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A POÉTICA DOS SILÊNCIOS

[sobre a poética de RODOLFO ALONSO ]



por Ronaldo Cagiano

 

 

            “Uma poesia que não usa as palavras pela sensualidade que desprendem, mas pelo silêncio que concentram. Poesia que tenta exprimir o máximo de valores no mínimo de matéria vocabular, impondo-se uma concisão que chega à mudez.” Assim definiu Carlos Drummond de Andrade, ao apresentar Hago el amor (1969), de Rodolfo Alonso, poeta, crítico e ensaísta argentino, que esteve no Rio,  onde foi homenageado, em 23 de março último, na  Academia Brasileira de Letras, com a “Palma das Letras”.

 

            Alonso estreitou os laços com o Brasil a partir de intenso contato epistolar com Drummond e Murilo Mendes, dos quais se tornou amigo. Desde cedo sentiu grande empatia com a língua portuguesa, tendo sido o primeiro tradutor de Fernando Pessoa para a América Latina, além de verter as obras de Olavo Bilac, Drummond, Manuel Bandeira, Murilo Mendes e outros.

 

            Depois de introduzir alguns de nossos autores na Argentina, a poesia de Rodolfo Alonso chega ao Brasil com chancela da Editora Thesaurus, de Brasília. Ao publicar sua “Antologia Pessoal” (edição bilíngüe, 196 pgs., R$20), preenche uma lacuna e faz jus a um escritor de intensa e apaixonada produção pessoal, que faz da literatura uma ponte dialética e cultural, cristalizando um intercâmbio de experiências estéticas e humanas, em que há um diálogo com a história e a filosofia, um trânsito entre escolas e movimentos literários .

 

            Tanto na poesia de ressonâncias líricas, quanto na de inflexão social e crítica, a práxis poética de Rodolfo Alonso reveste-se de peculiar concentração textual que, mesmo nos poemas mais  longos, prescinde de um discurso caudaloso.  

 

            Essa tessitura e acabamento encontramos em “Cuerpo presente”: Tantas como soñamos/ merecer una/ (Una mujer/ Muslos de tempestad/ senos de viento/ sagrado olor a mar)/ Toda mujer/ sentada/ en el augusto trono/ de su cintura/ Inmensa e no singularíssimo “Vizcacha”: ¿La metáfora viva que buscaron/ para buscarse todos, al buscarse,/ vuelve como parodia e ironía?/ ¿Este misterio, este país que somos/ y que se enzarza fiero en su destino/ como luz mala en el desierto, ahora o/ siempre bajo el solazo crudo, al rayo/ del deseo, la impaciencia y su hermana/ ciega: la impotencia? ¿Ni civiles/ ni bárbaros, apenas decadentes?/ ¿Esa imagen profunda de uno mismo/ donde abrevaba el mito, la verdad/ oculta porque oscura, oscura/ porque honda, eso que nos hacía/ ser y que íbamos a ser, culpables,/ desolados, quejosos, engreídos,/ ni Cruz ni Fierro fueron, sino El Viejo?.  

 

            Em “Anti Warhol”, dedicado a Marcel Duchamp, há um viés crítico, quando questiona oos fetiches e ícones da sociedade contemporânea. Apesar da densidade do tema, não se desvia por um ritmo palavroso: Brillo de superficie en una cajá/ donde la nada brilla nada brilla/ brillo del triunfo que triunfa con brillar/ sobre la superficie del instante/ brillo de sociedad de saciedad/ contagio del hartazgo asco del ágio/ superficial alud la ola de nada/ que ávida nos envasa encenagados/ en catedrales selvas de consumo/ cárceles de mirar y ser mirado/ los bárbaros no esperes han llegado/ en la cadencia de la decadência/  la seducción que castra el vuelo raso/ que imagina tragedia al gallinero/ el despiadado espejo helada llama/ de la cautivadora que cautiva/ brillo de superficie donde encaja/ el anonadamiento de la nada/ la superficie opaca ya no oculta/ la superficie esquiva de la época/ la mera superficie el puro brillo/ de lo superficial no hay interior/ la apariencia culmina su espectáculo/ la superficie de la nada brilla.

 

            A experiência de Alonso com a linguagem remonta à adolescência, quando aos 17 anos aproximou-se de um grupo de escritores de vanguarda que gravitavam em torno da revista “Poesia Buenos Aires”. Após contato com várias correntes, seu processo de rigor e precisão, que harmoniza forma e conteúdo, cada vez mais se aperfeiçoou. Alcançando o mais apurado grau de clareza e objetividade, persegue o essencial, sem desperdiçar toda a carga semântica e metafórica que criação poética oferece.

 

            Autor de 25 livros, entre os quais Salud o nada (1954), Buenos vientos (1956), Hablar claro (1964),  Relaciones (1968), Señora Vida (1979), Sol o sombra (1981), Música concreta (1994) e Defensa de la poesía (1997), a poesia de Rodolfo Alonso, que se renova a cada livro, chega em boa hora, sobretudo em tempos de consolidação do Mercosul, quando se espera, além da simbiose econômica, uma convivência que favoreça a valorização cultural e o compartilhamento das múltiplas expressões literárias do continente.  E ao proclamar que hoy estamos aquí contenemos el mundo/ rebeldes a la muerte a la resurrección a la palabra, sua poesia reflete não apenas o compromisso estético com a linguagem, mas a necessidade de tocar no que é essencial, profundo e humano, convertendo-se num compromisso ético, em que as questões existenciais e sociais ensejam um grito que reverbera as suas e as nossas angústias, preocupados que estamos com os destinos do homem e do mundo.

 

Página publicada em junho de 2011


 

 

 

 
 
 
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