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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


onte: www.iplb.pt

PEDRO TAMEN

 

Lisboeta, nacido em 1934. Licenciado em Derecho por la Universidad de Lisboa. Há dirigido y colaborado en muy diversas revistas literárias. Dirigiu a revista Anteu – Cadernos de Cultura. Actualmente é administrador da Fundação Calouste Gulbenkian. Tradutor e poeta. 

 

TEXTOS EM PORTUGUÊS   /   TEXTOS EN ESPAÑOL

 

 

OS DIAS

 

Naquele tempo, viver era a melhor coisa do mundo.

Quando nascia o sol as pessoas viam

e os homens eram crianças para além dos montes.

Era uma planície, grande como convém a todas as planícies

e plana porque tudo estava certo.

Naquele tempo tínhamos sido criados e éramos iguais às

ervas e às flores.

Tu,

tão perfeita que impossível não seres,

tão erguida como um riso de andorinha,

tu estavas ao meu lado, naturalmente fresca,

e não havia motivos nem razões porque sabíamos tudo.

A nossa teologia era o beijo da criança mais próxima

e o deitarmo-nos na terra como folhas da mesma planta,

gratos, reduzidos, conscientes.

Olhando para cima, o céu abria-se e todos os Anjos

vinham sentar-se no rebordo

e riam como nós pequenas gargalhadas.

Eu cantava canções mais belas do que não tendo palavras

e ouvias-me em silêncio e de olhos abertos, exatamente

como a todos os sons.

 

 

O SANGUE

 

10

Mil vezes homem, mil vezes grito,

mil vezes hora em que, mil vezes,

tudo foi , de novo e para sempre, nascido e consumado.

 

Nós ouvíamos o murmúrio da terra:

naquele dia, a esperança do seu ventre,

a solidão difícil das profundas,

o raro espaço que se oculta sob as rochas,

os restos que um cataclismo nos deixou

— viram de frente a Face,

voltaram-se surpresos, quando de súbito

um novo líquido os tocou e percorreu

e trouxe à luz da terra; quando, anunciado,

se perfez um lento marulhar, santa fecundação.

 

 

MUITO MAIS QUE PRAIA

 

         para António Ramos Rosa

 

 

Ondeia, assume, rememora,

abriga a espuma

em coração disperso.

Uma ferida aberta

afirma e cede à sementeira cedo.

Perfaz, tacteia, roça

teu corpo ao corpo dela,

da já chorada inda que viva morte.

 

 

AGORA, ESTAR

 

9

A luz que vem das pedras, do íntimo da pedra,

tu a colhes, mulher, a distribuis

tão generosa e à janela do mundo.

O sal do mar percorre a tua língua;

não são mais em ti as coisas mais.

Melhor que tudo, o vôo dos insectos,

o ritmo nocturno do girar dos bichos,

a chave do momento em que começa o canto

da ave ou da cigarra

— a mão que tal comanda no mesmo gesto fere

a corda do que em ti faz acordar

os olhos densos que cada dia um só.

Quem está salvando nesta respiração

boca a boca real com o universo?

 

 

13

Devassa livre o braço todo aberto,

que eu te me entrego, aceito, te recebo,

qual solitário espera mago iço de grou

e ascende e se esvazia:

ó morte.

 

Nem mal nem bem, cinza penetração

no peito de serviço nesse dia.

Comigo a quem me dei eu dou,

confio a mão mal tida,

o sorriso entre portas,

a voz irrecordada.

Em ti, meu banco, morte,

eu deposito a vida.

 

 

OS NAUTAS

 

Para a Maria Gabriel

 

Quando até sobre o tarde navegavam

a luz que dentro vinha sobrepunha

a lantejoula aguda de outro sol

ao passo opaco, idêntico, cercando

os braços intranquilos, a surpresa

que só de pressentida lhes doía.

 

Ao frio sal que sob os pés sentiam

e à escuridão mais fundo, ao sonolento

e bruto som da corda e da madeira,

às dores de fome e ao gemido fraco

duma saudade parda, à solidão

sem espelho, à gula insaciada, ao medo

 

— a tudo combatia uma paixão

neles tão nova, nevoenta outrora,

qual a de ver, de ver de olhos abertos

até sentir no roçagar dos dedos,

a mínima paisagem, mais total

que os montes lerdos, pátrios e trocados:

 

a crispação da vela, o peixe lento

de súbito surgindo, ignotas flores,

cores purulentas, vasto e escasso espaço

para estrídulos pássaros abertos

e outra vida mor,

e ainda bruma

que não sabem se é deste ou doutro sonho.

 

 

HERZOG

 

        Sofrer é outro mau hábito.

       (palavras de Ramona em Herzog, de Saul Bellow)

 

 

A minha desforra são palavras.

Levanto-me de manhã amarrotado

pelo peso inclemente das mentiras

e vazo no real outro real

das letras que ninguém vislumbrará.

O pássaro que canta é uma palavra,

é uma carta escrita a este, àquele,

que me saiu do lápis da amargura;

tudo se refaria se jamais feita fosse

alguma coisa que a minha mão não desse.

Desforro-me sem gosto. Desforro-me sem gasto,

acorrentado ao que me vem de trás

e ao que virá e que não sei se quero.

