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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

PREFÁCIO
[para o livro BRASÍLIA: RETOMAR O FUTURO, de Maria Celeste Macedo Dominici]

                   ANTONIO MIRANDA
Professor Emérito da Universidade de Brasília  

 

 

         Existe uma vasta e variada bibliografia sobre o ideário, a construção e o desenvolvimento de Brasília, objeto de estudo de especialistas e interesse de bibliógrafos, em coleções públicas e acervos particulares. Mas o presente livro de Maria Celeste Macedo Dominici — Brasília: Retomar o Futuro — não é apenas mais um livro, é um livro essencial!
A Nova Capital está localizada nos limites geográficos estabelecidos pelo Tratado de Tordesilhas (1494) que pretendeu definir a divisão dos territórios coloniais de Espanha e Portugal. Na rota de conquista dos bandeirantes desbravadores de nosso hinterland, que foi sendo ampliado, incorporando vastas áreas na direção do Oeste e do Norte equatorial.  As nossas fronteiras demarcam o espaço de ocupação da língua portuguesa no continente americano, embora incorpore línguas indígenas e de povos europeus, africanos e asiáticos de nosso processo civilizatório.


Dom Bosco, agora reverenciado em monumento religioso às margens do Lago Paranoá, profetizou o surgimento de uma nova civilização localizada nos paralelos 15º e 20º, e os inconfidentes mineiros vislumbraram uma cidade-capital síntese de nossa nacionalidade no interior do país, integradora de nossos brasis, institucionalizada na constituição republicana de 1891. Ensejando as expedições que exploraram as áreas planaltinas para a definição do atual Distrito Federal, no coração de nossa terra brasilis; consolidadora da cultura tupiniquim, pau-brasil, de afirmação de nossos valores de hibridismo e miscigenação cultuada pelos modernistas de 1922. Mas foi Juscelino Kubitschek e os "mudancistas" que ousaram abrir estradas, mediante os princípios e diretrizes do projeto ganhador do concurso do Plano Piloto para a construção da cidade de Brasília.


Esta saga está devidamente referenciada e competentemente resumida no presente livro, em tons líricos e telúricos. Mas Celeste ultrapassa esses símbolos históricos fundacionais e paradigmáticos, sobretudo ao aprofundar-nos na discussão das propostas de Lúcio Costa, Oscar Niemeyer, Burle Marx e seus colaboradores, projeto revolucionário no campo do urbanismo, no marco do Modernismo, estabelecendo um novo conceito de planejamento urbano e ocupação territorial. Celeste, como é conhecida pelos mais íntimos e admiradores, com notável capacidade, revela os avanços extraordinários e também os desvios e reveses lamentáveis na execução do plano original, denunciando as deturpações e a violação desses princípios até os dias atuais e suas consequências desastrosas para o futuro da cidade e do país.
Maria Celeste Macedo Dominici está qualificada para defender esses ideais e direitos da causa em questão, visando "Retomar o futuro" preconizado pelos urbanistas. Possui graduação em Arquitetura pela Universidade Santa Úrsula (1976), mestrado em Politiques Et Programmation Du Developpement - Institut D'etudes Du Développement Economique Et Social (1979) e doutorado em Développement Economique Et Social - Université de Paris I Panthéon Sorbonne (1983). Fez pós-doutorado na École Polytechnique de l'Université de Tours (2004-2006). Atualmente é técnico em planejamento da Companhia de Desenvolvimento do Planalto Central. Tem experiência na área de Geografia, com ênfase em Teoria do Desenvolvimento Regional, atuando principalmente nos seguintes temas: cultura, desenvolvimento sustentável do DF, planejamento regional, ordenamento do território e ordenamento territorial.
A presente obra, de forma competente e até literariamente "arquitextural" e criativa, defende o propósito do patrimônio cultural e ambiental de Brasília, revela as ameaças ao plano original, assinala as implicações de nossas desigualdades regionais e sociais — lamentavelmente representadas na conformação ocupacional do território do DF —, demonstrando que estamos na contramão da proposta de transformarmos Brasília no modelo de ocupação e conformação do espaço brasileiro. Denuncia erros na condução das políticas nacionais e locais de preservação de Brasília conforme as propostas e compromissos que levaram à conquista do título de cidade Patrimônio Cultural da Humanidade. Questões relativas à falta de planejamento contínuo, de desenvolvimento nos planos urbanísticos.


