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                   PEDRO DA SILVEIRA 
                    
                  Pedro  Laureano Mendonça da Silveira [Nasceu  em Fajã Grande, ilha das Flores, 5.9.1922 ? morreu em Lisboa, 13.4.2003] Fica-lhe  bem o epíteto de o mais ocidental poeta europeu, por ter nascido no ponto em  que a Europa e a América mais se aproximam uma da outra. Talvez esse facto e a  existência de uma forte tradição migratória na família (ele próprio possuía  passaporte americano) ajudem a explicar a inquietação e a errância intelectual  deste homem, poeta, investigador histórico e literário, tradutor, etnógrafo.  Nos anos 40 do século XX, na cidade de Ponta Delgada, transformou o jornal A  Ilha num pólo aglutinador de jovens intelectuais; neste jornal divulgou a  moderna literatura cabo-verdiana (revista Claridade, de 1936), cujos autores  também nele colaboraram. O seu primeiro livro de poemas atestaria de forma  irrecusável esse contacto com os poetas cabo-verdianos e também com um poeta  brasileiro como Manuel Bandeira. De resto, a poesia de Pedro da Silveira soube  sempre assinalar uma forte vinculação ao chão açoriano, ao mesmo tempo que se  desdobrava num constante e profícuo diálogo com «as ilhas todas do mundo», em  termos culturais e poéticos. Em 1951, Pedro da Silveira fixou residência em  Lisboa, tendo exercido aí várias actividades e reformando-se em 1992 como  director de serviços da Biblioteca Nacional. Redactor da revista Seara Nova até  1974, deixou colaboração dispersa pela imprensa nacional e estrangeira, do  Brasil ao México, de Cabo Verde a Moçambique. A sua Antologia de Poesia  Açoriana ? do século XVII a 1975 (Lisboa, Sá da Costa, 1977) reúne um precioso  manancial de informação histórica e biobibliográfica; o extenso verbete  «Açores» no Grande Dicionário de Literatura Portuguesa e de Teoria Literária,  de João José Cochofel, constitui uma excelente amostra do que viria a ser a  História da Literatura Açoriana, que andava a preparar quando faleceu. Pedro da  Silveira foi ainda um atento pesquisador literário e etnográfico, como o  reconhece o investigador Gerald Moser e o atestam as numerosas recolhas de  exemplares da oratura que efectuou e de que deu conta em publicações avulsas.  Deve-se a Pedro da Silveira a reedição de Almas Cativas (Lisboa, Ática, 1973),  de outro grande poeta açoriano, o simbolista Roberto de Mesquita, cuja lição de  enraizamento poético não deixa de repercutir em Silveira, embora já em  diferentes modulações expressivas e estéticas, que passam, entre outras coisas,  pela utilização de processos discursivos da oralidade: a transposição da fala  popular, o tom narrativizante de alguns poemas e de algumas sequências poéticas  que muito devem à tradição narrativa popular. Urbano Bettencourt 
                    
                  Obras.  Poesia: (1952), A Ilha e o Mundo. Lisboa, Centro Bibliográfico. (1962), Sinais  de Oeste. Lisboa, Ed. do autor. (1985), Corografias. Lisboa, Perspectivas &  Realidades. (1999), Poemas Ausentes. Santarém, O Mirante.  
                    
                  Fonte:  http://www.culturacores.azores.gov.pt/ 
                    
                    
                    
                  ILHA  
                                
                  Só isto: 
                   O  céu fechado, uma ganhoa 
                    pairando. Mar. E um barco na distância: 
                    olhos de fome a adivinhar-lhe, à proa, 
                    Califórnias perdidas de abundância.  
                    
                    
                           “A ESSA TERRA...” 
                    
                           A essa terra que não era a tua 
           deste  o vigor dos teus braços, 
           deste  o teu suor 
           e  o teu engenho. 
                   
                           Por  essa terra que não era a tua 
           deste  generosamente o teu sangue. 
           E  deste-lhe, povoador de mundos, 
           os  teus filhos. 
                    
                           Agora,  fechados os portos à tua entrada, 
           já  o mar não é caminho aberto de emigrantes. 
           o  mar não é a estrada livre das barcas de clandestinos... 
                    
                           O  mar... 
           (você  o disse, Jorge Barbosa) 
           é  hoje a nossa prisão sem grades. 
                    
                           Irmão,  deixá-lo... 
           Nas  nossas ilhas ergueremos o sonho que te negam. 
           O  nosso mundo. 
                    
                                              (A Ilha e o Mundo) 
    
    
                  Página publicada em agosto de 2016               
                   
                   
                
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