... – de Sônia Maria Neves Bittencourt de Sá, escapando pelo fastio ou desamor: “Aproveito tua saída/ Para ir ao meu encontro”.  Ah, faltava dizer que nenhuma tocou na questão do amor narcísico que não deve ser assim tão raro entre as mulheres, nem entre os homens...

 

Antonio Miranda, poeta

Diretor da Biblioteca Nacional de Brasília

www.antoniomiranda.com.br


Voltar para o topo da página Voltar para Ensaios

 

 

 
 
 
Home Poetas de A a Z Indique este site Sobre A. Miranda Contato
counter create hit
Envie mensagem a webmaster@antoniomiranda.com.br sobre este site da Web.
Copyright © 2004 Antonio Miranda
 
Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Home Contato Página de música Click aqui para pesquisar