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Editorial n. 40 ( julho a setembro de 2013 )

ROBERTO PONTUAL E ANTONIO MIRANDA: AMIGOS TEMÁTICOS – a poesia experimental dos anos 60

 

        Uso a expressão “amigos temáticos” para designar as relações de amizade entre pessoas com interesses comuns: futebol, filatelia, orquídeas, etc. e outras afinidades do tipo, em que elas trocam ideias, cooperam e até se associam em ações específicas.  Foi o caso de minha amizade, na juventude, com Roberto Pontual. Tínhamos em comum o interesse pela poesia experimental. Era a época do Concretismo e, em seguida, do Neoconcretismo quando houve a cisão entre “cariocas” e “paulistas”. Vai com aspas porque Ferreira Gullar, que liderou a ruptura a partir do Suplemento Dominical do Jornal do Brasil, nasceu no Maranhão...
        Roberto Pontual era um jovem muito talentoso. Outro companheiro era o José Guilherme Merquior, meu vizinho no bairro do Rio Comprido, no começo da Tijuca, naquele ano de 1960, no Rio de Janeiro.  Eu servia o Exército — ainda existia o serviço militar obrigatório —, quando idealizei a I Exposição Poegoespacial entre os pilotis do antigo prédio do ex-Ministério da Educação, aquele monumento arquitetônico projetado por Le Corbusier, Lucio Costa e com a participação de Oscar Niemayer, com jardins de Burle Marx e os murais de Candido Portinari. Que time!!! Brasília acabava de ser inaugurada, as comunicações eram difíceis... Montamos nossa exposição “na marra”... Chegamos numa viatura militar... Nós éramos apenas 2... O argentino Carlos Alberto e eu, com os meus heterônimos. Usava o pseudônimo da,nirham:eRos, ou Da Nirham Eros, por sugestão do artista plástico Roland Grau. Os “poegoespaços” eram feitos com letras set, montados sobre cartolinas, madeiras... Os funcionários do (atual) Palácio Capanema, no centro da cidade, não impediram a montagem precária que fizemos e por lá ficamos alguns dias... Eles ficaram esperando um telegrama que “viria” de Brasília com a autorização...  Muita gente viu, ou seja, os transeuntes, que não entendiam bem o propósito daquela mostra inusitada. O “catálogo” que imprimimos, muito modesto, usava uma linguagem de pouco alcance para o público...  Uma das raras figuras que apareceram por lá foi Roberto Pontual.
        Eu deixei o Rio de Janeiro em 1966 e fui para Caracas, onde permaneci 7 anos. Estive com ele em 1968, numa visita à cidade – efomos assistir ao grupo Secos e Molhados, com os artistas plásticos Osmar Dillon e Antonio Maia – e depois desse encontro nunca mais nos vimos. Mas antes de ir para a Venezuela, eu entreguei a ele muitos dos meus manuscritos, projetos, e o exemplar único de Vatemago, poema-livro montado com diferentes tipos de material, do papel à cortiça, de lâminas de plástico e outras extravagâncias, se me lembro bem... Anos depois, em 1973, Roberto publicou um longo ensaio sobre o “Livro Livre”, sobre a aventura da reinvenção do livro — hoje seria o “livro-de-artista”—, ressaltando as experiências em curso. Uma delas foi o exemplar único de Vatemago que eu deixei com ele. Saiu publicado na revista Vozes, que era, à época, a porta-voz das vanguardas novas: do poema-processo às novas aventuras poéticas e, sobretudo, a literatura e nas artes plásticas novas do Brasil.


        O texto em questão acaba de ser republicado no livro Roberto Pontual: obra crítica, organizado por Izabela Pucu e Jacqueline Medeiros, pela Azougue Editorial (Rio de Janeiro, 2013). As autoras entraram em contato comigo e reproduziram as imagens de dois “poegoespaços” da época (DENTROFORA e DESEMBARQUE). Roberto escreveu:

