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RUBÉN DARÍO – ONTEM, HOJE, SEMPRE
e sua passagem pelo Brasil


por Antonio Miranda

 

 

por ti a floresta está no pólen
e o pensamento no sagrado sêmen.”

(...)

“comove tudo o que existe
com seu eflúvio carnal
e com seu enigma espiritual”

RUBÉN DARÍO

 

 

“Azul”,  um livro de contos, causou um impacto na época de sua publicação, e alguma polêmica por causa do título. Confessou que não conhecia ainda o famoso galicismo de Victor Hugo “l´art c´ést l´azur”, mas estaria ressaltando sua inclinação para a cultura francesa tão em voga na época. O livro chegou a ser publicado três vezes durante a vida do autor: em Valparaíso (1888), na Guatemala (1890) e em Buenos Aires (1905).

 Darío não era uma unanimidade...  Miguel de Unamuno  chegou “a desqualificá-lo  duplamente, dizendo que  escondia sob seu elegante chapéu francês um penacho indígena centro-americano”. (* 1) Eduardo de la Barra, que prefaciou a edição chilena, criticou o afrancesamento da sintaxe... Sua maneira de adjetivar, um verbalismo aristocrático do castelhano... Questões que ajudaram a firmar seu prestígio inovador e modernizante.  Octávio Paz chegou a afirmar que a literatura em espanhol com Rubén Darío  “o idioma se lança a andar”  Disse mais: que em Darío “a modernidade e cosmopolitismo eram termos sinônimos.” (  )

 

 

(BARBÃO, p. 18).

 

 

O próprio Darío justificava sua escritura artística: “Assim meus conhecimentos de inglês, de italiano, de latim, deviam servir mais tarde ao desenvolvimento de meus propósitos literários” (  )

 

(BARBÃO, p.26)

 

“Tão século dezoito e tão antigo,
E tão moderno, audaz cosmopolita,
Com Hugo forte e com Verlaine ambíguo
E uma sede de ilusões infinita.”(
  )

 

(   ) [estrofe dos Cantos de vida e esperança, de Dario, em versão portuguesa por Marcelo Barbão; que se explica: “uma onipresença de passado e uma sede futuro”.

Erudito, modernista, “transatlântico” – percorreu o mundo, com estadas prolongadas na Argentina (onde publicou as Prosas profanas y otros poemas e Los Raros (1896), cujos ensaios focavam as leituras de seus mestres que remontavam aos clássicos pré-socráticos, gregos, romanos, asiáticos primevos, franceses, castelhanos, relando “la universalización literária, la secularización ideológica y la rebeldia social”, na visão de Jorge Eduardo Arellano em seu instigante livro Rubén Darío transatlântico.  E no Chile, sua “segunda pátria” e “padre de la poesia moderna en español”na opinião do mesmo Arellano (  ) justiçando-se nas palavras confessionais do próprio Darío: “Una cosa que nos hace superiores a los europeos en cuanto a ilustración, es que sabemos lo de ellos más lo nuestro” (p. 10).
Sem dúvida, Darío “liderando en Buenos Aires el modernismo hispano-americano y encabezando el peninsular desde 1899” (p. 11). E encarnava, à sua maneira, nossa raça mestiça, híbrida, que se auto-define em “Raça”, de 1908, “poema-afiche” (em português, “cartaz”, afirmando ser “filho da América e neto de Espanha”, no momento em que a Espanha perdia suas últimas colônias americanas — Cuba, Porto Rico... Como afirmou Salomón de la Selva “Darío nos fijó horizontes.” (p.14)

Mas, cabe ressaltar a visão mais ampla de sua hispanidad, conforme o entendimento de Pablo Antonio Cuadraa,


Solar Correa: “ninguna lira más compleja que la suya.” (p.160. E certamente metapoético, analizando e superando os limites da própria poesia. Mas também erótico, espiritual, esotérico, líder sem dúvida, com a consciência plena de seus limites:

“o que donominamos tradição cultural hispânica não é puramente espanhol de Espanha, mas “o espanhol que se cruzou com o índio, o espanhol com uma longa tradição indígena, com uma definitiva e substancial imersão na americanidade...” Ou seja, “a tradição mestiça, a essa linha trançada de sangue e culturas, que vem orientando sua rota e sua linhagemdesde a conquista — pela segura bússola greco-romana-católica.” (ARELLANO, p. 50-51).
Sem esquecermos a influência negra e as dos imigrantes de outras latitudes que conformam a nossa latinoamericanidade.

 

“Mas, por gracia de Diós, em mi consciencia
el bien supo elegir la mejor parte:
y si hubo áspera hiel en mi existência
melifico toda acritude del Arte.”

 

E reitera, autoconfessando-se:

“Voy bajo tempestades y tormentas,
ciego de ensueño y loco de armonía.

