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TENDÊNCIAS DA POESIA VISUAL


 por Lúcia Santaella

 

Falar sobre tendências da poesia visual é posicionar essa poesia na perspectiva do tempo. Tendência significa propensão, força que determina o movimento de um corpo. Falar em tendências significa, portanto, auscultar e apalpar para quais direções de futuro os impulsos do presente se inclinam. Para isso, necessário se faz não apenas um diagnóstico da situação atual, que leve em consideração a diversidade de suas aparências e seus desdobramentos, mas também a síntese de um olhar capaz de perceber, na cintilação de uma mônada, as potencialidades do passado que vingaram no presente como vetores que apontam para o futuro.

 

A tarefa não é fácil. No entanto, a Mostra Internacional de Poesia Visual de São Paulo (Centro Cultural São Paulo, julho-agosto de 1988), tal como foi organizada nos mapeamentos de Philadelpho Menezes, já funcionou como um diagnóstico do panorama (podese dizer: planetário) presente. Resta-nos assumir o desafio a que este panorama nos incitou, ensaiando um lance de olhar sintético, na tentativa de iluminar passado e futuro no instantâneo do presente.

 

NA TRILHA DA ESCRITA

 

Nem toda poesia foi ou é escrita. Isso parece óbvio. Contudo, nas sociedades letradas do Ocidente, é comumente esquecido, de um lado, que sua poesia nasceu do e com o canto e a música, de outro lado, o quanto esse tipo de poesia marcou indelevelmente a história da própria poesia entre nós, assim como é negligenciado o quanto de poesia há nos cancioneiros populares e mesmo nas músicas comerciais dos modernos meios de massa. A relação canto-poesia está aqui sendo lembrada como meio de explicação, razão que encontrei para compreender porque foi só muito tardiamente, ou melhor, a partir praticamente de inícios do século XX que, no Ocidente, a visualidade veio à flor da pele da poesia. Antes disso, a

exploração do aspecto visual era só esporádica ou marginalmente que estão mais próximos do visual ideogrâmico do que do visual ótico. Por isso mesmo, é dentro desse contexto que a visualidade da Poesia Concreta paulista deve ser pensada, contexto esse que implica necessariamente a conjunção da problemática do olho e do ouvido do visível na correlação com as formas da música, invisíveis aos olhos. Embora tenha sido o primeiro movimento a discutir a visualidade na poesia e a produzir com consequência poemas visualmente pregnantes, penso que a problemática colocada pela

Poesia Concreta inclui, mas transborda as fronteiras da poesia estritamente visual. Para discutir essas questões, todavia, teríamos de levar este trabalho para rotas que não tenho aqui espaço para seguir. Retomo, pois, à trilha da escrita.

 

AS LETRAS SE PUSERAM DE PÉ

 

Com a sofisticação crescente dos meios de impressão, as letras começaram a se erguer. Saindo de sua posição rastejante, foram abandonando a condição de pequenos insetos imóveis sobre os quais os olhos se debruçam. As palavras cresceram em tamanho, verticalizaram-se, invadiram as ruas, compondo a nova paisagem de uma outra natureza: urbana, artificial, veloz, agitada. A poesia futurista, com seus substantivos desamarrados, brilhando nus na autonomia, é emblemática dessa paisagem.

 

Assim, a linguagem escrita, no Ocidente, descobriu também uma segunda natureza, a de sua pregnância visual, que se sobrepôs ao seu originário estado servil de simples reprodutor visível do audível.  De um mero epifenômeno da fala, a escrita passou a assumir o risco e o desafio de sua fisicalidade plástica. Desse desafio, brotou a consciência de laços comuns, até então despercebidos, que unem as escritas fonéticas a todas as outras formas de escrita não alfabéticas. Não por acaso começamos a assistir nesse século, a uma verdadeira confederação das escritas que rompendo suas linhas de isolamento, despudoradamente se puseram a namorar e,

copulando, especialmente em muitos dos trabalhos da arte gestual,

geraram novos rebentos em formas de escrita imprevistas.

 

Paralelamente a isso, no entanto, outras transformações se faziam sentir no mundo das linguagens.

 

A INVASÃO DOS DUPLOS

 

O mundo industrial ocidental começou a ser invadido por novos seres, replicantes, duplos. As imagens fotográficas e cinematográficas foram povoando o universo dos vivos e com eles criando novos espaços de convivência que teriam deixado os habitantes da caverna platónica em estado de mais absoluta perplexidade. As fotografias, juntamente com as técnicas emergentes de gravura, deram à imagem uma prevalência e uma potencial reprodutor no século passado.

 

Nesse novo contexto, a linguagem escrita, já segura de sua dimensão plástica, e também premiada por novas técnicas de impressão e reprodução, longe de se intimidar diante da presença prevalecente da imagem, começou, ao contrário, a flertar com as imagens, atraindo-as para sua companhia, em jogos de cumplicidade e reuniões "tête-à-tête". As técnicas de colagem de letras e imagens, palavras e coisas surgem intempestivamente desses namoros. Mas a tranquilidade desses acasalamentos estava para ser ferida. O advento absorvente da televisão iria mandar para o segundo plano os namoros da escrita e da imagem.

