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A REPERCUSSÃO DE ANTONIO MACHADO NO BRASIL

 

por Antonio Miranda

 

                O Brasil é um país de imigrantes, com um contingente significativo de origem europeia. A imigração espanhola, comparativamente com a portuguesa e italiana — para ficarmos com os latinos — não deixou de ser expressiva, mas ao contrário dos demais europeus que se dedicaram à agricultura e pecuária, principalmente no sul do Brasil, os espanhóis se concentraram mais no sudoeste, principalmente em São Paulo, muitos deles dedicados ao comércio e à hotelaria. Imigração mais recente, sobretudo fugindo das guerras mundiais e, particularmente, da guerra civil espanhola e da ditadura, já no universo cultural posterior à Geração de 98, que contribuiu para a difusão de revistas literárias e edições de livros espanhóis entre nós.

         Certamente que a poesia de Antonio Machado impactou os nossos modernistas. Cabe ressaltar o caso de Manuel Bandeira, que traduziu o poema “Canção” e se alinhava à poética machadiana.

         Caso realmente excepcional é o de nossa Cecília Meireles que dedicou um poema laudatório a Antonio Machado, em seu livro Mar Absoluto:

 

Poema a Antonio Machado

 

Contigo, Antonio, Antonio Machado,

contigo quisera passear,

por manhã de serra, por noite de rio,

por nascer de luar.

Palavras calmas que fosses dizendo,

seriam folhas movidas no ar.

Tu eras a árvore, a árvore, Antonio,

com sua alma preliminar.

Palavras tristes que não me dissesses,

sentidas ao vento, por outro lugar,

os deuses dos campos as recolheriam,

para as transformar.

Tu eras a árvore andando na terra,

com raízes vivas, pássaros a cantar.

Contigo, contigo, Antonio Machado,

fora bom passear.

Por montes e vales ir andando, andando,

e, entre caçadores que vão a caçar,

ouvir teus lebréus perseguindo a lua,

corça verde, no ar. 

 

         A revista POESIA SEMPRE, a principal do gênero no Brasil, publicada pela Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, na edição de julho de 1996, dedicou um número à poesia espanhola, com destaque para Antonio Machado e Federico García Lorca, “Fundadores e/ou seguidores das grandes linhas”,  revelando versos na língua castelhana, sem tradução: “Yo no sé qué noble/ divino poeta/ unió a la amargura/ de la eterna rueda// la dulce armonía/ del agua que sueña” (Del poema “Los grandes inventos”  XLVI) ...   Mais adiante revela: “Deletereos de armonía/ que ensaya inexperta mano.”

         Antonio Machado andou por Paris durante a juventude para conhecer a literatura em voga. Soledades, seu primeiro livro de poemas (1903), alinha-se claramente ao Modernismo, mas com uma tendência intimista que o libertará dos aspectos mais externos desse movimento na revisão de 1907, conforme registram seus biógrafos. “Tendência intimista”. No poema “Retrato”, autobiográfico, confessa (traduzo para o português): “minha juventude, vinte anos na terra de Castilla; minha história, alguns casos que recordar não quero”:

 

         meu verso brota de manancial sereno;

         e mais que um homem ao uso que sabe sua doutrina,

         sou, no bom sentido da palavra, bom.

         Adoro a formosura, e na moderna estética”...

 

         E ironiza: Desidério das “romanzas”  dos tenores ocos”. Desidério no sentido de levar o intuito ao erro...  E então confessa: “Sou clássico ou romântico? Não sei. Deixar quisera/ meu verso, como deixa o capitão sua espada”...

         A intelectualidade brasileira, desde o tempo do Império e no período republicano, sempre voltou-se para a cultura europeia, principalmente para a fonte francesa majoritária que liderava o mundo ocidental, e muitos escritores nacionais viveram na França e, excepcionalmente, também andaram pela Espanha e conheciam Antonio Machado, cujas obras em espanhol e português estavam nas livrarias e bibliotecas do Brasil e de Portugal. Sem falar das livrarias argentinas que eram frequentadas por brasileiros.

