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POETRIX: uma proposta para o novo milênio, 

 

por Jussara Midlej e Goulart Gomes.

 

Extraído de 

 

501 POETRIX PARA LER ANTES DO AMANHECER. Organizador Goulart Gomes.   Lauro de Freitas, BA: Livro.com., 2011.   244 p.  15 x 21 cm.      ISBN 978-85-61150    Ex. bibl. Antonio Miranda

 

O que podemos fazer em três segundos? Aonde podemos chegar com três passos? O que podemos escrever em três linhas? Muito mais do que se possa imaginar. Desde o século XIV, com Dante Alighieri, o autor da Divina Comédia, esse é um desafio que tem assaltado vários escritores. Boccaccio, Petrarca, Byron, Shelley, Schlegel, Gregório de Matos, Machado de Assis, Olavo Bilac foram alguns dos seus culto­res. No Brasil, no início do século XX, assistimos à chegada do haicai terceto de origem japonesa, que teve como maior divulgador, então, o poeta Guilherme de Almeida (1890-1969) mas cujo precursor foi, em verdade, o escritor baiano Afrânio Peixoto (1876-1947).

 

Desde então, inúmeros poetas têm se dedicado a experimentar, com maior ou menor intensidade, a estrutura poética que convencionou-se chamar terceto, herdeiro da terza rima italiana. Encontramos tercetos nas obras de inú­meros escritores, como Drummond, Guimarães Rosa, Adélia Prado e, principalmente, Alice Ruiz, Mário Quintana, Paulo Leminsky, Millôr e Olga Savary.

Nos estertores do século XX, surge na Bahia, uma nova proposta que procura revitalizar o exercício do terceto: é o Poetrix, definido como um terceto contemporâneo de temática livre, com título, ritmo e um máximo de trinta sílabas métricas, possuindo figuras de linguagem, de pensamento, tropos e/ou teor satírico. A palavra POETRIX (neologismo criado a partir de POE, pòesia e TRIX, três) surge pela primeira vez no Manifesto Poetrix, publicado no livro TRIX - Poemetos Tropi-kais, de Goulart Gomes (Bahia: Pórtico Edições, 1999), lançado na Feira do Livro da Bahia (hoje, Bienal) e premiado com Menção Especial no Prémio Jorge de Lima, outorgado pela Academia Carioca de Letras e União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro, em 2000.

Além de conquistar novos adeptos a cada dia, proporcionando uma verdadeira revitalização do terceto, o poetrix vem sendo cada vez mais utilizado por professores dos níveis fundamental, médio e superior - como um elemento de ampliador de leituras e intertextualidades, potencializando o universo criador de seus alunos. Por ser breve, conciso, objetivo e, contudo, abrangente, o poetrix consegue de um modo inusitado, facilmente despertar o gosto, a fruição, o prazer de ler e enxergar além das palavras explicitadas, instigar a pessoa a ir em busca do sentido polissêmico das palavras e expressões, a se lançar na doce aventura de outras leituras (até mais extensas), a consultar o dicionário e a gramática normativa numa perspectiva funcional, utilitária. As ati-vidades grupais, promovidas numa perspectiva dialógica interacional bakhtiniana criam teias de cumplicidade entre as pessoas envolvidas e, na escola contemporânea especialmente, essa parceria configura-se como algo essencial à construção e reconstrução do conhecimento. E nesse processo criativo, de diálogo entre interlocutores e entre discursos, a linguagem polifônica do poetrix cai como uma luva!

Assim, ao promover oficinas de criação literária envolvendo a po¬esia, o professor pode partir de temas propostos por ele ou por seus alunos ou até mesmo de poetrix feitos por outros autores (que poderão servir, inicialmente, como referência) e instigar as pessoas a ousarem criar e/ou recriar produzindo intertextualidade, outras diversidades de vozes. As formas múltiplas de poetrix - duplix, triplix, multiplix -que são resultado da junção de dois ou mais poetrix. Os criadores do duplix, Pedro Cardoso e Tê Soares, ambos radicados em Brasília, assim o definem: "A forma múltipla de poetrixar é algo como construir um quebra-cabeça ímpar: na sua construção nós temos que garimpar as palavras para que possam dar sentido ao novo poema, ele não é um simples complemento de uma ideia anterior. Na verdade, são poemas independentes e absolutamente autónomos que interagem. Algumas vezes eles são tão bem feitos que permitem a mudança de posição (AB) para (BA), sem perder a qualidade."

