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                  Foto e fragmento de biografia:  http://portugalguadalajara2018.dglab.gov.pt/ 
                    
                    
                  RUI COIAS 
                    
                    
                  Nasceu em Lisboa, em  1966, licenciou-se em Direito na Universidade de Coimbra, é pós-graduado em  Ciências Jurídicas, e estudou algum tempo Filosofia (Universidade Nova,  Lisboa), tendo interrompido os estudos. 
                    
                  É autor dos livros A  Função do Geógrafo, A Ordem do Mundo (Quasi Edições) e Europa (Edições Tinta da  China), os quais traçam uma linha muito própria na poesia portuguesa dos  últimos anos, consubstanciada no desenvolvimento de um projeto pessoal de  entendimento do mundo, uma espécie de raciocínio para a origem e estrutura das  imagens enraizadas em lugares concretos reproduzidos pela memória, a natureza e  os caminhos cruzados do conhecimento e no tempo. 
                    
                    
                    
                  
                  O PRISMA DE MUITAS CORES.  Poesia de Amor portuguesa e brasileira.     Organização Victor Oliveira Mateus. Prefácio  Antônio Carlos Cortes.  Capa Julio Cunha.  Fafe: Amarante: Labirinto, 2010  207 p.       Ex. bibl. Antonio Miranda 
  
                    
                    
                  Deixa o silêncio levar-nos na sua matiz de  nada,  
                  que seja a fileira de um vento que se oiça  
                  e aos dois leve a um fim à nossa espera.  
                  Em breve nos fará a vénia a tecedeira,  
                  enfim sorrindo nalgum teu lembrado gesto 
                  —    que  por ele amarei o esplendor do que se der  
                  ou a obscuridade obedecida à nossa espera.  
                  Antes uma estação durava abundantes anos,  
                  anelava um colosso púrpura atrás de nós, 
                  e o porte indo ao sol na extensão das  estátuas,  
                  que por hábito obsessivamente nos velavam,  
                  éramos acolá nós diante vistos dos eirados, a  
                  parecer cavidades ficando de relance.  
                  E noutro ano o batente desliza — noutro  passava,  
                  e nós sem indagar o que havia de supor-se  todavia 
                  —    e  daí a quatro a procissão passava, a procissão,  
                  e tudo recolhia, tudo quedando, a si voltava, 
                  tal outra tarde sem ímpeto por aí fora.  
                  Como nossos corpos, que lembrar faziam,  
                  nas posturas de gesso que adorando tinham,  
                  o que fora o rosto do filo-heleno afortunado 
                  —tão ausentes estávamos na limpidez que não  se via  
                  que mesmo o pendor fútil purgava a ânsia,  
                  abrindo em seu lugar a singeleza de 
                  tudo consumar-se e em si próprio terminar.  
                  Mas breve, digo-te, tu que muitos rostos  afiguras,  
                  por incautas solidões, e de tanto recordando,  
                  será o silêncio, novo agora, o vento que nos  leva 
                  —    e  mesmo nada - nada for mesmo o que se julga,  
                  nem as nossas passadas devoções, 
                  nem mesmo o que mal de ti se perdurou. 
                    
                    
                    
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                  http://www.antoniomiranda.com.br/Iberoamerica/portugal/portugal.html 
                    
                    
                    
                    
                  Página  publicada em janeiro de 2021 
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