 

Durante alguns anos e mais de uma década, a tela eletrônica parecia ter relegado a linguagem escrita ao reduto do mundo do papel. Já no cinema e no rádio, a recuperação da linguagem oral, em detrimento da escrita, havia posto em crise a hegemonia do livro como modo de entretenimento e meio de circulação de linguagem e cultura. Então, com a presença da televisão (esse pequeno aparelho, aparentemente inofensivo, que invade nossas casas como quem não quer nada e só gradativamente vai mostrando seus tentáculos de gigante), a linguagem escrita parecia ter ficado decididamente órfã das telas eletrônicas, passando para um plano minoritário  e secundário.                                                

 

Uma nova revolução, contudo, estava por acontecer. Certo estava Borges ao retomar Shakespeare, lembrando que "as palavras são mais eternas do que os mármores e os metais". Uma nova era para a linguagem escrita parece estar agora germinando.

 

 

REVIGORA-SE A ESCRITA        

 

Com as acoplagens de meios que resultam no videotexto, com os novos programas e processadores de textos, com a computação gráfica, que pode também incorporar a escrita ao justapor e fundira a imagem da escrita à escrita da imagem, é todo um novo horizonte que se descortina e cujos efeitos e repercussões não temos ainda condições de aferir. O que se pode adiantar é que as conseguir serão provavelmente tanto ou mais revolucionárias do que foram as do papel e da prensa tipográfica na era de Guttemberg. No ou diz respeito à poesia, neste caso inevitável e inexoravelmente visual, abrem-se perspectivas que estamos apenas começando a apalpar.

 

Tanto quanto me é possível perceber, penso que a explosão indiscriminada, desde os anos 60, de manifestações variadas de poesia visual, que pipocam pelo mundo sob os nomes mais diversos (poesia experimental, poesia alternativa, desdobramento poesia concreta, arte postal, arte gestual, poesia visiva, grafismo, letrismo etc.), aliada à dissolvência das tradicionais fronteiras, que separavam artes plásticas e poesia, são efeitos de questões que procurei focalizar neste trabalho: a confederação das escritas, as conjunções e fricções do verbo e da imagem, o aparecimento de novos

meios de impressão e reprodução da escrita, assim como da imagem e, principalmente, o advento do suporte eletrônico que abre para a escritura caminhos para novas aventuras provavelmente hoje quase insuspeitas.

 

O resultado mais importante disso tudo é a dilatação da noção de escritura a que estamos assistindo, noção esta que está passando a atrair para o seu reino desde as descobertas do universo biológico com as escrituras do código genético (a ADN não é senão uma espécie de escrita), passando por todas as formas de escritura impressas na e pela própria natureza, até a multiplicidade de escritas criadas pelo homem, que incluem as diversas modalidades denotações musicais e invadem hoje o universo da luz e da cor que, nos meios eletrônicos, se comportam como dígitos de uma espécie rica, múltipla e variegada de alfabeto qualitativo cujas consequências,

em termos de realizações, nossos sentidos estão ainda infelizmente

muito toscos para pressentir. 

 

 

 

Comentário de Antonio Miranda:

 

Reencontro Lúcia Santaella em minha biblioteca particular. Tenho muitos dos livros dela por lá — uma das mais brilhantes pesquisadoras brasileiras no campo da Comunicação, irmão de minha área de atuação: a Ciência da Informação. Temos em comum também o interesse pela Semiótica e, paralelamente, pela Poesia Visual.

Compartilho com você, meu caro amigo leitor, um breve capítulo de seu (dela) livro “Cultura das Mídias”, edição revista e ampliada (São Paulo: Experimento, 1996).

Não sei em que ano ela escreveu o texto “Tendências da poesia visual” (p. 143-148, do supracitado livro), mas ele merece ser lido e relido, como acabo de fazer, anos depois da primeira leitura.

Encontrei-me com Lúcia recentemente durante um congresso em Maceió. Foi uma oportunidade extraordinária e quero agora divulgar este breve texto por seu caráter analítico, didático, instigante e visionário, para os amigos e seguidores no Facebook e no Portal de Poesia Ibero-americana. Reproduzo aqui uma anotação que fiz, em 1997, depois de ler o capítulo que vocês devem ler, se o tema for do interesse de vocês: “a web restaura a palavra escrita depois de relegada ao ostracismo pela TV e pelo cinema”. Mas agora estamos em 2014. A pós-modernidade ficou no limiar do século 20 para o 21, onde atualmente preside a hipermodernidade. O “visual” expande-se com o “verbi” na conjunção com o “voco” dos concretistas e, pela amálgama tecnológica, instaura a “animação” e restaura a “anima” pela criatividade, pela poiesis, agora em dimensão planetária, multivocal, ubíqua, móvil e solidária pelas redes sociais. Estamos vivendo a AV3- a animaverbivocovisualidade.

 

Página publicada em agosto de 2014


 

 

 
 
 
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