Ese es mi mal. Soñar. La poesia
es la camisa férrea de mil puntas cruentas
que llevo sobre el alma. Las espinas sangrentas
dejan caer las gotas de mi melancolia.

Y así voy, ciego y loco, por este mundo amargo;
a veces me parece que el caminho es muy largo,
y a veces es muy corto...”

 

        Como definiu Arellano, o poeta nicaraguense era “católico e maçom, pagão e cristão, platônico e panteísta, órfico e cético, atormentado e infantil, inteligente e ingênuo, memorialista e esquecido, americano e europeu — vale dizer, transatlântico, e reitero — espanhol e francês.” (ARELLANO, p. 29) Mas sempre engajado nas questões sócio-políticas, desde a sua juventude, em defesa da democracia, liberdade de expressão, e contra os abuso da religião  institucionalizada.

        E antonomásia, ou seja,  pela “variedade de metonímia que consiste em substituir um nome de objeto, entidade, pessoa etc. por outra denominação, que pode ser um nome comum (ou uma perífrase), um gentílico, um adjetivo etc., que seja sugestivo, explicativo, laudatório, eufêmico, irônico ou pejorativo e que caracterize uma qualidade universal ou conhecida do possuidor”, conforme explicam os dicionários...

 

Curioso que seus versos são profundos mas simples, admiráveis, às vezes permitem uma tradução literal:

“¡Ay , triste del que un día en su esfinge interior

Ai, triste o que um dia em sua esfinge interior

Pone los ojos e interroga! Está perdido.

Põe os olhos e interroga!  Está perdido.

¡Ay del que pide eurekas al placer o al dolor!

Ai de quem pede heureca ao prazer ou à dor!

Dos dioses haya, y son: Ignorancia y Olvido
.”

Dois deuses haja, e são: Ignorância e Olvido.”

 


Darío esteve no Rio de Janeiro duas vezes e uma em São   Paulo, “relatadas por Elysio de Carvalho em Five O´Clock e por René Thiolier em O homem da galeria.

*Na introdução do livro  Azul... Tradução de Marcelo Barbão (São Paulo: Demônio Negro, 2010, p. 9).

 

                Um de seus poemas revela a figura de nosso grande Machado de Assis, cujos versos foram traduzidos por Anderson Braga Horta:

 

 

A MACHADO DE ASSIS

 

Doce ancião que vi, em seu Brasil repleno

de fogo e vida e amor, todo graça e eutimia.

Moreno que da Índia teve a aristocracia;

aspecto mandarino, língua de sábio heleno.

 

Aceita esta lembrança de quem ouviu uma tarde

em teu divino Rio tua palavra nobre,

dando ao orgulho todos os farrapos em que arde,

e à inveja ruim o que apenas a cobre.

 

Antonio Miranda visitando a tumba do poeta Rubén Darío na Catedral de León, na Nicaragua, em 2014.

 

Manuel Bandeira traduziu os poemas “O fatal” “Balada da linda menina do Brasil”

 

BALADA DA LINDA MENINA DO BRASIL

 

         Existe um país encantado

         No qual as horas são tão belas,

         Que o tempo decorre calado

         Sobre diamantes, sob estrelas.

         Odes, cantares ou querelas

         Se derramam pelo ar sutil

         Em glória do perpétuo abril...

         Pois ali a flor preferida

         Para mim é Ana Margarida,

         Linda menina do Brasil.

 

Doce, dourada e primorosa,

Infanta de lírico rei,

É uma princesa cor de rosa

Que amara a Katy Grenaway.

Buscará pela eterna lei

O passar azul de Tiltil,

Quando entre cantos de anafil

E harpa a aurora a viver convida,

A essa rara Ana Margarida,

Linda menina do Brasil

 

          Oferta

 

Princesa em flor, nada na vida,

Por mais gracioso ou senhoril,

Iguala esta joia querida:

A pequena Ana Margarida,

Linda menina do Brasil.

 

Existe um mágico Eldorado

(E Amor como seu rei lá está),

Onde há Tijuca e Corcovado

E onde gorjeia o sabiá.

O tesouro divino dá

Ali mil feitiços e mil

Sonhos: mas nada tão gentil

Como a luz de aurora incendida

Que brilha em Ana Margarida

— A flor mais linda do Brasil.

 

          (Trad. de Manuel Bandeira)

 

                        Certamente que cultivou a rima, mas também exercitou o versilibrismo.

        Na celebração do centenário do falecimento de Rubén Darío, foi inaugurada uma escultura em homenagem ao poeta em frente à Biblioteca Central da Universidade de Brasília, no dia 01/11/2016. Na oportunidade, foi lançado o livro Rubén Dario e o Brasil, de autoria de José Carlos Brandi Aleixo, sobre a obra do autor e mais especificamente sobre as viagens do poeta nicaraguense ao Brasil no início do século passado e suas relações com Joaquim Nabuco e com a literatura brasileira.