O grave desconcerto da descontinuidade administrativa vem afetando a execução de obras fundamentais, a degradação e até a devastação do meio ambiente, além dos desvios nas instâncias legislativas, executivas e também jurisdicionais, que estão levando a região a graves problemas de especulação imobiliária, invasões de áreas de preservação ambiental, grilagem de terras, ocupação territorial sem planejamento adequado, com graves consequências na manutenção dos espaços urbanos e do próprio Cerrado, das águas e da qualidade de vida. É um estudo minucioso e abrangente, que precisa ser lido e discutido pelos políticos e administradores, tomadores de decisões, com mais responsabilidade e compromisso com o futuro da cidade e do país; também pelos acadêmicos e pela população, que Celeste conclama para lograrmos uma maior participação cidadã.
Para experienciar esta tragédia do descaso urbanístico da cidade, basta observar e caminhar pelo Conjunto Cultural de Brasília, no centro gravitacional da cidade! Planejado por Lúcio Costa para ser um corredor cultural – com uma passagem subterrânea pelo antigo Automóvel Clube,  ligando o setor federal ao distrital, passa pelo Museu e a Biblioteca Nacional, até as imediações do CONIC — local em que acontecia o "porão do Rock" —, que hoje está interditado. Há uma controvérsia patrimonial sobre o edifício, agora transformado numa rodoviária urbana subsidiária, desvirtuando totalmente sua finalidade original. Os arredores estão degradados, invadido por um comércio primitivo e antiestético, com as calçadas destruídas, sem condições de trânsito pelos pedestres. Quem quiser acessar o CONIC e a área do setor bancário e de serviços precisa fazer um trajeto inóspito, perigoso e desconfortável pelos arredores, ou por dentro da Rodoviária do Plano Piloto. Comparando com Washington, a capital norte-americana que certamente inspirou o nosso Eixo Monumental, lá o trajeto pelos jardins é uma atração turística que leva a monumentos, museus, bibliotecas e outros equipamentos urbanos. Aqui o centro da cidade transformou-se num terminal rodoviário acessório, depois do abandono da Rodoferroviária que fica no final do Eixo Monumental, desfigurando completamente o sentido de centro cultural pretendido pelos idealizadores da cidade, com o agravante de tornar-se local de risco pelo agravamento dos níveis de insegurança pública, mendicância, prostituição e tráfico de drogas.


A leitura deste livro é fundamental para a compreensão dessas pautas inadiáveis, com informações relevantes e oportunas para conscientizar-nos de sua urgência, como a autora proclama "dentro de um projeto que considere o país como um todo, buscando-se identificar a melhor forma de aproveitamento sustentável dos recursos de cada parte da federação". Em "buena hora" como pregam nossos vizinhos do continente, buscando uma melhor integração regional.
Em favor desta proposta, Celeste lembra que o Distrito Federal conta com um alto percentual de mestres e doutores, podendo "privilegiar a inteligência como principal fator de produção da economia local." Na linha apregoada por um outro livro, também de leitura obrigatória como o presente, o "2052"*, estudo prospectivo do Clube de Roma, que projeta a vida no nosso planeta nos próximos quarenta anos. Ou seja, argumentando que as empresas fazem parte de um ecossistema em que "elas são interdependentes com outras "espécies" — incluindo seus consumidores , fornecedores, parceiros, ONGs, companhias start-ups, universidades, e acadêmicos" (RANDERS, op.cit, p. 235). A evolução das empresas vai depender dessa criação coletiva e desterritorializada, mesmo reconhecendo que tais empresas atuam de forma centralizada e centralizadora no processo de inovação e administração. No caso de Brasília, exercendo seu protagonismo como capital da república, retomando aquela liderança de JK e dos gênios que planejaram Brasília na perspectiva da fundação de uma nacionalidade integradora. Em favor, agora!,  de um "novo paradigma de inovação aberta e coletiva", a partir de um diálogo mais criativo com a sociedade e suas instituições, acreditando no axioma de que "existe muito mais inovação sustentável do que somente inovação técnica" (RANDERS, p. 236). Cita também o advento do conceito de um estilo de vida sustentável mesmo que sem o uso de alta tecnologia, mediante o consumo colaborativo, de trocas e negociações diretas entre as partes. E até registra a preocupação com o fato de que as pessoas seguem armazenando em casa e nas empresas tantas coisas sem uso, ocupando espaço e implicando gastos de armazenamento. Também se refere à inteligência coletiva de grupos que excede as habilidades cognitivas dos membros individuais do grupo, conclamando à possibilidade de uma "Internet de alta tecnologia" capaz de ajudar-nos a resolver problemas de baixa tecnologia, recorrendo a um público amplo e mobilizado para estas atividades, quase sempre sem pretender cobrar pelos conhecimentos. Cita o exemplo da Wikipedia, agora com versões em 282 línguas, que nós sabemos que destronou o império editorial das enciclopédias tradicionais, instituição sem uma estrutura convencional, oferecendo serviços gratuitos, com um controle de qualidade efetivo através do público criador e usuário. Ou seja, fora dos padrões capitalistas convencionais. Outro exemplo, ainda em curso e em processo de afirmação, é o caso de aplicativos para instrumentos móveis como IPhones, iPads, etc., criados e disponibilizados sem custo. E conclui de forma um tanto profética...: "Quem sabe, isto pode até virar o capitalismo de ponta-cabeça até 2052, com companhias cada vez mais se tornando veículos para trazer à fruição ideias de posse coletiva ao usuário individual, e para aproveitar o poder dos usuários individuais para melhorar ideias para o bem comum." (RANDERS, op. cit. p. 234).         

 

*RANDERS, Jorgen. 2052: Uma previsão global para os próximos quarenta anos. s.l.: Gráfica e Editora Stamppa. 2012.  424 p. ISBN 978-1-60358-0 " Um Relatório para o Clube de Roma (...)" Tradução de André Luiz Sherrill de Lemos.



 
 
 
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