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OS POEMAS SECRETOS DE KAVÁFIS

 

Por Antonio Miranda

 

A propósito de

KAVÁFIS, Konstantinos P.

Kpymmena – Segredos. Tradução:

M. Sulis, M. Jolkelsky, A. Nicolacópulos.

Florianópolis: Plaquetas Nephelibatas,  2006. 36 p

 

 

                                               “Havia uma barreia que transformava

                                               minhas ações e meu modo de vida.”

Konstantinos P. Kaváfis

 

 

         Konstantinos P. Kaváfis (1863-1933) viveu fora de seu tempo, em um tempo futuro. Clandestinamente. No início do século -, viveu duas vidas paralelas, uma velada e outra para os outros. Mas ele antecipava tempos de liberdade, sem hipocrisia:

 

         “No futuro – uma sociedade mais perfeita –

         algum outro talhado como eu

decerto aparecerá e livremente fará.”

 

         Kaváfis nasceu em Alexandria, no Egito, numa comunidade grega. Vivia por antecipação o livre gozo de sua excepcionalidade, situação que deve ter permanecido imutável – se não piorou – desde o início do século passado, por causa dos preconceitos e valores religiosos contrastantes com sua helenidade, em que não separava o material do espiritual,como partes de uma mesma  vivência.

 

         “Criamos um prazer

         de uma impressão quase que material.”

 

         Tal hedonismo feria os costumes de sua época ou, melhor explicando, de seu lugar e situacão.

 

         “era preciso que teu corpo estivesse próximo.”

         “mais verdadeiro e palpável

 

         Dionisíaco, arremata: “meu corpo e mente emocionam-se”. No Egito ocupado pelos ingleses, teve o alívio da toler^ancia formal, enviesada do moralismo vitoriano, estrangeiro em sua própria terra. Vida escondida, expressa em versos pungentes: “Fui aos quartos ocultos / e toquei e deitei em seus leitos.”

 

         Tais versos de despistamentos não fazem parte de sua obra dita  “canônica”. Kaváfis deixou poemas inéditos por vontade própria que só recentemente v^em sendo levados a público. No conjunto estão poemas renegados e outros ditos “velados” ou esquecidos, recuperados entre seus pertences ou em casa de amigos.  É desse lote que os tradutores M. Sulis, M. Jolkesky e A. Nicolacópulos se serviram para montar a plaqueta “Kpymmena – Segredos”, em edição bilíngüe de uma editora de Desterro, na ilha de Santa Catarina, digna de reconhecimento por sua revelação e exclusividade. Até aqui apenas circulavam os versos “autorizados” do poeta em versões inglesas, francesas, espanholas e as brasileiras, entre estas as que nos deixou o poeta José Paulo Paes, para nossa felicidade. Uma dúzia de poemas líricos, sensuais, confessionais, plenos de humanidade e ^ânsias de viver. Os “segredos” do grande poeta que, não obstante, avisa: “De tudo o que fiz e tudo que disse / não procurem descobrir quem fui.” Sabia-se isolado, camuflado, despistando contra as citadas “barreiras” que o apartavam do mundo.

 

         É frustrante não poder ler e ouvir o poeta em seu idioma original. Contentemo-nos com as preciosas traduções que chegam até nós. Meus estudos de grego clássico na juventude são de pouca ou nenhuma valia para aproximar-me deste poeta anti-metafísico, carnal: “... eu gostava de ver o sangue. Coisa/ do meu amor aquele sangue era.” Mais direto, impossível: “Nossos corpos sentiram e buscaram-se; nosso sangue e pele perceberam.”Para a linguagem da época, ainda mergulhada em simbolismos e circunlóquios, certamente chocaria, não obstante já existirem os versos malditos de Rimbaud, às vésperas dos arroubos escandalosos dos surrealistas em terras mais tolerantes...

 

         Afortunado me sinto ao receber dos autores a preciosa edição que, sendo alternativa, deve chegar a poucos privilegiados. Não resisto ao prazer de compartilhar um dos poemas com os nossos leitores, na certeza de que revelam uma alma iluminada pelo prazer mais secreto e autêntico:

 

         O CHAMADO DE EROS

 

         Ao ouvir o vigoroso Eros treme e emociona-te

         como um esteta. Contudo, feliz,

         lembra-te de quanto tua fantasia para ti criou; disto

         primeiro; e depois do resto – menor – que em tua vida

         passaste e desfrutaste, mais verdadeiro e palpável.-

         De tais amores não foste privado.

 

 

 

Publicado originalmente na revista eletrônica:

CRONÓPIOS – Literatura e Arte no Plural – 21 maio 2007



 
 
 
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