Home
Sobre Antonio Miranda
Currículo Lattes
Grupo Renovación
Cuatro Tablas
Terra Brasilis
Em Destaque
Textos en Español
Xulio Formoso
Livro de Visitas
Colaboradores
Links Temáticos
Indique esta página
Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


VÍTOR OLIVEIRA JORGE

VÍTOR OLIVEIRA JORGE

 

 

Poeta, arqueólogo e professor  da Faculdade de Letras do Porto, Portugal.

Em 2008 publicou o  livro CASA DAS MÁQUINAS (Porto, ed. Papiro) e a 2a edição de PEQUENO LIVRO DE AFORISMOS SEGUIDO DE ALGUMAS ALUMIAÇÕES (Maia, Ed. Sempre em Pé, a mesma que publica a “Diversos”).

Blog: http://architectures.home.sapo.pt/Vitor.htm 

 

         Quatro poemas para o livro “ELECTRI-CIDADE” (inédito) 

 

 

ATERRAGEM

 

Procuramos muito,

Mas de repente a brancura

Dos Pés Descalços

Pode impressionar

As películas atónitas;

 

Uma pista de luzes

Pode acende-se;

 

E o aeroporto que está do outro lado

Da noite imensa

Espreguiça-se e dá sinais

De acordar

 

Assim o corpo que chega

Sabe

Por onde fazer descer as asas

Sobre o Futuro,

 

Riscando a grafite

As extremidades

Do Horizonte.

 

Abatendo o peito enorme

Sobre o asfalto

Entre as Luzes,

Arrastando altares e esquifes

 

Tocando as cordas inquietas

Que põem a rodar a música

Das esferas.

 

Que batem com impacte

Nas pulsações do solo

Entre chispas iluminadas

 

E a imagem

Que se deitara

Ergue-se como um poste,

 

E de repente sustenta

A Tenda Celeste!

 

Indica as geometrias

Da direcção

Aos olhos cansados

 

Com tão tremenda

Veemência,

Com tão doce

Acolhimento,

 

Que planar assim sobre ela

É encontrar os Pés,

 

As luzes brancas, certas, justas,

Fosforescentes, vivas

 

Por onde começa

O voo suave:

 

Tenso, esticado, numa palavra:

 

Tenso!

 

 

PÚRPURA

 

Naquele dia, o cardeal e a sua esfinge

Vieram à janela ver o apocalipse,

Os tons raiados do poente.

 

Vamos de púrpura, disseram em uníssono.

Façamos pontaria para o pressentimento,

A pose tem um valor enorme!

 

É preciso sacrificar um animal, disse

Alguém, inadvertidamente

 

Atiremos as cores para a frente, como

Quem sacode uma toalha ou agita uma flâmula.

 

E apontemos à direcção: é crucial misturar.

Mesclar as veias dos olhos

Com as veias do céu no poente.

 

O inocente já foi sacrificado, disse

Outro alguém, mais advertido.

 

A pose é tudo. As insígnias. Os animais

Heráldicos respiram. A nobreza vive dos seus signos.

Olhemos de frente o perigo que não vemos.

 

Vem aí. Está para chegar há séculos.

Mas a sua vinda é sempre postergada.

 

O importante é estar à janela, virar as varandas

Para a agonia escarlate do poente.

 

E sucessivamente

Ver o grená, o rosa, o roxo, o carmim,

O cair abrupto dos veludos sobre as pálpebras.

A direcção uníssona das figuras.

 

Pai, por que me abandonaste,

Perguntara um pobre homem algures

 

É tarde demais, entre a Ordem e o Caos

Chegámos depois da hora. Temos ainda a pose,

Mas espalhou-se tudo, os arquivos estão nas ruas

E as suas folhas voam como asas;

 

As lanças erguem-se como dantes

Na procissão dos Segredos.

 

Mas os gatos vestiram-se ainda de cardeais.

E os cardeais aguardam o primeiro impacte

Atrás das suas liturgias.

 

Há um hieratismo, um fulgor de bronzes

Que se entorna de horizonte em horizonte;

Essa força caminha!

 

Por isso o cardeal se dirigiu à janela

Do Mundo, aquela por onde entra

O Presságio: e ergueu o globo,

E deu-se a ascensão das tiaras.

 

As bolas de fogo vêm aí, estão sempre

Para chegar a qualquer momento.

 

Em cima do altar fulgura ainda o bode.

O grande bode expiatório.

 

A cerimónia, en-

-fim.

 

Mas é (de) tarde,

talvez.

 

E é este último verso,

"Talvez",

Que prepondera, que esquadria

As atitudes.

 

_____________________________________

 

 

AS CONTRADIÇÕES OBJECTIVAS

 

 

uma frase contorce-se 

e distribui-se pelo espaço

em que as linhas se entremeiam.

 

pelo meio passa o vento,

a força com que um corpo avança e

embate, e se contorce

contra a superfície da imagem.

 

pelo meio das linhas passa o tempo, 

insinua-se o vento,

neste lugar abandonado às frases,

neste solo plano em que apenas pedras

se erguem, e fazem minúsculas sombras.

 

talvez uma respiração subsista,

talvez um peito esteja ainda vivo nas suas

saliências e reentrâncias,

e uma intenção passe entre as linhas.

 

os rios secos de outrora correm a direito,

esta é a face lunar, abandonada entre alças

e pregas, onde o sentido busca uma cintura,

umas espáduas, tão avidamente

 

entre dois momentos do mesmo movimento,

entre um eu e um tu, largados no deserto

das frases levadas pelo vento, dos movimentos 

atirados subitamente para trás.

 

quando afinal se passa tudo aqui

e as linhas se fixam avidamente

ao olhar cego, objectivo, desamparado,

atirado sem querer contra a interrogação. 

 

 

SUPERFÍCIE 

 

Às vezes o mar enruga-se como uma cortina horizontal.

Até ao infinito.

Como um cântico dos defuntos

Que sob ele jazem, e que voltam com as suas rugas

À superfície, clamando redenção.

 

Mas como os defuntos estão reduzidos a fragmentos,

Só se vêem à superfície pequenos pedaços do que foi

O passado de cada pessoa, a história de cada biografia.

São ecos longínquos, que vêm de outro universo,

E entre os quais vamos avançando numa praia baixa,

Afastando cortinas, descortinando sussurros,

Vendo por vezes rostos mortos mais belos

Do que quando eram em vida.

 

Passeamos por este mar em pregas.

Como se atravessássemos a saia do mundo

Em busca do que sempre a saia esconde, e mostra,

O seu umbigo cheio de algas, o seu odor.

 

E nestas experiências empíricas nos perdemos,

Caminhando, caminhando, enquanto os defuntos cantam,

E o mar ondula como uma cortina, como uma toalha

Nunca lisa, enrugada sobre o passado, num sentimento

De que nada está jamais pronto, reencontrado, completo,

E apenas nos ficam imagens e sons, o coração trespassado

Por cruzes, as mãos incapazes de alisar tudo.

 

 

 

Página publicada em fevereiro de 2009

 

 


Voltar para a Página de Portugal Voltar para o topo da Página

 

 

 
 
 
Home Poetas de A a Z Indique este site Sobre A. Miranda Contato
counter create hit
Envie mensagem a webmaster@antoniomiranda.com.br sobre este site da Web.
Copyright © 2004 Antonio Miranda
 
Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Home Contato Página de música Click aqui para pesquisar