O duplix é como um casamento, onde você tem que respeitar os li¬mites do outro (pontuação, concordância verbal etc). O título é outro elemento que deve se harmonizar com o poetrix original. As formas múltiplas de poetrixar configuram-se numa singela aproximação entre aqueles que escrevem poetrix, e dessa aproximação podem nascer afetividades de interlocutores que dialogam poeticamente: são os par¬ceiros de uma enunciação que vai se complementado à medida que outros sintonizam com as idéias-vozes que vão surgindo. Esta modalidade nasceu justamente dessa polifonia intertextual, a qual convoca o leitor a elaborar uma compreensão respondente formadora de novas teias que ampliarão as idéias precedentes, complementando-as.

Depois surgiram os clonix que são poetrix feitos a partir de outros já existentes, mudando-se apenas uma ou outra palavra ou expressão, porém inaugurando no novo um sentido muitas vezes, inteiramente diverso do original. Compreender, nesse contexto, é opor à palavra do locutor uma contrapalavra (BAKHTIN, 1986: 131-132). Finalmente, surgiram os grafitrix que são poetrix ilustrados numa tentativa de concretização do diálogo entre o texto e a gravura.

Desse modo, com uma exploração do objeto significante, da riqueza semântica das palavras e dos sentidos polissêmicos das frases, o poetrix oferece um ponto de partida (o título) e variados caminhos para o entendimento da mensagem, o qual variará muito em função do universo pessoal de cada leitor, possibilitando diferentes níveis de leitura. Se ler é uma grande viagem, o poetrix é uma passagem ao portador com destino a qualquer lugar. O devaneio é permitido, o texto deixa de pertencer ao autor para ser do leitor, que o torna uma coisa sua, e mais, que serve de trampolim para o seu próprio texto, alterando, modificando, acrescentando ou subvertendo o anterior.

Por exemplo: no poetrix I...lha, de Aila Magalhães, do Ceará (Sen-tia-se tão ilha / Que nem mar / havia...), a autora além de produzir uma imagem metafórica de alguém tão solitário que não consegue ver/ sentir nada à sua volta, faz um trocadilho com seu próprio nome, se lermos a letra T como no idioma inglês: 'Ai'. Em Lusco-Fusco, Djal¬ma Filho (Bahia) transforma o substantivo 'armadilha' em um verbo, similares aos seus sinónimos 'emboscada' ou 'tocaia': "Deitada, / quase apagada, / a noite armadilha". Pedro Cardoso (Brasília), lança um uni¬verso de possibilidades em três versos, no seu poetrix Fome: "o abismo / entre a mão e a boca, / tem nome". Em Cigarra, Jussara Midlej (Bahia), alia imagens/mensagens de várias supostas 'mortes', num retrato me¬ancólico de fim-de-tarde, quando tudo parece entristecer. A personagem central do seu texto vem no título, item fundamental do poetrix, que pode definir ou induzir o sentido que se pretende dar ao texto: "canto saudade / na morte lenta / da tarde". Possivelmente outras leituras desses poetrix podem ser feitas, o que só depende da "viagem" de cada um. Tanto mais rico é um poetrix quanto possa permitir que o não-dito fale mais que visível. Ao contrário dos 'recibos', no poetrix vale mais o que não está escrito.

Como exemplo das formas múltiplas, - a palavra a duas ou mais vo¬zes - o poetrixta Martinho Branco (Portugal) escreveu o poetrix Aquacultura: "Um mar / de peixes como couves / na horta". A poetrixta Aila, 'incorporou-o' e complementou-o com o poetrix Em teu jardim: "verde-água / brotando / de teus olhos..." A junção dos dois resultou no duplix Aquacultura em teu jardim: "Um mar verde-água / de peixes como couves, brotando / na horta de teus olhos". Uma composição a quatro mãos.

O Movimento Internacional Poetrix - MIP, com representantes em vários estados brasileiros, além de Portugal, Argentina, Suíça e EUA, é a organização responsável pela difusão dessa nova linguagem poética, realizando concursos e mantendo o site Poetrix - www. movimentopoetrix.com, que já conta com milhares de acessos.

Alinhado com a velocidade tecnológica do terceiro milénio, o poetrix encontrou campo fértil na Internet, onde tem sido bastante propagado. Oficinas, apresentações e debates (principalmente no grupo virtual poetrix@yahoogrupos.com.br) também têm contribuído para a sua expansão.

Assim é o poetrix: apenas tês linhas, mas que fazem tanta diferença na razão e na emoção de quem o lê quanto três segundos para um piloto de Fórmula Um ou três passos para um maratonista.

 

REFERÊNCIAS:

BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia de linguagem. São Paulo: Hucitec, 1986 (original russo de 1929).

MASSAUD, Moisés. Dicionário de Termos Literários. São Paulo: Cul-trix, 1999.

 

 


 

 

 
 
 
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