 

            [in Analogia e Dedos, Oceanos, 2006]

 

 

 

De
Pedro Tamen
CARONTE E MEMÓRIA
São Paulo: Escrituras, 2004.
99 p.  (Col. Ponte velha)
ISBN 85-7531-1221-2

 

Gentilmente cedido pela editora

www.escrituras.com.br


 

 

GUIÃO DE CARONTE

 

5.

 

O que se fez igual a que se faz.

O que se sente igual a que se mente.

Experimentar, gostar, tudo falaz

ardil que esfria mesmo ardente.

 

Ilusória a mansão em que se vive

morto, tal como aquela em que se morre

vivo; nem há gramática que esquive

a dor redonda que ninguém socorre

 

porque ninguém não há. Não há ninguém

porque ninguém é nula coisa só.

Nem mal nem bem - e em que consiste nem

 

mais que preposição de meter dó?

Tudo opado, porque não vai nem vem.

Desfeito, o nó vê-se desfeito em pó.

 

 

37.

 

Que se passa contigo, mulher, que foi que veio

adormecer o tempo, apunhalá-lo,

que quer dizer agora o beijo, a mão e o lago,

a distinção de pernas e Bonnard

nos telhados à lua, onde se encontra

a vazia algibeira de flanela, o candeeiro

lírico da névoa de que falava quem?

 

Nada se passa, vês, sendo eu passado,

e agora, inteiro, todo o passado é teu.

 

 

 

TEXTOS EM ESPAÑOL

Traducción de XOSÉ LOIS GARCÍA

 

Poemas selecionados de la edición de la ANTOLOGIA LA ACTUAL POESIA PORTUGUESA, con traducciones de nuestro amigo XOSÉ LOIS GARCÍA, publicada originalmente en la revista HORA DE POESIA, n. 27/28, de 1983, de Barcelona, España. Ejemplar gentilmente donado por Aricy Curvello para la Biblioteca Nacional de Brasilia. 

 

 

LOS DÍAS

 

3

Em aquel tiempo, vivir era la mejor cosa del mundo.

Cuando hacía el sol todos veían

y los hombres eran niños más Allá de los montes.

Era uma planície, grande como conviene a todas las planícies

y llana porque todo estaba en su sitio.

En aquel tiempo habíamos sido criados y éramos iguales a las

                                                        hierbas y a las flores.

Tú,

tan perfecta que era imposible no ser tu,

tan erguida como júbilo de golondrina,

tu estabas a mi lado, naturalmente fresca,

y no había motivos ni razones porque sabíamos todo.

Nuestra teología era el beso del niño más próximo

y el acostarnos en la tierra con hojas de la misma planta,

apacibles, limitados conscientes.

Mirando hacia arriba, el cielo se abria y todos los ángeles

                                      venían a sentarse en el borde

y reían como nosotros com pequeñas carcajadas.

Yo cantaba canciones más bellas de lol que puedo expresar

y me oías en silencio y con ojos abiertos, exactamente como

                                                        a todos los sonidos.

 

 

LA SANGRE

 

10

Mil veces hombre, mil veces grito,

mil veces hora en que, mil veces,

fue todo, de nuevo y para siempre, nacido y consumado.

 

Nosotros oímos el murmullo de la tierra:

en aquél día, la esperanza de su vientre,

la soledad difícil de las profundidades,

el raro espacio que se oculta bajo las rocas,

los restos que un cataclismo nos dejó

— giran al frente la Faz,

se volvieron sorprendidos, cuando de repente

un nuevo líquido los toco y recorrió

y trajo a la luz de la tierra; cuando, anunciado,

se produjo una lenta agitación, santa fecundación.

 

 

MUCHO MÁS QUE PLAYA

 

                   para António Ramos Rosa

 

Ondea, asume, rememora,

abriga la espuma

con corazón disperso.

Una herida abierta

afirma y cede a la siembra temprana.

Completa, palpa, roza

tu cuerpo al cuerpo de ella,

de la ya llorada aunque viva muerte.

 

 

AHORA, ESTAR

 

9

La luz que viene de las piedras, de la intimidad de la piedra,

tu la coges, mujer, la distribuyes

tan generosa y a la ventana del mundo.

La sal del mar recorre tu lengua;

no están de más en ti las cosas demás.

Mejor que todo, el vuelo de los insectos,

la llave del momento en que comienza el canto

del ave o de la cigarra

— la mano que esto dirige con el mismo gesto hiere

la cuerda de lo que em ti hace acordar

los ojos densos de cada día uno solo.

¿Quién está salvando en esta respiración

boca a boca real con el universo?

 

 

13

Penetra libre el brazo totalmente abierto,

que yo a ti me entrego, acepto, te recibo,

cual solitário espera hechicero beso de grulla

y asciend y se vacía:

oh muerte.

 

Ni mal ni bien, ceniza penetración

en el pecho de servicio de este día.

Conmigo a quien me di yo doy,

confio la mano malo tenida,

la sonrisa entre puertas,

la voz irrecordada.

En ti, mi Blanco, muerte,

yo deposito la vida.

 

 

Página publicada em fevereiro de 2008; ampliada e republicada em janeiro de 2011.



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