         No meu caso particular, andei por quase todos os países hispânicos das Américas, e até vivi ou trabalhei em vários nações hispano-americanas desde os anos 60 do século passado, principalmente na Argentina, Colômbia, Venezuela e Porto Rico. E foi por lá que eu familiarizei-me com a lírica de Machado e, sobretudo, fui impactado pela canção que hoje frequenta o nosso imaginário  — Caminante no hay camino se hace camino al andar — que eu assisti numa das apresentações de Joan Manuel Serrat. Por certo, esta música — “a música que toca sem parar” nos rádios pela geografia brasileira... Como foi ressaltado na imprensa brasileira, clássico da palavra escrita, passou a ser um clássico da palavra cantada: La Saeta. Em 1981, nosso cantor da MPB —Fagner — foi à Espanha e gravou a canção em dois idiomas (português e espanhol), fazendo dueto com Serrat.

 

        Elga Pérez-Laborde também gravou e divulgou a música “Caminante no hay camino” no Brasil, na versão castelhana, com a sua voz privilegiada.

                  Também a publicação literária Rascunho foi criada em Curitiba, em 8 de abril de 2000, pelo seu editor, o jornalista e escritor Rogério Pereira, publicou que “entre muitos acertos e alguns deslizes na tradução”, "Campos de Castela" é livro indispensável de Antonio Machado.

 

         Outro registro importante, foi na revista Contexto – 2013, da Universidade Federal de Pernambuco, sobre “ O Modernismo nas letras hispânicas: Interfaces. Rubén Dario, Manuel Machado, Antonio Machado” e, também, a famosa revista Sibila, que divulgou “Provérbios y cantares / Provérbios e cantares - De I a XLI”, tradução de Ronald Polito:

http://sibila.com.br/poemas/poemas-do-espanhol-antonio-machado/3007

 

                  Os principais tradutores no Brasil: Cunha e Silva Filho, Dalila Teles Veras, Diana Margarita, Fernando Mendes Vianna, Manuel Bandeira, Marco Aurélio Pinotti Catalão, Marcos Bandeira, Maria Teresa Pina, Ronald Polito, Sebastião Uchoa Leite, Wilton Marques e Antonio Miranda na página

http://www.antoniomiranda.com.br/Iberoamerica/espanha/antonio_machado.html

               E até me atrevi a traduzir alguns poemas de Machado para o nosso Portal de Poesia Ibero-americana, como é o caso deste:

 

XCIII

 

  Soletrar com harmonia

que a mão inexperta ensaia.

 

   Fastio. Cacofonia

do sempiterno piano

que ainda menino eu escutava

sonhando... não sei com quê,

 

   com algo que não chegava,

tudo o que não mais se vê.

 

         Devemos ressaltar a contribuição do tradutor Ronald Polito, numa edição especial de apenas 50 exemplares:

 

MACHADO, Antonio. Proverbios y cantares.  Provérbios e cantares.   Tradução:  Ronald Polito.  Belo Horizonte: 2009.  s.p.  Plaquete comemorativa dos 70 anos da morte do poeta, 50 exs.    

       A seguir, uma das traduções:

 

I       

 

Nunca persegui la gloria

ni de ar en la memoria

de los hombres mi canción;

yo amo los mundos sutiles,

ingrávidos y gentiles

como pompas de jabón.

Me gusta verlos pintarse

de sol y grana, volar

bajo el ciclo azul, temblar

subitamente y quebrarse.        

 

 

I

 

Nunca persegui a glória

nem conservar na memória

dos homens minha canção;

eu amo os mundos sutis,

ingrávidos e gentis

como bolhas de sabão.

Gosto de vê-los pintar-se

de ouro e de carmim, voar

no céu azul, tremular

subitamente e quebrar-se. 

 

 

 

 

         Mas o caso mais amplo e completo é o do acadêmico Marco Aurélio Pinotti Catalão, como parte de sua dissertação de mestrado defendida no Curso de Teoria e História Literária, do Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas (São Paulo), com uma “Antologia e tradução comentada da obra poética de Antonio Machado”, em 2002:

http://repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/270224/1/Catalao_Marco_M.pdf

 

         Catalão declara que o livro inaugural de Antonio  Machado “Soledades”, aos 28 anos, em 1903, que a temática deste volume já é aquela que permeará grande parte de sua obra: a solidão e a fuga irreparável do tempo, com todos os questionamentos a isso associados - a presença constante da morte, a memória da infância perdida e um profundo sentimento de melancolia e angústia. Estamos, portanto, diante de uma inspiração de raiz nitidamente romântica, ainda que suas marcas formais estejam mais próximas do chamado modernismo hispano-americano e do simbolismo francês.”