 

 

Busto de Darío à entrada da Biblioteca Central da Universidade de Brasília.

 

CENTENÁRIO DE RUBÉN DARÍO NO BRASIL 

Correios lançaram  selos da Série Relações Diplomáticas: Brasil – Nicarágua, que celebram os poetas Manoel de Barros e Rubén Darío, em 2016..  

 

[ DARÍO, Rubén ] ALEIXO, José Carlos Brandi.  Rubén Darío e o Brasil.  [Brasília, DF: Embaixada da Nicaragua, 2016]  40 p.

 

                Vale também lembrar que Darío também revelava a sua frustração com o fracionamento da região “espanhola” das Américas que Simón Bolívar defendia em seus ensaios do século XIX em defesa de “una unidad o federación hispano-americana que seria fundamento de uma sólida democracia” como registrou o poeta equatoriano  Iván Carvajal em um livro celebrando o centenário de João Cabral de Melo Neto. Por que João Cabral? Porque o nosso grande poeta andou pelos Andes e escreveu um poema, publicado originalmente no livro “Agrestes” (   ), agora traduzido ao castelhano por     . em que se refere à traição aos ideais de Simón Bolívar:

 

“Es el sueño inmóvil y compacto
que se duerme en la anestesia,
que, por ser sin llaves, sin ranuras,
perdió el discurso de Bolívar.”

 

 

Vamos, concluindo, exibir um dos poemas de Darío traduzidos por SOLON BORGES DOS REIS, que estão em nosso Portal de Poesia Ibero-americano, disponível em http://www.antoniomiranda.com.br/Iberoamerica/nicaragua/ruben_dario.html.

 

 

O   F A T A L

 

        Ditosa, a árvore, ser apenas sensitivo,

        E mais a pedra dura, que essa já não sente,

        Pois não há dor maior que a dor de ser vivo,

        Nem há maior pesar que a vida consciente.

        Ser, e não saber nada, e ser sem rumo certo,

        E o temor de ter sido e um futuro terror...

        E o espanto seguro de amanhã estar morto.

        E sofrer pela vida e pela sombra e por

        Aquilo que não conhecemos e apenas suspeitamos.

        E a carne que tente em atrativos supremos

        E a tumba que aguarda com seus fúnebres ramos,

        E não saber aonde vamos,

        Nem de onde viemos...

 

 

 

        E vou ficando por aqui, porque o tempo é exíguo nesta apresentação. Limitei-me aos livros de e sobre o poeta que conservo em minha vasta biblioteca particular, mas devo, quando for possível, pesquisar fontes na internet e nas bibliotecas, e garantir um texto mais abrangente. A ver, haver...

 

 

ALEIXO, José Carlos Brandi.  Rubén Darío e o Brasil.  [Brasília,
DF:   Embaixada da Nicaragua, 2016]  40 p.

ARELLANO, Jorge Eduardo.  Rubén Darío transatlántico.  Managua:  
INHC, 2014.   88 p.  ISBN 978-999644-892-0-4.

DARIO, Rubén.  Antología poética de Ruben Darío.  Managua: Centro
Araguaense de Escritores, X Festival Internacional de Poesía de
Granada, 2014.  95 p. 

DARÍO, Rubén.  Azul...Tradução de Marcelo Barbão. Prefácio por André
Fiorussi.  São Paulo: Anablume Editora, 2010.  140  p.  (Selo
Negro) capa dura   16 x 23 cm.  ISBN 978-8563-19802-X        
DARIO, RubenDario´s popular poems.  Bilingual edition. Edición
bilingüe. Org. Rolando    Ernesto Tellez.  Managua Impresiones
Digitales Serfosa, 2013.  92 p.  ISBN 978-   99964-0-201-2

DARIO, Rubén.  Poesía.   Madrid: Editora Planeta, 1999.   355 p.
(Biblioteca La Nación)     capa dura 

DARIO, Rubén.  Poesías. Obras escogidas II.  Madrid:Editorial: Librería
de los Sucesores de Hernando - Biblioteca Renacimiento, 1910.
317 p.  12 x 18 cm.

DARIO, Rubén.  Poesías y cuentos.  Barcelona, España: Ediciones Zeus,
1969. 423 p.  13 x 16 cm.     

MELO NETO, Jõao Cabral de.  Vivir en los Andes. Poemas ecuatorianos.
Organización: Renato Faria; Sonia Oliveira de Paredes. Versión al
español de los poemas y Presentación: Iván Carvajal. Prefacio por Antonio Carlos Secchin.  Traducción de textos: Alfonso Montúfar
Estrella. Presentación João Almino. Ilustraciones por Araceli Gilbert.
Quito, Ecuador: Embajada del Brasil en Quito, 2020.   84 p.  ilus. col. 
Edición especial numerada Conmemorativa del Centenario de
Nacimiento.”  1.000 ejemplares.  


 

 

 
 
 
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