Freud: escrevendo ou fumando?

O PODER DA PALAVRA, DA EXPRESSÃO, DA IMAGEM

                     Amam as frases belas e as manhãs claras.
                            Una estatua impasible las puede conmover.
                                      FRANCISCO LOPEZ MERINO

         Devemos reconhecer que alguns palestrantes, professores, atores, humoristas, apresentadores, declamadores, advogados, pregadores religiosos, políticos e até vendedores são capazes de levar-nos ao convencimento, ao entusiasmo, à compreensão, à ilusão, às gargalhadas, ao sentimento mais profundo, à convicção, ao sonho e ao encantamento. Ao delírio e até ao suicídio. Podem ativar emoções e até a repulsa, a ira, o ódio! Pela entonação, pelas metáforas, pelos argumentos, pela gestualidade, pelo exemplo. Performáticos, cativantes, convincentes.

         Vendedores capazes de levá-los a adquirir o que não querem nem precisam!

         Mas pode ser o contrário: autores que você leu com admiração, poetas que o levaram ao êxtase , atores na televisão e na internet que provocaram o choro e a angústia mais profunda que, ao ouvi-los numa entrevista ou numa palestra, resultam decepcionantes, incomunicáveis, sem graça, antipáticos, banais...

         Oradores geniais, pintores que provocam emoções exacerbadas, levam-nos ao inferno e ao paraíso. Emitem palavras que nos impressionam, que ficam gravadas no nosso consciente e inconsciente, para sempre! Imagens que nos aterrorizam, emocionam, causam repulsa ou paixão. Nós nos apaixonamos por sua criatividade e genialidade ou caímos na mais completa desilusão ou indiferença...

         Aquela voz cativante, que nos envolve e fascina, que nos eleva e enleva, causa emoção inesquecível... Imaginemos aquela mulher belíssima, elegante, bem vestida que, ao abrir a boca diz lugares-comuns, coisas abomináveis, numa voz insuportável! Aquele filho fisicamente bem desenvolvido, de sorriso cativante e aspecto saudável que só diz besteira. Aquele político que gagueja, que blasfema e causa repulsa, mas que é capaz de seduzir pela propaganda política, de comprar seu voto no desespero e pela sua necessidade mais primária... Depois você se decepciona. Descobre que é corrupto. O médico que em vez de curar te canta e desencanta, estupra e mata!

         Mas vamos ficar com os poetas... Alguns nos levam ao sentimento mais profundo, ao nirvana, a ver o invisível. Que desconcertam, surpreendem, viram-nos ao avesso e os vemos ao contrário do que os imaginávamos. De tão feios nos parecem sedutores, de tão amáveis nos cansam, de tão criativos nos martirizam e azedam a existência... De tão belos e fascinantes nos conquistam, escravizam, enchem nossas estantes com seus livros, a memória de nossos computadores com suas performances apaixonantes, e sabemos de memória seus versos e suas melopeias.  E saímos por aí repetindo-os ou imitando-os nos limites de nossa capacidade ou incapacidade.

         Tenho dez mil de suas obras na minha biblioteca. Adoro-os, durmo com eles, cheiro-os e fazem parte de minha existência. Alguns podem até ser descartáveis, mas marcaram a minha vida, estão na minha essência e consciência. Alguns bibliófilos têm outros milhares de exemplares admiráveis. Quando lidos, fascinam, outros... nem tanto! Encanto e decepção. Não importa, dos contrários chegamos a um termo confiável, que nos enleva e leva ao prazer e ao entendimento do mundo. Impossível viver sem eles! Importante até para os analfabetos, os que só os conhecem de ouvi-los. Poetas forjando nossos valores e interpretações do cosmo e da crença. Ou...  

[Escrito depois de ver e ouvir a propaganda na televisão...]               

                                      ANTONIO MIRANDA, Brasília, 25/06/2017