         Na refundação seguinte de sua obra, Catalão afirma que Machado tenta afastar-se da estética modernista, vista por Machado como individualista, conforme os cânones seguidos por nossos modernistas no Brasil. E expõe, com muita perspicácia – e aconselho a leitura! — as transformações da autoria de Machado ao longo de sua trajetória literária, incluindo o “exemplos de romances de versos heptassílabos e pentassílabos, que ilustram o gosto do poeta pelas formas métricas tradicionais” (opus cit. p. 11), além das indagações filosóficas de sua fase mais madura.

         Catalão, também se indaga, como eu faço, e tenta “compreender os motivos do pequeno destaque conferido em nosso país a uma obra de tamanha relevância na literatura espanhola e europeia” (opus cit., p. 32).      Segundo o acadêmico, as traduções ao português, no Brasil, restringem-se “aos poemas intimistas, ora os de cunho filosófico, de acordo com a predileção do tradutor; o segundo, a frequente transformação dos poemas de Machado, quase todos escritos em metros regulares e rimados, em textos de métrica irregular e muitas vezes sem rima” (p.33).

         Repetimos: sem dúvida, a obra mais completa sobre Antonio Machado, em língua portuguesa, é a de Marco Aurélio Pinotti Catalão, numa relação de intimidade interpretativa e vivencial, também no referente às traduções, incluindo poemas “apócrifos” e “sueltos”, até sob heterônimos... Infelizmente, não há uma edição impressa, apenas a versão digitalizada na internet.

Finalizando, convém ressaltar que, de forma imaginária, mas também verdadeira, estamos aqui, agora, na Universidade de Brasília, celebrando o Antonio Machado, com os conferencistas espanhóis Lina Rodríguez Cacho         e Manuel Ambrosio Sánchez Sánchez e Lina Rodríguez Cacho e os brasileiros Sylvia Cyntrão e Antonio Miranda; com o privilégio de um RECITAL CANTARES POÉTICOS com os acadêmicos e artistas André Luís Gomes, Maria del Mar Paramos Cebey, Elga Laborde e ao piano Marília de Alexandria, e o encerramento do evento pelo doutorando Roberto Medina.

 

/Em tempo: Qual é a diferença essencial entre o modernismo no mundo hispânico  e o proclamado pela Semana de Arte Moderna de 1922, no Brasil? Questão  fundamental para entendermosa poética de Antonio Machado, que nenhum de nós abordou no presente Seminário em Brasília, nos dia 10 e 11 de abril de 2019, que deve ser respondida. /

E os textos vão estar logo disponíveis em nossas livrarias, bibliotecas e nas residência dos admiradores de Antonio Machado na edição dos Anais do Congresso, re-vivendo sua obra genial e suarelação com o Brasil, irmanados e iluminados por sua permanência em nossa imaginação:

HOMENAGEM

METAM

ÓRFICA

...

..

.

          

BIBLIOGRAFIA:

AGUIRRE, J. M.  Antônio Machado, poeta simbolista.  Rio de Janeiro: Editora Taurus. 1973.

BANDEIRA, Manuel: Poemas traduzidos, Porto Alegre, Globo, 1948.

CARPEAUX, Otto Maria: "Angústia e esperança de Antonio Machado", in Retratos e leituras, Rio de Janeiro, Simões, 1953.

CATALÃO, Marco Aurélio Pinotti. Antologia e tradução comentada da obra poética de Antonio Machado. São Paulo: Curso de Teoria e História Literária, do Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas, 2002.

MACHADO, Antonio. Antologia poética.   1999   São Paulo: FNAC, 1999.

MACHADO, Antonio B.  Poemas seletos.  São Paulo: Massao Ohno Editor , s.d.  109 p.  13,5x21 cm.

MACHADO, Antonio. Proverbios y cantares.  Provérbios e cantares.   Tradução:  Ronald Polito.  Belo Horizonte: 2009.  s.p.  Plaquete comemorativa dos 70 anos da morte do poeta, 50 exs.   (EA)

PAES, José Paulo (org.): Transverso (coletânea de poemas traduzidos). Campinas, Edunicamp, 1988

 

 

 
 
 
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