" Por volta de 1960, atuavam entre nós, além dos grupos concreto e neoconcreto, outros grupos e pessoas mais ou menos ligados ao trabalho de romper com os sistemas tradicionalmente seculares do livro e da leitura. Deles, os poegoespacialistas sempre me pareceram os mais inventivos e radicais na criação de novas zonas de pesquisa, apesar de hoje estarem encerrados em completo esquecimento. Tratava-se de um grupo estranho, a ponto de eu acreditar, atualmente que muitos de seus participantes (a quase totalidade dos que constavam como nomes nos catálogos), não passavam de heterônimos de Antonio Miranda (que, por sua vez, se assinava da, nirham: eRos e Carlos Alberto. Mas pelo menos eRos não era fantasma; ao contrário, conheci-o bem como capaz da mais ininterrupta, exigente e múltipla criatividade. (O grifo é nosso!!!) Disponho de toda uma série de seus textos teóricos e projetos verbovisuais, entre os últimos inclusive o Vate-mago (1961): conjunto de interessantíssimas pesquisas de ludismo com a palavra ou a letra no espaço, acionadas pelo caráter simbolicamente alusivo do movimento proposto em cada uma delas, com suas respectivas consequências de linguagem. Há muita coisa ali oriunda do Livro Infinito de Reynaldo Jardim, do Livro da Criação, de Lygia Pape, ou dos não-objetos verbais de Ferreira Gullar e Osmar Dillon; no entanto, eRos levava o ludismo de seus processos em projeto — acrescido do uso de variados materiais: papéis brancos, em cores, transparentes, enrugados; papelões, metais, filmes velados ou cortiças — a um ponto de inventividade tal que sua fala terminava bastante personalizada. Era, sobretudo, um mágico (o não muito agradável título Vatemago revela sua consciência disto), tirando de suas caixas da imaginação as surpresas quase infantis do prazer de recriar as palavras no mecanismo de novos espaços expressivos. Partindo da palavra inicialmente percebida no seu todo — paginação, sobre a placa branca e ainda muda — a ação do operador fazia nascer, de um lado a página, ao centro o objeto paginado (como um foguete na sua plataforma de lançamento, pronto para o voo) e do outro lado a fonte e resíduo de tudo: ação. Calendário abria-se subitamente em lendário palácio oriental de papel de seda vermelho. Coberta passava a descoberta no momento em que se puxava a área quadrada de filme velado cobrindo esta última. E tantos outros ludopoemas visuais: campo intenso de ler diferente.

 

Daí meu assombro quando pude conhecer o Index, de Andy Warhol (que, significativamente, coloca entre parêntesis o rótulo book, no frontispício dessa obra publicada em 1967, nos EUA). Ali, algumas das soluções desenvolvidas por Warhol, como exemplo excepcional de arte gráfica, aproximavam-se dos projetos esboçados por eRos seis ou sete anos antes, no mesmo sentido de uma página-superfície que de repente, por um passe de prestidigitação, se transforma em tridimensionalidade. Das sucessivas páginas ou unidades do Index brotam (não mais de modo apenas figurado, porém como surgimento real e concreto) pequenos aviões, castelos e cavaleiros medievais, incômodos saltos de sólidos, latas (em papel) de suco de tomate, balões infláveis de plástico, sanfonas vermelhas de som. O paralelismo de processos não significa, evidentemente, que Warhol tenha conhecido e se apropriado das invenções precedentes de eRos; significa, isto sim, que eRos, em um país subsidiário como o nosso, inventou antes que o mesmo ocorresse, alguns anos mais tarde, no país de cultura dominante. Assim, era como se em determinado momento tivéssemos deixado de importar fórmulas fora fabricadas."  (PONTUAL, Roberto. op. cit.  p.139-140).

         Tempos depois, em outro artigo, Roberto Pontual foi ainda mais generoso:

Ligado ao neoconcretismo, atuou também, por curta duração o grupo poegoespacialista, impulsionado principalmente por Antonio Miranda, que se assinava da,nirham:eRos e cujos trabalhos, pouco divulgados, assumem hoje caráter realmente precursor"  In.  ROBERTO PONTUAL. Op. cit, p. 163 

 

        Alguém me enviou um e-mail, há pouco tempo atrás, querendo analisar Vatemago para uma tese de doutorado sobre o tema dos livros experimentais e dos livros-de-artista, vendo nele um antecedente interessante. Mas não foi possível atender à demanda. O único exemplar estava entre os arquivos de Roberto Pontual. Depois de sua morte, não há notícia de seu paradeiro. Resta a saudade do admirável amigo de juventude. Ele nos deixou, mas nos legou uma obra crítica sobre as artes plásticas e a poesia experimental brasileira que merece ser lida (ou relida) por sua excelência e até, em muitos casos, por ser original e única. Poucos autores foram tão longe, no início daquele processo, no estudo do tema. Fica a sugestão.

 

               PONTUAL, RobertoRoberto Pontual: obra crítica. Organização Izabela Pucu, Jacqueiine Medeiros.  Rio de Janeiro: Azougue Editorial, 2013.  640 p.  17x24 cm. ISBN 978- 85-7920-127-1   Apoio Prefeitura do Rio de Janeiro. Coordenação editorial: Sergio Cohn. Inclui alguns artigos sobre poesia experimental, em particular sobre o Neoconcretismo e o Poegoespacialismo. Col. A.M.

ANTONIO MIRANDA, agosto de 2013


 

 

 
 
 
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